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sábado, abril 15, 2023

O Astrólogo e o Rei

 


Estou a ler um romance histórico interessante, O Astrólogo e o Rei, de Brigid Hampton. O astrólogo (e astrónomo) é Abrão Zacuto, que ajudou D. João II nos descobrimentos, tendo melhorado o astrolábio e elaborado um Almanaque Perpétuo com a localização dos astros. Nessa época não existia a diferença abissal entre astrologia e astronomia. Este ramo do conhecimento, com muitos outros, foi ostracizado pela repressão religiosa cristã (não apenas a católica) e pelo caminho que levou a ciência. O romance é interessante, com uma reconstituição histórica razoável, mas com aqueles tiques do romance histórico: nem é muito literário nem deixa de ser e as personagens são como nós: fartam-se de tomar banho e comem no Algarve amêijoas com xerém, ou seja, farinha de milho, numa época em que ainda nem tinha sido descoberto o continente americano, de onde veio o milho… mas isto é comum, só faltam os pastéis de nata e os pastéis de bacalhau com queijo… :)
Enfim, lê-se bem…

sábado, janeiro 06, 2018

A Coluna de Fogo




Esta é a terceira sequência dos calhamaços que começaram com Os Pilares da Terra. É melhor ler nas férias, porque são todos muitíssimo absorventes, mas este tem o interesse de retratar as lutas entre católicos e protestantes em França e na Inglaterra dos Tudors.

O primeiro, Os Pilares da Terra, centra-se na construção das grandes catedrais góticas, com muita informação sobre os aspetos arquitectónicos, para além de focar diferentes aspetos da época, como a produção e tintura de tecidos.

Em todos estes livros, a ação decorre numa cidade inglesa inventada, Kinsgsbridge. As personagens centrais são inventadas, as personagens reais interagem com elas, dando-nos um panorama da Europa dessa época.  Dessas 3 épocas.

sexta-feira, dezembro 27, 2013

Livro para ler: sobre Madame de Montespan



Comprei ontem à tarde, na estação de comboios de Campanhã, um livro difícil de parar de ler: Montespan. Custou cinco Euros, mas neste link custa só três.

É sobre o marido de Madame de Montespan, a amante favorita do rei Louis XIV.
Como quase todos os romances históricos, não é grande coisa no aspeto literário, é mais um best seller e uma espécie de reportagem jornalística sobre a época, mas tem particularidades interessantes.

Em primeiro lugar, Luís XIV foi de tal modo extraordinário, para o bem e para o mal, que merece os inúmeros romances históricos escritos sobre personagens que o circundaram: o jardineiro, como O Jardineiro do Rei, os cozinheiros, como Vatel, sobre o qual se escreveram livros e fizeram filmes, as amantes e agora o marido da amante. Foi uma escolha inteligente, que permitiu ao autor inventar tudo o que quisesse. E nem é necessário inventar muito porque a própria realidade é incrível.

A outra graça do livro é que o autor reproduz os costumes nojentos da época, o que quase todos os escritores evitam. Recordamos logo a cama real coberta de percevejos do Memorial do Convento, de José Saramago, mas este livro vai muito para além, recriando outros pormenores, como o hábito que nobres e reis tinham de defecar em público, por exemplo.
Às vezes talvez confunda mesmo a lenda coma realidade, o que também é natural, como quando afirma que Luís XIV só tomou banho uma vez e se benzia com água benta em vez de se lavar. Tem graça, mas talvez seja exagero, motivado pela ideia transmitida pelos médicos da época de que a água fazia muito mal.
Ainda não acabei de ler, mas estou a tentar não ir a correr pegar nele...

Recomendo também O Jardineiro do Rei, talvez até um livro melhor do que este.

terça-feira, novembro 19, 2013

Deve um inspetor da polícia "defender a ordem numa sociedade corrupta?




Sinto-me esquisita, entre arrepiada e ignorante, quando ouço chamar elite aos nossos políticos. Arrepiada, como se ouvisse dizer que o Hitler era uma criatura boa, um santo. Não é uma questão física, é algo que chega ao corpo, por absoluta incapacidade de continuar no espírito.

