Todas as terras julgam chamar-se A Terra. Todas as terras são, para quem mora nelas, o Umbigo do Mundo. Sempre que desembarquei em terra, depois de ter navegado pelos mar, senti que a terra era imunda. E enjoei.
domingo, setembro 05, 2010
Paquete Funchal
Este navio, o paquete Funchal, de bandeira portuguesa, pertencendo à Classic International Cruises, fará em breve 50 anos e foi em tempos um baluarte do regime salazarista, ao fazer a carreira regular para as ilhas.
Nessa época, devia ser o mais avançado. Agora não, claro. É muito pequeno e não tem alguns dos dispositivos e luxos de outros maiores e mais modernos.
Vai agora para o estaleiro, para fazer uma remodelação total, afim de respeitar as modernas e exigentes normas de segurança. Por exemplo, este navio tem muita madeira, nos conveses, no revestimento das paredes e em toda a parte. Como o principal risco no mar é a ameaça de incêndio, é claro que isto constituía um perigo enorme, pelas actuais bitolas. (Se lá fosse a ASAE...)
Também reparei que tinha umas cadeiras de verga com algumas partes em metal, parecia mesmo ferro, que, com o vento, eram frequentemente arrastadas pelo convés. Apanhar com um ferro daqueles... surpreendeu-me este aspecto: hoje é perfeitamente básico tomar todas as medidas para evitar acidentes, ainda que pequenos e teria sido fácil substituir as cadeiras.
Em contrapartida, há pessoas que se sentem em casa neste navio e num outro da mesma companhia, chamado Princess Danae. Já fizeram muitos cruzeiros a bordo destes paquetes, até porque há muito poucos com partida e regresso a Lisboa e acabam por não ser caros. A alternativa mais frequente é ir embarcar em Espanha ou Itália.
Por este motivo, o ambiente pode ser agradável e quase familiar, como me aconteceu nesta viagem, em que encontrei várias pessoas conhecidas. Isto pode ser bom ou mau, dependendo das pessoas e da relação que temos com elas, no caso foi bom. Também tem a vantagem de, na eventualidade de se fazerem amizades, ser mais fácil mantê-las em terra, sendo os passageiros maioritariamente portugueses, embora, segundo dizem, isso raramente aconteça. Ou não acontecia, antes de haver Facebook.
Naveguei em barcos muito maiores, como o Costa Victoria da empresa Costa Cruzeiros, mas ao nível humano é muito impessoal, é como estar numa grande cidade. A comida também corre a risco de ser "de cantina", pelo mesmo motivo e como foi o caso: uma das minhas expectativas era a comida italiana de que gosto muito, mas esta era de enfarta-brutos e não prestava. Pelo contrário, a do Funchal e do Princess Danae (igualmente pequeno) é muito boa e requintada .
Esta Classic international Cruises tem outros pequenos navios, mas só conheço estes dois. Têm todos bandeira portuguesa e operam às vezes a partir de Portugal, mas a companhia não é portuguesa.
Fotos: Paquete Funchal fundeado em Ajaccio, na Córsega, no porto de Mahon, ilha de Menorca e ao largo de St. Stefano, em Itália.
sábado, setembro 04, 2010
Palamós
E aqui está uma terra que ninguém conhecia e de que toda a gente gostou: Palamós, na Catalunha. Lugar sossegado com gente muito simpática e uma língua que às vezes parece português.
Não tirei muitas fotografias, porque já andava um bocado farta, mas mostro depois um Museu da Pesca que lá vi.
As terras a que se tem vontade de voltar, nesta viagem, são: Santo Stefano (muitíssimo), Palamós e Ceuta (sempre).
Não me refiro a Florença, por não ter mar nem porto e não fiquei a conhecer Viareggio porque fui a Florença. É claro que vale a pena regressar a Florença, mas isso toda a gente sabe...
Há uns anos passei em Civitavechia, uma terra também muito bonita, grande porto de mar, mas de lá, quase toda a gente vai a Roma. Não fui porque tinha estado lá há pouco tempo...
O porto mais próximo de Florença é Livorno, mas é o mais caro do mundo, pelo que alguns navios o evitam. Lisboa é também um dos mais caros.
No caso deste navio, o Funchal, ficámos fundeados ao largo de terras como: Santo Stefano e Viareggio que têm pequenos portos, mas também de Saint Tropez e Cannes, já maiores.
É cansativo e muito moroso embarcar e desembarcar em lanchas baleeiras, ou salva-vidas, como se vê em fotos que coloquei no blogue Escrevedoiros.
Mentiras com efeito
Quando estudei na Universidade, conheci várias pessoas que diziam aos pais que passavam, apesar de terem reprovado. Houve até um rapaz que ainda andava nos primeiros anos e foi recebido na terra com uma festa-surpresa da população toda, liderada pelo pai. What a surprise!
Mas este truque é novo...
(O Diário de Bordo vai prosseguir dentro de momentos)
Lata
É preciso ter lata para comparar o processo Casa Pia com o fascismo. Mas os ricos ou influentes estão habituados a fazer o que querem e a prova é que foram condenados a prisão e estão em liberdade.
sexta-feira, setembro 03, 2010
Ainda Saint Tropez
É uma terra bonita, mas para ver como nós a vimos "à vol d' oiseau". Ficar lá não me parece que valha a pena: muitos turistas, tudo demasiado caro, não sei se é verdadade, mas garantiram-me que lá e em Cannes, onde também fomos, até se paga para estar na praia...
Enfim, são duas terras muito fotogénicas.
