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Todas as terras julgam chamar-se A Terra. Todas as terras são, para quem mora nelas, o Umbigo do Mundo. Sempre que desembarquei em terra, depois de ter navegado pelos mar, senti que a terra era imunda. E enjoei.
quinta-feira, janeiro 23, 2014
"Não há nada mais supersticioso que os políticos, até mesmo os ateus, que vão à bruxa em vez de ir a Fátima”,
Eduardo Lourenço acredita que uma revolução "eufórica e democrática" ajudaria a sair da crise
O nosso maior filósofo? Único filósofo? Maior de dois, maior de três? Enfim, acredita na revolução.
O nosso maior filósofo? Único filósofo? Maior de dois, maior de três? Enfim, acredita na revolução.
quarta-feira, janeiro 22, 2014
Time Sharing no Purgatório
QUER PASSAR MENOS TEMPO MO PURGATÓRIO? VÁ A GUIMARÃES!
PRONTUS! Se formos passear por Guimarães, ficamos menos tempo no Purgatório. É tudo uma questom de Time Sharing!
Papa concede indulgência plenária perpétua ao Santuário da Penha, em Guimarães
PRONTUS! Se formos passear por Guimarães, ficamos menos tempo no Purgatório. É tudo uma questom de Time Sharing!
Papa concede indulgência plenária perpétua ao Santuário da Penha, em Guimarães
Corrupção na Casa Fernando Pessoa? Será?
Se isto for verdade, eu fico dececionada, o que raramente me acontece.
Porque a Inês Pedrosa é a melhor coisa, ou mesmo a única coisa, que apareceu, até hoje, na Casa Fernando Pessoa.
Ou, então, confesso que já constatei: os portugueses sem ambição pouco fazem, ao passo que os vigaristas fazem tudo e tudo comem.
Especificando: há o português videirinho, que faz pela vida e realiza qualquer coisita e o português honesto e correto, que pouco faz.
Salvo honrosas exceções, claro.
Casa Fernando Pessoa adjudica serviços a empresa com escritório na residência da sua directora
Esperemos que não seja verdade. E se for, o que acontecerá? Provavelmente, nada.
Esperemos que não seja verdade. E se for, o que acontecerá? Provavelmente, nada.
terça-feira, janeiro 21, 2014
SÓ SOBREVIVE QUEM É DO SEU TEMPO? OU CONTINUA A VIVER NO TEMPO DOS OUTROS
ÀS VEZES LEMBRO-ME DE UMAS VELHAS MUITO VELHAS QUE HAVIA NA MINHA PEQUENA TERRA QUANDO EU ERA MUITO JOVEM.
VELHAS POR IDADE E POR ATITUDE. COM UMA MENTALIDADE HORRENDA.
QUE PENSARIAM ELAS DA CO-ADOÇÃO, DA LEGALIZAÇÃO DO ABORTO, DO FACEBOOK, ETC?
ELAS QUE ERAM CONTRA A MINI-SAIA, O BIKINI E CONTRA FUMAR, QUE ERA, À ÉPOCA, APARENTEMENTE, UM DIREITO. UM DIREITO DA MULHER. E POR ISSO EU FUMAVA.
ALGUMAS AINDA ESTÃO VIVAS. SERÁ QUE MUDARAM DE ATITUDE? SERÁ QUE AS DESATUALIZADAS MORRERAM E QUE SOBREVIVERAM AS OUTRAS? INCLINO-ME PARA ACREDITAR NISTO.
UMA DAS POUCAS COISAS QUE EU APRENDI NESTA P. DESTA VIDA, FOI ESTA:
SÓ SOBREVIVE QUEM É DO SEU TEMPO.
OU SEJA : QUANDO ALGUÉM PROFERE ESTAS PALAVRAS : "NO MEU TEMPO", QUER DIZER QUE CONTINUA VIVO, SIM, MAS A VIVER NO TEMPO DOS OUTROS.
segunda-feira, janeiro 20, 2014
Claudio Abbado R. I. P.
Para celebrar a vida de Claudio Abbado, que agora morreu, aqui fica a extraordinária abertura da ópera La Gazza Ladra de Rossinni, dirigida por este maestro.
Gazza é, em italiano, uma pega, uma ave que rouba objetos brilhantes.
Argumento: uma jovem e bela criada, Ninetta, é acusada de ter roubado uma colher de prata e condenada à morte, mas, no momento em que é conduzida ao cadafalso, um jovem olha para o ninho de uma pega e vê-a com a colher de prata no bico. Asolvida, Ninetta casa com o rapaz que a libertou.
É uma ópera "semi-séria".
A abertura das óperas de Rossini vale só por si, sendo tocada separadamente, em concertos, como esta.
Notícia da morte de Claudio Abbado
Morreu Claudio Abbado, o maestro que desenhava a música com os dedos
Entrevista com o Maestro, em língua espanhola.
domingo, janeiro 19, 2014
Lisboa: entardecer de inverno
O navio é o Saga Ruby, que foi impedido de prosseguir viagem devido às condições atmosféricas e ao estado do mar, enquanto o navio Funchal nem conseguia chegar a Lisboa, tendo tentado, sem o conseguir, aportar a Portimão. Isto passou-se há 15 dias.
O gatinho tem tanto medo das pessoas, das máquinas fotográficas e da fotógrafa, que até fecha os olhos de meiguice. Ao lado dos vasos que mobilam a rua.