Elite? Os Passos Coelho, os Josés Pintos Sócrates? Não creio que seja este o conceito de elite, no dicionário das línguas de raiz europeia.

Elite: Alexandre Quintanilha, Richard Zimler, muitos outros, mencionados neste vídeo e muitos outros que todos conhecemos.

Esta é uma entrevista de Richard Zimler sobre o "nosso" país: o mundo. Deve um inspetor da polícia "defender a ordem numa sociedade corrupta? 

"Eu acho que não vamos conseguir dar a volta  situação com esta passividade" - afirma o entrevistado.

Já li o livro. Adorei.
Livro: A Sentinela. Autor: Richard Zimler


sábado, agosto 03, 2013

O pirata Long John Silver




Há dois anos por esta altura, li em Cabo Verde, ilha e cidade de São Vicente, um livro intitulado História Geral dos Piratas, que chegou  a ser erradamente atribuído a Daniel Defoe, autor de Robinson Crusoe. Para ver o que escrevi neste blogue sobre essa obra, clicar por cima.

O livro, que li com grande prazer e entusiasmo, até por estar numa ilha onde esses piratas terão aportado várias vezes, é assinado por um alegado pirata arrependido, chamado Johnson.

Leio agora com igual prazer o livro Long John Silver, que frequentemente se refere ao anterior, sendo uma das personagens o próprio Daniel Defoe, como autor da História Geral dos Piratas.

É um romance razoavelmente bem escrito, com  a vantagem de o seu autor Bjorn Larsson, ter passado vários anos a navegar, pelo que todo o percurso marítimo não soa a falso, nem a cenário de cinema.

Não sendo nenhum must read, a não ser para quem gosta do tema (mar, marinheiros, piratas), tem também a vantagem de estar em saldo, com aqueles descontos especiais de fim de coleção, daquelas que não se venderam muito.

Conta a história fictícia do terrível pirata Long John Silver, amigo do escritor Daniel Defoe, escrita pelo próprio (pirata).
Este Long John Silver é também protagonisa do famosíssimo romance A Ilha do Tesouro, de Robert Louis Stevenson.


(Algumas das informações que aqui forneço, não as tinha quando comecei a ler, pelo que você partirá em vantagem. Pode optar por ler primeiro, ou depois, qualquer um dos outros.) Com a particularidade de que todos os três representam ótimas leituras para férias, por apelarem ao espírito de aventura, ao mar, às viagens.  


Mas não a viagens como turistas...

domingo, janeiro 27, 2013

Livros inspirados nas uvas e no vinho

Acabo de ler Ervamoira, um romance histórico abarcando várias gerações do fabrico do vinho do Porto e descrevendo a própria cidade do Porto em diferentes épocas.
Escrito com espantosa sensibilidade e com um surpreendente conhecimento da história cultural, económica e demográfica da região, aliados a uma inventiva que lhe permite narrar inúmeras estórias interessantes e originais, a obra de Suzanne Chantal consegue também mostrar o essencial da vida e do mundo, como se vistos através uma embriaguês, que apaga os contornos, sem ocultar a beleza do mundo, ignorando a monotonia dos dias e referindo vagamente, embora sem as esquecer, as partes menos belas da natureza humana.




Um outro livro que reli agora, foi O Catalão de Noah Gordon, também romance histórico, cuja ação principal decorre numa região vinícola espanhola, catalã, uma pequena quinta onde se cultiva uma vinha de fraca qualidade, que só serve para fazer vinagre. 



O protagonista vai viver para França, por razões políticas e / ou económicas, sem que exista grande diferença entre as duas razões, onde aprende como fazer vinho a sério, regressando à quintinha de vinagre, que já nem lhe pertencia... e mais não conto.





Nas duas obras, e talvez em muitas outras, o vinho serve de inspiração, tanto para a atitude dionisíaca perante a vida, como para o seu oposto, o trabalho duro, o dever...

