terça-feira, dezembro 28, 2010

Ah, então é por isso...


Sociólogos dizem que portugueses receberam a crise com surpresa mas podem passar à "explosão"



Ah, agora percebo por que muitos ainda estão na fase da estupefacção! Ainda não acreditam... e por isso não percebem.
Espero que não demorem mais 48 anos a perceber!



Muito sábias palavras de António Barreto e Boaventura Sousa Santos


"Além disso, Portugal não tem tradição organizativa, considera o sociólogo, lembrando que o país viveu metade do século XX sem democracia e que, por isso, as pessoas continuam a ter medo e a viver como num regime de ditadura. "


 "Taxas elevadas de desemprego e até situações de fome ou carência podem coexistir com graus igualmente elevados de resignação"


Na minha terra, dizem que um remédio para o medo é comer crista de galo cozinhada. Quando eu era pequena, davam-me muita: as crianças têm medo...

segunda-feira, dezembro 27, 2010

A pior das idades: "Que [o mundo] não se muda já como soía"

Não vou dizer a minha idade, que já partilhei e já despartilhei, por me parecer que a maioria das pessoas não compreende nada a respeito do assunto e fica bloqueada quando se fala no tempo. É vulgar alguém ficar muito surpreendido porque outrem, que não vê há 20 anos, está 20 anos mais velho. E também é frequente alguém, quando ouve falar numa pessoa invulgar, perguntar a idade e responder, seja a idade qual for: isso é próprio das pessoas dessa idade. E assim se resolve a constante dificuldade de entender o mundo e o próximo...
Mas a minha idade é mesmo a pior, pelo menos aqui, em Portugal. Senão, vejamos.
Quando inventaram o Inter-rail, que permitia viajar de comboio a preços irrisórios, a peça "Inter-rail" era para jovens até uma determinada idade, suponhamos que era até aos18 anos. Pois eu tinha 19. 
Mais tarde, era concedido crédito aos jovens para comprarem uma casa, talvez até aos 25 anos de idade. Eu tinha 26. 
Apesar disso, apanhei todas as reformas do ensino, de tal maneira que fui das primeiras pessoas a tirar um curso de Letras sem estudar latim (e talvez mesmo grego), pelo que fui muito criticada no passado, como se tivesse culpa. (Agora já ninguém estuda latim e grego, nem parece sentir a falta dessas línguas mortas, dando-me razão ao ter eu optado por Inglês e Alemão). Mais tarde, ao chegar à Universidade, fiz o primeiro ano de um curso que imediatamente deixou de existir, pelo que tive que passar para outro, no segundo ano.
Revolução Permanente? Perguntarão os meus amigos doutras paragens...
Sim, claro: a maoista Revolução Permanente que temos tido sempre, embora sem nos apercebermos dela.


Mas as minhas atribulações, por ter nascido um ano antes ou um ano depois, ainda não terminaram nem estão quase a terminar e, na verdade, estão quase a começar.


Senão, vejamos.
Vou ser uma das primeiras pessoas a só se poderem reformar aos 65 anos, mais provavelmente 67. As pessoas um pouco mais velhas, reformam-se aos 60.
Na minha profissão, que também não digo qual é, a idade é mesmo muito relevante, pelo que serei a primeira  a experimentar a situação de ter essa idade nesta profissão. Como sempre fui atípica, não será talvez aí que me transformarei numa personagem-tipo... só acho que deve ser esquisito e difícil.
Mas há pior. Um reputado economista fez uma afirmação cabalística na televisão: que quando nós chegarmos aos 65, não vamos ter reforma, porque já não há reforma...
Ninguém percebeu muito bem o que ele quis dizer, mas eu, que estou habituada às reformas, estando sempre um ano atrás ou à frente delas...
Se e quando chegar à reforma, talvez já não haja reforma...
Ou, como dizia Camões: o mundo já não muda como mudava dantes, dito assim por ele:
"Outra mudança [o mundo] faz de mor espanto
  Que não se muda já como soía"

domingo, dezembro 26, 2010

Ciao amore, ciao





Uma canção que foi muito apreciada, a seu tempo. E a letra. Algumas palavras estão um nadinha fora do sítio... embora não pareça, é sobre a emigração.


