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quinta-feira, setembro 14, 2023

Não Percas a Rosa

 



No centenário da Natália Correia, recordo muitas vezes um episódio. Eu andava a escrever a primeira tese universitária sobre a sua obra (ninguém queria fazer ou orientar essas teses por medo dela) e ia muito regularmente ao Botequim, onde participava das tertúlias constantes que lá se faziam. Se ainda não leram, vale a pena ler o livro muito interessante da Natália “Não percas a Rosa” um diário do PREC em que quase tudo acontece neste restaurante-bar, pertencente ao seu terceiro marido.  

Comecei a interessar-me por política, pois a Natália fazia questão que eu me sentasse na mesa dela ou na do Dórdio Guimarães, o quarto marido, desde que eu lhe disse que estava a fazer a tese. Comecei a ler os jornais e a ver o telejornal, sobretudo ao sábado, antes de ir para lá, para poder participar ativamente das conversas.  

Um dia, o telejornal deu uma curta entrevista com o escritor David Mourão Ferreira, muito amigo da Natália, mas eu não percebi nada do que ele disse. Pensei: o que vou eu dizer à Natália? Que não percebi nada? Nem pensar nisso é bom! Não vou ao Botequim. Vou e digo que não vi. Vou e digo que percebi tudo. Não vou. 

Digo que o televisor se avariou, conjecturava eu já no táxi a caminho do Botequim. Pronto, digo que vi e finjo que percebi perfeitamente, digo que sim com a cabeça… quando lá chegar volto para trás e vou para casa… 

Mal entro no Botequim, dou um beijo à Natália, sento-me à mesa e a Natália pergunta- me imediatamente:

- A menina viu a entrevista com o David Mourão Ferreira na televisão ? 

- Vi.

- E percebeu alguma coisa? 

- Não… não percebi nada. 

A Natália ficou muito feliz com esta resposta e disse muito alto, dirigindo-se  a todos os que se encontravam no bar:

- Veem? Esta menina não percebeu absolutamente nada do que disse o David! Vou já telefonar ao David e dizer-lhe! Ó Sr. Bandola, ligue-me já o telefone para o David Mourão Ferreira.

Envergonhadíssima, aterrada, a pensar que estava a viver um pesadelo, pouco faltou para eu me meter debaixo da mesa ou fugir dali a sete pés, ao ouvir tais declarações. Mas a Natália explicou-me: também não tinha percebido nada, mas toda a gente que entrou no Botequim antes de mim e a quem fez a mesma pergunta, respondeu logo que tinha percebido tudo perfeitamente. 

Ao telefone, minutos depois, o “David” contou-lhe que nessa entrevista tinha dito cobras e lagartos da situação política e sobretudo de Cavaco Silva. Então os jornalistas cortaram todas as críticas que fez e emendaram as outras frases e o seu discurso de tal maneira absurda, que nem ele próprio percebeu nada do que disse no noticiário do Telejornal. 

Depois desta conversa, a Natália contou alto e bom som tudo isto , injuriou todos os outros frequentadores que se encontravam no Botequim e elogiou-me imenso, colocando-me nos píncaros, menina cultíssima, inteligentíssima, verdadeira, disse logo que não percebeu nada…

Completamente babada com tanto elogio dito em voz alta e naquele tom de voz da Natália, jurei para nunca mais voltar a ter as dúvidas que tinha tido e jurei para mim mesma que nunca mais iria fingir perceber o que não perceber.

E também jurei, é claro, que nunca iria perder a rosa.

domingo, março 19, 2023

Glória à Ucrânia, gloriosamente sacrificada no altar do “Triângulo do Diabo”!

 


Já se percebe: agora que a paz estava à vista, o TPI (juízes ingleses e polacos)tornaram-na completamente inviável, com o custo de descridibilizarem completamente o TPI. 

Há um ano, também Boris Johnson inviabilizou a paz que estava à vista, pois o chamado “triângulo do Diabo” lucra com a guerra ao vender armamento. Em breve haverá soldados portugueses a serem trucidados na Ucrânia. O que nos vale é que os nossos soldados vão fazer como os marinheiros dos Açores: não temos condições de segurança! Não vamos! 

Muitos ucranianos também estão a fugir, apesar da recente legislação de Zelensky que endureceu as penas para os heróis que fogem da guerra. Ou que recuam da frente de combate, ou que fingem estar doentes… glória aos heróis! Glória à Ucrânia! 