É  a seiva, arrancada à pedra e à terra *, que circula pelos copos e pelos corpos, enchendo-os de prazer, moderado ou excessivo, a seiva pela qual o homem se supera a si mesmo, fazendo algo que a natureza não lhe ofereceu, e talvez mesmo Deus não lhe tenha oferecido.

Algo que se fabrica, de forma alquímica, com sangue, suor e lágrimas e riso e alegria e festa. E morte. E constante recomeço. Que são o resumo mesmo da vida. 


* O bom vinho só se dá em terrenos pedregosos e inóspitos. Ver a propósito uma improvável vinha que fotografei nas Canárias, em Lanzarote, em terreno vulcânico e seco. AQUI.



domingo, março 11, 2012

O Capitão Alatriste



A Rendição de Breda, Diego Velásquez

O Sol de Breda, romance histórico / romance juvenil de aventuras, escrito por Peres Reverte, é um dos vários livros deste autor que narra as aventuras e "desaventuras" do Capitão Alatriste, sob o ponto de vista do seu admirador e amigo Iñigo Balboa, que foi seu "mochileiro", digamos que foi seu pajem, quando era criança e jovem... O romance situa-se temporalmente na época da conquista da Flandres, situação histórica que é retratada nesta pintura.

E quem é este Capitão Alatriste? Numa primeira impressão, parece ser uma criatura ficcionada, totalmente inventada, mas não é. Trata-se de uma personagem simultaneamente real e mítica, um militar heróico, que foi referido por escritores espanhóis como Calderón de La Barca e até foi representado nesta tela de Velásquez.
Embora todos lhe chamassem capitão, foi quase sempre soldado raso, pois, assim que era promovido por atos de bravura, logo o despromoviam por indisciplina, ou por entrar em duelos com pessoas de classe superior...
Inigo Balboa, que veio a ser um nobre respeitado, escreve as suas memórias, em que narra as muitas aventuras que viveu com Diego de Alatriste, por terra e por mar, durante o reinado de Filipe IV rei de Espanha (o malfadado Filipe III, rei de Portugal). 
Neste livro são ficcionadas ambas as personagens reais,  sendo narrador o jovem, e são enfatizadas a coragem, a bravura, a indisciplina, a tendência amoral do exército espanhol, de que fazia parte o exército português, claro. 
Neste período da nossa história que desejaríamos esquecer, talvez gostemos de recordar como foi estranho, grandioso, realmente incrível.. É de recordar que Espanha detinha, nessa época, todas as colónias portuguesas.

Se, por um lado, é uma exortação da grandeza passada de Espanha, do Século de Ouro ou Siglo de Oro, não deixa de ser também uma denúncia das suas grandes misérias. Sem esquecer o orgulho espanhol. O exército português fazia, então, parte do espanhol, tal como o italiano, daí ser italiano o herói desta "rendição", Ambrósio de Spínola.

Neste livro, Diego de Alatriste e Inigo Balboa participam na conquista da cidade de Brede, na Flandres, cuja rendição é retratada na pintura de Velasquez "A Rendição de Breda", sendo figura principal o genovês Ambrosio de Spinola, à direita, na imagem. Como pormenor curioso, descobriu-se recentemente que a figura / retrato do Capitão Alatriste estava nesta tela, como o afirma Iñigo nas suas memórias, mas foi apagada (o que se vê radiografando a pintura e comparando-a com o seu manuscrito). Também foram apagadas as referências a Alatriste de uma peça de Calderón de la Barca, provavelmente, num caso e noutro, por ordem real.


Estranho, no mínimo. Apagado oficialmente das memórias oficiais, o Capitão Alatriste chega até nós, moderno e popular!
Escrevi isto porque me pediram, para ajudar a promover a leitura junto de jovens, sobretudo de romances históricos, ou algo assim.


E para quando um romance português com personagens contemporâneas de Gil Vicente, de Camões, de Vasco da Gama, escrito com orgulho, ironia que permita a distanciação do passado e sem sentimentos de inferioridade, nem demasiados complexos de culpa?


domingo, agosto 14, 2011

Os Piratas

Não é fácil escrever um romance, ou mesmo fazer um filme cuja acção decorra no mar, mas a tentação é grande, dada a apetência pelos temas marítimos. 
Vejamos: para haver uma história, tem de haver um problema; ora, os problemas no mar nunca são pequenos: tempestades, naufrágios... diria mesmo que são definitivos.