La solita strada, bianca come il sale 
il grano da crescere, i campi da arare. 
Guardare ogni giorno 
se piove o c'e' il sole, 
per saper se domani 
si vive o si muore 
e un bel giorno dire basta e andare via. 
Ciao amore, 
ciao amore, ciao amore ciao. 
Ciao amore, 
ciao amore, ciao amore ciao. 
Andare via lontano 
a cercare un altro mondo 
dire addio al cortile, 
andarsene sognando. 
E poi mille strade grigie come il fumo 
in un mondo di luci sentirsi nessuno. 
Saltare cent'anni in un giorno solo, 
dai carri dei campi 
agli aerei nel cielo. 
E non capirci niente e aver voglia di tornare da te. 
Ciao amore, 
ciao amore, ciao amore ciao. 
Ciao amore, 
ciao amore, ciao amore ciao. 
Non saper fare niente in un mondo che sa tutto 
e non avere un soldo nemmeno per tornare. 
Ciao amore, 
ciao amore, ciao amore ciao. 
Ciao amore, 
ciao amore, ciao amore ciao.

quarta-feira, dezembro 22, 2010

A velha e a couve

Já me esquecia deste conto popular, pois os religiosos são sempre um pouco esquisitos. Vem a propósito do espírito Natalício.

Era uma vez uma velha muito avarenta, na minha terra diz-se "muito pirata" ou "muito somítica" e que não dava nada a ninguém, não dava uma esmola a um pobre, não fazia bem a pessoa nenhuma.
Um dia em que estava a lavar hortaliças no rio, fugiu-lhe uma couve e ela disse:
- Coibe, bai-te com Deus e que aproveites a quem te encontrar.
Pouco depois, morreu. Ao chegar ao outro mundo, foi para o Purgatório, mas São Pedro disse-lhe:
- Só uma vez na tua vida é que tu fizeste bem, que foi aquela história da couve. Mas eu vou-te dar uma oportunidade. Agarra-te à tua coibe e sobes dependurada nela para o Paraíso.
A velha assim fez, mas as outras almas que estavam no Purgatório, quando a viram a subir para o céu dependurada na couve, também se dependuraram nas pernas dela. Então, a velha começou a dar pontapés às outras almas, batendo-lhes com os pés na cabeça, fazendo-as cair.
- A coibe é minha!  À minha custa e à custa da minha coibe é que bós não habeis de subir para o Paraíso.
E com esta última maldade, acabou por ficar onde estava.
OH!
Moral da história: se dermos uma couve, nunca devemos depois dizer assim:
- A coibe é minha!


(Contos narrados pelo meu avô Manuel Daniel de Sousa, transcritos após a sua morte, com contribuições de várias pessoas da família. O avô contava estas historias milhares de vezes, enquanto os primos piscavam os olhos entre si, sentados em escabelos, na espreguiçadeira, ou deitados na carqueija, antes de ser queimada na lareira.
Estes contos eram inéditos, antes de terem sido partilhado neste blogue, sendo muito procurados por pessoas do Brasil.
São contos do Douro Litoral, também chamado de Entre Douro e Minho, Portugal)

terça-feira, dezembro 21, 2010

Linguagem de emigrante e jogos do Facebook

Dou comigo a  a falar pelo telefone com uma amiga:
- Serias capaz de unwither os meus crops?
Bem, isto tem a ver com um jogo do Facebook. As minhas abóboras estão secas e ressequidas, mas vai lá um amigo, rega-as e elas ficam viçosas e óptimas. Como se diz isto em português? Como dizer algo que não acontece, algo seco tornar-se viçoso? Reavivar? Revitalizar? Desmurchar.
- Ok. - diz ela - E então, apanha-me um stump e um skull (tudo pronunciado como se fosse português: setumpe, sekule).


Ela quer dizer que lhe arranque uma raíz de uma árvore e que lhe apanhe um esqueleto do chão... talvez o esqueleto dum animal... como se diz isto em português?
- Apanha-me esse esqueleto!


Bem, é assim que falam normalmente os emigrantes portugueses: já não sabem, ou nunca souberam, dizer em português certas coisas e portanto, dizem-nas numa miscelânea de português e outra línguas.
Caro amigo: Sem sair de casa, sinta-se emigrante na sua terra, como se estivesse num país anglófono! Talvez lhe sirva para o futuro!

segunda-feira, dezembro 20, 2010

O ABORTO


- O que pensa sobre o aborto?

- Considero-o um Péssimo 1º ministro e está a governar muito mal o país….

Frase atribuída a Alberto João Jardim (circula na net sem referência à fonte).