Enfim, quem quer a guerra são uns dez ou onze políticos… que conseguem convencer os amigos da Ucrânia de que é bom para os ucranianos servirem de carne para canhão, sobrando uma sociedade de viúvas e órfãos, mão de obra baratíssima para as empresas americanas e do “triângulo do Diabo”, como lhe chama o Sul Global (Inglaterra, França, Estados Unidos). Glória à Ucrânia, que se está a oferecer, como Carneiro no altar do sacrifício no altar de interesses mais elevados: os do Triângulo do Diabo.


Quando se celebra o centenário de Natália Correia, esta visão desassombrada de Agostinho Costa sobre a guerra continua a ser uma novidade absoluta.

https://cnnportugal.iol.pt/videos/ja-estamos-na-terceira-guerra-mundial-nao-declarada-vamos-passar-a-declara-la-a-analise-de-agostinho-costa/6416d3ee0cf2665294dadf23 

(Imagem: cartoon com assinatura)

sexta-feira, abril 24, 2020

25 de abril: Não Percas A Rosa!



Noite de 24 para 25 de abril. Passei varias destas noites no Botequim da Natália Correia a cantar até enrouquecer, as canções de abril. Adoro cantar e canto bem.
Parece-me bem que se comemore esta data, mas sempre como festa. 
Viva o 25 de abril, a revolução dos cravos!
Ou, como disse a Natália no título de um seu livro: "Não Percas A Rosa!".

terça-feira, fevereiro 05, 2019

Marcelo "cheio de pulguedo" como "diria" e disse a Natália Correia





Natália Correia conhecia Marcelo Rebelo de Sousa. Conheceu-o quando nadou no Tejo para se candidatar a Presidente da Câmara de Lisboa. Com tanto abraço, qualquer um fica "cheio de pulguedo"... 
Com a sua veia sarcástica, aqui vai o poema de Natália sobre Marcelo!


MARCELO E AS TÁGIDES

Marcelo, em cupidez municipal
de coroar-se com louros alfacinhas,
atira-se valoroso – ó bacanal! –
ao leito húmido das Tágides daninhas.

Para conquistar as Musas de Camões
lança a este, Marcelo, um desafio:
Jogou-se ao verso o épico? Ilusões!…
Bate-o Marcelo que se joga ao rio.

E em eleitorais estrofes destemidas,
do autárquico sonho, o nadador
diz que curara as ninfas poluídas
com o milagre do seu corpo em flor.

Outros prodígios – dizem – congemina:
ir aos bairros da lata e ali, sem medo,
dormir para os limpar da vil vérmina
e triunfal ficar cheio de pulguedo.

Por fim, rumo ao céu, novo Gusmão
de asa delta a fazer de passarola,
sobrevoa Lisboa o passarão
e perde a pena que é de galinhola.



quinta-feira, março 08, 2018

Dia da Mulher e Natália Correia



No dia internacional da mulher, recordo pessoalmente Natália Correia, que conheci com esta aparência, já no fim dos seus dias. Casada 4 vezes com homens (o 4º marido julgava ser o terceiro), era vulgar dizerem que era lésbica, que não gostava de homens, porque considerava as mulheres superiores aos homens. 

Ciao, Natália!

"Acho que a missão da mulher é assombrar, espantar. Se a mulher não espanta... De resto, não é só a mulher, todos os seres humanos têm que deslumbrar os seus semelhantes para serem um acontecimento. Temos que ser um acontecimento uns para os outros. Então a pessoa tem que fazer o possível para deslumbrar o seu semelhante, para que a vida seja um motivo de deslumbramento. Se chama a isso sedução, cumpri aquilo que me era forçoso fazer. 

Natália Correia, in Entrevista '(1983)' "

terça-feira, novembro 07, 2017

Transformar a tristeza em indignação


Há muitos anos, aconteceu-me isto: eu estava tristíssima, creio que o motivo tinha a ver com a minha tese de mestrado sobre Natália Correia, extraordinária escritora e política que conheci bem, de quem fui amiga e que morreu durante a minha escrita da tese.


Um dia, uma outra amiga da Natália disse-me que, quando queremos obter um resposta a alguma dúvida existencial, antes de adormecer fazemos a pergunta a alguém que amamos e que já morreu. A resposta surge ao acordar.

