domingo, fevereiro 09, 2020

Racismo e anti-racismo



Quando vivi no Algarve, tive uma amiga muito bonita, muito querida, normalmente inteligente, mas que não tinha a quarta classe, a escolaridade obrigatória na época, teria só a segunda ou terceira. Sentia-se muito inferiorizada perante os amigos e amigas que até tinham o nono ano e que estavam sempre a mostrar que eram muito cultos, falando de coisas de que ela não sabia falar, mas não se sentia mal comigo, à época professora do Liceu António Aleixo. Conversávamos muito na praia pequena ao lado da praia da Rocha, para onde íamos às vezes, ou nos bares circundantes.
Não tinha a quarta classe, porquê? 
Quando vivia em África, muito pequenina, a professora e os colegas batiam-lhe por ser branca. Quando, pouco depois, veio para Portimão, na descolonização, a professora e os colegas batiam-lhe por ser preta. Era mulata.
Perante os atuais antirracistas militantes, que são de esquerda como eu, com quem tenho discutido estes assuntos, a menina só foi vítima de racismo em Portimão. Em Moçambique, ou Angola, não me lembro, era apenas uma perigosa colonialista imperialista.

Esta discussão faz sentido atualmente, com as Joacines e os Mamadus da vida... 
Discutir tudo com a inteligência, com a razão e com a lógica, é necessário.

(Como não havia ainda redes sociais nessa época, perdi o contacto com esta amiga, que foi viver para os Estados Unidos, casada com um americano. Tudo está bem quando acaba em bem!).


Foto: Praia de areia preta, Ilha de Stromboli, Itália. Foto do blogue.

segunda-feira, janeiro 27, 2020

Para quando uma "marselfie" do Marcelo com o Rui Pinto em liberdade?






Heróis do mar: Rui Pinto, ou o que finge tirar um bébé do caixote do lixo, recebendo logo um apartamento em Cascais, enquanto os verdadeiro salvadores, não heróis, claro, continuam a dormir na rua.


Como explicar que o "nosso" Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, dê medalhas e elogios e selfies ao grande "herói" que fingiu resgatar o bebé do caixote do lixo, mas deixe estar na cadeia o Rui Pinto? Será que tem telhados de vidro?

E cá vamos, cantando e rindo, com as Joacines a fazerem-nos pensar e discutir questiúnculas, como  a  importância política da gaguez ou a saia dos assessores. 

Mais uma vez os nossos políticos nos envergonham perante o mundo.

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terça-feira, janeiro 21, 2020

Ironia das ironias, tudo é ironia







Será que os portugueses são assim tão estúpidos? Ou será que os políticos portugueses não são capazes de entender a mudança que ocorre em Portugal e no mundo?
Quando digo políticos portugueses, tanto me refiro ao Marcelo como à Joacine.
Ou aos políticos que sempre lidaram bem com a Isabel dos Santos e o pai, mas que ainda se entendem melhor (ou pior, melhor ou pior é igual) com o atual governo de Angola.
Vocês não acham que esta gente ainda vive no século XX? E que esta gente pensa que nós ainda vivemos no século XIX?


Imagens retiradas da imprensa:
VER



Angola propõe-se a reduzir pobreza extrema a três milhões de pessoas até 2022

sábado, janeiro 18, 2020

A beleza da manhã em Lisboa






A caminho do trabalho, a pé, contemplando a beleza da manhã citadina, o céu como uma tela desenhada pelos jatos, talvez prenunciando múltiplas viagens pelas nuvens. Nefelibatas.

domingo, janeiro 05, 2020

Hoje é o dia em que os Reis Magos chegam ao presépio.









Hoje é o dia em que os Reis Magos chegam ao presépio. 
Mas também existe o antes e o depois. pelo menos na sua representação na arte. O antes é a dormição, em que tiveram o sonho. Na arte medieval, são representados  dormir juntos, maneira prática de representar o sonho comum de todos.
Dormição é também um termo usado para designar a morte que não é morte, como a de Nossa Senhora, ou a de São Francisco de Assis. 
Por outro lado, existe também o depois, ou seja, como regressaram? Aparentemente, também regressaram juntos,a julgar por outro iluminura, esta de 1200.
Interessantes são as representações em iluminuras...


