Todas as terras julgam chamar-se A Terra. Todas as terras são, para quem mora nelas, o Umbigo do Mundo. Sempre que desembarquei em terra, depois de ter navegado pelos mar, senti que a terra era imunda. E enjoei.
terça-feira, julho 12, 2011
Ribeira Grande, Ilha de Santo Antão
Esta terra, Ribeira Grande, capital da Ilha de Santo Antão, não tem mesmo nada de interessante, a não ser, talvez, a sua desolação completa, rodeada de rochedos escarpados e secos.
(Escrito mais tarde, em 5 de Setembro de 2013: um amigo do Facebook, natural desta terra, protesta contra este comentário. É apenas uma impressão de viagem, aceitam-se outras opiniões, por exemplo, como comentários.)
Ilha de Santo Antão
Ainda mal tinha desembarcado do navio Mar D' Canal, da companhia Armas (pormenores para o Luís Miguel e o João), apareceu logo um rapaz com um Toyota vazio a propor levar-me à Ribeira Grande, a capital, por 4 000 escudos, 40 Euros. Achei caro, o Toyota pode demorar horas a encher, tem 15 lugares, mas podem sempre ir mais e todas as crianças que couberem ao colo. Além disso, queria ver a cidade portuária de Porto Novo.
Rapidamente descobri que não havia nada para ver. Foi então que apareceu o Sr. Vitorino, com um Toyota cheio, propondo a mesma viagem por 350 escudos ou até à terra dele, Ponta do Sol, por 400 (preço regulamentar). Com a vantagem de ir à frente e ele mostrar as coisas bonitas.
Fui a Ponta do Sol, aldeiazinha de pescadores muito bonita, com mais estruturas turísticas do que a capital, que me surpreendeu imenso, pois nunca vi uma terra assim. Fotos noutro post.
Quando queria regressar da Ribeira Grande, para onde fui noutro Toyota por 50 escudos (50 cêntimos), os condutores de Toyota massacraram-e com toda a espécie de propostas. Telefonei ao Vitorino, como todos lhe chamam, que me veio logo buscar. Levou-me a casa dele, apresentou-me o filho, fomos buscar uns noruegueses ao pequeno hotel da terra, uma família de cabo-verdianos a casa deles, mais uns recados, "uns papele", uma fruta a casa duma senhora que chegou de Portugal e nunca mais saíamos de Ponta do Sol e muito menos de Ribeira Grande, mas já havia grande festa no Toyota, com comes e bebes.
Pediu-me que pusesse aqui o número de telefone dele, para os portugueses que forem a Santo Antão. De facto, nós, portugueses, temos muito pouca partilha de informações de viagem, pois quase só se viaja em agências, com guias turísticos a tratar de tudo...
Vitorino (Santo Antão), 9895260
(Foto acima)
Faz tudo o que pode a toda a gente e mostra as coisas bonitas pelo caminho, dizendo os nomes. Fala um português acrioulado, falar devagar ao telefone.
segunda-feira, julho 11, 2011
Mindelo
Centro do Mindelo e arquitectura colonial do Sec. XIX, de influência portuguesa e inglesa.
A Rua de Lisboa tem, na verdade outro nome, qualquer coisa como: Rua dos Heróis da Libertação. Ironicamente ou não, todos lhe chamam Rua de Lisboa.
Mas não é só aqui que se nota ser a libertação não demasiado importante para esta gente. Tratam os portugueses como conterrâneos, chamam a Portugal "nossa terra" e são fãs do Benfica, como se vê no vestuário da menina da foto no post "Baía das Gatas".
No interior / exterior do café Lisboa: a senhora faz as despesas da conversa, sem fazer as despesas do café. Como falam em crioulo, pouco entendo, a não ser isto:
- Que mais quer? Tem casa, tem catchupa...
- Andam a gozar o crioulo!
Ah, a propósito, a partir de agora, podem tratar-me por Senhora Branca. Em vez de Nadinha. É como me chamam aqui.
domingo, julho 10, 2011
Baía das Gatas
É um sítio muito bonito, mas a praia não me parece grande coisa. Lugar indicado para nadar e mergulhar, mas a água, morna e parada, dá pelo joelho ou pela cintura, no máximo.
Boa para chapinhar.
Esperva encontrar equipamentos para mergulho, mas aqui não há nada disso.
Há muitas casas em construção, irá tornar-se turístico. Como seria bom comprar aquele terreno, mesmo em cima do mar e construir lá uma casa!
Se quiserem, é só ligar para aquele número.
Cantam enquanto choram
Mindelo não é parecido com nenhum outro lugar que conheça.