Porque será que sempre achei muita graça a este político?



domingo, dezembro 19, 2010

Novos pedintes


Tenho-vos contado aqui sobre os novos pedintes que há agora em Lisboa, ainda recentemente encontrei um que passava recibo, mas protestou por lhe ter dado menos de 5 Euros...
Estes, da foto, são ultramodernos. Estão de passagem por Portugal e até têm site na Internet e blogue. 
Vi-os no Jornal I. 
Instalaram-se numa rua de Lisboa, onde dormem, mudam-se para outra onde pedem, com cartazes separando as esmolas: para comida, para álcool, para charros, para drogas pesadas... as pessoas acham-nos muito sinceros e ajudam muito. Intitulam-se como lazy beggars, isto é, pedintes preguiçosos.


P.S.: Vi-os ontem em Lisboa (15 / 6 / 2012). Não tirei foto porque pensei que já tinha, mas esta não é minha.

sábado, dezembro 18, 2010

Sócrates esFeMiado

Para Sócrates, vale tudo menos vir cá o FMI.
Mas o FMI saberia o que fazer e ele não sabe.
Se as 50 medidas que agora tomou para recuperar a economia são tão importantes, porque não se lembrou delas antes?
Não é ele a pessoa certa para resolver os graves problemas que criou com a corrupção e o despesismo.

sexta-feira, dezembro 17, 2010

Hitler também era socialista

O Cardeal Patriarca disse à Visão que não percebe por que hão-de ser os funcionários públicos a pagar a crise.
Mas parece que toda a gente percebe: porque são os outros trabalhadores que pagam aos funcionários públicos... mas então eles não são necessários?
Este governo é perito em pôr todos contra todos, contra os "privilegiados"...
Com excepção dos casamentos gay e da legalização do aborto, nunca tivemos um governo tão à direita desde a revolução.
Um governo minoritário decide liberalizar os despedimentos e não encontra dificuldade nenhuma em fazer isso...


Hitler também era socialista. Nacional Socialista.

quinta-feira, dezembro 16, 2010

Links para aqui

Ainda estou para entender a razão por que este site tem ligação para os meus blogues. Se alguém entender, agradeço que me diga.
CLICAR AQUI

quarta-feira, dezembro 15, 2010

Alguns são muito menos iguais que os outros


Governo quer tecto máximo nas indemnizações por despedimento



Não creio que este tecto máximo se aplique aos gestores de topo, muitos deles políticos, que saem sempre a ganhar, mesmo quando são despedidos por "suspeita" de fraude.
Vocês não acham que o palerma do nosso PM anda demasiado bem disposto?
Como aqueles criminosos sem senso moral. Com eles está sempre tudo óptimo...
Haverá ainda alguém que sinta respeito por semelhante criatura?
Só se forem os tolinhos de Almansores!!!

domingo, dezembro 12, 2010

Os de Mansores II

Prosseguem as histórias de Mansores (nome ligeirmente modificado). Chamava-se tolinhos a pessoas atrasadas em termos mentais, talvez por vários motivos, incluindo o de terem sido criadas ao Deus-dará, sem nenhuma educação ou instrução.

Uma vez, um pai e um filho de Mansores compraram sardinhas e, como gostavam muito, mas era muito raro chegarem sardinhas àquela aldeia da serra longe do mar, estavam a dizer assim:
- Ai quem nos dera ter sempre sardinhas para comer.
Passava nesta ocasião por lá o almocreve, que ouviu a conversa e disse:
- Se vocemecês me derem um chapéu [cheio de] dinheiro, eu ensino-vos uma maneira de vós  terdes sempre sardinhas para comer...
Lá lhe deram o chapéu de dinheiro e o almocreve explicou:
- É só sameá-las.
- Samear as sardinhas?
- Claro!
Então, pai e filho semearam as sardinhas que tinham e ficaram a vigiar a sementeira, para que ninguém lha roubasse.
- Vai ser a nossa sorte! Vamos ficar ricos a vender as sardinhas.
Quando as sardinhas começaram a apodrecer, começaram a aparecer alguns bichos. A certa altura, pousou um gafanhoto no peito do pai, mesmo por cima do coração. Então, o pai disse:
- Ó moço, mata-me este gafanhoto!
- E como é que eu o mato, meu pai?
- Dá-lhe um tiro.
E assim foi. O moço deu um tiro no coração do pai e matou o gafanhoto e o pai.

(Eu avisei que estes contos são  muito estúpidos, mas, por isso mesmo, deve haver para eles alguma interpretação interessante, parecem contos exemplares.)

