Dizer que um livro é muito giro não é grande elogio, mas o que se oferece dizer sobre este é isso mesmo: é giríssimo.
Narra a vida de mulheres chinesas à época da queda da dinastia Ming, o que se deveu, em parte, à chegada dos europeus, no Sec. XVI, nunca referida, e à invasão Manchu.
A protagonista, Peónia, é uma jovem que morre de amor, por influência da sua heroína favorita, uma personagem de ópera. Ia casar aos 16 anos com o jovem que amava, mas não sabia que era ele o seu futuro marido, pois era assim, naquele tempo: estavam apaixonados, mas cada um deles julgava que ia casar com outra pessoa. Vivia numa casa grande, com pátios e jardins, só transporia o portão no dia do casamento, nunca tinha ido nem podia ir a alguns dos pátios interiores. Numa época em que outras mulheres começavam já a ter um certo tipo de liberdade.
Esta é a primeira de três partes. Nas outras duas, o espírito de Peónia vagueia pelo mundo, como o que chamaríamos "alma penada" e que se chama "espírito esfomeado".
No outro mundo é tudo exactamente igual ao que os chineses diziam que era. A avó, que encontra do lado de lá, diz-lhe mesmo que recorde aquilo que ouvia contar, para se orientar.
Nesse sentido, é muito original, uma viagem pelos rituais de vida e de morte chineses e respectivas crenças.
E é sempre tudo mau para as raparigas, claro. Vivas ou mortas.
Autora: Lisa See, editora Bizâncio. Comprei-o no espaço Docas, nas Docas.
De facto, existe a ópera O Pavilhão das Peónias, escrita por um homem, a qual teve, sobre as mulheres chinesas dessa época, um efeito semelhante ao do Werter, de Goethe sobre os românticos, tendo havido muitos homens que se suicidaram sobre o túmulo do verdadeiro Werter, no qual se inspirou o escritor.
A persongem Liniang, da ópera, não existiu, mas deu origem a muitas mortes por anorexia entre as mulheres da China, pois essa era mesmo a única maneira de não obedecer: não casar com o escolhido pelo pai, não fazer amor com o marido, etc. A única escolha possível era a morte. Por inanição.
A personagem do livro que li, Peónia, escreveu também um livro, que é uma interpretação desta ópera. É a primeira obra dentro do género, estudos literários, que existiu no planeta, Sec. XVI. Escreveu-o parcialmente, as outras duas autoras são as outras duas esposas do marido, que casou com ela depois de morta.
Bem, esta é a parte da verdade dos factos. Percebem? Esquisito... Se não percebem, tudo bem. Esqueçam.
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