Há uma história muito interessante em si, a dos descobrimentos, mas ainda não se conseguiu ultrapassar uma dificuldade romanesca: a ausência de mulheres a bordo. O amor, não sendo indispensável num romance, é quase sempre o seu centro e ainda não se escreveram, que eu saiba, romances em que o comandante se tenha apaixonado pelo grumete ou pelo cozinheiro. O único mais ou menos interessante que li sobre os descobrimentos narrava as viagens de Diogo Cão, mas metia três mulheres, numa situação muito forçada e pouco verosímil, não pela sua presença ali, de facto havia mulheres nesses navios, mas pelas insólitas relações que se estabeleciam.

Existindo o relato autêntico da viagem de Vasco da Gama à Índia, a sua ficção romanesca apresenta dois problemas: o terrível feitio de Vasco da Gama, a diferença de mentalidades entre essa época e a nossa e, principalmente, a ausência de mulheres numa história muito longa. Camões resolveu isto à sua maneira: introduzindo as deusas, as ninfas, os amores e desamores entre os deuses, o episódio de Inês de Castro, etc...

Restam os piratas e, mais ainda, as piratas. Como quase todos os romancistas escrevem hoje para satisfazer o suposto gosto do público e do comércio, o tema dos e das alegadas piratas contorna a situação. Eles não têm problema nenhum, o leitor identifica-se com as personagens, deseja a sua vitória... é o que acontece com o filme Piratas das Caraíbas. Quanto às piratas, embora tenham existido, têm dado motivo a romances, desde ridículos a absurdos. Ver aqui um exemplo. Alguns interessantes, sim, mas só pela história e não pelas referências ao mar.
Há um filme maravilhoso sobre o tema, um dos meus preferidos, no geral, Cantando Por detrás das Cortinas, ou Cantando dietro i paraventi do qual coloquei excertos aqui e no Escrevedoiros.

Vem isto a propósito de um dos livros que ando a ler. Não é ficcional, é muito real, ao ponto de se supor que o seu autor teria sido pirata.
História Geral dos Piratas, Capitão Johnson. - Lisboa: Cavalo de Ferro, 2011


sexta-feira, julho 29, 2011

O Pavilhão das Peónias



Dizer que um livro é muito giro não é grande elogio, mas o que se oferece dizer sobre este é isso mesmo: é giríssimo.
Narra a vida de mulheres chinesas à época da queda da dinastia Ming, o que se deveu, em parte, à chegada dos europeus, no Sec. XVI, nunca referida, e à invasão Manchu.
A protagonista, Peónia, é uma jovem que morre de amor, por influência da sua heroína favorita, uma personagem de ópera. Ia casar aos 16 anos com o jovem que amava, mas não sabia que era ele o seu futuro marido, pois era assim, naquele tempo: estavam apaixonados, mas cada um deles julgava que ia casar com outra pessoa. Vivia numa casa grande, com pátios e jardins, só transporia o portão no dia do casamento, nunca tinha ido nem podia ir a alguns dos pátios interiores. Numa época em que outras mulheres começavam já a ter um certo tipo de liberdade.

Esta é a primeira de três partes. Nas outras duas, o espírito de Peónia vagueia pelo mundo, como o que chamaríamos "alma penada" e que se chama "espírito esfomeado".
No outro mundo é tudo exactamente igual ao que os chineses diziam que era. A avó, que encontra do lado de lá, diz-lhe mesmo que recorde aquilo que ouvia contar, para se orientar.
Nesse sentido, é muito original, uma viagem pelos rituais de vida e de morte chineses e respectivas crenças.
E é sempre tudo mau para as raparigas, claro. Vivas ou mortas.

Autora: Lisa See, editora Bizâncio. Comprei-o no espaço Docas, nas Docas.