O gatinho tem tanto medo das pessoas, das máquinas fotográficas e da fotógrafa, que até fecha os olhos de meiguice. Ao lado dos vasos que mobilam a rua.
quarta-feira, janeiro 15, 2014
LOL Assalto verdadeiro, que parece anedota
Uma minha amiga anda deprimida e triste por causa de um assalto que lhe fizeram em casa. Mas o que mais a entristece é toda a gente se rir às gargalhadas quando ela começa a contar a história.
Então, vejamos o que sucedeu. A senhora foi jantar fora com toda a família, deixando em casa os vários gatos que tem, as tartarugas e o cão Dobermann de um amigo, um cão treinado que sabe fazer muitas coisas. Enorme.
Quando regressou a casa, já tarde da noite, reparou que as luzes estavam todas acesas e que havia um homenzarrão espapaçado no sofá da sala, a ver televisão e a ler revistas. Neste ponto da narração, indignada, ela exclama:
- Sentado no meu sofá, recostado nas minhas almofadas, a ler as minhas revistas - profere, acentuando muito o i da palavra "minhas".
Furiosa, entra pela porta dentro, sem pensar sequer em ter medo e, logo no hall, ouve um outro homem a gritar por socorro dentro da despensa. Vai ver o que é... é o outro ladrão.
O que se passou, então, foi que o cão usou todas as técnicas que lhe foram ensinadas e não os deixou sair. O da despensa teve medo e escondeu-se, o outro aproveitou para ver televisão e ler revistas, enquanto esperava que a dona da casa viesse enxotar o bicho e libertá-los.
Uma vizinha chamou a polícia, que os revistou e os levou para a esquadra. Isto porque a minha amiga, de tão zangada, só protestava e nem lhe passava pela cabeça fazer mais nada. Por isso e porque é professora, habituada a ralhar em vão, sem fazer mais nada que não seja ralhar...
E , de repente, pasa-se e desata aos pontapés ao rapaz, arranhou-o o todo, não com as unhas, que tem cortadas, mas talvez com so anéis.
E , de repente, pasa-se e desata aos pontapés ao rapaz, arranhou-o o todo, não com as unhas, que tem cortadas, mas talvez com so anéis.
No dia seguinte foram todos presentes à juíza de instrução, a qual teve muita pena dos dois homens, afirmando que eram inimputáveis e que, lamentavelmente, não havia ninguém que se preocupasse com eles.
- A culpa é sua, que tem uma casa grande demais e com três portas para a rua, uma tentação para os assaltantes!
A minha amiga irritou-se muito com isto, respondeu iradamente e foi logo acusada de desrespeitar as autoridades.
- Você até teve muita sorte por eles não estarem armados - continua a juíza.
- Não é bem assim, senhora doutora juíza, - respondeu ela, procurando falar calmamente - porque eles até destruíram o meu lava loiças com uma grande faca de ponta em mola, mas, ao fugirem do cão, deixaram-na cair ao chão e ela ficou na cozinha. E também destruíram tudo que eu tinha na despensa, incluindo a comida dos meus gatinhos, que espalharam por todo o lado. Tenho a casa toda imunda e fiquei sem mantimentos.
Neste momento, a juíza chama a empregada doméstica para lhe perguntar se ela não costuma usar aquela faca de ponta em mola para cozinhar!
- Claro que não, senhora doutora juíza! Então a senhora doutora juíza acha que alguém usa uma faca de ponta em mola para descascar batatas?
Vencida mas não convencida, a magistrada insiste:
Você é uma mulher violenta. Coitado do rapaz, que ficou todo arranhado! Ele vive à custa de 365 Euros que o estado lhe paga por mês! Coitadinho! E muita sorte teve você por não terem sido reportadas armas de fogo! Senão, até podia ter morrido!
Você é uma mulher violenta. Coitado do rapaz, que ficou todo arranhado! Ele vive à custa de 365 Euros que o estado lhe paga por mês! Coitadinho! E muita sorte teve você por não terem sido reportadas armas de fogo! Senão, até podia ter morrido!
É então que o principal "suspeito", aquele que estava na sala, tira uma pequena pistola do bolso de trás das calças e diz:
- Eu, por acaso, até tenho aqui a minha canhólas!
Estupefacta, a minha amiga levanta-se, e, dirigindo-se ao polícia, pergunta-lhe, fora de si:
- Então o homem passou a noite toda na esquadra, com uma pistola no bolso? Então e o senhor, quando o revistou, como é que não viu uma pistola? No bolso!!! Uma canhólas???
- Eu ver vi - Responde o polícia, mas é que me pareceu uma pistola de plástico, daquelas de brincar... Nunca me passou pela cabeça que aquilo fosse uma pistola a sério!!!
Nova gritaria da minha amiga, furibunda, danada, fora de si, que é novamente acusada de desrespeito às autoridades e ameaçada.
- Eu vou fazer queixa de si! Ouviu?!!! - Diz ela.
- Se fizer queixa deste senhor polícia, a senhora vai ser responsável pela perda de mais um posto de trabalho, neste nossa sociedade em crise. Não se sente culpada? - Pergunta a juíza.
- Culpada? Eu???!!!
E assim acabou o inquérito e lá foram todos, muito descansados, para suas casas, incluindo os dois assaltantes, que saíram em liberdade.
Só a minha amiga é que está bastante arranhada, porque um dos seus muitos gatinhos teve medo do cão e dos ladrões e voltou-se contra ela. Esgadanhou-a toda, nos dois braços, que ficaram em ferida e em sangue. Mas ela defende-o:
- Coitadinho do gatinho, teve tanto medo!!!
