A princípio, Fernando Nobre parecia ser uma candidato muito interessante, uma verdadeira alternativa.
Logo no primeiro debate, no entanto, viu-se que com aquele tom, aquele ritmo e aquele discurso não poderá chegar a lado nenhum, em termos políticos. Pelo menos nestas eleições e a não ser que mudasse de estilo até às próximas, uma vez que tenciona voltar a candidatar-se.
Mas agora elogia Sócrates! Que pretende semelhante criatura? Dar um tiro no pé?
Todas as terras julgam chamar-se A Terra. Todas as terras são, para quem mora nelas, o Umbigo do Mundo. Sempre que desembarquei em terra, depois de ter navegado pelos mar, senti que a terra era imunda. E enjoei.
quarta-feira, janeiro 05, 2011
terça-feira, janeiro 04, 2011
A chuva na leitura do livro e também no telhado
Estou a ler com grande prazer Um Mundo sem Fim de Ken Follet, depois de ter lido Os Pilares da Terra do mesmo autor.
Descobri-o assim: numa banca de publicidade turística espanhola, pouco depois ou pouco antes de ter reencontrado a Filipa que também trabalha em turismo - navios, havia como oferta uma brochura com uma encadernação magnífica, que continha, em espanhol, parte do 1º Capítulo deste Um Mundo sem Fim.
A personagem é uma menina que está a tentar roubar a bolsa de um fidalgo durante uma celebração religiosa numa catedral gótica (construída no livro Os Pilares da Terra). Tem medo de roubar, mas ainda tem mais medo do pai, que a mandou fazer isso e da fome da família durante o Inverno ... etc...
Pouco depois, comprei Os Pilares da Terra em espanhol, pois estava em viagem: em Portugal custaria algo como 50 Euros, pois é muito grande e em 2 volumes, em espanhol era só um e muito mais barato (acontece o mesmo com este).
O primeiro livro é sobre a construção das catedrais góticas, em especial a de Kingsbridge, sendo elas os "pilares da terra", em termos místicos. No segundo, os construtores, plebeus, são antepassados das personagens nobres.
Para além dos livros de Pearl Buck, aqueles cuja acção decorre na China, poucas vezes gostei tanto de ler um romance.
São obras que nos colocam em contacto com os aspectos essenciais da vida e da humanidade, da natureza e do tempo.
Estava eu, por estes dias, a ler o primeiro capítulo de Um Mundo sem Fim, eram duas horas da manhã, chovia torrencialmente e de forma assustadora na Kingsbridge medieval e também no meu telhado em Lisboa, onde havia o aviso de alerta amarelo, de tal maneira que entrou água da chuva na minha casa, tendo eu interrompido a leitura para ir ver... e pôr um balde a apanhar a água...
Mas depois voltei a recostar-me na cama, continuei a ler e lentamente abrandou e parou de chover na minha casa de Lisboa e na Kingsbridge daquele tempo.
Os telhados são sempre um problema...
P.S.: Disseram-me agora que está a passar uma mini-série sobre os Pilares da Terra no AXN. Se ainda não leram é melhor lerem agora o livro e ver a série mais tarde, que há-de voltar a dar...
sábado, janeiro 01, 2011
Aniversário do blogue Terra Imunda
Fogo de Artifício em Lisboa, hoje
Este blogue faz hoje cinco anos.
Quando eu era muito jovem, ajudei a fundar, com os meus amigos, um jornal regional na pequena terra onde nasci. Durante vários anos após esse início, fui criticada porque nunca escrevi uma linha nesse jornal. E até hoje.
A minha resposta era: - mas que tenho eu a dizer às pessoas desta terra, se o meu maior sonho, quando cá vivia, era fugir a sete pés para outras paragens?
Lembro-me disto agora, porque nunca me faltou assunto para estes dois blogues. A prova é que, só este, tem cerca de 1250 postagens, fora as muitas que apaguei por só me parecerem relevantes no momento em que foram escritas. Dessa terra, só três pessoas lêem os meus blogues: duas familiares e uma amiga que vive em França.
É caso para repetir a célebre frase-título de Sartre: "Escrever para quê, para quem?"
A resposta neste caso é simples: para pessoas de Portugal (sobretudo Lisboa) e do Brasil, sendo os meus "maiores fãs"ou "melhores fregueses" :) completamente desconhecidos, residentes nos Estados Unidos. Que lêem os meus posts muito mais vezes do que eu.
