segunda-feira, agosto 19, 2013

Istambul, a cidade do outro lado







Saímos de Istambul enriquecidos, não pelo muito que aprendemos, mas abismados pela nossa ignorância de toda a parte oriental do mundo.

Enriquecidos de curiosidade pelo outro, que é o reverso dos livros de história. Ou de geografia, ou do que for.

Porque as pedras só se tornam humanas se virmos nelas a inscrição, não só do humano, mas também do divino. Como neste mosteiro da Capadócia.

Istambul já foi Bizâncio e já foi Constantinopla, cidades quase míticas. Com uma história que é a nossa história. Istambul significa, etimologicamente, "a cidade que fica do outro lado". Do outro lado do Bósforo. A cidade estranha e estrangeira.

A cidade que fica do outro lado, também para nós ocidentais, do outro lado do mundo, é a cidade do passado.
Mas o passado talvez se transforme em futuro e talvez o futuro nos surja do Oriente. Como uma renovação.



 




domingo, agosto 18, 2013

Festa da circuncisão



Aterrorisada pelo que julguei ser outro casamento na piscina para não deixar dormir ninguém também esta noite, perguntei. A princípio não entendi a resposta, não por defeito do inglês, mas da estranheza. Circum circum... será circo? Não deve ser...

É uma festa de circuncisão. Que na Turquia tem caraterísticas próprias como refere este site em inglês CLICAR.
Mas também há um casamento, num sítio insonorizado.
Como a festa da circuncisão tem muitas criancinhas, espero que acabe cedo.

Também está aqui uma equipa de futebol do Iraque, chamada Zahco, sempre vestidos de equipamento vermelho, as crianças pedem-lhes autógrafos e os homens sorriem e tratam-nos pelo nome.
Estão no mesmo andar que eu e são muito simpáticos, já me cumprimentam muito bem e alguns falam comigo, incluindo o manager, que fala várias línguas incluindo turco, provavelmente mal, a julgar pelo seu inglês.
Um dos jogadores dá-me um grande aperto de mão quando lhe digo que sou portuguesa, depois de me perguntar, talvez por ter entendido mal, se sou chinesa. Aqui perguntam-me se sou alemã ou polaca. Italiana é o mais perto que chegam. Agora, chinesa... também me fez uma festinha na cabeça, a despropósito. Em geral toda a gente faz uma ar de satisfação quando digo que sou portuguesa, ou melhor, digo Portugal, pois pouca gente entende mais do que isso. Alguns referem o nome de um jogador, mas não é o caso destes jogadores.
Eu tinha a ideia de que os árabes eram muito durões, autoritários, convencidos, mas os que conheci aqui são muito gentis. Incluindo o cirurgião iraniano com quem falei algumas vezes em Istambul. Com as mulheres não dá para falar, não devem entender línguas, nem falar com desconhecidos. As mais convencionais de trajo tradicional, pelo menos algumas, ficam chocadas com o meu modo de vestir e de proceder. Não dizem nada, mas o olhar diz tudo.

Mas, durante os dois pequenos cruzeiros que fiz no corno de ouro,  a certa altura aparece um homem a vender uma espécie de roscas, espécie de pão de trigo. Como não almocei e são 5 da tarde, quero comer aquilo, mas receio que seja muito doce. Pergunto a duas meninas de lenço na cabeça. Faço a pergunta em todas as línguas que conheço e noutras inventadas, mas elas não entendem. Então, uma delas tira um bocado da rosca que comprou e dá-me para provar. Até ma queria dar toda. Era boa, compro uma, mas não aceita a restituição do bocado que me deu.

(E afinal, a festa sempre era um casamento. E um tormento para quem quisesse dormir.)

Capadócia: o Mosteiro








Mosteiro cristão ortodoxo grego que esteve em atividade até 1924. Tudo escavado nestas formações geológicas designadas por “chaminé das fadas”. Na primeira imagem vê-se o dormitório das monjas, na segunda o dos monges.
O mosteiro inclui várias capelas e uma igreja, com pinturas murais de arte sacra, algumas deterioradas, as da igreja recentemente restauradas. É claro que não é permitido tirar fotografias dessas imagens, mas será possível encontrá-las na Internet.




 Igreja: o recinto principal é totalmente interior e sem janelas.




Como é difícil entrar em qualquer um destes sítios! como seria com os monges idosos ou doentes? Isto sim, é preciso ter muita fé para procurar Deus num mosteiro destes. 




Refeitório dos monges e moderno café decorado com artefactos regionais, que nos mostra como seria um interior habitado. 