Imagens retiradas da Internet:Imagem 1 _ Iluminura MedievalImagem 2 - Livro de Horas Igreja Católica Liturgia e Ritual, Adoração dos Reis Magos, séc. XV [Biblioteca Nacional de Portugal]Imagem 3 - O sonho dos Três Reis Magos, Mestre Aster Gislebertus, Catedral de Saint Lazare, Autun, FrançaImagem 5: Iluminura Medieval, 1200

sexta-feira, janeiro 03, 2020

Metáfora do País: herói salvador fictício, verdadeiros salvadores na rua e na miséria





Foi criado o cargo de Coordenador Nacional para os Sem-abrigo.
Quem deveria assumir este cargo era aquele que ganhou duas casas e quase ganhava um medalha do presidente Marcelo: o "herói" que (alegadamente) salvou o bébé do lixo. 

Porquê herói? Correu algum perigo?
Descobriu-se depois que não teve nada a ver com o bébé, mas nessa altura já morava na sua casa de Cascais, enquanto os verdadeiros salvadores continuavam na rua, sem-abrigo e sem medalhas.
Claro, onde iriam meter as medalhas, se nem casa têm??? para que precisariam de medalhas?
Isto é uma perfeita metáfora do país em que vivemos: não importa ser, importa parecer.
Mas, como diz José Gil, No seu maravilhoso livro sobre os mitos portugueses *, somos peritos em fabricar não-acontecimentos. Este caso, ou melhor, o esclarecimento deste caso,  foi um não-acontecimento. 

Não aconteceu. Ouviram???

* Livro: Portugal Hoje: o medo de existir.
Imagem: mapa do Google.

quinta-feira, janeiro 02, 2020

Bento XVI - Papa revolucionário



Gosto muito deste Papa, que nasceu no mesmo di aqui eu (16 de abril). E que deu lugar ao Papa Francisco, uma jóia do nosso tempo.
Gosto dele por esta afirmação, ente outras:


«O homem tem mais medo do poder da opinião pública do que da luz distante e indefesa da verdade. Ele curva-se ao poder da opinião, tornando-se seu aliado, um de seus portadores. Torna-se escravo da aparência. Nas suas acções ele já não se orienta de acordo com a realidade, mas de acordo com as reacções dos outros.

Deste modo, chegamos ao domínio de opinião, ao domínio do falso. E assim, toda a vida de uma sociedade - decisões políticas e pessoais - baseiam-se na ditadura do falso.»

Joseph Ratzinger / Papa Bento XVI
Roma, Quarta-Feira de Cinzas de 1989
VL

domingo, dezembro 22, 2019

As ovelhinhas do presépio



No tempo em que eu andava na segunda classe da escola primária (e também na terceira e quarta), tive uma professora muito religiosa, muito antiquada e que na altura parecia muito velha, por contraste com a rapariga que me deu a primeira classe e da qual eu também não gostava nada. Muito mimada em casa, odiava a escola e ainda hoje me arrepio ao recordar tudo isto. Mal sabe que iria passar toda a vida, ou pelo menos até agora, num ambiente de professores e alunos, tornado, felizmente, mais fraterno.

No Natal desse segundo ano, as professoras, lideradas pela minha, fizeram um enorme presépio no átrio da escola, em que havia uma ovelhinha para cada menina, cada uma de nós. Na nossa sala, havia também uma grande cruz em papel quadriculado, com várias linhas para cada uma, dependendo da parte mais larga ou mais estreita da cruz. Nas linhas deveríamos inscrever um sacrifício, um cruz em vermelho, ou uma abstenção, um cruz em verde. As nossas velhinhas, colocadas ao fundo do monte, dariam um pequeno passo por cada abstenção e um grande salto por cada sacrifício. Giríssimo, como diriam agora os pedagogos!

Muito antes do último dia de aulas, já as minhas linhas estavam a  abarrotar de cruzes vermelhas e a  minha ovelhinha estava quase enfiada em cima da manjedoura. Tudo medido ao milímetro, para não me chatearem depois.

No último dia, foi realizada uma pequena cerimónia e as professoras chamaram-me ao cimo da escadaria para me perguntarem que sacrifícios, tantos e tão grandes, tinha eu feito, para servir de exemplo às minhas pouco sacrificiais colegas (de quem eu também não gostava, claro). E sendo eu também a melhor aluna, etc...