Sim, deixámos de viver num lugar específico, na medida em que só lá estamos fisicamente. Hoje não me importaria de viver numa terra pequena... mas perto de um grande centro, claro. Lá chegaremos, a viver numa aldeia remota, sentindo-nos na crista da onda...
Com o blogue acabei também por descobrir a fotografia, pois não me parecia interessante tirar fotografias sem as mostrar. Podiam ser melhores, pois não estudei técnicas e não quero andar carregada com uma máquina enorme, mas algumas não são más, acho eu. Hoje mesmo criei um álbum no Flickr, chamado Navegações - clicar para ver
Feliz Ano Novo para todos e muito especialmente para os meus "fregueses" dos Estados Unidos
sexta-feira, dezembro 31, 2010
Alunos não sabem raciocinar nem escrever
Após as imensas gabarolices de Sua Excelência o Senhor Primeiro Ministro, estranhamente, o Ministério da Educação publica um documento afirmando que
Relatório 2010. Alunos não sabem raciocinar nem escrever
Acabo de ler isto no jornal I, o qual traz também uma reportagem sobre "copianços" e o modo como podem agora ser detectados informaticamente em países que usam testes de escolha múltipla.
Afigura-se-me dizer o seguinte: o problema em Portugal tem múltiplas facetas, sendo talvez a primeiro o exagerado facilitismo proposto pelo actual governo, sendo outro que os testes deveriam ser mais rigorosos e exactos, como é o caso dos referidos de escolha múltipla, que podem existir para todas as disciplinas, sendo o terceiro que existe em Portugal uma mentalidade favorável ao copianço. Sempre existiu. Sendo uma pequena corrupção e a primeira, participa da mentalidade geral sobre a corrupção.
Toda a gente se surpreende ao ouvir a história de um rapaz que foi estudar para Inglaterra e pediu a um inglês que o deixasse copiar. Ofendido, o colega considerou que ele o estava a ultrajar por o julgar capaz de ser cúmplice de uma fraude e foi fazer queixa dele.
Quanto ao facilitismo, ouve-se hoje em dia professores gabarem-se de que os seus alunos obtêm bons resultados (notas dadas por eles mesmos), o que, também na sua opinião, significa que ensinaram bem. E que merecem uma boa nota, na recém implementada avaliação de professores, sobretudo se os seus alunos não forem submetidos a exame, porque quase não há exames nessas disciplinas.
Uma minha amiga professora de português (que vocês conhecem bem) contou-me o que vos vou contar.
- Tive uma aluna no 10º ano que vinha com o diagnóstico de dislexia. Quer isto dizer que quase tinha direito a nota positiva a português só por isso, pois era-lhe permitido dar toda a espécie de erros. Eu deveria considerar a resposta inteiramente certa se a ideia geral estivesse certa, embora mal ou muito mal expressa. A rapariga era extremamente malcriada, mal comportada e não fazia nada.
A primeira nota que lhe dei, num teste, foi 2, de zero a vinte. Foi fazer queixa de mim - no teste seguinte teve 2,5.
No segundo período deixou de ser mal comportada, no terceiro deixou de ser malcriada. Passou com 10 e este ano deixou de ser disléxica. É claro que nunca foi disléxica...
E até me está muito agradecida pela cura milagrosa!
quarta-feira, dezembro 29, 2010
Prenda de Natal para os Pobres
A Prenda de Natal para os pobres, do Excelentíssimo Primeiro-Ministro, foi serem obrigados a pagar a taxa moderadora (para serem atendidos nos hospitais, quando antes era grátis).
O pseudo-esquerdismo deste Excelentíssimo Primeiro-Ministro, acusado em inúmeros casos de corrupção (nunca provados) e mais recentemente, de ter colocado o país numa situação espantosamente má, consiste em considerar pobres alguns, ricos outros e privilegiados os restantes, gerando grande conflitualidade entre estas 3 classes, semelhantes às passadas clero, nobreza e povo.
Vejamos: pobres são os que ganham menos de 400 Euros, antigamente 80 contos. Ricos são os que ganham mais do que isso, mesmo que seja pouco mais. Privilegiados são os juízes, professores, etc., motivo de contestação e repúdio dos pobres e dos ricos.
Com estas atitudes e estas medidas, o nosso Excelentíssimo Primeiro-Ministro irá resolver o problema que ele próprio criou como Excelentíssimo Primeiro-Ministro, ou seja, gastar tudo o que Portugal tinha e ainda o que nunca teve. Ele mesmo tem 20 motoristas e creio que 20 automóveis topo de gama.
