Quando eu comecei a trabalhar, há muitos anos, já nesse tempo como professora, partilhei uma casa alugada com várias amigas, algumas delas médicas. Umas iam saindo e outras entrando, pelo que foram várias.
Uma delas era muito sensível e muito preocupada. Um dia chegou a casa debulhada em lágrimas e deixou-mea mim ainda mais de rastos. O caso não era para menos.
Um dos seus doente, ela era boa e trabalhava com um cirurgião apesar de estar a começar, já não tinha pernas nem braços, mas, para poder sobreviver, deveria ainda ser submetido a uma intervençãp em que lhe tirariam mais um bocado do pouco que tinha nos membros inferiores.
O pior foi que ela, médica, tinha desatado a chorar na frente do doente,, com pena dele. Choramos as duas abraçadas, muitas vezes, com pena do homem...
Mais tarde, tive de lhe confessar: não aguentava mais aquelas confidência: eu já não dormia, já não conseguia pensar noutra coisa, eu não estava preparada para ouvir aqueles casos, nunca me teria passado pela cabeça escolher ser médica, o meu trabalho como professora estava longe de ser fácil eu detestava-o, pensava mesmo em desistir do ensino, etc...
Enfim, deixamos de falar sobre esse assunto, claro.
Um dia, ela veio ter comigo e sentou-se na minha cama, mais abismada ainda do que antes e fez questão de me contar tudo o resto...
Embora a Maria tenha rezado para que o doente morresse durante a operação, a que ela tinha assistido como ajudante do ortopedista, quando o homem acordou, mostrou-se muito feliz por estar vivo e anunciou que se ia casar!
O médico cirurgião, mais velho, explicou-lhe que só um imenso desejo de viver tinha permitido que aquele homem sobrevivesse. E que aquela situação não era assim tão rara.
Se compararmos esta história com outras, de pessoas aparaentemente felizes, saudáveis, belas e ricas que se suicidam, devemos constatar que não somos todos iguais.
E, sobretudo, que não importam nada os detalhes....
Será que aquela pessoa se suicidou porque tinha problemas económicos? Será que ninguém a amava? Estaria muito doente?
Enfim... A vida chama por nós. Talvez mais por uns do que pelos outros. Uns respondem, outros não.