De facto, existe a  ópera O Pavilhão das Peónias, escrita por um homem, a qual teve, sobre as mulheres chinesas dessa época, um efeito semelhante ao do Werter, de Goethe sobre os românticos, tendo havido muitos homens que se suicidaram sobre o túmulo do verdadeiro Werter, no qual se inspirou o escritor. 


A persongem Liniang, da ópera, não existiu, mas deu origem a muitas mortes por anorexia entre as mulheres da China, pois essa era mesmo a única maneira de não obedecer: não casar com o escolhido pelo pai, não fazer amor com o marido, etc. A única escolha possível era a morte. Por inanição.


A personagem do livro que li, Peónia, escreveu também um livro, que é uma interpretação desta ópera. É a primeira obra dentro do género, estudos literários, que existiu no planeta, Sec. XVI. Escreveu-o parcialmente, as outras duas autoras são as outras duas esposas do marido, que casou com ela depois de morta.
Bem, esta é a parte da verdade dos factos. Percebem? Esquisito... Se não percebem, tudo bem. Esqueçam.

terça-feira, janeiro 04, 2011

A chuva na leitura do livro e também no telhado

Estou  a ler com grande prazer Um Mundo sem Fim de Ken Follet, depois de ter lido Os Pilares da Terra do mesmo autor.
Descobri-o assim: numa banca de publicidade turística espanhola, pouco depois ou pouco antes de ter reencontrado a Filipa que também trabalha em turismo - navios, havia como oferta uma brochura com uma encadernação magnífica, que continha, em espanhol, parte do 1º Capítulo deste Um Mundo sem Fim.
A personagem é uma menina que está a tentar roubar a bolsa de um fidalgo durante uma celebração religiosa numa catedral gótica (construída no livro Os Pilares da Terra). Tem medo de roubar, mas ainda tem mais medo do pai, que a mandou fazer isso e da fome da família durante o Inverno ... etc...
Pouco depois, comprei Os Pilares da Terra em espanhol, pois estava em viagem: em Portugal custaria algo como 50 Euros, pois é muito grande e em 2 volumes, em espanhol era só um e muito mais barato (acontece o mesmo com este). 
O primeiro livro é sobre a construção das catedrais góticas, em especial a de Kingsbridge, sendo elas os "pilares da terra", em termos místicos. No segundo, os construtores, plebeus, são antepassados das personagens nobres.
Para além dos livros de Pearl Buck, aqueles cuja acção decorre na China, poucas vezes gostei tanto de ler um romance.
São obras que nos colocam em contacto com os aspectos essenciais da vida e da humanidade, da natureza e do tempo.
Estava eu, por estes dias, a ler o primeiro capítulo de Um Mundo sem Fim, eram duas horas da manhã, chovia torrencialmente e de forma assustadora na Kingsbridge medieval e também no meu telhado em Lisboa, onde havia o aviso de alerta amarelo, de tal maneira que entrou água da chuva na minha casa, tendo eu interrompido a leitura para ir ver... e pôr um balde a apanhar a água...
Mas depois voltei  a recostar-me na cama, continuei a ler e lentamente abrandou e parou de chover na minha casa de Lisboa e na Kingsbridge daquele tempo.
Os telhados são sempre um problema...

P.S.: Disseram-me agora que está a passar uma mini-série sobre os Pilares da Terra no AXN. Se ainda não leram é melhor lerem agora o livro e ver a série mais tarde, que há-de voltar a dar...


segunda-feira, fevereiro 22, 2010

"O Viajante Cego" ou o Triunfo da Vontade

Ando a ler vários livros, mas sobretudo um que é fantástico.
É a história verídica, direi mesmo biográfica, de um dos maiores viajantes de todos os tempo.
Mas este era cego, ou melhor, ficou cego a certa altura. E continuou a viajar sozinho pelo mundo inteiro, usando meios baratos, pois não era rico, usando os meios baratos dos autóctones. É espantoso como é possível ultrapassar as limitações, todas as limitações, até porque Holman, como se chamava o viajante, tinha também graves problemas de ossos e articulações.
O livro está escrito como um romance histórico / reportagem, citando muitas vezes o O Viajante Cego, que também foi escritor e investigador, no seu tempo.

Sobretudo, sendo baseado na realidade, este livro mostra-nos triunfo da vontade sobre todas as limitações, interiores ou exteriores, pois também teve muitos obstáculos postos pela sociedade da época, sendo talvez um dos primeiros o não acreditarem que um cego pudesse fazer tudo aquilo que pretendia fazer. E não era cego de nascença, era alguém que viu bem até certa altura e que cegou repentinamente, tendo de se habituar a viver sem luz.
Ah, e era marinheiro.

Fica o desejo de ler os relatos originais, que tinham ficado esquecidos... este livro deixa um certo sabor a pouco, é pouco interessante no aspecto literário. Esperava encontrar impressões inventadas / sugeridas por alguém que sabe escrever bem, melhor do que o protagonista, talvez...

sexta-feira, agosto 07, 2009

Rouge Brésil - Pau Brasil

Acabo de descobrir com prazer e alegria que Mem de Sá, o terceiro e um dos principais governadores do Brasil, era irmão de Sá de Miranda, ambos filhos bastardos dum padre (cónego) que os deve ter protegido muito, mesmo assim.
Vi isto no blogue que tenho aqui nos favoritos, " Carreira da Índia". Fiquei também a saber que o seu filho Estácio de Sá morreu ao reconquistar parte do Brasil aos franceses, que tentavam conquistá-lo, na intenção, algo mística, de fazer uma França nos trópicos, com "protestantes".

Seria interessante estudar o assunto: algumas pessoas e alguns grupos de pessoas foram viver para as Américas, na intenção de construir um novo mundo místico, esperando realizar profecias bíblicas.

Enfim, tudo isto (quero dizer, a ocupação por franceses e reconquista pelos portugueses da zona que hoje é o Rio de Janeiro) está narrado num excelente romance de Jean-Christophe Rufin, que li em francês, designado por "Rouge Brésil" e que em português se intitula Pau Brasil. Mas esse Mem de Sá, que fiquei a conhecer através do romance, aparece muitíssimo desfavorecido, como se fosse um idiota, muito feio e bronco. É tal o exagero, que parece uma caricatura. Natural, vindo de um francês que gostaria que houvesse uma França dos trópicos, altamente idealista e mística, embora a ironia esteja presente em toda a obra, criticando sobretudo o líder francês.

Pois Sá de Miranda é também um dos meus poetas favoritos e colocarei um seu poema sobre a mudança no blogue Escrevedoiros, nesta data.


quarta-feira, junho 10, 2009

O Expresso de Cantão

Estou a ler um livro muito interessante.
Alguns dos últimos que li, sobretudo romances históricos, eram tão parvos, como aqui explicitei, que estive algum tempo sem ler nada, por enfado absoluto.
Este chama-se "O Expresso de Cantão". O autor é o italiano Giuliano da Empoli e a personagem principal é um seu antepassado com o mesmo nome, que viajou na armada de Afonso de Albuquerque e que andou pelo mundo inteiro há 500 anos, como mercador, viajante e aventureiro. O autor possui algumas cartas do antepassado e uma sólida e variada cultura que manifesta constantemente. Também se apresenta como personagem, numa alternância de épocas que confere colorido ao texto.
Em termos narrativos, a obra é enriquecida com episódios e faits divers históricos muito agradáveis de ler e de descobrir.
O exotismo oriental aliado ao exotismo do passado são mais duas das graças deste livro.