Mas parece haver ainda muita gente disposta a votar nele. Sobretudo os mais pobres. Que acusam da crise os referidos ricos e privilegiados.
O pseudo-esquerdismo deste Excelentíssimo Primeiro-Ministro, acusado em inúmeros casos de corrupção (nunca provados) e mais recentemente, de ter colocado o país numa situação espantosamente má, consiste em considerar pobres alguns, ricos outros e privilegiados os restantes, gerando grande conflitualidade entre estas 3 classes, semelhantes às passadas clero, nobreza e povo.
Vejamos: pobres são os que ganham menos de 400 Euros, antigamente 80 contos. Ricos são os que ganham mais do que isso, mesmo que seja pouco mais. Privilegiados são os juízes, professores, etc., motivo de contestação e repúdio dos pobres e dos ricos.
Com estas atitudes e estas medidas, o nosso Excelentíssimo Primeiro-Ministro irá resolver o problema que ele próprio criou como Excelentíssimo Primeiro-Ministro, ou seja, gastar tudo o que Portugal tinha e ainda o que nunca teve. Ele mesmo tem 20 motoristas e creio que 20 automóveis topo de gama.
Mas parece haver ainda muita gente disposta a votar nele. Sobretudo os mais pobres. Que acusam da crise os referidos ricos e privilegiados.
terça-feira, dezembro 28, 2010
Coisas que nunca deverão mudar em Portugal
Para variar das críticas e lamentações, aqui vai uma crónica do Expresso, feita pelo embaixador de Inglaterra.
Coisas que nunca deverão mudar em Portugal: http://aeiou.expresso.pt/um-bife-mal-passado=s24971 CLICAR
1. A ligação intergeracional. Portugal é um país em que os jovens e os velhos conversam - normalmente dentro do contexto familiar. O estatuto de avô é altíssimo na sociedade portuguesa - e ainda bem. Os portugueses respeitam a primeira e a terceira idade, para o benefício de todos.
2. O lugar central da comida na vida diária. O almoço conta - não uma sandes comida com pressa e mal digerida, mas uma sopa, um prato quente etc, tudo comido à mesa e em companhia. Também aqui se reforça uma ligação com a família.
3. A variedade da paisagem. Não conheço outro pais onde seja possível ver tanta coisa num dia só, desde a imponência do rio Douro até à beleza das planícies do Alentejo, passando pelos planaltos e pela serra da Beira Interior.
4. A tolerância. Nunca vivi num país que aceita tão bem os estrangeiros. Não é por acaso que Portugal é considerado um dos países mais abertos aos emigrantes pelo estudo internacional MIPEX.
5. O café e os cafés. Os lugares são simples, acolhedores e agradáveis; a bebida é um pequeno prazer diário, especialmente quando acompanhado por um pastel de nata quente.
6. A inocência. É difícil descrever esta ideia em poucas palavras sem parecer paternalista; mas vi no meu primeiro fim de semana em Portugal, numa festa popular em Vila Real, adolescentes a dançar danças tradicionais com uma alegria e abertura que têm, na sua raiz, uma certa inocência.
7. Um profundo espírito de independência. Olhando para o mapa ibérico parece estranho que Portugal continue a ser um país independente. Mas é e não é por acaso. No fundo de cada português há um espírito profundamente autónomo e independentista.
8. As mulheres. O Adido de Defesa na Embaixada há quinze anos deu-me um conselho precioso: "Jovem, se quiser uma coisa para ser mesmo bem feita neste país, dê a tarefa a uma mulher". Concordei tanto que me casei com uma portuguesa.
9. A curiosidade sobre, e o conhecimento, do mundo. A influência de "lá" é evidente cá, na comida, nas artes, nos nomes. Portugal é um pais ligado, e que quer continuar ligado, aos outros continentes do mundo.
10. Que o dinheiro não é a coisa mais importante no mundo. As coisas boas de Portugal não são caras. Antes pelo contrário: não há nada melhor do que sair da praia ao fim da tarde e comer um peixe grelhado, acompanhado por um simples copo de vinho.
Então, terminaremos a contemplação do país não com miséria, mas com brindes e abraços. Feliz Natal.