Dizem que Cabo Verde, em vez de europeizar a influência africana, africanizou a influência europeia. Daí a sua originalidade.
Mas a maior originalidade é a música, que até se ouve nos funerias, em que as pessoas choram a cantar.
E cantam bem. Mas depois falo disso. Aí, com tempo.
Tem algumas estruturas turísticas, mas ainda poucas. Felizmente.
(Foto 1: escultura de William Sweetlove, à venda em galeria de arte.)
sábado, julho 09, 2011
Salamansa
Salamansa é assim.
A praia de águas mornas é extensa e deserta, é uma zona piscatória.
Mas não estou sozinha. Aquelas duas meninas incitam-me a ir para a água e brincam comigo. As mães esperam ao longe.
Há muito para construir. Muitíssimo, mesmo.
O condutor e dono do Toyota que me trouxe, ex-emigrante na Holanda e de origem afro-holandesa, vai abrir amanhã o primeiro barzinho na praia, uma estrutura simples, de estacas. É assim que se começa...
Para Salamansa
Se alguém quer deslocar-se a locais fora da cidade do Mindelo, vai de Toyota, transporte que se chama assim porque se realiza em carrinhas Toyota. As pessoas entram e saem, têm de caber todas e a carga tem de caber em cima, se houver tejadilho, ou dentro, mas eu tenho o direito de ir à frente, ocupando dois lugares.
Os outros comentam, a rir, falando um crioulo que não entendo, mas o tom parece mais brejeiro do que agressivo. O preço é 100 Escudos, mais ou menos um Euro, para todos.
Pelo caminho, uma paisagem lunar, pontuada apenas pelos fios eléctricos, que levam a luz à terra para onde vamos.
Mindelo, Ilha de São Vicente: Comércio
Em todo o lado o comércio embeleza a vida das pessoas e a paisagem. Aqui, faz-se em grande parte nas ruas, pela fresca do entardecer (última foto),ou à sombra, no calor tropical.
sexta-feira, julho 08, 2011
quinta-feira, julho 07, 2011
Lixos são vocês!
Os protestos contra as agências de rating já deram alguns resultados: desde os cidadãos que se manifestaram no Facebook, até elementos de importantes organizações como A ONU e a OCDE, é unânime o coro de vozes indignadas contra esta forma primitiva e bacoca de avaliar países (e povos).
Aparentemente, guiam-se por interesses próprios, sem qualquer isenção reconhecida, até porque são agências americanas e os interesses europeus são contrários aos da América / USA, por exemplo, no que respeita à moeda (Dollar / Euro).
Hoje, o Banco Central Europeu decidiu deixar de fazer depender os empréstimos a países como Portugal do mínimo de rating dado por estas agências. É pouco, mas é alguma coisa.
E está marcada para sábado, em Lisboa, no Terreiro do Paço, uma manif contra as agências de rating. Os manifestantes levarão sacos de lixo, presumo que daqueles grandes e pretos, para serem claramente identificáveis.
Não consigo encontrar o link para essa manif no Facebook, mas encontro a informação no Expresso e no jornal A Bola.
Não poderei participar com pena minha, mais tarde vocês saberão porquê.
Agora não digo: Tabu!
quarta-feira, julho 06, 2011
Viva a Maria da Fonte
Contra as agências de rating
"É avante portugueses
É avante sem Temer
Pela Santa Liberdade
triunfar ou perecer"
Contra a Moody's
"Dá Deus o frio consante à roupa"
Dá alguma vontade de rir ler as notícias de O Globo informando que, no Rio de Janeiro, tem havido uma vaga de frio, entre os 18 e os 20 graus.
Aqui em Portugal isso seria uma ameníssima Primavera e, em muitos países europeus, um Verão.
Isto recorda-me um ditado popular português, dos muitos relacionados com a pobreza e que começam a ser esquecidos. Porque a pobreza começa a ser coisa do passado.
"Dá Deus o frio consante à roupa".
Tradução: Deus dá o frio conforme (consoante) a roupa. Por exemplo, quem tem um casaco de peles tem frio e quem tem só uma camisolita rota, também tem frio.
Às vezes, quem tem mais frio são os que têm mais roupa.
Neste caso do Brasil, a roupa é pouca, mas o frio não é nenhum, o que comprova o ditado.
Extraiamos daqui ilações filosóficas para outras dimensões do frio.
(P.S.: Para ver outros provérbios neste blogue, clicar nos links abaixo, aparecem os posts todos seguidos)
Aqui em Portugal isso seria uma ameníssima Primavera e, em muitos países europeus, um Verão.
Isto recorda-me um ditado popular português, dos muitos relacionados com a pobreza e que começam a ser esquecidos. Porque a pobreza começa a ser coisa do passado.