Vejo-a de longe. Evita as pessoas, fica sozinha e ensimesmada, ostentando um ar infeliz, desorientado, acabrunhado. E tem razão. Qualquer um de nós se sentiria da mesma maneira, se estivesse no lugar dela!
Só a minha amiga é que está bastante arranhada, porque um dos seus muitos gatinhos teve medo do cão e dos ladrões e voltou-se contra ela. Esgadanhou-a toda, nos dois braços, que ficaram em ferida e em sangue. Mas ela defende-o:
- Coitadinho do gatinho, teve tanto medo!!!
Vejo-a de longe. Evita as pessoas, fica sozinha e ensimesmada, ostentando um ar infeliz, desorientado, acabrunhado. E tem razão. Qualquer um de nós se sentiria da mesma maneira, se estivesse no lugar dela!
Só se riu pela primeira vez, quando eu lhe consegui despertar o sentido de humor, já muito embotado e esquecido. Só quando eu lhe pedi que contasse a história, pela terceira vez consecutiva, a outras pessoas, é que desatou, finalmente, a rir às gargalhadas. Apesar da dor das arranhadelas.
É o bem de conviver com muita gente!
Cenas dos próximos capítulos (tudo em verdade): A minha amiga, que nunca falta o trabalho, faltou duas vezes uma porque foi assaltada, outra porque é chamada para assinar um documento, segundo o qual, o caso foi arquivado.
No dia seguinte, os dois rapazes assaltaram um aoutra casa, foram presentes a um outro juiz de instrução, um homem, que os considerou culpados.
E por esse motivo desencerrou o processo que tinha sido encerrado.
domingo, janeiro 12, 2014
quinta-feira, janeiro 09, 2014
Você sabe quem é a criatura que dá nome à sua rua?
Rua Ferreira Borges, Mercado Ferreira Borges, Escola Ferreira Borges. Sabem quem é esta criatura, Ferreira Borges? É necessário renomear as ruas e os sítios das nossas cidades.
Muitas das nossas ruas têm nomes que eram importantes há cerca de 100 anos, como hoje existem nomes importantes nas revistas Caras e VIP. Hoje, toda a gente sabe onde fica determinada rua, mas ninguém sabe quem é a criatura que lhe deu o nome.
No Porto, quem não sabe o que é o Mercado Ferreira Borges? E em Lisboa, muitos estudaram ou trabalharam na Escola Secundária Ferreira Borges e conhecem bem a Rua Ferreira Borges. Hoje, a Escola Ferreira Borges já não existe. Fundiu-se com a escola Rainha Dona Amélia. A própria Rainha Dona Amélia é uma figura pouco relevante da nossa história, a que os americanos chamariam "looser" :)
E quem sabe quem foi essa criatura, Ferreira Borges? Resposta: foi um jurista da 1ª República, que escreveu o primeiro código comercial português. Decalcado, evidentemente, do código comercial francês e muito diferente do inglês.
Aliás, os nossos códigos de leis têm muito que se lhes diga. Como quando uma corveta portuguesa capturou piratas mas teve de os libertar, porque a lei portuguesa não contempla a pirataria, considerando-a coisa do passado remoto. Ou como quando um "crime" informático não existe, ou não existia há uns anos, por não estar nos códigos de leis, que não previam modernices.
A justiça anglo-saxónica vai pelos princípios e nunca tem destes entraves.
Vamos ter uma Avenida Eusébio? Muito bem. E alguém sabe onde ficam as ruas Sophia de Mello Breyner ( não existe em Lisboa) , Rua Natália Correia, um beco, Rua José Saramago, Rua Eça de Queirós, Rua Camilo Castelo Branco, Rua Cesário Verde, um dos poetas de Lisboa...
Você sabe quem é a criatura que dá nome à sua rua?
Já morei, em Lisboa, nas ruas: Engenheiro António Maria Avelar (um beco giríssimo, um nome tão grande, uma rua tão pequena...) General Pimenta de Castro... não me lembro das outras, mas depois digo.
quarta-feira, janeiro 08, 2014
Talvez não exista outra beleza nos seres, a não ser a beleza interior.
Qual é a diferença entre este maravilhoso gato, que encontrei numa rua ao pé do Castelo de S. Jorge e que nos desperta tanta simpatia e qualquer outro gato de pelo cinzento trigado e, realmente, muito vulgar (?).
Resposta possível: os gatos também parecem ter beleza interior.
Talvez não exista outra beleza nos seres, a não ser a beleza interior.
DESENTERREMOS OS MORTOS.
DESENTERREMOS OS MORTOS.
ENTERREMOS OS VIVOS.
DESTERREMOS OS OUTROS VIVOS MAIS JOVENS: OS JOVENS - PARA BEM LONGE!
ENTERREMOS OS VIVOS.
DESTERREMOS OS OUTROS VIVOS MAIS JOVENS: OS JOVENS - PARA BEM LONGE!
DESENTERREMOS OS MORTOS. POR EXEMPLO, O EUSÉBIO. PARA OS ENTERRARMOS NOUTRO SÍTIO. EM FUNÇÃO DOS NOSSOS INTERESSES.
DESENTERREMOS OS MORTOS. POR EXEMPLO, O EUSÉBIO.
EXPLOREMOS OS APOSENTADOS. ROUBEMOS TUDO ÀQUELES QUE AINDA NÃO SE APOSENTARAM. DESEMPREGUEMOS OS EMPREGADOS.
DESENTERREMOS OS MORTOS. PARA OS ENTERRARMOS NOUTRO SÍTIO. EM FUNÇÃO DOS NOSSOS INTERESSES.