2. O lugar central da comida na vida diária. O almoço conta - não uma sandes comida com pressa e mal digerida, mas uma sopa, um prato quente etc, tudo comido à mesa e em companhia. Também aqui se reforça uma ligação com a família.
3. A variedade da paisagem. Não conheço outro pais onde seja possível ver tanta coisa num dia só, desde a imponência do rio Douro até à beleza das planícies do Alentejo, passando pelos planaltos e pela serra da Beira Interior.
4. A tolerância. Nunca vivi num país que aceita tão bem os estrangeiros. Não é por acaso que Portugal é considerado um dos países mais abertos aos emigrantes pelo estudo internacional MIPEX.
5. O café e os cafés. Os lugares são simples, acolhedores e agradáveis; a bebida é um pequeno prazer diário, especialmente quando acompanhado por um pastel de nata quente.
6. A inocência. É difícil descrever esta ideia em poucas palavras sem parecer paternalista; mas vi no meu primeiro fim de semana em Portugal, numa festa popular em Vila Real, adolescentes a dançar danças tradicionais com uma alegria e abertura que têm, na sua raiz, uma certa inocência.
7. Um profundo espírito de independência. Olhando para o mapa ibérico parece estranho que Portugal continue a ser um país independente. Mas é e não é por acaso. No fundo de cada português há um espírito profundamente autónomo e independentista.
8. As mulheres. O Adido de Defesa na Embaixada há quinze anos deu-me um conselho precioso: "Jovem, se quiser uma coisa para ser mesmo bem feita neste país, dê a tarefa a uma mulher". Concordei tanto que me casei com uma portuguesa.
9. A curiosidade sobre, e o conhecimento, do mundo. A influência de "lá" é evidente cá, na comida, nas artes, nos nomes. Portugal é um pais ligado, e que quer continuar ligado, aos outros continentes do mundo.
10. Que o dinheiro não é a coisa mais importante no mundo. As coisas boas de Portugal não são caras. Antes pelo contrário: não há nada melhor do que sair da praia ao fim da tarde e comer um peixe grelhado, acompanhado por um simples copo de vinho.
Então, terminaremos a contemplação do país não com miséria, mas com brindes e abraços. Feliz Natal.
Ah, então é por isso...
Sociólogos dizem que portugueses receberam a crise com surpresa mas podem passar à "explosão"
Ah, agora percebo por que muitos ainda estão na fase da estupefacção! Ainda não acreditam... e por isso não percebem.
Espero que não demorem mais 48 anos a perceber!
Muito sábias palavras de António Barreto e Boaventura Sousa Santos
"Além disso, Portugal não tem tradição organizativa, considera o sociólogo, lembrando que o país viveu metade do século XX sem democracia e que, por isso, as pessoas continuam a ter medo e a viver como num regime de ditadura. "
"Taxas elevadas de desemprego e até situações de fome ou carência podem coexistir com graus igualmente elevados de resignação"
Na minha terra, dizem que um remédio para o medo é comer crista de galo cozinhada. Quando eu era pequena, davam-me muita: as crianças têm medo...
segunda-feira, dezembro 27, 2010
A pior das idades: "Que [o mundo] não se muda já como soía"
Não vou dizer a minha idade, que já partilhei e já despartilhei, por me parecer que a maioria das pessoas não compreende nada a respeito do assunto e fica bloqueada quando se fala no tempo. É vulgar alguém ficar muito surpreendido porque outrem, que não vê há 20 anos, está 20 anos mais velho. E também é frequente alguém, quando ouve falar numa pessoa invulgar, perguntar a idade e responder, seja a idade qual for: isso é próprio das pessoas dessa idade. E assim se resolve a constante dificuldade de entender o mundo e o próximo...
Mas a minha idade é mesmo a pior, pelo menos aqui, em Portugal. Senão, vejamos.
Quando inventaram o Inter-rail, que permitia viajar de comboio a preços irrisórios, a peça "Inter-rail" era para jovens até uma determinada idade, suponhamos que era até aos18 anos. Pois eu tinha 19.
Mais tarde, era concedido crédito aos jovens para comprarem uma casa, talvez até aos 25 anos de idade. Eu tinha 26.
Apesar disso, apanhei todas as reformas do ensino, de tal maneira que fui das primeiras pessoas a tirar um curso de Letras sem estudar latim (e talvez mesmo grego), pelo que fui muito criticada no passado, como se tivesse culpa. (Agora já ninguém estuda latim e grego, nem parece sentir a falta dessas línguas mortas, dando-me razão ao ter eu optado por Inglês e Alemão). Mais tarde, ao chegar à Universidade, fiz o primeiro ano de um curso que imediatamente deixou de existir, pelo que tive que passar para outro, no segundo ano.