Nesse dia, antes de adormecer coloquei a pergunta à Natália, recentemente falecida. Só para experimentar.

No dia seguinte, ao acordar, eu nem sequer me lembrava da pergunta, mas surgiram-me na ideia, com toda clareza, estas palavras: "Transformar a tristeza em indignação".

Sim, a Natália ter-me-ia dito isto, sim, era claramente a resposta à minha pergunta.

Sim, é claramente a resposta a muitas das nossas perguntas.

Quem respondeu? Provavelmente o meu subconsciente... Ou então, quem sabe???

Enfim... Foi um dos melhores conselhos que me "deram" na vida.

sábado, março 19, 2016

Natália Correia "Núpcias químicas" do disco "Improviso"




Neste dia da poesia, o blogue quer homenagear Natália Correia com o seu belo poema alquímico Núpcias Químicas, agora em áudio, dito por ela mesma.

Natália Correia*‎- "Núpcias químicas" do disco "Improviso" (LP 1973)

domingo, janeiro 10, 2016

Natália Correia versus Candidato Marcelo

Este blog tem muitos poemas de Natalia Correia, aqui vai mais um a propósito das eleições presidenciais, em que Marcelo Rebelo de Sousa é o principal candidato, quase o único que pode ganhar. Com uma publicidade que lhe vem da televisão. Este poema foi feito aquando da sua candidatura para a Câmara de Lisboa.




MARCELO E AS TÁGIDES

Marcelo, em cupidez municipal
de coroar-se com louros alfacinhas,
atira-se valoroso - ó bacanal! -
ao leito húmido das Tágides daninhas.

Para conquistar as Musas de Camões
lança a este, Marcelo, um desafio:
Jogou-se ao verso o épico? Ilusões!...
Bate-o Marcelo que se joga ao rio.

E em eleitorais estrofes destemidas,
do autárquico sonho, o nadador
diz que curara as ninfas poluídas
com o milagre do seu corpo em flor.

Outros prodígios - dizem - congemina:
ir aos bairros da lata e ali, sem medo,
dormir para os limpar da vil vérmina
e triunfal ficar cheio de pulguedo.

Por fim, rumo ao céu, novo Gusmão
de asa delta a fazer de passarola,
sobrevoa Lisboa o passarão
e perde a pena que é de galinhola.
in "Inéditos"1979/91
Cancioneiro Joco-Marcelino, 
Poesia Completa

segunda-feira, março 16, 2015

Natália Correia: O Homúnculo



Faz hoje anos que Natália Correia morreu. Faz 22 anos.

E vai agora ao palco pela primeira vez uma sua peça, que só foi representada À porta fechada durante a ditadura salazarista.
Porque o homúnculo ("chulo" é um diminutivo, como em "corpúsculo"), ou seja, o homenzinho minúsculo, é Salazar.

Mas também podem ser estes homenzinhos minúsculos: Sócrates, Passos Coelho, Cavaco Silva e tantos outros, que nem têm conta.

A mim parece-me que é pena ser esta  aprimeira representação da peça, semq ue Natália nunca tenha visto nenhuma, mas é bom que finalmente aconteça.

Em Setúbal
VER AQUI

(Fotografia tirada pelo primo, José manuel Correia)

quinta-feira, janeiro 01, 2015

Pensamento para 2015: Ser normal é achar normal tudo o que está mal e que sempre esteve nesta nossa terra. Não sejamos normais!




Sempre admirei as pessoas que são muito diferentes de mim. Não as mais "sensatas", não as mais dentro da norma, ou seja, não quase todas, mas sim uma minoria muito diferente de mim, que é muito mais extravagante, muito mais fora do comum. 


Por isso fiz a tese de Mestrado sobre a Natália Correia, que continuo a admirar e que conheci pessoalmente muito bem. Porque a Natália não fazia menor ideia do que era ser "normal", já que foi criada com uma avó louca, demente. 


Proponho este projeto aos meus queridos amigos. Vamos fingir que tivemos uma avó espantosa, diferente de todo o mundo, que nos legou a fortuna de não percebermos o que os outros consideram ser normal..


O problema dos portugueses é quererem ser normais, sem refletirem sobre o que quer dizer ser normal. 