"Dá Deus o frio consante à roupa".
Tradução: Deus dá o frio conforme (consoante) a roupa. Por exemplo, quem tem um casaco de peles tem frio e quem tem só uma camisolita rota, também tem frio.
Às vezes, quem tem mais frio são os que têm mais roupa.
Neste caso do Brasil, a roupa é pouca, mas o frio não é nenhum, o que comprova o ditado.
Extraiamos daqui ilações filosóficas para outras dimensões do frio.
(P.S.: Para ver outros provérbios neste blogue, clicar nos links abaixo, aparecem os posts todos seguidos)
Queremos mais Europa!
As agências de rating, em grande parte responsáveis pela actual crise, por terem errado as avaliações de risco nos subprime, investimentos em empréstimos para habitação na América, estão agora a controlar a seu bel-prazer os mercados mundiais.
A política retira-se, funcionam os mercados com regras impostas por duas ou três empresas privadas.
É a guerra dos tempos modernos. E nem podemos defender-nos, apenas sucumbir.
É consensual que o corte da Moody's à dívida portuguesa é aleatório. Com isto, a bolsa de Valores baixa muito e os investidores (americanos, por exemplo) vão comprar acções das privatizações a preço de saldo, sendo que Portugal pouco ganha com elas. Assim, a profecia cumpre-se: a nossa economia continuará em queda, a encher os bolsos dos emprestadores de dinheiro, os bancos, dos investidores e, sobretudo, das agências de rating.
Que fazer então? Obviamente, exterminá-las. Mas como?
Com mais Europa.
A Europa tem sempre reagido às crises europeias com mais Europa, ou seja, com mais união entre os países europeus. É disso que precisamos agora. Talvez mesmo do tão falado federalismo.
VER AQUI
E AQUI
E TAMBÉM AQUI
A política retira-se, funcionam os mercados com regras impostas por duas ou três empresas privadas.
É a guerra dos tempos modernos. E nem podemos defender-nos, apenas sucumbir.
É consensual que o corte da Moody's à dívida portuguesa é aleatório. Com isto, a bolsa de Valores baixa muito e os investidores (americanos, por exemplo) vão comprar acções das privatizações a preço de saldo, sendo que Portugal pouco ganha com elas. Assim, a profecia cumpre-se: a nossa economia continuará em queda, a encher os bolsos dos emprestadores de dinheiro, os bancos, dos investidores e, sobretudo, das agências de rating.
Que fazer então? Obviamente, exterminá-las. Mas como?
Com mais Europa.
A Europa tem sempre reagido às crises europeias com mais Europa, ou seja, com mais união entre os países europeus. É disso que precisamos agora. Talvez mesmo do tão falado federalismo.
VER AQUI
E AQUI
E TAMBÉM AQUI
terça-feira, julho 05, 2011
Heroismo e miséria na América
Sabemos que os americanos impingem para todo o mundo o grande heroísmo dos seus militares, que tanto apreciam, ao contrário de nós, portugueses, que somos agora pouco bélicos e não gostamos nada desse tipo de gente... voluntários para a guerra? Só obrigados e mesmo assim, fugindo. Não é uma atitude recente, os homens portugueses sempre foram arrebanhados contra a sua vontade, o que é amplamente documentado na nossa literatura de diversas épocas.
O que não sabemos, talvez, é o seguinte: no site de solidariedade www.thehungersite.com é possível dar dinheiro para várias causas sem custos para nós, através de patrocínios. É só clicar. Recentemente, foram acrescentadas mais causas.
Uma delas é a dos veteranos de guerra americanos.
Pedem ajuda para os veteranos e suas famílias, pois, entre 12 e 16 por cento dos sem-abrigo, nos Estados Unidos da América, são veteranos de guerra. O site elogia-os muito. Creio que ficaram sem-abrigo com acrise dos subprime, pois a miséria é bem pior nos Estados Unidos do que aqui e agora.
Realmente, se apreciam tanto os seus heróis, por que não os protegem? Provavelmente têm dificuldade em se adaptar à realidade quotidiana.
Bem, se os heróis se habituam a partir tudo, a destruir tudo, a partir a loiça toda, que deve ser a parte gira da guerra... para quem goste... a matar aquele tipo que chateou... etc... nem me atrevo a continuar...
VER AQUI
(Thank you for clicking! Your click helped a homeless and hungry veteran get a free meal.)
sábado, julho 02, 2011
Iam ao talho, de garrafita na mão, para pedir sangue de porco
Ocorre-me esta conversa que ouvi há uns meses, numa pequena terra portuguesa.