Revolução Permanente? Perguntarão os meus amigos doutras paragens...
Sim, claro: a maoista Revolução Permanente que temos tido sempre, embora sem nos apercebermos dela.
Mas as minhas atribulações, por ter nascido um ano antes ou um ano depois, ainda não terminaram nem estão quase a terminar e, na verdade, estão quase a começar.
Senão, vejamos.
Vou ser uma das primeiras pessoas a só se poderem reformar aos 65 anos, mais provavelmente 67. As pessoas um pouco mais velhas, reformam-se aos 60.
Na minha profissão, que também não digo qual é, a idade é mesmo muito relevante, pelo que serei a primeira a experimentar a situação de ter essa idade nesta profissão. Como sempre fui atípica, não será talvez aí que me transformarei numa personagem-tipo... só acho que deve ser esquisito e difícil.
Mas há pior. Um reputado economista fez uma afirmação cabalística na televisão: que quando nós chegarmos aos 65, não vamos ter reforma, porque já não há reforma...
Ninguém percebeu muito bem o que ele quis dizer, mas eu, que estou habituada às reformas, estando sempre um ano atrás ou à frente delas...
Se e quando chegar à reforma, talvez já não haja reforma...
Ou, como dizia Camões: o mundo já não muda como mudava dantes, dito assim por ele:
"Outra mudança [o mundo] faz de mor espanto
Que não se muda já como soía"
Mas a minha idade é mesmo a pior, pelo menos aqui, em Portugal. Senão, vejamos.
Quando inventaram o Inter-rail, que permitia viajar de comboio a preços irrisórios, a peça "Inter-rail" era para jovens até uma determinada idade, suponhamos que era até aos18 anos. Pois eu tinha 19.
Mais tarde, era concedido crédito aos jovens para comprarem uma casa, talvez até aos 25 anos de idade. Eu tinha 26.
Apesar disso, apanhei todas as reformas do ensino, de tal maneira que fui das primeiras pessoas a tirar um curso de Letras sem estudar latim (e talvez mesmo grego), pelo que fui muito criticada no passado, como se tivesse culpa. (Agora já ninguém estuda latim e grego, nem parece sentir a falta dessas línguas mortas, dando-me razão ao ter eu optado por Inglês e Alemão). Mais tarde, ao chegar à Universidade, fiz o primeiro ano de um curso que imediatamente deixou de existir, pelo que tive que passar para outro, no segundo ano.
Revolução Permanente? Perguntarão os meus amigos doutras paragens...
Sim, claro: a maoista Revolução Permanente que temos tido sempre, embora sem nos apercebermos dela.
Mas as minhas atribulações, por ter nascido um ano antes ou um ano depois, ainda não terminaram nem estão quase a terminar e, na verdade, estão quase a começar.
Senão, vejamos.
Vou ser uma das primeiras pessoas a só se poderem reformar aos 65 anos, mais provavelmente 67. As pessoas um pouco mais velhas, reformam-se aos 60.
Na minha profissão, que também não digo qual é, a idade é mesmo muito relevante, pelo que serei a primeira a experimentar a situação de ter essa idade nesta profissão. Como sempre fui atípica, não será talvez aí que me transformarei numa personagem-tipo... só acho que deve ser esquisito e difícil.
Mas há pior. Um reputado economista fez uma afirmação cabalística na televisão: que quando nós chegarmos aos 65, não vamos ter reforma, porque já não há reforma...
Ninguém percebeu muito bem o que ele quis dizer, mas eu, que estou habituada às reformas, estando sempre um ano atrás ou à frente delas...
Se e quando chegar à reforma, talvez já não haja reforma...
Ou, como dizia Camões: o mundo já não muda como mudava dantes, dito assim por ele:
"Outra mudança [o mundo] faz de mor espanto
Que não se muda já como soía"
domingo, dezembro 26, 2010
Ciao amore, ciao
Uma canção que foi muito apreciada, a seu tempo. E a letra. Algumas palavras estão um nadinha fora do sítio... embora não pareça, é sobre a emigração.
La solita strada, bianca come il sale
il grano da crescere, i campi da arare.