Dormir



 



Dormir? Era bom, era.
Amanhã tenho de me levantar Às 3 da manhã, dormi mal em Istambul. Quando cheguei a  este bom hotel, no meio de sítio nenhum e com uma cama enorme, pensei que era desta que dormia.
.
Mas havia dois casamentos: um muito discreto, numa sala onde só comeram enquanto um grupo cantava umas músicas que até pareciam religiosas, tudo muito tradicional exceto o vestido da noiva, ocidental, com um véu muito bonito e diferente. Os noivos estavam ao lado do palco numa mesa que era também uma espécie de palco e estavam a ser continuamente projetados nun vídeo. A festa começou pelas 8:30 da noite e acabou pelas 10:30.

E na piscina em frente do meu quarto havia esta bagunça. Com músicas muito animadas e muito alto, quase todas turcas mas uma ou duas brasileiras, espanholas, etc. Durou pelo menos até à meia noite, talvez não muito mais. Mas já começou outro. Vêem-se por aqui muitas noivas vestidas de noiva.

Há grandes diferenças entre os turcos muito tradicionais e  religiosos e os ocidentalizados e pouco religiosos. Segundo Pamuk, há já muito tempo que uma parte da Turquia tenta imitar o ocidente, conta até que nas casas da sua família havia salas de visitas, todas com um piano que nunca foi tocado e muito outros objetos ocidentais, lugar a que ele chama museu, só para mostrarem que eram ocidentalizados.

sábado, agosto 17, 2013

Istambul - livros




Não gosto daqueles livritos para turistas com fotos e mapas, que afinal também existem aqui, mas em sítios muito restritos e alguns só em turco ou árabe. São úteis no momento, mas depois não servem para nada porque a Internet é mais atualizada e tem as mesmas coisas.
Ao contrário, este livro é maravilhoso: memórias de Istambul do prémio Nobel da literatura Orham Pamuk, que sempre aqui viveu e sempre na mesma casa em que nasceu.
Diz ele que Flaubert afirmou que, dentro de cem anos, Istambul seria a capital do mundo, mas que, com a queda di império otomano, o mundo quase esqueceu a Turquia.

De facto. Eu não tinha grande curiosidade de cá vir, a não ser por causa da primavera turca e porque já fui a todosos sítios que desejava conhecer, alguns várias vezes.
Mas Istambul é apaixonante e já me apetece regressar, até com mais tempo. Porque o Império Otomano foi importantíssimo, tem uma longa história, uma especial cultura e vestígios de tudo isso, por toda a parte. Diz também Pamuk que, para colocar canos da água ou algo assim, é preciso proceder com cuidado, pois é provável que haja túneis e outros vestígios.

E, além disso, as pessoas ficam todas contentes por me verem com o livro de Pamuk.

Animais de Istambul













Os animais também distinguem um país e uma cultura, pelo modo como são tratados. Na  Índia, que acho parecida com isto aqui, poucos fugiam das pessoas, e recentemente os golfinhos passaram a ser considerados como  pessoas não humanas.
Há dois animais que aqui chamam a atenção: os gatinhos, muito meigos e confiantes e o facto de circularem numa cidade enorme, mesmo nas grandes avenidas, o que nunca vi. A primeira vez que um gatinho vreio ter comigo a miar, à noite, deduzi que se tinha perdido e fiquei cheia de pena, espero que não tenha sido esse o problema.
O outro animal é uma rolinha castanha muito querida, que não foge de nós e que anda muito pelo chão, em toda a parte.

No primeiro dia estive no parque Taksim, que adorei, embora não tenha percebido que foi por quererem construir lá uns hotéis que houve a primavera turca. Tem muitos animais, desde galinhas e corvos, até cabras que parecem ter dono, porque estão amarradas. Depois faço um post sobre isso.

Agora estou na Capadócia, num hotel muito bonito, no meio de sítio nenhum. O hotel de Istambul era fracote, mal consegui dormir porque as cortinas não tapavam a luz e o ar condicionado não arrefecia mas fazia muito barulho e não se podia desligar.
Fotos:
Essas cadeiras e a mesa estão à porta de uma loja de roupas desportivas, para quem se quiser sentar, mas nunca consegui sentar-me em nenhuma, por falta de hábito, tenho sempre a impressão de que as cadeiras pertencem  a alguém. O gatinho está à vontade com a cadeira e todo dengoso comigo.

Mesmo ao lado, três gatinhos que pertencem a uma oficina, ou garagem, não percebi. Em Lisboa hei-de por mais fotos nos mesmos posts.

Em Portugal existe a designação de rolas turcas. Devem ser estas.

E vejam onde estavam as rolinhas a fazer o ninho... Ampliar. o dono da loja ria-se para mim, orgulhoso e feliz das suas rolas turcas.





sexta-feira, agosto 16, 2013

Navegar, claro.