Ser corrupto, por exemplo, é ser normal.


Ser um estudante "rebelde", querendo dizer com "rebelde", ser um rapaz malcriado, grosseiro, sem interesses, sem ética, sem nada, é ser um rapaz normal. 



Ser normal é achar normal tudo o que está mal e que sempre esteve mal nesta nossa terra.

Confundindo ser rebelde com ser ignorante, vulgar e, portanto, corrupto.


Vamos ser diferentes em 2015?


sábado, setembro 13, 2014

Morte que Mataste Lira








Morte que Mataste Lira, uma das canções preferidas da Natália Correia, que faria anos hoje. Se fizesse. Gostava dez  cantar em coro com os amigos.

Ela própria cantava muito bem o Summertime. E esta.

sexta-feira, março 21, 2014

Natália Correia

Neste dia da poesia e segundo dia de primavera, este poema de Natália Correia, dizendo que não devemos colher flores


 "Flores não colhas porém; sem nexo, se colhidas,
Vão morrer-te nos braços.
Deixa-as serem na haste o hálito da vida
Que te perfuma os passos"
                                                                       Natália Correia

segunda-feira, fevereiro 10, 2014

Somos todos corruptos passivos, felizes, inocentes e fiéis

Muito antes de se saber que ia haver um sorteio das faturas, já eu pedia sempre a fatura com o NIF. Agora, quando a peço, dão-ma num trejeito irónico, como se eu fosse um denunciante, que pretende ganhar um automóvel. É o que diz Vasco Pulido Valente, na sua muito básica visão do mundo, hoje, na crónica do Público.


Esta criatura, Vasco Pulido Valente, escreve às vezes umas coisas acertadas, mas não esqueço o desgosto e a mágoa que provocou na Natália Correia quando escreveu que ninguém a lia e que os seus livros, (da Natália),  não estavam à venda em nenhuma livraria do país. Foi uma afirmação irresponsável, que ensombrou os últimos meses de vida desta escritora. E estavam à venda em todas as livrarias do país. 

Vejamos: os portugueses, desde o mais simpático ao mais antipático, o Pulido Valente,  não distinguem entre corrupção ativa e corrupção passiva: Somos todos corruptos passivos, felizes, inocentes e fiéis. 

Vou dar um exemplo: em vez de pagar 25 euros de impostos pelo jantar, pago mais 25 euros pelo jantar e zero de impostos. O Estado perde milhões e vem cortar-me no vencimento e nos meus impostos. 

O dono do restaurante, ou enriquece com mais 23  por cento que vão para ele, em vez de irem para o Estado, ou paga impostos, como eu, e não consegue sobreviver, porque a carne está quase estragada, o peixe cheira mal, a cozinheira não sabe cozinhar, mas a comida era barata (sem impostos) e os donos eram simpáticos. E corruptos.

Porque é que todos adoramos a comida caseira? Porque é muito melhor do que a  comida dos restaurantes vulgares. menos engordurada, mais saborosa e mais saudável. Durante décadas, tivemos restaurantes da pior espécie, baratos, com mão de obra escrava. Que sobreviveram aos impostos, porque não passavam faturas.

Mas a discussão em torno das faturas está ao nível do analfabetismo que grassa no país.

" Não se opor ao erro é aprová-lo. Não defender a verdade é negá-la." Tomás de Aquino

Não estou a  elogiar o Governo, um do spiorsque já tivemos. Apenas nos trata como merecemos. Não temos senso moral? Não temos senso de honestidade? Mas adoramos jogar. Viva o jogo!

quinta-feira, janeiro 09, 2014

Você sabe quem é a criatura que dá nome à sua rua?

Rua Ferreira Borges, Mercado Ferreira Borges, Escola Ferreira Borges. Sabem quem é esta criatura, Ferreira Borges? É necessário renomear as ruas e os sítios das nossas cidades.

Muitas das nossas ruas têm nomes que eram importantes há cerca de 100 anos, como hoje existem nomes importantes nas revistas Caras e VIP. Hoje, toda a gente sabe onde fica determinada rua, mas ninguém sabe quem é a criatura que lhe deu o nome.