(Após a sessão contínua do"enterro" de Eusébio, fiz uma profecia: depois de o enterrarem, vão desenterrá-lo e enterrá-lo outra vez.) O jeito que nos dão estes eventos! Cavaco disse que o amava, todos o amaram...
segunda-feira, janeiro 06, 2014
O Bairro do Castelo e o Café do Elétrico 28
Tudo isto fica no mesmo sítio.
Um café que imita o elétrico 28 e que se chama Elétrico 28, a igreja de Santa Cruz do Castelo com aquela imagem à entrada, esta muralha do Castelo e entrada para o mesmo, aquelas casas e o gatinho que se deixa fotografar de olhos fechados, sem qualquer receio, embora não se deixe tocar.
Para chegar lá é necessário passar por um sítio que parece privado e não é. a entrada para um restaurante com plantas, com um arco por cima.
Para quem não sabe, o elétrico 28 é o elétrico mítico de Lisboa, ainda antigo, que atravessa o centro histórico da cidade. Há outras referências a ele neste blogue.
domingo, janeiro 05, 2014
Procissão de Nossa Senhora da Pobreza
Descobri hoje por acaso esta procissão, uma das quatro que se realizam na zona do Castelo de S. Jorge.
Nossa Senhora da Pobreza. Seguiu-se uma missa, quase toda cantada, com quase toda a gente a cantar, muito bem. Nesta igreja de Santa Cruz do Castelo. Muitas pessoas saem durante a missa, talvez por serem turistas.
Segundo uma senhora, chamada Gabriela Jorge, as procissões que se realizam dentro da zona do Castelo são as seguintes
Hoje: Procissão de Nossa Senhora da Pobreza
Auto da Paixão (representação teatral) 6ª Feira da Paixão.
Procissão de São Jorge, que se vai encontrar com a Procissão de Nossa Senhora da Saúde, 1º Domingo de Maio.
Procissão de São Jorge e Santa cruz, também chamada de São Jorge pequeno. É a maior. leva 11 andores. Último domingo de ---(talvez de maio).
Eu ia ver só o presépio da Sé e um café que imita, na decoração, o elétrico 28 e que se chama Elétrico 28. Mesmo ao pé desta Igreja. Depois ponho essas fotos.
quarta-feira, janeiro 01, 2014
Feliz 2014: votos de alegria, abundância e felicidade
Desejo um Feliz 2014 aos meus leitores frequentes. A todos nós e aos que por aqui passarem.
Que haja paz e concórdia entre as pessoas e entre as nações.
Que sejam benditos todos os deuses.
Que sejam abençoados todos os crentes e também os ateus, mesmo contra a sua vontade :)
Que o Papa Francisco consiga transformar radicalmente a religião católica. Extirpando-a dos vícios da direita, do poder, da corrupção e da ilusão de superioridade sobre as outras.
Ofereço-vos a última versão, até agora, do meu presepinho:). Com Buda, Shiva, Cristo, Maria e José. E o povão e os reis Magos, que só deveriam chegar a 6 de Janeiro, mas chegaram quando eu os comprei .
Como dizia ou escrevia Natália Correia: "Tanto faz Buda ou Alá".
Que a roda da vida nos traga alegria, abundância e felicidade. Que a Deusa Laksmi nos dê sorte.
Que Buda, Shiva e Cristo nos inspirem.
terça-feira, dezembro 31, 2013
A MISSA DO GALO (CONTO)
(Este conto será retirado do blogue, em breve. E será melhorado, também)
José Aparecido nunca
tinha vindo a Portugal, mas conhecia o avô. Sobretudo de ouvir falar dele,
claro. Sempre a dizerem que era um velho duro. E uma vez, o velho tinha mesmo
ido a Champigny. Ficou por lá alguns dias, mas sempre a resmungar por tudo e
por nada. Perdia-se nas ruas, era preciso ir procurá-lo… criticava tanto a casa
da filha, uma vivenda grande e bem arranjada, que Aparecido se convenceu. A
casa do velho deveria ser muito boa. E foi por isso que resolveu vir passar uns
meses a Portugal, enquanto não se resolviam umas chatices que tinha tido, umas
dívidas, umas zangas, uns ameaços… enfim, tudo para esquecer.
Afinal, a casa do
velho era um pardieiro mais velho do que ele, quase a cair, com telhas que
deixavam entrar água da chuva, à beira dum ribeiro, naquela aldeola onde o Judas
perdeu as botas. Um frio de rachar e o velho não tinha outro aquecimento que
não fosse a lareira. Só uma lareira para a casa toda, com a lenha muito racionada porque era
muito poupado. Avarento. Ainda por cima era ele, Aparecido, quem tinha de
rachar os troncos das árvores e de carregar com as achas pelas escadas acima.
Parecia mal dizer que não e mandar o velho fazer isso, claro. Embora fosse um trabalho que o avô costumava
fazer todos os dias, sem nunca se queixar. Velho rijo! Quem me dera ser assim
quando tiver a idade dele, dizia a mãe, quando não se queixava da maneira como tinha
sido tratada em pequena. Mas eram outros tempos, dizia ela, não se dava à
canalha o mimo que se dá hoje em dia…
Aparecido já
estava mais que farto daquela casa, daquela parvónia, da forretice do velho,
dos raspanetes que estava sempre a apanhar. Ia-se embora, não estava para
aturar aquilo, só ainda não tinha ido por a mãe lhe pedir que ficasse até ao
Natal. Não deixes o teu avô sozinho na noite de Natal! Por isso, claro,
sobretudo por isso, mas também porque lhe dava jeito ficar mais uns tempos, ia
ficando… ia aturando aquilo, em troca de cama, mesa e roupa lavada, se a
lavasse ele, claro.