"Antigamente, * as mulheres iam ao talho, de garrafita na mão,** e pediam ao Sr. Quintela, "pelas alminhas de quem lá tem" se lhes dava um bocadinho de sangue de porco***. E o Sr. Quintela lá fazia a caridade de dar o sangue de graça... deitava um bocado de sangue na garrafita...
E depois iam para casa e guisavam aquele sangue de porco com batatas.
Agora!!! Agora os filhos dessas mulheres andam aí de carro novo, não dispensam de ir passar férias lá para os Algarves ou lá para o estrangeiro. E eu tenho um primo que trabalha na recolha do lixo e que diz que se deita fora tanta coisa boa! Carne, fruta... Kilos e Kilos. Kilos e Kilos de carne".
Então eu, Nadinha, fiquei a pensar: por um lado, enriquecemos muito numa geração. Por outro, não sabemos poupar... esquecendo os milhares de truques que sempre houve para se ir comendo sem gastar muito...
:)* [ pronunciado "intigamente"]
** [a garrafa era sempre reutilizada, até se partir]
*** [não havia, ainda, talho de boi]
terça-feira, junho 28, 2011
Manuscrito Encontrado em Saragoça
É um estranho livro. Na Linha do Decameron, de Bocaccio, Heptameron, de Margarita de Navarra, ou mesmo das Mil e Uma Noites, conta "inúmeras" histórias. A trama é aqui ainda mais intricada, porque, a certa altura, esquecemo-nos de quem conta a história de quem...
Enfim, às vezes não percebemos nada, mas tudo bem!
Nos três livros referidos, Decameron, Heptameron e Mil e Uma Noites, os narradores estão sentados, identificados e contam uma quantidade de histórias que tem significado numérico e talvez cabalístico. No primeiro caso, dez vezes dez (dez dias, dez pessoas), no segundo, sete vezes sete (sete dias, sete pessoas), no terceiro talvez mil e uma...
No Manuscrito Encontrado em Saragoça, trata-se de 66 jornadas, mas é tudo muito mais complicado.
As personagens narradoras não estão sentadas e identificadas, mas sim em viagem. Uma viagem muito atribulada, que as leva sempre, no seu termo, para o mesmo lugar, a estalagem de "Venta Quemada", junto da forca onde estão suspensos os dois irmãos enforcados.
A Venta Quemada tanto pode ser um lugar ermo e em ruínas como uma espécie de hotel cinco estrelas de luxo asiático, variando dum extremo ao outro, sem excluir nenhum. Há só um problema estranho: depois de adormecerem numa luxuosa Venta Quemada, com sonhos ou práticas eróticas com umas mulheres que são dois diabos, os homens acordam entre os dois enforcados...
Cenas dos próximos capítulos...
Há também um filme de culto baseado no romance... Ver Aqui abaixo, dobrado em Espanhol.
Este post está em atualização, porque só agora acabei de ler o primeiro volume de dois. Volte a consultar. Compre o livro, leia-o nas férias, comente aqui, se quiser.
Manuscrito Encontrado em Saragoça, Jan Potocki (1761-1815)
Enfim, às vezes não percebemos nada, mas tudo bem!
Nos três livros referidos, Decameron, Heptameron e Mil e Uma Noites, os narradores estão sentados, identificados e contam uma quantidade de histórias que tem significado numérico e talvez cabalístico. No primeiro caso, dez vezes dez (dez dias, dez pessoas), no segundo, sete vezes sete (sete dias, sete pessoas), no terceiro talvez mil e uma...
No Manuscrito Encontrado em Saragoça, trata-se de 66 jornadas, mas é tudo muito mais complicado.
As personagens narradoras não estão sentadas e identificadas, mas sim em viagem. Uma viagem muito atribulada, que as leva sempre, no seu termo, para o mesmo lugar, a estalagem de "Venta Quemada", junto da forca onde estão suspensos os dois irmãos enforcados.
A Venta Quemada tanto pode ser um lugar ermo e em ruínas como uma espécie de hotel cinco estrelas de luxo asiático, variando dum extremo ao outro, sem excluir nenhum. Há só um problema estranho: depois de adormecerem numa luxuosa Venta Quemada, com sonhos ou práticas eróticas com umas mulheres que são dois diabos, os homens acordam entre os dois enforcados...
Cenas dos próximos capítulos...
Há também um filme de culto baseado no romance... Ver Aqui abaixo, dobrado em Espanhol.
Este post está em atualização, porque só agora acabei de ler o primeiro volume de dois. Volte a consultar. Compre o livro, leia-o nas férias, comente aqui, se quiser.
Manuscrito Encontrado em Saragoça, Jan Potocki (1761-1815)
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