Há tempos, uma mulher brasileira, que é agora seguidora deste blogue, veio cá parar por eu ter afirmado que há mães que não gostam dos filhos. Fez-lhe bem ler isso, pois é uma dessas filhas não amadas e nunca tinha lido nada sobre o assunto, por ser tabu e por não termos propriamente o hábito do debate de ideias, tendência que, aparentemente, o catolicismo português levou para o Brasil. Lancem este debate e vejam a reação.
Por estas e por outras razões, também pela minha imaginação ficcional, não me tem saído da cabeça uma notícia que li, por estes dias, num jornal português.
Uma mulher, habitante de Lisboa, com cinco filhos, foi encontrada na sua casa, onde estava morta há quatro anos. A porta da habitação esteve, durante todo esse tempo, enfeitada com decorações de Natal, o que significa que morreu no Natal e que a jovialidade e extravagância das decorações fora de época não despertou a curiosidade dos vizinhos. Foi descoberta pelos serviços das finanças, que a procuraram por não pagar impostos...
Um romance poderia começar assim. E eu gosto da personagem principal.
Se a senhora gostava tanto do Natal, era de esperar que pensasse nos filhos: por que razão os filhos não quiseram saber se estava viva ou morta, durante, pelo menos, quatro anos?
Há uma frase cínica, que se pergunta quando alguém afirma que uma família é muito feliz, que os irmãos se dão muito bem:
- Já fizeram partilhas?
Se houver amor na família, não há partilhas que o corrompam. Se não houver, tudo serve para desunir.
Vem-me à ideia a primeira carta de São Paulo aos Coríntios. O amor, aqui, refere-se àquele que sentimos, mais do que àquele que recebemos (ou não).
"Ainda que eu falasse todas as línguas do mundo, as dos homens e as dos anjos, se não tivesse amor, seria como sino ruidoso ou como címbalo estridente."
"Ainda que eu distribuísse todos os meus bens aos famintos, ainda que entregasse o meu corpo às chamas, se não tivesse amor, nada disso me adiantaria."
"[O amor] tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta."