Mostrar mensagens com a etiqueta poesia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta poesia. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, setembro 28, 2007

Atravessa esta paisagem

 

"Atravessa esta paisagem o meu sonho dum porto infinito"
Fernando Pessoa in "Chuva Oblíqua"
Posted by Picasa

terça-feira, agosto 14, 2007

E também era muito agradável

E também era muito agradável sentir na pele a delicadeza das asas

Quando abríamos os olhos já era quase escuridão
Mas ainda não era a escuridão.

Na época em que ainda havia borboletas
Acontecia muito elas descerem em bandos pelo espaço
Num ritmo idêntico ao do pôr do sol e à mesma hora
Era agradável ver a luz fazer brilhar as muitas cores de que eram feitas


Quando fechávamos os olhos sentíamos na pele a delicadeza das asas
Mas não era ainda a escuridão.


(Autoria própria)

quinta-feira, agosto 09, 2007

Baudelaire e Lisboa

Como não nasci em Lisboa, ela é para mim a cidade da minha alma, pelo menos até ver, pois não sou vocacionada para as eternidades.
Como homenagem à minha cidade anímica, aqui vai um excerto de um poema em prosa de Baudelaire e o link para quem quer ver o resto.


«Dis-moi, mon âme, pauvre âme refroidie, que penserais-tu d'aller habiter Lisbonne? Il doit y faire chaud, et tu t'y ragaillardirais comme un lézard. Cette ville est au bord de l'eau; on dit qu'elle est bâtie en marbre, et que le peuple y a une telle haine du végétal, qu'il arrache tous les arbres. Voilà un paysage selon ton goût; un paysage fait avec la lumière et le minéral, et le liquide pour les réfléchir!»

Mon âme ne répond pas."



Baudelaire "Any where out of the world
(N'importe où hors du monde)" in Le Spleen De Paris

Para ver mais, clicar aqui.

sábado, julho 14, 2007

Tempo de reflexão

Hoje não podemos falar de política. É um dia de reflexão. Acho até que devíamos fazer jejum e abstinência, etc., enfim, um retiro espiritual. Para pensar melhor. Mas só em Lisboa.

Proponho para reflexão o seguinte poema de Sophia de Mello Breyner

Exílio

Quando a pátria que temos não a temos
Perdida por silêncio e por renúncia
Até a voz do mar se torna exílio
E a luz que nos rodeia é como grades



in "Livro Sexto" ou "Grades"

quinta-feira, maio 31, 2007

Navegar é preciso, viver não é preciso

Partilho agora aqui uma das minhas frases preferidas. É anónima, ao que parece, e serve de epígrafe à Mensagem de Fernando Pessoa.




"Navegar é preciso, viver não é preciso"


Tem vindo aqui muita gente à procura do significado ou sentido desta frase, que julgam ser de Camões, pois é frequente confundir a poesia da "Mensagem" de Fernando Pessoa com a de Camões em " Os Lusíadas". Isto deve-se ao facto de Pessoa ter querido tratar, de forma moderna, os mesmos temas e assuntos que Camões tratou nessa obra, até porque Pessoa não apreciava Camões. Até porque julgava ser ele mesmo o supra-Camões.


Creio que o sentido da frase é este: não importa mesmo nada a vida que viveu aquele português que embarcou para os Descobrimentos, naufragou e morreu, ou regressou, casou, procriou e morreu... tudo isso é vulgar e inútil. O importante é que essas pessoas "navegaram", ou seja, metaforicamente, fizeram obra de que a humanidade se pode orgulhar.
Devemos, segundo esta ideia, preocupar-nos em "Navegar" e não em viver: Navegar é Preciso Viver não é Preciso.
Também tem outro sentido: navegar é algo que se faz com exactidão, com mapas e instrumentos, viver é algo que se faz por improviso...


Conseguir dizer tudo isto e muito mais numa frase que ainda por cima não assume como sua... é obra: É navegação sem terra à vista do nosso caro amigo Fernando.


Ainda mais recentemente, descubro esta autoria da frase, que me parece legítima: a frase é da autoria de Pompeu, general romano: "Navigare necesse; vivere non est necesse" -no original em latim. A frase será então de Pompeu, general romano (106-48 aC.), dita aos marinheiros, amedrontados, que recusavam viajar durante a guerra. (cf. Plutarco, in Vida de Pompeu). Ver comentário de João Paulo Cabrera.
Dado que Pessoa atribui a frase a navegantes antigos, parece-me que se refere aos antigos romanos. Quanto a ser de Camões, eu afirmo terminantemente que não é.


3 de Julho 2009: Só agora descobri a possível origem desta confusão: vi pela primeira vez o filme Nemo. Vi-o com legendas em português do Brasil. A certa altura, um dos peixes disse esta mesma frase e atribuiu-a a Camões. Não creio que exista no original... Que dizem vocês?
Eu digo que vieram aqui pessoas através de pesquisas que incluíam o peixe Nemo, o que me parecia incompreensível. Aliás, este é um dos posts mais visitados deste blogue. Juntamente com um que tem fotos do navio Santíssima Trinidad.




