Ao aterrar em Lisboa, doíam-me os ouvidos. E estava a ler, com interesse, uma obra literária passada em Cabo Verde, com gente simples, no início do século passado. Chama-se Oh mar de túrbidas vagas, o autor é Teixeira de Sousa. Ao meu lado, seguiam duas senhoras, mãe e filha. Deslocavam-se a Lisboa para uma consulta da mãe, que teve um AVC, mas já passou, paga por filhos emigrantes na América, em França e na Holanda.
Apeteceu-me mostrar-lhes a terra. Quando vejo Lisboa, os ouvidos doem-me menos ao aterrar, calculo que doam muito mais aos estrangeiros, sobretudo àqueles que ainda não conhecem esta nossa cidade.
- Vejam! Isto é Lisboa! Tão a ver???
A simpática senhora de idade e a filha estavam de mãos dadas e olhos cerrados, agarradíssimas, a tremer e a morrer de medo, como quem diz que, se o avião caísse, iam assim as duas para algures, grudadinhas uma na outra.
- Graças a Deus que aterrámos aqui nesta terra, com saúde e com o coração cheio de alegria! - Exclama a senhora mais velha, assim que se sentiu em segurança.
-Ah! Pois! Claro!
Ao reflectir sobre estas palavras, constato que também eu tenho o coração cheio de alegria.
Ao reflectir sobre estas palavras, constato que também eu tenho o coração cheio de alegria.
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