sábado, maio 09, 2009

De como vender livros e papel

Ando a ler um livro que comprei na estação dos correios e que comecei a ler enquanto esperava. Boa ideia, esta de vender livros nos correios e até mais baratos!
Chama-se A Pirata e o autor é o americano Hugo Gerstl, que vende livros por uma pá velha.
Interessou-me o tema da mulher pirata, que também tem inspirado outros autores e até filmes, como um dos meus favoritos, neste caso uma pirata chinesa, sendo o filme italiano: "Cantando por detrás das cortinas".
Neste caso, a pirata existiu mesmo, foi um daqueles corsários que os ingleses consideraram heróis por terem andado a roubar para eles aos portugueses, espanhóis, franceses e quejandos. Chamou-se Grace O'Malley ou Granuaille e era irlandesa. Pode ver-se na Internet a sua biografia.
A heroína já era rica antes de andar a roubar, o que faz por vocação, mas é muito favorecida pelo autor, muito simpática, etc.
Agora espantem-se: a certa altura ficou desfigurada por ter sido atingida na cara. Meteu-se em casa com uma depressão e engordou muito (o que era um problema naquele tempo, claro). Mas o pai encontrou a solução: trouxe-a a Portugal, onde o Dr. António Manso Pinheiro e a enfermeira Maria Correia lhe fizeram uma operação plástica, com anestesia geral, claro. Substituíram-lhe a pele da cara por outra de outro sítio e ela ficou ainda mais bonita do que era antes. E feliz. Fez uma dieta e exercício e já foi para a terra dela com umas roupas vermelhas que se usavam aqui, como aquelas dos ranchos folclóricos.
Quando, mais tarde, o marido teve um cancro, o mesmo médico e os netos operaram-no e extraíram o tumor com anestesia geral, o que fez com que ele vivesse mais uns anos largos.
É porreiro ler um livro assim, em que é tudo tão moderno, apesar de se situar no SEC. XVI.
E a pirata adora Portugal, o que é simpático da parte dela.

quarta-feira, setembro 03, 2008

Nefertiti

Ando a ler agora um livro, um romance histórico sobre Nefertiti e o rei Akhenaton.
Sei que já vi um filme sobre isto e até me parece que fosse antigo, talvez com a Sofia Loren? Se alguém se lembrar, agradeço que diga. Lembro-me bem da cerimónia dos mortos, retirada do livro dos mortos do Egipto antigo, um óptimo momento de cinema.
Quanto ao livro, lê-se com agrado, se ignorarmos que todos tomam banho todos os dias, escrevem em papiros tudo o que lhes vem à cabeça, amarrotam os papiros e deitam-nos ao lixo de cada vez que a mensagem lhes desagrada, enfim, o que vos tenho dito como defeitos do romance histórico.
Cada vez mais me convenço que o romance histórico não é literatura, como li num artigo cujo autor não fixei, mas que parece corresponder a uma teoria actual.
Será uma espécie de reportagem histórica, que poderá ser quase exacta na "pior das hipóteses" e delirante na melhor, ou seja, naquela versão que todos queremos ler.
E todos fazem massagens, só falta limparem o traseiro a papiros e usarem telemóvel, mas esta última também existe sob a forma de bola de cristal, ou algo mágico que faça as vezes da televisão e do telemóvel.
Como vêem, regressei. Mas ainda não definitivamente.

segunda-feira, março 17, 2008

Todos os Ingredientes para quê?

Um conhecido jornalista e também escritor de romances históricos fez um comentário na capa dum romance que se pretende tão histórico e tão "best-seller" como os dele (cito de cor):



"Este romance tem amor, sexo, traição, dinheiro e espionagem, enfim, tem todos os ingredientes".


Pergunto: Tem todos os ingredientes para quê?


Para ser uma obra literária original? Para apresentar um novo rumo da literatura nacional e mundial? Para apresentar algo de novo e ou de construtivo?


Para vender muitos livros?


Era a isto que Garrettt chamava: "receita para fazer literatura original com pouco trabalho". Da lista de ingredientes de Garrett não constavam o sexo nem a violência... outros tempos... mais ingénuos...


Esses autores que Garrett criticava e que ganhavam também muito dinheiro, desses não reza a história e nunca nenhum de nós ouviu falar deles.


De facto, o romance histórico já data dessa época, ou seja, é algo quase arcaico; de facto, o cinema nem sequer acompanha esta tendência economicista das livrarias, das editoras e dos autores... o retorno ao passado, aos tempos idílicos em que ainda não existiam os males do nosso tempo; quanto às artes plásticas: nunca estiveram tão a milhares de léguas da literatura, na sua (dela) ambição de ganhar dinheiro.

