Não percebi por que se riram as pessoas que estavam no mercado do peixe de Campo de Ourique quando eu perguntei como se comem as cabras.
Não percebi, porque toda a gente percebeu a pergunta e até me responderam logo:
- Cozidas, grelhadas e em caldeirada.
- Caldeirada de vários peixes, ou só caldeirada de cabras?
(Novos risos).
- Eu fiz só de cabras.
- E assadas?
(Novos risos).
- Nunca experimentei, mas deve ser bom. (É o que dizem sempre).
- Quero uma cabra média.
(Novos risos).
O vendedor ofereceu-me gratuitamente uma mão cheia de ovas de cabra que uma senhora, talvez dona de restaurante, não tinha querido levar.
-Já que vai assar, leve também estas ovas, devem ser muito boas, assadas.
Assada com vinho branco, um pouco de óleo, um pouco de cebola e umas bolinhas de puré de batata, foi mesmo muito bom. (se tivesse, teria posto tomate e pimento vermelho, mas creio que não ficaria melhor, porque é um peixe doce e suave).
Este peixe é delicioso, muito apreciado em Sesimbra, pelo que raramente chega a Lisboa. Quando chega é barato, pois isso significa que pescaram muito.
E é lindo!
Conselho para quem cozinha (não para quem só come): pedir para retirar os olhos. A meio do assado, quando se volta o peixe, saiu uma gelatina dos olhos, compridíssima que fazia evocar um choro e os romances da América latina, por exemplo, o
Como Água para Chocolate. Se não me tivesse esquecido disto rapidamente, enquanto lia o Expresso e as reportagens do Syrisa, não teria conseguido comer nada.
Os olhos são sempre a parte complicada e difícil do peixe.