Mas o pior era o
galo.
Era um galo
enorme, de penas compridas e avermelhadas, com uma crista enorme, como para se
ver bem que não era uma galinha, bem, para quem sempre viveu na cidade, perto
de Paris, na banlieue parisienne, não
era assim tão fácil distinguir uma galo de uma galinha, mas parece que o animal
já sabia disso e já tinha tratado de todos os pormenores, para que não houvesse
engano possível. E andava sempre rodeado pelas galinhas, de dia. De noite,
punha-se a cantar, a cantar, até lhe parecia a ele, Aparecido, que o bicho estava
empoleirado nos ferros da cama velha e desengonçada, ali mesmo ao pé. Uma cama
que também gingava e gemia, num ruído de metais raspados uns contra os outros,
de todas as vezes que o rapaz dava voltas na cama. E não eram poucas.
-Ó avô, então os
galos não cantam só quando o sol nasce?
- Pois,
antigamente era assim, por isso é que os antigos diziam que os galos só cantam
quando nasce o sol.
- Então e até
isso já mudou? Os galos também são modernos?
- Ó meu filho,
isto agora está tudo diferente…
- Mas o sol não
nasce à mesma hora, como antigamente?
- Sim, claro,
isso, se mudou, terá sido muito pouco. Pelo memos desde que eu me lembro, e
olha que eu tenho uma memória! Até me lembro melhor das coisas antigas do que
das novas...
- Mas o galo está
sempre a cantar, canta toda a noite! Quando eu estou quase a adormecer, desata
aos berros, parece que está encostado às minhas orelhas e que o estão a matar!
Passado um bocado estou a dormir, começa a cantar outra vez. Raio de vida. E de
terra!
- A culpa não é
dele. É que às vezes passam ali adiante na estrada umas motorizadas dos rapazes
que foram à vila, vão lá para andarem no laró, agora anda tudo no laró, que não
lhes custa a ganhar o sustento. Eu, no meu tempo…
- Ó homem, mas o
que é que isso tem a ver com o galo? Que mania que você tem de estar sempre a mudar
de conversa…
- Cala-te e deixa-me acabar. No meu tempo
começávamos a trabalhar mal o sol nascia, desapegávamos quando o sol se
começava a por, éramos como o galo, guiávamo-nos pelo sol, trabalhávamos de sol
a sol. E para ganharmos uma côdea de pão. Escola? Escola era um pau de
marmeleiro pelas costas abaixo se não trabalhássemos como devia de ser.
Anestesia para tirar os dentes? Anestesia era outro pau de marmeleiro pelas
costas a baixo se não estivéssemos quietos e calados enquanto o meu pai me
arrancava o dente com um alicate.
- Credo! Ó velho,
você também não exagere. Quando você se põe a inventar...
- Inventar, eu?! Ai
era assim, era, tu que pensas? Pensas que era como agora, tudo no bem bom, a
canalha a estudar ou a fazer que estuda até ter idade quase para a reforma… ninguém faz nada, ninguém quer
trabalhar, olha para ti!
- Deixe lá isso.
Não me fale em mim!
- Ai deixo lá
isso? Ai não queres que te fale em ti? Então e tu achas normal viver à custa do
teu pai, que também foi um mouro de trabalho, coitado, na França, e agora,
ainda por cima, a viver à custa do teu avô, com a idade que tens? 30 anos? Com
trinta anos já eu tinha...
- Pois está bem,
mas você já me disse isso tantas vezes. Não vale a pena bater mais no ceguinho.
- Ceguinho? Não
vale a pena, mas é malhar ferro frio, que tu mais pareces um ferro frio, uma
parede de…
- Ó velho, pare
lá com essa conversa que essa merda já me está a chatear.
- Cala-te tu. Ou
agora também queres mandar calar os velhos? Também era só o que faltava!
- Não é nada
disso. Deixe lá, pronto, não se zangue.
- Pronto…
E já agora
explique-me lá isso do estafermo do galo, que eu ainda não entendi. Não entendo
por que canta o galo a todas as horas e não como os outros de antigamente. *
- Mas eu já te
disse. Os rapazes das motas... e às vezes algum carro, sobretudo aos fins de
semana, passam na estada da vila.
- Pois, eu isso
percebi.
- Porque a
mocidade agora não faz nada e passa a noite inteira no laró...
- Pois, eu isso
também já entendi. Porra para o velho!
- Ó Apracido, tu
vê lá como falas. Olha que eu não sou surdo!
- Então está
sempre a dizer que ouve mal e quando eu digo estas coisas em voz baixa, cá com
Deus e comigo…
- Eu só ouço mal
o que não me interessa!
- Pronto! E então
ia a dizer … passam as motas, ou os carros…
- De noite. E ao
virar da curva, as luzes iluminam aqui esta parte ao pé do castanheiro grande,
estás a ver, ali onde está o galo, na capoeira. Percebes? Ele pensa que é o sol
e pronto, começa logo a cantar! Os bichinhos têm sempre razão. Nós é que muitas
vezes não a temos.
E assim se foram
deitar, cada um para o seu quarto, muito cedo para não gastarem luz, como dizia
o velho. Embrulhados nos cobertores e nas mantas que pesavam como pedras, na
opinião do neto, e frias, que nunca tinha visto nada assim. Lá em França os
cobertores são leves e quentes. Mas o velho queixava-se muito quando lá estava.