Guardare ogni giorno
se piove o c'e' il sole,
per saper se domani
si vive o si muore
e un bel giorno dire basta e andare via.
Ciao amore,
ciao amore, ciao amore ciao.
Ciao amore,
ciao amore, ciao amore ciao.
Andare via lontano
a cercare un altro mondo
dire addio al cortile,
andarsene sognando.
E poi mille strade grigie come il fumo
in un mondo di luci sentirsi nessuno.
Saltare cent'anni in un giorno solo,
dai carri dei campi
agli aerei nel cielo.
E non capirci niente e aver voglia di tornare da te.
Ciao amore,
ciao amore, ciao amore ciao.
Ciao amore,
ciao amore, ciao amore ciao.
Non saper fare niente in un mondo che sa tutto
e non avere un soldo nemmeno per tornare.
Ciao amore,
ciao amore, ciao amore ciao.
Ciao amore,
ciao amore, ciao amore ciao.
sexta-feira, dezembro 24, 2010
quarta-feira, dezembro 22, 2010
A velha e a couve
Já me esquecia deste conto popular, pois os religiosos são sempre um pouco esquisitos. Vem a propósito do espírito Natalício.
Era uma vez uma velha muito avarenta, na minha terra diz-se "muito pirata" ou "muito somítica" e que não dava nada a ninguém, não dava uma esmola a um pobre, não fazia bem a pessoa nenhuma.
Um dia em que estava a lavar hortaliças no rio, fugiu-lhe uma couve e ela disse:
- Coibe, bai-te com Deus e que aproveites a quem te encontrar.
Pouco depois, morreu. Ao chegar ao outro mundo, foi para o Purgatório, mas São Pedro disse-lhe:
- Só uma vez na tua vida é que tu fizeste bem, que foi aquela história da couve. Mas eu vou-te dar uma oportunidade. Agarra-te à tua coibe e sobes dependurada nela para o Paraíso.
A velha assim fez, mas as outras almas que estavam no Purgatório, quando a viram a subir para o céu dependurada na couve, também se dependuraram nas pernas dela. Então, a velha começou a dar pontapés às outras almas, batendo-lhes com os pés na cabeça, fazendo-as cair.
- A coibe é minha! À minha custa e à custa da minha coibe é que bós não habeis de subir para o Paraíso.
E com esta última maldade, acabou por ficar onde estava.
OH!
Moral da história: se dermos uma couve, nunca devemos depois dizer assim:
- A coibe é minha!
(Contos narrados pelo meu avô Manuel Daniel de Sousa, transcritos após a sua morte, com contribuições de várias pessoas da família. O avô contava estas historias milhares de vezes, enquanto os primos piscavam os olhos entre si, sentados em escabelos, na espreguiçadeira, ou deitados na carqueija, antes de ser queimada na lareira.
Estes contos eram inéditos, antes de terem sido partilhado neste blogue, sendo muito procurados por pessoas do Brasil.
São contos do Douro Litoral, também chamado de Entre Douro e Minho, Portugal)
terça-feira, dezembro 21, 2010
Linguagem de emigrante e jogos do Facebook
Dou comigo a a falar pelo telefone com uma amiga:
- Serias capaz de unwither os meus crops?
Bem, isto tem a ver com um jogo do Facebook. As minhas abóboras estão secas e ressequidas, mas vai lá um amigo, rega-as e elas ficam viçosas e óptimas. Como se diz isto em português? Como dizer algo que não acontece, algo seco tornar-se viçoso? Reavivar? Revitalizar? Desmurchar.
- Ok. - diz ela - E então, apanha-me um stump e um skull (tudo pronunciado como se fosse português: setumpe, sekule).
Ela quer dizer que lhe arranque uma raíz de uma árvore e que lhe apanhe um esqueleto do chão... talvez o esqueleto dum animal... como se diz isto em português?
- Apanha-me esse esqueleto!
Bem, é assim que falam normalmente os emigrantes portugueses: já não sabem, ou nunca souberam, dizer em português certas coisas e portanto, dizem-nas numa miscelânea de português e outra línguas.
Caro amigo: Sem sair de casa, sinta-se emigrante na sua terra, como se estivesse num país anglófono! Talvez lhe sirva para o futuro!
- Serias capaz de unwither os meus crops?
Bem, isto tem a ver com um jogo do Facebook. As minhas abóboras estão secas e ressequidas, mas vai lá um amigo, rega-as e elas ficam viçosas e óptimas. Como se diz isto em português? Como dizer algo que não acontece, algo seco tornar-se viçoso? Reavivar? Revitalizar? Desmurchar.