Porto de Eminonu, no Corno de Ouro, dentro do Estreito de Bósforo. Tem grande agitação por causa dos pequenos cruzeiros e por ser um sítio de comércio, junto do Mercado das Especiarias.

Ao lado, a ponte de Galata, muito frequentada e vivida, tendo por baixo vários restaurantes.

Tal como na Índia, as atrações turísticas da Turquia não são para "inglês ver", salvo raras exceções, mas sim autênticas peculiaridades, decorrentes de uma cultura diferente e misteriosa. A descobrir.

quinta-feira, agosto 15, 2013

A Torre de Galata






Como a visita acabava cedo, o Sinar, (ou será Sinai ?) aconselhou-me a ir depois disso à torre de Galata, por mim, e uma vez que eu não quis que me trouxessem ao hotel, desde o Grande Mercado, à torre de Galata, para ter uma visão panorâmica e pra ver, pelo caminho, o Corno de Ouro, a parte do mar que se vê na foto.
Aqui há uns elétricos muito bons e muito rápidos, outra coisa que deveríamos imitar e ele fez-me uma lista pormenorizada das paragens onde devia entrar e sair, hoje e amanhã. Muito simpático. Aconselha-mea  evitar os taxistas, porque tentam explorar os turistas. O condutor da carrinha, em quem eu confesso que não tinha reparado, ofereceu-me um objeto, a chaminé das fadas da Capadócia, que é a terra dele. Pareceu-me uma maneira simpática de se fazer a uma boa gorjeta, mas fiquei envergonhada de ter pensado isso: não aceitou nada.


O que o Sinar não me disse foi que para chegar até à torre tinha de subir  a pé muitas ruas a pique, algumas com escadas e ainda muitas escadas dentro da torre (para além do elevador). Lá em cima tem só uma varandinha estreita a toda  a volta da torre redonda, imprópria para quem tiver vertigens, pois ficamos quase em cima do abismo. Ah, e um café.

À ida para baixo, perdi-me de tal maneira que tive de voltar a subir imenso. É que há um bairro inteiro com lojas de ferragens e maquinarias. Deve ser o paraíso de qualquer mecânico, mas, quando me parecia que já tinha passado naquela rua, havia mais cinco ou seis ruas iguais àquela, todas a vender apenas torneiras, ou peças, ou alicates... também nunca vi nada assim.

O nome Torre de Galata é fácil de fixar, por causa do clube de futebol Galata Zarai, que tem bandeiras por tudo quanto é sítio.




Imagens da Torre de Gálata, ao por do sol, do porto de Eminou e da ponte de Gálata.
O porto e a ponte são dos lugares mais bonitos de Istambul.


Então as férias não são para descansar?








Tudo bem. Descansa-se a trabalhar.
Depois, em Lisboa, faço posts mais explicativos.
Vêem-se por aqui muito poucos estrangeiros provenientes da Europa. Como ontem à noite pedi uma visita guiada, tive hoje direito a uma só para mim, com um Sinar giríssimo e simpático a falar português só para mim e ainda tive direito à companhia da sua namorada espanhola.

Noo hotel sou a única europeia também, mas há muitos turistas orientais. Muitos europeus, ou ocidentais (vi 3 brasileiros, pai, mãe e filha, nesta visita, também acompanhados por uma guia que falava português só para eles) anularam as reservas que tinham feito. Tiveram medo daquilo que a mim me atraiu, a contestação do sistema, que os turcos fizeram recentemente. Mas também da situação da Síria, que confina com a Turquia.

Ontem subi no elevador, chegando ao quarto no momento em que todas as  mesquitas fazem o apelo á oração. Antigamente era um Muezin, homem de voz muito potente, que subia ao minarete (aquelas torres muito altas e estreitas dos lados das mesquitas) e entoava o apelo, hoje em dia os minaretes têm atifalantes para os 4 pontos  cardeais e mensagens gravadas. O que nos parece uma chinfrineira, mas não é desagradável de ouvir, se sabemos que só dura uns minutos. A princípio assustei-me, parecia-me música pimba em alto som... :)

Subia comigo no elevador um iraquiano que me disse várias vezes, após me ter perguntado  de onde era:
- Wellcome, Wellcome to Turquia.