Respondi, muito naturalmente, que era para mim um grande sacrifício levantar-me todos os dias da cama e ir para as aulas e que, todo os dias, a minha velhinha dava um grande salto, com tamanho sacrifício. Mal me ouviram dizer isto, as minhas colegas foram logo  procurar as respetivas ovelhas, que ainda se encontravam no sopé do musgo, para as enfiarem dentro do estábulo, ou à volta se já não cabiam dentro, embora as professoras tentassem evitar, sem conseguirem encontrar argumentos, nem atitudes válidas... afinal, eu era a melhor aluna. E também era a aluna que fazia mais sacrifícios e abstinências... 

Um exemplo vivo, ali, a discursar ao cimo das escadas. Muito contrariada.

sábado, dezembro 21, 2019

Solstício de Inverno




Brindemos ao solstício. Que sejamos capazes de merecer o inverno, tal como julgamos merecer o verão. 
Que sejamos capazes de sentir os prazeres do recolhimento, ou dentro das casas por onde passamos, ou dentro dos nossos corações.

sábado, dezembro 14, 2019

Inseto Flower Mantis, ou a beleza da mentira











Inseto muito belo, com camuflagem de flores, Flower Mantis, espécie de louva-a-deus. 
Finge que é uma flor, para apanhar outros insetos e comê-los, chamar-lhes um figo!
Bela, hipócrita e má! Ou será belo, hipócrita e mau? Parece que isto fica melhor no feminino...
Os louva-a-deus até comem pássaros, aranhas, cobras, gafanhotos e lagartos.

Mas estes inscrevem-se na inominável beleza do mundo.

(Fotos da Internet).

Ser professora / professor

Não me tornei professora por vocação nem por convicção. Quando os alunos me perguntam, digo a verdade, é claro.
Acho mesmo que nunca teria escolhido esta profissão, pois sou vocacionada para a solidão. O excesso de comunicação que ela implica, com alunos, professores, pais, sempre foi para mim um incómodo. Sempre me impediu de comunicar nas horas vagas, em que prefiro o silêncio.
Agora, neste momento em que os professores são ostracizados, hostilizados, é só agora que me sinto identificada com esta profissão. Como é bom ser ou ter sido a professora preferida de um ou de milhares de alunos! Como é bom ter feito a diferença para um ou para milhares de alunos entre a seca de estar nas aulas ou o acordar alegre por ir ter uma aula com aquela professora! 
Como é bom fazer este trabalho de forma rotineira, sem nem sequer pensar nisso, como se fosse apenas, todos os dias, assinar um ponto e imprimir uns formulários... não é!
Porque pensar em tudo isto é demasiado emocionante, demasiado empolgante para ser rotineiro, mas às vezes, muitas vezes, precisamos da rotina... 
Sobretudo quando, para além desta obrigação, ainda fazemos algo mais. 

Noto que esta profissão existirá, apesar dos políticos e das políticas que desaparecerão para sempre.

domingo, dezembro 08, 2019

O advogado das ratazanas


Na Idade Média era comum pôr animais em tribunal, pedindo para eles sobretudo a pena de excomunhão. 
Já no início do séc. XVI, Barthélemy de Chasseneuz ficou famoso pela defesa que fez das ratazanas que infestavam os campos de uma localidade francesa, Autun.
Como as ratazanas não compareceram ao julgamento, o juiz pretendia julgá-las "in absentia e era quase certa condenação O advogado afirmou que lhes seria difícil apresentarem-se a julgamento, por não terem tido todas elas conhecimento da notificação, já que cada uma deveria apresentar-se individualmente . A notificação foi mais tarde lida em todos os púlpitos, mas , na sessão seguinte, também não apareceu nenhuma.
Barthélemy de Chasseneuz argumentou, então, que um réu não pode apresentar-se a  julgamento se, ao fazê-lo, correr perigo de vida. Como seria, aliás, o caso das ditas ratazanas, as quais se tornariam presa fácil dos gatos e dos cães da vizinhança. O juiz aceitou o argumento, o julgamento foi adiado outra vez. Pouco se sabe sobre o que aconteceu depois...

A praga acabou por desaparecer com o tempo, provavelmente ... 
Assim se livraram as ratazanas da excomunhão (era um tribunal eclesiástico), os camponeses também ficaram felizes e Barthélemy ficou famoso para sempre. 
Mais famoso agora do que nunca, já que estamos em tempos de defesa acérrima das animais.