Queixava-se do frio, queixava-se da comida e de tudo. E lá nem há mantas, para
que servem estas mantas desta terra, pesadíssimas e geladas? Ainda a mãe dizia
que queria regressar? Nem ela se daria já aqui... dizia que queria vir, que
queria vir, mas nunca vinha, devia estar à espera que o velho morresse... para
herdar... e para o não aturar, claro. Quem é que podia aturar semelhante criatura? E viver
naquela terra atrasada? A mãe até dizia que em Portugal não havia frigoríficos,
ela chamava-lhes frigideiras, nem mulas, ela queria dizer moules, ou seja, formas para bolos, a não ser que quisesse dizer mexilhões, que também se diz
assim em francês... mas ele bem os tinha visto no Porto: frigoríficos, formas
de bolos e mexilhões. Não havia nada disso naquela terra, claro. E se calhar no
tempo da mãe não havia em lado nenhum, mas não... haver havia, ela é que era um
bocado ignorante, mais do que um bocado, uma palerma, nem falava bem o francês
nem o português, era como dizia a professora
de português lá em Champigny:
- Os vossos pais
são uns ignorantes, não sabem nada, também não admira, vieram das aldeias da
serra para Paris.... nem sabem falar português, nem francês, nem sabem coisa
nenhuma.
Assim pensava o
jovem, enquanto se aproximava perigosamente a noite de Natal, com a famosa
ceia, muito recomendada e muito enfatizada pela mãe.
Nessa noite,
Aparecido e o avô comeram o mesmo que em todas os outros jantares, a que o
velho chamava ceias. Batatas cozidas com bacalhau e couves. Às vezes até eram
só batatas e couves, outras vezes era só caldo e pão...
As batatas eram
mais brancas e mais perfeitas que o habitual, a duas postas de bacalhau eram
mais grossas e melhores, mais amarelas, as couves eram iguais, idas buscar ao
quintal poucos minutos antes de entrarem na panela. O vinho também era a mesma
zurrapa de verde tinto de sempre, produzida nos mesmos quintais, de umas
videiras velhas e grossas, mas nessa noite era do engarrafado, o da melhor
colheita. E o azeite... imagine-se, dizia o avô que aquele azeite era especial,
até abriu uma garrafa de propósito, fez um relambório sobre o assunto, contou
uma história complicada em que misturava o azeite com os tempos em que era
jovem e com a falecida mulher... o neto não prestou atenção a coisa nenhuma,
imagine-se, quem é que se importa com o azeite! Sobremesa, uns doces feitos de
pão frito com açúcar, que não prestavam para nada, parecidos com os que a mãe
fazia em França, mas ainda piores. Enfim, sempre era melhor do que nos outros
dias, em que não havia sobremesa nenhuma... a não ser às vezes umas uvas no
tempo das uvas, um punhado de castanhas no tempo das castanhas...
As batatas, o
bacalhau e as couves cozeram lentamente na panela de ferro da lareira, enquanto
os dois aqueciam os pés ao fogo, naquele dia gelado. Para o rapaz, habituado a
não fazer nada, o aborrecido daquela vida nunca era a falta de atividade, pelo
que ali ficou sossegado, a ouvir a chuva cair no telhado baixo e o vento a
zunir no velho castanheiro. Para o velho, aquela era a única vida que conhecia
e não desejava, nunca tinha desejado outra.
Comeram
sossegados e foram cedo para a cama. Nada de presentes, nada de decorações de
Natal, nada de rezas. O rapaz não tinha religião praticamente nenhuma, a do
velho era mais superstição do que fé, nisso e noutros aspetos eram parecidos,
como muitas vezes acontece com elementos de diferentes gerações de uma mesma
família, mesmo se nunca houve muito contacto entre eles.
A princípio, o
rapaz acendeu uma vela de cera, para o avô não protestar por ele gastar “luz”,
referindo-se à eletricidade. Tentou ler uma velha revista que lhe deram durante
a viagem de comboio, mas não era grande leitor e acabou por adormecer com a
revista por cima da cara. Minutos depois, acordou com o galo.
- Có có-ró có-có!!!!
– cantou o galo.
Acordando estremunhado,
Aparecido atirou com a revista para o chão, levantou-se de vela na mão e foi discutir
com o avô,
- Eu vou-me mas é
embora desta terra de merda!
- Vai vai! Até já
devias ter ido. Andas aqui a comer à minha custa e ainda reclamas!
.- Já quantas
vezes me disse você que eu ando a comer à sua custa? Então eu não sou seu neto?
Eu não sou o seu herdeiro? E não é costume as visitas comerem à custa de quem
as recebe?
- Visita, tu? Que grande visita, que tu me saíste,
que já cá estás a comer há meses sem fazer nada. Herdeiro? Se eu te deixasse
gastar tudo o que tu queres gastar, não ia haver nada para herdar, herança
nenhuma, nem para ti, nem para a tua mãe, nem para o teu pai. Vai-te mas é
deitar e deixa-me dormir a mim. Estamos no Natal, deixa-me ao menos em paz, no
Natal!
O rapaz lá voltou
para a sua cama de ferro, que rangia ainda mais que o habitual, por baixo do
duro e áspero colchão de palha de centeio. Mas ficou inquieto, na tempestade
que desabava a espaços, seguida de períodos de acalmia. Inquieto e remexendo-se
constantemente, lá voltou a adormecer.