No Porto, quem não sabe o que é o Mercado Ferreira Borges? E em Lisboa, muitos estudaram ou trabalharam na Escola Secundária Ferreira Borges e conhecem bem a Rua Ferreira Borges. Hoje, a Escola Ferreira Borges já não existe. Fundiu-se com a escola Rainha Dona Amélia. A própria Rainha Dona Amélia é uma figura pouco relevante da nossa história, a que os americanos chamariam "looser" :)
E quem sabe quem foi essa criatura, Ferreira Borges? Resposta: foi um jurista da 1ª República, que escreveu o primeiro código comercial português. Decalcado, evidentemente, do código comercial francês e muito diferente do inglês.
Aliás, os nossos códigos de leis têm muito que se lhes diga. Como quando uma corveta portuguesa capturou piratas mas teve de os libertar, porque a lei portuguesa não contempla a pirataria, considerando-a coisa do passado remoto. Ou como quando um "crime" informático não existe, ou não existia há uns anos, por não estar nos códigos de leis, que não previam modernices.
A justiça anglo-saxónica vai pelos princípios e nunca tem destes entraves.

Vamos ter uma Avenida Eusébio? Muito bem. E alguém sabe onde ficam as ruas Sophia de Mello Breyner ( não existe em Lisboa) , Rua Natália Correia, um beco, Rua José Saramago, Rua Eça de Queirós, Rua Camilo Castelo Branco, Rua Cesário Verde, um dos poetas de Lisboa...

Você sabe quem é a criatura que dá nome à sua rua?

Já morei, em Lisboa, nas ruas: Engenheiro António Maria Avelar (um beco giríssimo, um nome tão grande, uma rua tão pequena...) General Pimenta de Castro...  não me lembro das outras, mas depois digo.





quarta-feira, janeiro 01, 2014

Feliz 2014: votos de alegria, abundância e felicidade




Desejo um Feliz 2014 aos meus leitores frequentes. A todos nós e aos que por aqui passarem.

Que haja paz e concórdia entre as pessoas e entre as nações.

Que sejam benditos todos os deuses.

Que sejam abençoados todos os crentes e também os ateus, mesmo contra a sua vontade :)

Que a religião não seja jamais fator de discórdia, mas de união entre os povos. Acreditar no invisível é comum entre os religiosos de toda a Terra.

Que o Papa Francisco consiga transformar radicalmente a religião católica. Extirpando-a dos vícios da direita, do poder, da corrupção e da ilusão de superioridade sobre as outras.

Ofereço-vos a última versão, até agora, do meu presepinho:). Com Buda, Shiva, Cristo, Maria e José. E o povão e os reis Magos, que só deveriam chegar a 6 de Janeiro, mas chegaram quando eu os comprei .

Como dizia ou escrevia Natália Correia: "Tanto faz Buda ou Alá".

Que a roda da vida nos traga alegria, abundância e felicidade. Que a Deusa Laksmi nos dê sorte. 
Que Buda, Shiva e Cristo nos inspirem.

terça-feira, dezembro 17, 2013

"Temos fantasmas tão educados / Que adormecemos no seu ombro "






Natália Correia escreveu isto no tempo de Salazar. Atualmente, Portas, o tipo dos submarinos e das decisões irrevogáveis, que se revogam imediatamente, afirma que:

"Reformar com acordo social é uma singularidade positiva de Portugal" (Clicar para ler).


Ou seja, qualquer país, no nosso lugar, já tinha feito uma revolução e decapitado ou defenestardo esta cambada horrenda que nos governa, mas nós não.

- Ke Kridos que nos somos. Não éramos? não tínhamos sido?  - Diremos um dia, quando já não existirmos, por excesso de delicadeza.

Aqui vai o poema completo. Foi dito por Natália Correia num julgamento em que era acusada, o que deixou os juízes ainda mais enxofrados contra ela. Tês anos de prisão com pena suspensa, foi a pena. Acusadada de quê? De liberdade de expressão. Claro.

Ganda Natália!

Queixa das almas
jovens censuradas
Dão-nos um lírio e um canivete
E uma alma para ir à escola
E um letreiro que promete
Raízes, hastes e corola.

Dão-nos um mapa imaginário
Que tem a forma duma cidade
Mais um relógio e um calendário
Onde não vem a nossa idade.

Dão-nos a honra de manequim
Para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos o prémio de ser assim
Sem pecado e sem inocência.

