Estamos nesta situação de fazer parte dos PIGGS (tradução porcos), aqueles que têm uma dívida medonha, que vivem das dívidas, talvez pela nossa mentalidade e pela nossa educação.
Muitas vezes ouvi criaturas que foram espancadas na infância, dizer: se o meu pai não me tivesse espancado, eu não era o homem que hoje sou. Pai e filho já morreram, mas nunca foram grande coisa, nem um, nem o outro.
Não se trata de espancar, trata-se de impor regras e limites.
Regras éticas. Dizer aos outros que é melhor para eles mesmos fazerem isto ou aquilo, como se faz muito com as crianças, como dizem os professores, que não têm autoridade nenhuma, é o contrário da ética: é melhor para os outros que tu faças isto ou aquilo. "E que ganho eu com isso?" - Respondem, perguntando...
Tive, em tempos, um editor que me prometeu traduzir os meus livros para várias línguas, publicá-los em várias línguas, desde que eu lhe desse o exclusivo das minhas obras todas. Chateava-me quase todos os dias com isso, chateava e levava-me a chatear com ele todo o mundo, tradutores, encenadores de teatro, produtores, marcava o lançamento da obra para o mês que vem, adiava para o mês que há-de vir. Neste entretanto, não publicava nada, nem da minha autoria nem de outros autores. Quando o deixei, muitos anos depois e após ter eu perdido inúmeras oportunidades, sentiu-se um mártir.
Mas acontece o mesmo com os trabalhadores das obras. Contratamos, no verão, um tipo para nos reparar o telhado. Vai adiando porque é verão, depois é outono, mas está bom tempo, depois já está a chover torrencialmente e ele diz-nos: arranje outra pessoa para fazer o trabalho.
No telhado. Sim, trabalhar no telhado é perigoso. Aceita-se o trabalho para o caso de não haver mais nenhum. Empata-se o freguês até chover.
É claro que estas pessoas não passam faturas, não pagam impostos e às vezes nem têm carta de condução, mas tudo bem... qual é o problema? E assim ficam, impunes, a rir dos "ingénuos" e parvos que fazem o que deveriam... mas ninguém quer ser ingénuo. Muito menos parvo. Pois não? E estes pais passam para os filhos esta ideia. Esta esperteza saloia.
E há aquelas pessoas que metem atestados, físicos e psiquiátricos, que ficam anos e anos sem trabalhar, ou a trabalhar pela metade, mas que são consideradas pessoas normais e, o que é mais grave, vulgares. Não há pessoas vulgares com problemas psiquiátricos. A não ser que acreditemos em tudo o que nos dizem...
Numa sociedade em que quase todos aldrabam... como se sentem aqueles que têm senso moral e ético?
- PARVOS!!!
E, para não parecerem idiotas, deixam-se levar. Esmagando os que não são medíocres. Rindo-se deles mesmos. Marginalizando os mais inteligentes, os mais cultos, os mais honestos...
E os que hoje estão a ser trucidados pela crise, não são os piores, necessariamente. São os piores e os melhores. Sobram os medíocres.
(Continua em próximos posts, não necessariamente no próximo)