- Ok. - diz ela - E então, apanha-me um stump e um skull (tudo pronunciado como se fosse português: setumpe, sekule).
Ela quer dizer que lhe arranque uma raíz de uma árvore e que lhe apanhe um esqueleto do chão... talvez o esqueleto dum animal... como se diz isto em português?
- Apanha-me esse esqueleto!
Bem, é assim que falam normalmente os emigrantes portugueses: já não sabem, ou nunca souberam, dizer em português certas coisas e portanto, dizem-nas numa miscelânea de português e outra línguas.
Caro amigo: Sem sair de casa, sinta-se emigrante na sua terra, como se estivesse num país anglófono! Talvez lhe sirva para o futuro!
segunda-feira, dezembro 20, 2010
O ABORTO
- O que pensa sobre o aborto?
- Considero-o um Péssimo 1º ministro e está a governar muito mal o país….
Frase atribuída a Alberto João Jardim (circula na net sem referência à fonte).
Porque será que sempre achei muita graça a este político?
domingo, dezembro 19, 2010
Novos pedintes
Tenho-vos contado aqui sobre os novos pedintes que há agora em Lisboa, ainda recentemente encontrei um que passava recibo, mas protestou por lhe ter dado menos de 5 Euros...
Estes, da foto, são ultramodernos. Estão de passagem por Portugal e até têm site na Internet e blogue.
Vi-os no Jornal I.
Instalaram-se numa rua de Lisboa, onde dormem, mudam-se para outra onde pedem, com cartazes separando as esmolas: para comida, para álcool, para charros, para drogas pesadas... as pessoas acham-nos muito sinceros e ajudam muito. Intitulam-se como lazy beggars, isto é, pedintes preguiçosos.
P.S.: Vi-os ontem em Lisboa (15 / 6 / 2012). Não tirei foto porque pensei que já tinha, mas esta não é minha.
P.S.: Vi-os ontem em Lisboa (15 / 6 / 2012). Não tirei foto porque pensei que já tinha, mas esta não é minha.
sábado, dezembro 18, 2010
Sócrates esFeMiado
Para Sócrates, vale tudo menos vir cá o FMI.
Mas o FMI saberia o que fazer e ele não sabe.
Se as 50 medidas que agora tomou para recuperar a economia são tão importantes, porque não se lembrou delas antes?
Não é ele a pessoa certa para resolver os graves problemas que criou com a corrupção e o despesismo.
Mas o FMI saberia o que fazer e ele não sabe.
Se as 50 medidas que agora tomou para recuperar a economia são tão importantes, porque não se lembrou delas antes?
Não é ele a pessoa certa para resolver os graves problemas que criou com a corrupção e o despesismo.
sexta-feira, dezembro 17, 2010
Hitler também era socialista
O Cardeal Patriarca disse à Visão que não percebe por que hão-de ser os funcionários públicos a pagar a crise.
Mas parece que toda a gente percebe: porque são os outros trabalhadores que pagam aos funcionários públicos... mas então eles não são necessários?
Este governo é perito em pôr todos contra todos, contra os "privilegiados"...
Com excepção dos casamentos gay e da legalização do aborto, nunca tivemos um governo tão à direita desde a revolução.
Um governo minoritário decide liberalizar os despedimentos e não encontra dificuldade nenhuma em fazer isso...
Hitler também era socialista. Nacional Socialista.
Mas parece que toda a gente percebe: porque são os outros trabalhadores que pagam aos funcionários públicos... mas então eles não são necessários?
Este governo é perito em pôr todos contra todos, contra os "privilegiados"...
Com excepção dos casamentos gay e da legalização do aborto, nunca tivemos um governo tão à direita desde a revolução.
Um governo minoritário decide liberalizar os despedimentos e não encontra dificuldade nenhuma em fazer isso...
Hitler também era socialista. Nacional Socialista.
quinta-feira, dezembro 16, 2010
Links para aqui
Ainda estou para entender a razão por que este site tem ligação para os meus blogues. Se alguém entender, agradeço que me diga.
