Nós somos tão queridos, que até achamos normal alguém enriquecer, ou viver melhor do que nós, por fugir ao fisco, enquanto nós pagamos até ao último cêntimo...
Eu, ter de pagar mais para ser tratada num hospital? Eu, ficar sem tratamento por falta de verbas?
Isso não é nada, o importante é que eu sou boa camarada e não faço queixa daquele tipo que, contratado em julho para me consertar o telhado no verão, foi adiando, adiando, e me respondeu em novembro, após as primeiras chuvas:
- Procure outra pessoa. Eu ainda tenho telhados em aberto e vai chover torrencialmente no próximo fim de semana!
Ao ouvir os meus argumentos, respondeu:
- Você está-me a ofender! Eu sou um homem de palavra, ouviu? Você não tem um único papel assinado por mim, ouviu? - Numa estranha confusão entre a palavra da honra e a palavra escrita.
Confesso que não fiz queixa, acho que tive pena, ou assim, ou que me dava muito trabalho, ou assim e além disso, ninguém faz queixa de ninguém, nesta maravilhosa terra de "brandos costumes", em que só se safa quem não tem costumes brandos. Quanto a pagar impostos, ele não paga.
Impostos são papeis e ele não assina papeis.
Os impostos aumentaram? No problem para aqueles, muitos, que não pagam impostos. Quase um quarto da população (23%).
Os brandos costumes de uns repousam sobre a ausência de escrúpulos dos outros.
Delicadeza? Medo? Costumes brandos?
Estupidez? Ingenuidade? Palermice?