Dão-nos um barco e um chapéu
Para tirarmos o retrato.
Dão-nos bilhetes para o céu
Levado à cena num teatro.

Penteiam-nos os crânios ermos
Com as cabeleiras dos avós
Para jamais nos parecermos
Connosco quando estamos sós.

Dão-nos um bolo que é a história
Da nossa história sem enredo
E não nos soa na memória
Outra palavra para o medo.

Temos fantasmas tão educados
Que adormecemos no seu ombro
Sonos vazios, despovoados
De personagens do assombro.

Dão-nos a capa do evangelho
E um pacote de tabaco.
Dão-nos um pente e um espelho
Para pentearmos um macaco.

Dão-nos um cravo preso à cabeça
E uma cabeça presa à cintura
Para que o corpo não pareça
A forma da alma que o procura.

Dão-nos um esquife feito de ferro
Com embutidos de diamante
Para organizar já o enterro
Do nosso corpo mais adiante.

Dão-nos um nome e um jornal,
Um avião e um violino.
Mas não nos dão o animal
Que espeta os cornos no destino.

Dão-nos marujos de papelão
Com carimbo no passaporte.
Por isso a nossa dimensão
Não é a vida. Nem é a morte.


domingo, outubro 13, 2013

Os mortos não protestam, os velhos são senis, os vivos morrem de medo e de cobardia




Quando Mário Soares morrer, todos dirão o que digo agora a seu respeito, mas, em Portugal, há um culto dos mortos, porque os mortos não falam, não protestam e nós detestamos a contestação. O respeitinho é que é muito bonito.

Décadas depois de terem morrido, valorizamos as atitudes revolucionárias de figuras como Natália Correia e outros, sobretudo porque nada mudou entretanto. Por nossa culpa.

Enquanto ainda fala, ouçamos o que diz Mário Soares sobre a política. Pelo contrário, andam a dizer que está velho, que está senil, o que é uma falta de respeito para com os idosos e um insulto para com ele.
Muitas vezes me irritou, claro, mas não comparemos Mário Soares com o Cavaco Silva, Passos Coelho, ou Sócrates. Soares esteve preso, esteve no exílio, durante décadas só teve sofrimento, perdas e derrotas pessoais por ser político. Os outros só tiveram ganhos e que ganhos!    

Assistimos a um país em que ninguém tem coragem para falar no seu emprego, ninguém tem coragem de dar opiniões diferentes das dos "chefes", porque José Sócrates Pinto atribuiu grandes poderes aos "chefes.

  1. Assistimos a um país em que ninguém tem coragem para falar dentro do seu partido, nem em lado nenhum, em que a corrupção é comummente aceite, em que é antipático denunciar ou protestar. Quem tem coragem, corre o risco de ser considerado louco, senil, parvo, ou um perigoso dissidente.

Ouçamos o que diz Mário Soares:

Mário Soares diz que alguns membros do Governo são “delinquentes”


Antigamente comparavam Mário Soares com Álvaro Cunhal, considerando que Cunhal era superior, porque sofreu mais, porque foi torturado. Comparemo-lo agora com esses corruptos, que só conhecem, da política, as vantagens do poder.

terça-feira, setembro 18, 2012

Maria Teresa Horta: com uma cajadada mata dois, ou mesmo três, coelhos






A escritora Maria Teresa Horta acaba de se recusar a receber o prémio D. Dinis, das mãos do Primeiro Ministro Português, Passos Coelho.
É caso para dizer que com uma cajadada mata dois, ou até mesmo três, coelhos: 
1º coelho - Todo o mundo fica a saber que ganhou um prémio;
2º coelho - conquista a simpatia do povo português;
3º coelho- o Passos Coelho;


VER AQUI, NO EXPRESSO

A escritora conquistou, pela primeira vez, a simpatia e a admiração dos leitores e principalmente das leitoras portuguesas, ao publicar, durante a ditadura de Marcelo Caetano, o livro Novas Cartas Portuguesas, de que foi co-autora. Nessa altura foi julgada, pois o livro não foi considerado conveniente, pelo regime. A editora era Natália Correia.


segunda-feira, setembro 17, 2012

"Temos fantasmas tão educados que adormecemos no seu ombro"

Muitos muito se orgulham pela manif do dia 15.
Por terem sido muitos. Por ter sido muito pacífica. Porque a a polícia se portou bem.