Imagem: Terra em que tudo aconteceu, Autun, França.

sábado, dezembro 07, 2019

Mais notícias da Choldra

Durante dois anos, dei aulas no Algarve. Estava em princípio de carreira e ganhava pouquíssimo, embora me divertisse muito. 
Mas esperava-se que eu pagasse por uma casa o que se paga nos meses de verão em Portimão, que era onde estava. É claro que havia falta de professores por lá, mas quem queria saber disso? Agora querem.
Uma professora que venha para Lisboa tem de pagar, para viver num quarto alugado, metade do que ganha, ou mais. Não vêm. Ou vêm, aceitam o lugar e metem um atestado por um ano, o que é muito pior.Estamos numa fase em que os professores foram transformados em bodes expiatórios pelo PS, hostilizados publicamente pelos ministros da educação e quejandos. 
A próxima fase será endeusar os professores e transformá-los em modelos seguir, única maneira de despertar novas "vocações". 
Escrevam o que eu estou a dizer, vão ver...Já muitas vezes este blogue acertou nas suas previsões. 

sexta-feira, dezembro 06, 2019

Notícias da choldra



Aqui na choldra (palavra de Eça de Queiroz) quando Sócrates aumentou a idade da reforma de 60 anos para 66, a ver se se safava da Troika, ninguém piou.

Nem quando os políticos posteriores ( Passos Coelho e António Costa) a foram aumentando para 66 e seis meses.

Em França é assim e ainda só vão nos 62. Povinho conformado!!!

Enfim, esta Notícias da choldra é uma não-notícia.


 

(Foto da imprensa)

segunda-feira, novembro 25, 2019

Santo Estanislau Kostka, por Pierre Le Gros





A polémica estátua jacente de Santo Estanislau Kostka, pelo escultor Pierre Le Gros, 1713.

E, contudo, quanta beleza e quantos detalhes!!!

sábado, novembro 23, 2019

Presépio? Ainda não chegou a Belém...



Refugiados do Médio Oriente a caminho de Belém, para receberem beijinhos e medalhas. Enfrentando inúmeros perigos, presentes e futuros.

Os bonecos mais perfeitinhos vieram de Nápoles, da rua dos Presépios. Os outros são de Barcelos.

domingo, novembro 17, 2019

Desistimos da modernidade? A mim não me apetece usar Burka. Mesmo que me cortem o pescoço, que não cabe nas burkas




















Nós, ateus, agnósticos, etc... respeitamos diferença, claro. Desde que a diferença não nos destrua, nem nos engula.

Mas, e se a diferença for contra a nossa civilização e conta as conquistas da nossa cultura?
Vejam esta


Em Portugal, um menina Paquistanesa recusa-se jogar num clube portugês se não usar um "equipamento desportivo" parecido com a burka,
Fatima Habib só volta a jogar basquetebol se vestir traje muçulmano

É claro. E nós, o que faremos? Vocês sabem que sempre fui de esquerda, mas a esquerda verdadeira está ser cobarde... parva, no receio de ser incoerente. Incoerentes somo todos. Somos humanos, parvos, incoerentes e demasiado sentimentais, mas sabemos pensar, às vezes. Mesmo até muitas vezes.
Depois de termos queimado muitas bruxas nas fogueiras da Inquisição, só podemos separar a a Igreja do Estado, como fizemos no século XVIII. Mas tanta gente que ainda não percebeu nada disso... no século XXI...


Notícias de muçulmanos que querem impor as suas ideias anti-mulheres, numa Europa e num mundo onde estas ideias só podem ser consideradas arcaicas.

Desistimos da modernidade?


Imagem de : Hugo van der Ding

sábado, novembro 09, 2019

No centenário de Sophia: Praia

E a praia nunca mais será a mesma, depois de termos amado este poema



Praia


Na luz oscilam os múltiplos navios
Caminho ao longo dos oceanos frios

As ondas desenrolam os seus braços
E brancas tombam de bruços

A praia é longa e lisa sob o vento
Saturada de espaços e maresia

E para trás de mim fica o murmúrio
Das ondas enroladas como búzios.

Sophia de Mello Breyer

(Foto oficial da escritora)

No centenário de Sophia: Para Atravessar Contigo o Deserto do Mundo




"Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei 

Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso 

Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo 
Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento "
Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'Livro Sexto'

(Foto oficial da escritora)