CLICAR AQUI
CLICAR AQUI
quarta-feira, dezembro 15, 2010
Alguns são muito menos iguais que os outros
Governo quer tecto máximo nas indemnizações por despedimento
Não creio que este tecto máximo se aplique aos gestores de topo, muitos deles políticos, que saem sempre a ganhar, mesmo quando são despedidos por "suspeita" de fraude.
domingo, dezembro 12, 2010
Os de Mansores II
Prosseguem as histórias de Mansores (nome ligeirmente modificado). Chamava-se tolinhos a pessoas atrasadas em termos mentais, talvez por vários motivos, incluindo o de terem sido criadas ao Deus-dará, sem nenhuma educação ou instrução.
Uma vez, um pai e um filho de Mansores compraram sardinhas e, como gostavam muito, mas era muito raro chegarem sardinhas àquela aldeia da serra longe do mar, estavam a dizer assim:
- Ai quem nos dera ter sempre sardinhas para comer.
Passava nesta ocasião por lá o almocreve, que ouviu a conversa e disse:
- Se vocemecês me derem um chapéu [cheio de] dinheiro, eu ensino-vos uma maneira de vós terdes sempre sardinhas para comer...
Lá lhe deram o chapéu de dinheiro e o almocreve explicou:
- É só sameá-las.
- Samear as sardinhas?
- Claro!
Então, pai e filho semearam as sardinhas que tinham e ficaram a vigiar a sementeira, para que ninguém lha roubasse.
- Vai ser a nossa sorte! Vamos ficar ricos a vender as sardinhas.
Quando as sardinhas começaram a apodrecer, começaram a aparecer alguns bichos. A certa altura, pousou um gafanhoto no peito do pai, mesmo por cima do coração. Então, o pai disse:
- Ó moço, mata-me este gafanhoto!
- E como é que eu o mato, meu pai?
- Dá-lhe um tiro.
E assim foi. O moço deu um tiro no coração do pai e matou o gafanhoto e o pai.
(Eu avisei que estes contos são muito estúpidos, mas, por isso mesmo, deve haver para eles alguma interpretação interessante, parecem contos exemplares.)
(Contos narrados pelo meu avô Manuel Daniel de Sousa, transcritos após a sua morte, com contribuições de várias pessoas da família. O avô contava estas historias milhares de vezes, enquanto os primos piscavam os olhos entre si, sentados em escabelos, na espreguiçadeira, ou deitados na carqueija, antes de ser queimada na lareira.
Estes contos eram inéditos, antes de terem sido partilhado neste blogue, sendo muito procurados por pessoas do Brasil.
São contos do Douro Litoral, também chamado de Entre Douro e Minho, Portugal)
Uma vez, um pai e um filho de Mansores compraram sardinhas e, como gostavam muito, mas era muito raro chegarem sardinhas àquela aldeia da serra longe do mar, estavam a dizer assim:
- Ai quem nos dera ter sempre sardinhas para comer.
Passava nesta ocasião por lá o almocreve, que ouviu a conversa e disse:
- Se vocemecês me derem um chapéu [cheio de] dinheiro, eu ensino-vos uma maneira de vós terdes sempre sardinhas para comer...
Lá lhe deram o chapéu de dinheiro e o almocreve explicou:
- É só sameá-las.
- Samear as sardinhas?
- Claro!
Então, pai e filho semearam as sardinhas que tinham e ficaram a vigiar a sementeira, para que ninguém lha roubasse.
- Vai ser a nossa sorte! Vamos ficar ricos a vender as sardinhas.
Quando as sardinhas começaram a apodrecer, começaram a aparecer alguns bichos. A certa altura, pousou um gafanhoto no peito do pai, mesmo por cima do coração. Então, o pai disse:
- Ó moço, mata-me este gafanhoto!
- E como é que eu o mato, meu pai?
- Dá-lhe um tiro.
E assim foi. O moço deu um tiro no coração do pai e matou o gafanhoto e o pai.
(Eu avisei que estes contos são muito estúpidos, mas, por isso mesmo, deve haver para eles alguma interpretação interessante, parecem contos exemplares.)
(Contos narrados pelo meu avô Manuel Daniel de Sousa, transcritos após a sua morte, com contribuições de várias pessoas da família. O avô contava estas historias milhares de vezes, enquanto os primos piscavam os olhos entre si, sentados em escabelos, na espreguiçadeira, ou deitados na carqueija, antes de ser queimada na lareira.
Estes contos eram inéditos, antes de terem sido partilhado neste blogue, sendo muito procurados por pessoas do Brasil.
São contos do Douro Litoral, também chamado de Entre Douro e Minho, Portugal)
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