"Esplendor e Miséria"
Fico sempre mal impressionada e mesmo incomodada quando, em certos países, sou levada a contemplar a extrema pobreza, que parece inadmissível e quase impossível para quem vive num país relativamente abastado, como é o nosso. Sei que muitos não concordarão com esta frase, mas a pobreza que se "vê", ou que não se vê em Portugal não é comparável à que não se pode esconder noutros países.
Pela mesma razão, sinto-me chocada quando vejo sinais de extrema riqueza e opulência, como vi em Saint Tropez, Riviera Francesa. Havia quem tirasse fotos aos enormes iates, aos invulgares automóveis, às motos...
Se pensarmos bem, é para lugares como este que vai o dinheiro da também imensa corrupção que há no mundo. Diamantes de sangue, negócios de sangue, dinheiro lavado em sangue...
quinta-feira, setembro 02, 2010
Minha peça de teatro
Interrupção das navegações para dizer:
Foi publicada na Revista Triplov a minha peça de teatro, inédita até agora
Aldeia das Cavernas
Pretende demonstrar a ideia de que a aldeia global também pode ser considerada uma aldeia de cavernas, tanto no sentido do primitivismo das relações, como no sentido platónico das ilusões.
Essa não é necessariamente a minha opinião, é apenas um ponto de vista, que me surgiu na escrita desse texto.
Um enorme agradecimento a Estela Guedes, directora da Revista.
quarta-feira, setembro 01, 2010
Navegações
Acabada de chegar a Lisboa, doem-me as pernas, as ancas, as costas... apanhámos vários dias de muita ondulação, ao ponto de ninguém ter dormido uma ou duas noites. A cama dá solavancos, projecta-nos contra a cabeceira ou contra a parede, acorda-se. Nunca ouvi ninguém queixar-se de lhe ter acontecido, mas deve acontecer atirar-nos ao chão.
De pé, estamos sempre a colocar o peso do corpo numa perna, depois na outra, depois na mesma, para nos equilibrarmos, contrabalançando o balanço constante e isto, mesmo quando o mar está manso. Agora aqui, vejo o chão de Lisboa a oscilar perigosamente, porque continuo a centrar a força numa perna e na outra, automaticamente.
Estendida na minha pobre e enorme cama, de braços abertos, dormi a noite dum sono.
Já tenho esta cama há cerca de dez anos, mas nunca se mexeu, nunca me atirou contra coisa nenhuma e nunca me aconteceu adormecer nela em Lisboa e acordar noutro país. Digamos que não tem vontade própria...
Também me agrada pensar que por baixo dela não há tubarões, nem esqueletos de marinheiros nem fantasmas de navegantes. Nem mesmo água.
A minha vocação marítima não é exclusiva, afinal. É muito mais fácil ficar na terra.
Somos todos irmãos
Recordava Ceuta, de lá ter arribado por mar, como uma terra muito tranquila e com gente muito simpática. Recordava esta cafetaria em particular e voltei lá.
Só depois de pedir o café percebi que não tinha levado a carteira: com duas noites e um dia só de navegação, como no navio não se utiliza dinheiro, não vale a pena andar carregada. E disse ao rapaz, na foto:
- Afinal já não quero o café, porque não trouxe dinheiro.
- Pagas amanhã.
- Amanhã já não estou em Ceuta.
- Pagas quando voltares a Ceuta.
E serviu-me o café, com todas as regras. Voltei lá para pagar, claro...
Devo ter cara de pobre, porque toda a gente me dá de comer e de beber em todo o lado, foram os figos em Itália, é o café em Ceuta... uma vez na Tunísia, também café...
Ou: somos todos irmãos.
terça-feira, agosto 31, 2010
Ceuta
sábado, agosto 28, 2010
Navegações
Portas de Oiro
sexta-feira, agosto 27, 2010
Só lhe falta falar... italiano: Porto Santo Stefano
Mas percebe português perfeitamente, visto que entendeu tudo o que eu lhe disse. Quando me esqueci dele, veio ter comido e bateu-me com a patinha na perna para me chamar...
Fiquei com vontade de conhecer a dona: pelo gato se vê o dono, acho eu...
Estava preso por um enorme fio, macio, dúctil e muito bonito.
quinta-feira, agosto 26, 2010
quarta-feira, agosto 25, 2010
Porto Santo Stefano
Para seguir a ordem deste diario de bordo, deveria colocar aqui imagens de Ajaccio, na Corsega, mas é uma terra demasiado turistica. E nao aguento estar em Italia e nao falar so de Italia, so de italia, pensar so em Italia!
Porto St Stefano, enfeitado para a festa do Palio Marinaio. Que ja foi. aqui ninguem rouba nada?
(P.S.: Faltam acentos neste e noutros posts, mas isso é porque o teclado era italiano, ou francês, ou assim...)
(P.S.: Faltam acentos neste e noutros posts, mas isso é porque o teclado era italiano, ou francês, ou assim...)
La Bella Italia: Porto Santo Stefano
Mal chego a Itália, vou tomar o pequeno almoço a terra, claro. Quando vi estes maravilhosos figos pretos, pego em três, levo-os para dentro, dou-os à senhora imensa, alta larga, tal como o marido, ambos sorridentes. A senhora mete-os num saco e dá-mos.
- C' é quanto?
- Niente!
- Niente???
- Nada di nada!
- Grazie. Grazie tante!
- Ah ah ah!
Maravilhosa Itália! Mal ponho um pé em terra, dão-me logo três figos fantásticos!
Porque é que não nasci nesta terra?
E fui comê-los com um capuccino.
Foi tão bom!
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