Ando a ler, com grande prazer, um livro muito interessante. Medicina Rústica. O autor, brasileiro, Alceu Maynard Araújo publicou-o em 1961, tendo-se tornado uma obra de referência essencial da medicina popular brasileira.
Muito bem escrito, revela todo um universo folclórico interessante, variado e rico, embora se restrinja a uma pequena região, com um nome estrambólico, pelo menos para nós: Piaçabuçu. Esta terra, com cerca de 2000 habitantes, era sede do município, mas toda a região foi observada.
Não demonstra ainda muito respeito por estas tradições, antes simpatia e grande curiosidade, na intenção de contribuir para que a medicina "verdadeira" possa vir a utilizar alguma erva ou outro produto, por se comprovar que faz bem.
Indica que esta Medicina Rústica tem influências africanas e por isso também da medicina árabe, influências portuguesas e indígenas. Mas é sobretudo composta por rituais mágicos e por amuletos que se usam, ou como profilaxia, ou como cura. Não se chamam amuletos, mas sim bentinhos, mochilinhas, etc... por exemplo, saquinhos com orações impressas, dentes de jacarés, presas de aranha, etc... destacando-se objectos relacionados com o Padre Cícero (Meu Padrim Cirço), desde farrapos de batina até rosários ou água benzidos num local relacionado com ele.
Algumas das rezas e benzeduras só podem ser feitas por algumas pessoas, que só as podem ensinar aos discípulos em determinados dias do ano, como Sexta-Feira Santa, Natal e, curiosamente, 25 de Março. Esta data misteriosa talvez esteja relacionada com o padre Cirço.
Há também termos e expressões muito giros, como estes: "Outras vezes é a "benzinheira" a pessoa que tem força para mandar o quebranto para as "areias gordas do mar sagrado". O curador de cobras torna a pessoa imune ao veneno da cobra, ou cura-a de uma picada de serpente.