Era uma senhora que tinha estes brincos da foto. Juntou-se uma rapariga e deu a seguinte conversa, a três, com mais duas pessoas a assistir e a dizerem que sim com a cabeça, porque a dona dos brincos era mulher de personalidade.
História pouco natalícia, às vezes, mas nem sempre
- Os seus brincos são lindíssimos. Posso ver?
- Oh, são tão antigos! Se não me tivessem roubado 3 Kgs de
jóias!!!
- Então e não sabe que aqui em lisboa não pode andar
carregada com 3 kgs de jóias?
- Sei, claro, eu sei, mas isto foi na terra. O meu marido
era do Minho e as pessoas do Minho adoram joias. E eu só as usava lá, claro.
Desapareceram da carrinha, no quintal da casa... estas... as outras eram muito
melhores...
- Eu estava a dizer a esta senhora que os brincos dela são
muito originais, não acha? Posso tirar uma fotografia? É que são umas
circunferências que mudam de posição conforme a senhora muda a posição da
cabeça...
- Sim, de facto... Ah! A senhora não me está a conhecer? E a
senhora também?
- Não...
- Eu sou aquela que tomou conta da sua vizinha doente,
aquela a que cortaram a perna.
- Ah! O primeiro prato da comida da minha casa era sempre
para ela. Com o melhor! Mas ela nunca teve que dissesse assim: comprei-lhe
estas cuecas como prenda de Natal. Nada. Nunca me deu nada.
- Porque é que a senhora queria umas cuecas como prenda de Natal?
- Não, isto sou eu a dizer. Nada, nem mesmo umas cuecas.
- Mas então, se a sua vizinha nunca lhe deu nada, porque é
que lhe dava sempre o primeiro prato de tudo?
- Eu? Então eu via que ela não tinha nada, ninguém lhe
levava nada e eu não havia de lhe dar de comer? Do melhor que tivesse? Porra!
Mandava-lhe sempre o primeiro prato, do melhor que tivesse. Porra! Era o que
faltava!
- Era eu que tomava conta dela, nos últimos tempos. Mas a
irmã...
- A irmã roubou-lhe tudo. Nem um lençol lavado lhe deixou. E
deu-lhe uma coça.
- Isso da coça não sei se não teve razão! Que ela
acordava-me de cinco em cinco minutos porque queria fazer xixi...
- Sim, ela não era fácil. Nada fácil. Eu telefonei ao
sobrinho, mas ele não quis saber.
- A irmã mandou-me embora e ficou à cabeceira da cama dela.
- Claro. E deixou um frasco com um líquido na mesinha de
cabeceira. Eu disse logo: levem esse líquido à polícia. Mas disseram. Polícia?
Não, não.
- Foi ela que herdou tudo...
- E o sobrinho. Por isso é que eu queria levar o frasco à polícia.
- Mas o sobrinho nem apareceu nunca.
- Os seus brincos. Posso tirar uma fotografia?