- Có có-ró có-ri
có-ró!!!!
- Ai, que é isto?
– pergunta Aparecido, despertando de repente, sem se lembrar já de onde estava
e julgando-se em Champigny, onde não há galos a cantar durante a noite. Acordado, acende a vela e lá
fica a cismar nisto e naquilo, em velhos rancores contra o avô, contra o pai,
contra aqueles conhecidos que o andavam sempre a importunar lá por França...
mas a fraca luz do aposento, um raro luar filtrado pelas nuvens, que entra pela
janela e o completo silêncio que se gerou após a tempestade faziam-no adormecer
em pouco tempo. E assim ficou a dormir no melhor do seu sono, naquela invulgar
noite de Natal. Quando de repente se ouve, como já setinha ouvido antes, tantas
vezes...
- Có có-rí có-có
ri-có!!!!
O quê? - Levanta-se
o rapaz, desta vez acendendo a luz elétrica, corre desnorteado para a sala,
acende a luz elétrica da sala, investe
para cozinha, acende a luz elétrica da cozinha, nunca se viu tanta luz ao mesmo
tempo naquela casa, o que faz o avô acordar atordoado.
- Que é isto,
rapaz?!
- Porra! Eu é que
já não aguento mais isto! Vou matar o galo - vocifera Aparecido, enquanto
procura atabalhoadamente, nas gavetas e nos armários da cozinha, a melhor faca, aquela que corta bem
- Onde é que você
meteu a faca que corta bem? Amanhã temos arroz de galo.
- O velho
levanta-se da cama, amparado na bengala, um pouco atordoado com toda aquela
agitação que o despertou dum sono profundo, feliz e sem sonhos. Irritado,
dirige-se à cozinha, gritando com o neto, que vai atirando pelo ar pratos e
talheres.
- Tu está-me
quieto rapaz. Tu não vês que me estás a escaqueirar tudo? Mas o que é que tu
queres, ó moço?
- Vou matar o
galo. Ando à procura da faca que corta bem. Você só tem uma faca que corta bem,
as outras não prestam! Onde é que a pôs agora?
- Tu não te
atrevas a matar-me o meu galo! Tu estás-me a ouvir?
- Ai não, então
já vai ver o que é que eu lhe faço!
- Está quieto,
rapaz! O galo já aqui estava quando tu aqui chegaste e ainda cá há-de ficar muito
tempo quando tu te fores embora!
- É já amanhã!
- E havia era de ser
ainda ser hoje! De que é que tu estás à espera? Desaparece-me daqui!
- Desapareço
desapareço, ai desapareço e é já - grita Aparecido - mas antes disso vou matar
o galo. E ainda o havemos de comer antes de eu ir. Não o vai deitar fora depois
de morto, pois não? Lá porque gosta tanto dele...
- E gosto
- Isso sei eu!
Até gosta mais dele do que de mim!
- Muito mais. Eu
gosto muito mais dele do que de ti, ouviste? Porque eu a ti nem te conheço. Sei
lá se tu és meu neto!
- Ai não me quer
dizer onde está a faca? Então eu mato-o mesmo à mão , torço-lhe o pescoço e
acabou-se!
Dizendo isto, Aparecido
sai porta fora em direção à sala, na intenção de ir ao pátio matar o galo. O
avô corre a agarrá-lo com força. O velho é forte, mas o rapaz, magro e ágil,
consegue libertar-se, estrebuchando. Logo o avô o agarra por um braço. Então,
Aparecido pega, com a outra mão, numa cadeira que ali está, levanta-a no ar e
fá-la desabar com toda a força sobre a cabeça do homem. Velha e desengonçada, a
cadeira parte-se em bocados, pouco mais mossa fazendo na cabeça do velho do que
a luz intensa a que não estava habituado lhe tinha feito nos olhos e no
espírito.
Num gesto de
defesa, o homem levanta a bengala e vai bater com ela na cabeça do neto, no
momento em que este se volta para trás. Atingido na nuca, o rapaz cai ao chão,
fulminado. Está morto.
Aturdido com o
seu ato, a princípio, não querendo acreditar no que vê, o velho dá-se depois
conta da sua atual situação. Com o sentido prático que adquiriu numa vida
simples e solitária de trabalhador braçal, pouco tempo demora a entender tudo
e a conjeturar o que deve fazer. Veste
o seu melhor fato, põe a gravata e
o chapéu, chama os vizinhos, conta o que fez e pede que o levem à vila, de
mota, para se entregar à guarda, confessando o seu crime. Involuntário.
Pouco passa da
meia noite. Da janela do posto da guarda em que ficou retido como prisioneiro,
até se averiguarem os factos, o velho observa, desanimado, os seus conterrâneos
que saem da igreja, felizes, depois de assistirem à Missa do Galo. As crianças
saltitam alegres à frente dos pais, mortas por irem abrir os presentes que
ficaram por debaixo da árvore, ou dentro dos sapatinhos, ao pé do presépio ou
da cama. Os adultos estão também alegres e bem dispostos, digerindo ainda a
lauta ceia de Natal com as suas desusadas sobremesas e bebidas.
Naquela terra em
que nada acontece nunca, os que saem da igreja são logo abordados pelos outros,
ávidos de lhes contarem a grandessíssima novidade. A excitação da inusitada notícia
apaga, naquele momento, qualquer sentimento de piedade ou de indulgência. Todos
olham para a janela da guarda com grande curiosidade e quase alegria, pela
quebra da monotonia das suas vidas, ali tão isoladas do mundo. Não há maldade
na sua atitude, antes o entusiasmo de quem vê acontecer na sua terra o que só vê
habitualmente e até mesmo constantemente na televisão. Falam alto, chamam um
pelos outros, no desejo de contar a grande novidade aos poucos que ainda não a
ouviram, enquanto o cadáver de Aparecido é transportado para a morgue mais
próxima, longe dali.