(Contos narrados pelo meu avô Manuel Daniel de Sousa, transcritos após a sua morte, com contribuições de várias pessoas da família. O avô contava estas historias milhares de vezes, enquanto os primos piscavam os olhos entre si, sentados em escabelos, na espreguiçadeira, ou deitados na carqueija, antes de ser queimada na lareira.
Estes contos eram inéditos, antes de terem sido partilhado neste blogue, sendo muito procurados por pessoas do Brasil.
São contos do Douro Litoral, também chamado de Entre Douro e Minho, Portugal)

sexta-feira, dezembro 10, 2010

Os de Mansores

Publiquei neste blogue muitos contos populares, mas guardei para o fim os mais estranhos e mesmo disparatados. Eram contos que o meu avô contava à lareira, um homem que morreu muito velho e feliz, na sua cama, quando era suposto ter morrido na Flandres, na I Guerra Mundial, da qual desertou e muito bem, a meu ver.


Contava ele umas histórias estrambólicas que situava numa aldeia próxima, aldeia da serra. Embora fosse próxima, ficava num concelho rival, o que explica, em parte, o mal que dizia da gente de lá. 

Caros amigos: peçam-me que conte uma história de Mansores. E eu conto.


História de Mansores


Era de noite e estava muito calor na aldeia de Mansores  As pessoas estavam todas sentadas à porta, porque não aguentavam estar dentro de casa. Foi então que passou um almocreve e lhes disse:
- Se vocemessês me derem um chapéu de dinheiro, eu resolvo-vos o problema.
Deram-lhe o chapéu de dinheiro e o almocreve disse que a solução era tirarem o telhado de colmo das casas. E assim fizeram.
Enquanto durou o Verão viveram eles muito contentes e satisfeitos nas casas sem o telhado de colmo. O pior foi quando veio o Inverno!
Então, estavam eles cheiinhos de frio e todos molhados e passou por lá outra vez o almocreve:
- Se vocemessês me derem um chapéu de dinheiro, eu resolvo-vos o problema.
Deram-lhe o chapéu de dinheiro e o almocreve mandou-os voltar a pôr os telhados.
Eles assim fizeram e assim ficaram todos contentes dentro de casa à lareira, muito quentinhos e protegidos da chuva, por causa dos telhados.


(Contos narrados pelo meu avô Manuel Daniel de Sousa, transcritos após a sua morte, com contribuições de várias pessoas da família. O avô contava estas historias milhares de vezes, enquanto os primos piscavam os olhos entre si, sentados em escabelos, na espreguiçadeira, ou deitados na carqueija, antes de ser queimada na lareira.
Estes contos eram inéditos, antes de terem sido partilhado neste blogue, sendo muito procurados por pessoas do Brasil.
São contos do Douro Litoral, também chamado de Entre Douro e Minho, Portugal)

domingo, dezembro 05, 2010

Poupanças do Estado

Professores vão deixar de ganhar dinheiro para corrigir exames, anulando a diferença entre os professores que se estão a bronzear na praia e os que estão a fazer um trabalho intensivo de alta responsabilidade, mas:


Clicar aqui:
Altos quadros do Estado que já acumulam ordenado e pensão não são abrangidos pela proibição dessa regalia.(...)


Nos últimos anos, andava tudo tão entretido com os professores que ninguém reparou neste descalabro das contas. E agora também são os professores que vão pagar a crise...
Porquê tanto ódio aos professores? 
Alguém traumatizado porque não conseguiu acabar um curso pelas vias normais?

Obrigado, eu! - disse a vizinha

Pegou na moda isto de dizer Obrigado, eu! a despropósito.
É um erro muito vulgar, mesmo entre pessoas que usualmente não dão erros, trocar o feminino pelo masculino nesta palavra. Muito naturalmente, as mulheres devem usar o feminino e os homens o masculino, como diriam agradecido / agradecida, que é o que a expressão significa. Nenhuma mulher diz: estou agradecido.
Pedindo outro dia a uma vizinha que me fizesse um pequeno favor, um pouco chato para ela, (aquelas questões do condomínio) quase me desatei a rir ao agradecer, pois ela respondeu-me:
- Obrigado, eu!
É verdade que estas fórmulas, pedir por favor quando não há favor a fazer, por exemplo, não têm muita lógica. Mas ainda têm alguma. Pedir por favor num tom agressivo é outra maluquice...

sábado, dezembro 04, 2010

Quando houver mais portugueses com fome ou com mais fome, talvez se consigam meter na cadeia os que nos fizeram chegar a este ponto.
(Já tivemos revoluções e guerras civis...)