Nunca fiz abstinência na Quaresma, por duas razões: não me identifico com o catolicismo e acho ridículo comer lagosta em vez de frango como modo de ser místico... nada contra a lagosta, nada contra o frango...
Há muitos anos, alguém que me ia avaliar (já naquele tempo) queria obrigar-me, num almoço de trabalho, a comer camarão em vez de meio bife com batatas fritas. Como eu era muito magra e muito teimosa, lá foi o meio bife. A nota baixou um nadinha, mas, como eu era também algo contestatária, subiu outra vez um nadinha... ficou um nadinha abaixo das católicas ferrenhas - isto aconteceu na cidade do Porto, uma das razões, a menor de todas, que me levaram a mudar para aqui.
Sou religiosa sem ter religião, mas, mesmo que não fosse religiosa, com ou sem religião, consideraria importantes os jejuns e as restrições de comida impostos pelas religiões. Por razões espirituais e físicas. Hão-de reparar que todas as religiões têm também uma ginástica e não é pequena para alguns o ajoelhar e levantar e sentar e ajoelhar da católica. Sobretudo se o padre for daqueles que diz a missa em 100 rotações... em 10 minutos, como conheço bem um.
Este ano, decidi cumprir as restrições da Quaresma, nos dias assinalados e outros, ora fazendo jejum, ora consumindo alimentação vegetariana.
A ideia é cumprir, pelo menos às vezes, o preceito budista de Ahimsa: não violência. Ghandi aplicou este conceito da maneira que conhecemos, os vegetarianos ampliam-no para a ideia de não matar animais.
E tem um lado egoísta: faz bem à saúde. O colesterol não existe na matéria vegetal. Mas isso é o menos. Jejuar às vezes, abster-se de carne às vezes, fazer exercício físico sempre, tudo isto faz bem à saúde. E à alma.