Aliás, portámo-nos todos tão bem, que até a imprensa francesa afirma que nos comportámos como "bons enfants" - em francês, no original, isto será o oposto de "enfants terribles"

Mas não é como meninos bem comportados que lá chegaremos.

Esta demonstração ainda foi só o princípio, quando ainda não há desespero e parece haver esperança.

Quanto à polícia, é óbvio que teve instruções para não mexer um dedo. Se não tiver servido para mais nada, serviu para constatar isso o desafio e a provocação que alguns jovens lhe fizeram em são Bento.

Tão mal visto e em maus lençóis que parece estar o governo, só lhe faltava reagir de forma violenta.

Os polícias fazem o que lhes mandam. Ou irá repetir-se o romantismo dos cravos de Abril?
O romantismo é giro, mas devemos ser perspicazes. 


Poesia de Natália Correia - Queixa das almas jovens censuradas

Dão-nos um lírio e um canivete
e uma alma para ir à escola
mais um letreiro que promete
raízes, hastes e corola

Dão-nos um mapa imaginário
que tem a forma de uma cidade
mais um relógio e um calendário
onde não vem a nossa idade

Dão-nos a honra de manequim
para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos um prémio de ser assim
sem pecado e sem inocência

Dão-nos um barco e um chapéu
para tirarmos o retrato
Dão-nos bilhetes para o céu
levado à cena num teatro

Penteiam-nos os crânios ermos
com as cabeleiras das avós
para jamais nos parecermos
connosco quando estamos sós

Dão-nos um bolo que é a história
da nossa historia sem enredo
e não nos soa na memória
outra palavra que o medo

Temos fantasmas tão educados
que adormecemos no seu ombro
somos vazios despovoados
de personagens de assombro

Dão-nos a capa do evangelho
e um pacote de tabaco
dão-nos um pente e um espelho
pra pentearmos um macaco

Dão-nos um cravo preso à cabeça
e uma cabeça presa à cintura
para que o corpo não pareça
a forma da alma que o procura

Dão-nos um esquife feito de ferro
com embutidos de diamante
para organizar já o enterro
do nosso corpo mais adiante

Dão-nos um nome e um jornal
um avião e um violino
mas não nos dão o animal
que espeta os cornos no destino

Dão-nos marujos de papelão
com carimbo no passaporte
por isso a nossa dimensão
não é a vida, nem é a morte



Natália Correia (Poetisa portuguesa, 1923-1993)


segunda-feira, julho 02, 2012

"Coração de vidro cortei-me num sonho como um diamante"

- Gostaria de ajudar as crianças com cancro?
- Não gostaria de ajudara as crianças orfãs?
- Gostaria de ajudar os portugueses / africanos / chineses / que passam fome?

A resposta  a estas perguntas, neste momento, diferentemente do que era há meses, só pode ser:
- Não!
- Não?!

Aqui em Lisboa, fazem esta pergunta vinte vezes por dia, a quem passe em certos locais várias vezes, para além de nos assediarem de outros modos, ainda mais originais:
- Posso cumprimentá-la de mão? - Perguntam-nos, estendendo a mão, com um enorme sorriso. É para nos proporem um cartão de crédito que todo o mundo já tem.
Vem-nos logo à ideia: nunca se nega um aperto de mão (bem, a não ser num caso de grave ofensa).
E a única conclusão, sempre, parece ser:
- Esqueçamos tudo o que aprendemos até agora!
-Não!
- Mas eu só quero apertar-lhe a mão!

Mesmo que acabasse por ceder, vou voltar a passar no mesmo lugar ainda umas 3 vezes na próxima meia hora e ele vai perguntar-me sempre a mesma coisa, de mão estendida.

E o nosso coração fica cada dia mais duro. E o nosso relacionamento com os outros cada vez mais gelado.


A resposta não às primeiras perguntas deste post não é a resposta certa, mas sim: 
- Gostaria de ajudar, mas já ajudei e, além disso, não tenho tempo agora para parar e ouvir o seu arrazoado, até porque já hoje me perguntaram isso 5 vezes. Resumindo:
-NÃÃÃOOOOO!!!

P.S.: O título deste post é um verso de Natália Correia do poema Núpcias Químicas  (Clicar por cima) "Coração de vidro cortei-me num sonho como um diamante"