Ver aqui o texto integral, que pode funcionar como introdução à obra Mensagem


30 Outubro 2010: Já agora, acabo de descobrir que este post é citado num interessante site brasileiro, 


Tentei colocar lá um comentário, mas não consegui, pois para isso deveria registar-me e não consegui fazer isso bem... Deixo aqui o comment que havia escrito.


Agradeço as referências feitas aqui ao meu blogue  (http://terraimunda.blogspot.com/) e ao esclarecimento que dou sobre essa frase. No contexto da obra de Pessoa, também me parece que é mais de valorizar a ideia de que viver não é importante (necessário). Não deixa de ser curioso, também, que esta frase tão apreciada de Pessoa não seja realmente sua... tem a ver com as máscaras. E muitos até pensam que é de Camões... o que, seguramente, lhe teria desagradado. Pessoa não apreciava Camões. O "Imperador da Língua Portuguesa", para ele, seria o Padre António Vieira. O que vos deve agradar a vocês, pois o padre era meio brasileiro e amava o Brasil (cá em Portugal, chamamos brasileiros aos portugueses que vivem no Brasil).


Clicar Aqui

quinta-feira, maio 24, 2007

The Arrow and the Song

Eu soube este poema de cor durante milénios, mas não sabia quem era o autor, que é Longfellow.
Já o coloquei neste blog a ver se alguém o conhecia. Mas a net é maravilhosa! Encontrei os dois: o autor e o poema. Espero que os dois se voltem a encontrar por mim, talvez no coração dum amigo.


The Arrow and the Song




I shot an arrow into the air,
It fell to earth, I knew not where;
For, so swiftly it flew, the sight
Could not follow it in its flight.


I breathed a song into the air,
It fell to earth, I knew not where;
For who has sight so keen and strong,
That it can follow the flight of song?


Long, long afterward, in an oak
I found the arrow, still unbroke;
And the song, from beginning to end,
I found again in the heart of a friend.


Longfellow

quarta-feira, setembro 13, 2006

Natália Correia

Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na Deusa com olhos de diamantes, 
Creio em amores lunares com piano ao fundo, 
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,


Creio num engenho que falta mais fecundo 
De harmonizar as partes dissonantes, 
Creio que tudo é eterno num segundo, 
Creio num céu futuro que houve dantes,


Creio nos deuses de um astral mais puro, 
Na flor humilde que se encosta ao muro, 
Creio na carne que enfeitiça o além,


Creio no incrível, nas coisas assombrosas, 
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o Amor tem asas de ouro. Ámen.


                                    in "Sonetos Românticos", Natália Correia

terça-feira, setembro 12, 2006

Natália

Nasci de me verem sempre de soslaio,
De eu dizer em Junho e eles em Maio,
de ser como os outros às vezes por fora
Mas nunca por dentro
Perfil duma estátua
que não sou de frente.


Eu nasci de haver os bairros da lata,
Da gente que mata o que quer nascer...
Dos teus olhos tristes,
Como se existisses.


...
Natália Correia
(Estou a citar de cor, se quiserem mais, digam ou escrevam.)

Natália Correia


É amanhã o aniversário do nascimento da grande poetisa, grande política e grande feminista Natália Correia, nascida nos Açores a 13 de Setembro dum ano que não importa, porque as mulheres não se medem aos anos.

domingo, junho 18, 2006

Baudelaire: les fleurs du mal: LXXVIII - Spleen

Quand le ciel bas et lourd pèse comme un couvercle
Sur l'esprit gémissant en proie aux longs ennuis,
Et que de l'horizon embrassant tout le cercle
Il nous verse un jour noir plus triste que les nuits;


Quand la terre est changée en un cachot humide,
Où l'Espérance, comme une chauve-souris,
S'en va battant les murs de son aile timide
Et se cognant la tête à des plafonds pourris;


Quand la pluie étalant ses immenses traînées
D'une vaste prison imite les barreaux,
Et qu'un peuple muet d'infâmes araignées
Vient tendre ses filets au fond de nos cerveaux,


Des cloches tout à coup sautent avec furie
Et lancent vers le ciel un affreux hurlement,
Ainsi que des esprits errants et sans patrie
Qui se mettent à geindre opiniâtrement.


- Et de longs corbillards, sans tambours ni musique,
Défilent lentement dans mon âme; l'Espoir,
Vaincu, pleure, et l'Angoisse atroce, despotique,
Sur mon crâne incliné plante son drapeau noir.




in http://t.dillenschneider.free.fr/Poesie/Baudelaire/Spleen78.html

Liberdade

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.


O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...


Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.


Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!


Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.


O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...


Fernando Pessoa ele mesmo, in
http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/pessoa.html