Por estas palavras se entende que se sente aqui em casa e que eu não estou em casa. Por ser um país muçulmano, a sua casa é a religião muçulmana. Percebi depois que chegou ao quarto a tempo de rezar. Talvez não a tempo de lavar os pés e as mãos antes disso... vi-o hoje com mulheres de preto e lenço preto na cabeça.
O guia, Sinar, é muçulmano não praticante. Diz que 40 por cento dos muçulmanos turcos o são, pois é aqui permitido. Também é por isso que discordam do seu primeiro ministro, muito beato.
De facto, até criou a imposição de as mulheres entrarem convenientemente vestidas no museu Topkaki. Eu não precisei de fazer nada, mas a espanhola não entrou, para não usar uma burka, como ela chama às roupas que nos obrigam a vestir.
A razão para fazer isto, ao contrário do Ataturk que secularizou até a igreja / mesquita de Hagia Sofia, também transformada em museu, é que o Topapki contém várias relíquias do cristianismo e da religião muçulmana.
Gostei de ver o Bastão de Moisés, creio que se chama vara de Aarão, a espada de David, mas não gostei de ver e realmente não vi os pêlos da barba do profeta. Cada um deles está quase invisível, dentro de uma caixinha de ouro, estendido sobre duas pedras preciosas. Não gosto nada da relação que as religiões estabelecem com os pêlos do corpo humano e disse ao Sinar que queria sair dali.
Vi também o 6º  maior diamante do mundo, chamado qualquer coisa como "Diamante do Colhereiro" (aquele que faz colheres) do tamanho de um ovo de galinha classe S. E muitas esmeraldas do tamanho de ovos de galinha classe M. Nunca tinha visto tanta maravilha em termos de pedras preciosas.
O diamante é magnífico, parece ter luz própria. Tentaram roubá-lo muitas vezes.

quarta-feira, agosto 14, 2013

Cadeiras




Esquecendo que ainda não estou na União Europeia (digo ainda, porque a Turquia já pediu a sua entrada pela segunda vez), procuro várias coisas que não existem. Um sítio para dar informações aos turistas, uma planta da cidade. O rapaz do restaurante onde almocei foi comigo a uma espécie de papelaria, onde me mostraram um atlas do mundo. Mas não tinha  planta de Istambul. Só nas paragens de autocarro e não há também no sítio de táxis para turistas.

Em contrapartida, encontrei várias coisas que não procurei. Como, por exemplo, estas e outras cadeiras colocadas na rua, incluindo os dois banquinhos, à porta de uma loja fechada, um deles já esmagado, talvez por um automóvel. Suspeito, neste momento, que as cadeiras estão a guardar o lugar de motorizadas, mas ainda não sei bem.

Esta ausência de receio de colocar muitas coisas na rua da quarta maior cidade do mundo, que também se verifica no mobiliário de jardim, é tanto mais estranha, quanto, no hotel, não me queriam devolver o passaporte. Porque há muitos carteiristas e é melhor deixá-lo aqui. Colocavam-no num sítio onde era facílimo roubá-lo, por trás da rececionista. Recusei, claro. Como solução de compromisso, aluguei um cofre e deixei-o lá, com alguns cartões.
- E se a polícia me pedir o passaporte?
- Diga que está no hotel!

Já me têm dito que gostam dos diários de viagem deste blogue, porque mostram muitos aspetos invulgares que os outros não mostram, em vez de mostrarem o que é idêntico em toda a parte.

Mas para isso é preciso fazer o tipo de viagem que os outros não fazem. Sem guias locais a mostrarem-nos o que querem que vejamos.

Hoje, 15 de Agosto, descobri o mistério das cadeiras, que também vi na avenida moderna onde fica o meu hotel. Qualquer pessoa as pode utilizar e utiliza. Até se marcam encontros nelas. Nesse e noutros aspetos este país é muito civilizado e temos muito a aprender e a imitar. Ideia simples e boa.

Istambul






O único lugar que conheço nesta cidade e todo o mundo conhece é a praça Taksim, onde tem havido manifestações.
Mal saio do hotel para explorar as redondezas, vejo um autocarro que diz Taksim. Entrei. Não estava na paragem, mas tinha porta aberta.
Fui parar a um sítio qualquer, muito bonito, à beira mar. Amanhã tentarei ir numa visita guiada. Às quartas feiras não há e ainda bem, pois gosto de deambular e de fazer exercício.
Esta gente só fala turco, até mesmo os taxistas próprios para turistas. Afirmam falar inglês, mas não deve ser o mesmo inglês que eu falo.
Depois entrei em vários autocarros: mostrei os 2 Euros que me parece ser o preço, mas as pessoas a quem tentei impingi-los abriram os braços, encolheram os ombros e disseram uma frase em turco, sempre a mesma. Saí onde me apeteceu, sem pagar e ninguém pareceu importar-se com isso.
O taxista que me trouxe ao hotel era simpático, mas nem tentei falar com ele, apenas lhe mostrei o papel com a direção.
São todos muito simpáticos, embora ninguém fale uma palavra que se entenda.