O mesmo conhecido jornalista e também escritor acaba de vender os seus livros a editoras americanas, tendo para isso feito algumas alterações para agradar ao "gosto" amaricano, nomeadamente retirar todas as descrições de comida: os americanos não gostam de comida europeia. Esperemos que as personagens históricas europeias não tenham todas começado a comer hamburgers e a beber Coca-Cola.


quinta-feira, julho 06, 2006

Shiatsu II

Entrementes, no palácio real, mas noutra sala.
- Ó filho, que é essa ferida aí no ombro?
- Isto não é nada.
- Foi um mouro?
- Não, isto é o fogo amigo!
- Fogo amigo???????? Foi o Mem?
- Foi.
- Grande amigo! Já te falta um bocado de carne numa perna, tens uma cicatriz horrorosa na cara e foi sempre o Mem.
- Ele ia dar uma espadeirada num sarraceno para lhe cortar rente o pescoço e o tipo baixou-se de repente e a espada do Mem raspou-me o ombro. O que me valeu foi a cota de malha, senão tinha morrido…
- É sempre assim! Então e os mouros nunca te acertam?
- Sim, mas é em sítios onde não se vê. O Mem é que é um despassarado, isto do fogo amigo, quer-se dizer…
- O Mem é um amigo de Peniche!
- Ele não é de Peniche, quer dizer, a gente só há pouco tempo é que conquistou Peniche.
- Fogo amigo, fogo amigo… Mau! A Urraca e a Sancha estão fartas de me dizer:
- Vocês tenham cuidado com o Mem! Com o Mem e com a mulher. Como é que ela se chama?
- Briolanja.
- O Mem é um grande amigo que nós temos. Então e as massagistas das Amoreiras nunca mais vêm?
- Está a chover muito, há muita lama no Rossio, coitadas das raparigas! Devem estar atoladinhas até aos joelhos dos cavalos.
- Se calhar ainda estão na rua D. Pedro V.
-Quem?
- Ó Sanchinho e Urraquita, ide brincar lá para fora. Com a ama. Ui que chatas que são as crianças!
- Ai, quem me dera que inventassem uma coisa moderna em que se pudesse ver o que acontece noutros sítios. [televisão, percebem? :)]
- Isso é uma coisa velha: uma bola de cristal.

As pessoas nessa época tinham nomes esquisitos porque havia o costume de escolher os inimigos para padrinhos?

segunda-feira, julho 03, 2006

Shiatsu I (Introdução)

Fizeram-me uma demonstração duma massagem de Shiatsu. Gostei, achei giro, mas fiquei tão dorida e com tanta preguiça que vi quase todo o jogo Portugal - Inglaterra, alternando com o Lawrence da Arábia noutro canal. Será normal pessoas modernas como nós andarmos a valorizar técnicas milenares como esta?

Pergunto-me se D. Afonso Henriques também faria massagens de Shiatsu quando chegava ao castelo completamente esbodegado de lutar. Elas já existiam muito antes disso (no Oriente).
-Ó Urraca – dizia o rei, enquanto atirava com a armadura de ferro,  com o capacete (elmo de ferro) e com o espadão para cima dos poucos móveis do palácio – Eu preciso urgentemente de fazer uma massagem de Shiatsu ou uma massagem Ayurvédica. Que eu não aguento! Ui os meus pés!
-Então e eu, que fico aqui todo o dia sem fazer nada, só a aturar estas galdérias?Estas chatas!Que só sabem falar de bordados...
- Entretém-te a ler um livro…
- Mas eu nem sei ler…
- Manda ler um livro
- Já mandei ler os dois que temos e são ambos uma seca!
- Ui os meus joelhos!
- Ui a minha cabeça!
- Então, manda um pajem às Amoreiras com dois cavalos e diz-lhe que traga de lá duas massagistas de Shiatsu.
- Ai que bom, assim, aproveito para fazer a depilação!

Como toda a gente escreve romances históricos, não vejo outro jeito que não fazer o mesmo.

Tanitita, você que é entendida em história, acha que convém mudar algum pormenor?