O meu pai, que era muito bonito, como se vê na foto, publicada aqui no seu aniversário (19 de junho) que seria, muitos anos após a sua morte, andou a passear pelo país, com os amigos, de forma sistemática, durante meses ou anos, em breves excursões. Décadas de 30 / 40 do século XX.
Ao chegarem a uma povoação, uma criatura acercou-se do autocarro e exclamou:
- Gente feia, "caminete" feia, tudo feio!
Esta é uma das muitas histórias com que a minha família se riu durante décadas, considerando, neste caso, a grosseria cometida contra nós, como sendo cómica.
A grosseria a que o filósofo Fernando Gil chama "burgesismo" ( de burgesso), como algo de risível. E de grosseiro.
Mas a auto-ironia existe e fica bem. Uma coisa é rirem-se de nós, outra coisa é rirmo-nos nós de nós mesmos.
Como fez o meu pai e todos os amigos, contando esta história a toda agente, rememorando-a muitas vezes nos longos serões à lareira, no Inverno. Nos longos serões ao fresco das árvores e das sombras, no verão.
Muitas vezes me apeteceu dizer, em situações inomináveis, ambíguas, confusas, hipócritas, mas aparentemente muito civilizadas:
- Gente feia, "caminete" feia, tudo feio.
Mas creio que não cheguei dizer. Terei dito?!