Pouco depois,
tudo sossega. A terra cai na tranquilidade e na harmonia das pequenas terras
sem história. Chegados a casa, pouco tempo demoram a deitar-se e a adormecer,
cansados de tanta excitação. Alguns transeuntes foram para mais longe, nas suas
motorizadas ou nos seus automóveis. Ao passarem a curva da estrada, a luz dos faróis incide na capoeira que
fica por detrás do castanheiro velho.
O galo canta.
Lisboa, 30 de Dezembro de 2013
Graciete Nobre
domingo, dezembro 29, 2013
A Amizade no Facebook
Conheci pessoas que morreram por não terem conseguido adaptar-se aos novos tempos. Porque já nasceram desadaptadas, oriundas de um passado remoto. Outras nasceram desadaptadas deste tempo, porque já vieram formatadas para o futuro. poderão lamentar muitas coisas, criticar muitas coisas, mas nunca a modernidade e o progresso.
Ainda recordo o tempo em que era tudo muito aborrecido, tudo muito lento, a solidão não existia como coisa positiva, aliás, a solidão física não existia. Estávamos sempre rodeados de pessoas enfadonhas, sendo continuamente obrigados a conviver com elas. O tempo passava lentamente. Para o bem ou para o mal, esse tempo acabou.
Só quem for muito chato irá desejar ser aceite sem ter opiniões, sem dar nada, ser aceite numa presença incómoda, obrigatória e talvez até mal cheirosa. Mas ninguém voltará a ser obrigado a ter apenas dois "bons amigos". Os que deram provas. E quando esses dois se fartassem, o que aconteceria? E os que não deram provas de amizade poderão vir a dar provas, ou de amizade, ou de bondade. Numa sociedade corrupta como a nossa, é muito mais importante a bondade do que a simpatia.
P.S.: Claro que ninguém pode fazer 500 amigos num dia, essa é a ingenuidade das crianças.
sexta-feira, dezembro 27, 2013
Livro para ler: sobre Madame de Montespan
Comprei ontem à tarde, na estação de comboios de Campanhã, um livro difícil de parar de ler: Montespan. Custou cinco Euros, mas neste link custa só três.
É sobre o marido de Madame de Montespan, a amante favorita do rei Louis XIV.
Como quase todos os romances históricos, não é grande coisa no aspeto literário, é mais um best seller e uma espécie de reportagem jornalística sobre a época, mas tem particularidades interessantes.
Em primeiro lugar, Luís XIV foi de tal modo extraordinário, para o bem e para o mal, que merece os inúmeros romances históricos escritos sobre personagens que o circundaram: o jardineiro, como O Jardineiro do Rei, os cozinheiros, como Vatel, sobre o qual se escreveram livros e fizeram filmes, as amantes e agora o marido da amante. Foi uma escolha inteligente, que permitiu ao autor inventar tudo o que quisesse. E nem é necessário inventar muito porque a própria realidade é incrível.
A outra graça do livro é que o autor reproduz os costumes nojentos da época, o que quase todos os escritores evitam. Recordamos logo a cama real coberta de percevejos do Memorial do Convento, de José Saramago, mas este livro vai muito para além, recriando outros pormenores, como o hábito que nobres e reis tinham de defecar em público, por exemplo.
Às vezes talvez confunda mesmo a lenda coma realidade, o que também é natural, como quando afirma que Luís XIV só tomou banho uma vez e se benzia com água benta em vez de se lavar. Tem graça, mas talvez seja exagero, motivado pela ideia transmitida pelos médicos da época de que a água fazia muito mal.
Ainda não acabei de ler, mas estou a tentar não ir a correr pegar nele...
Recomendo também O Jardineiro do Rei, talvez até um livro melhor do que este.
Recomendo também O Jardineiro do Rei, talvez até um livro melhor do que este.
domingo, dezembro 22, 2013
Espírito Natalício
Visto ontem na rua.
Três homem transportam, com muito cuidado, uma caixa de vinho tinto para a mala de um carro. Vinho especial para as festas. Um deles faz um movimento em falso. A caixa cai ao chão e todas as garrafas se partem, espalhando o precioso líquido, colecionado em várias ocasiões especiais, pela calçada.
- Tu és sempre assim! Tu és sempre assim! Tu és sempre assim! Ouviste?!
Devem acontecer inúmeros casos como este, por esse mundo fora.
Mas a dúvida persiste:
- Ele era sempre assim, como? Deixava sempre cair as garrafas do vinho bom?
- Ele era sempre assim, como? Deixava sempre cair as garrafas do vinho bom?
sábado, dezembro 21, 2013
Morreu-me um amigo imaginário
Chamava-se Calafona.
Dei-lhe esse nome porque é como os açorianos chamam aos emigrantes que vão para a Califórnia. E ele vivia em Mountain View, California.
Deixei-lhe várias mensagens neste blogue, mas nunca respondeu a nenhuma. Era assim. Não falava, mas parecia-me mais meu amigo do que muitos!
Comecemos pelo princípio. No contador de visitantes dos meus blogues, o Sitemeter, aparecem os visitantes, o tempo que cá passam, as páginas que visualizam e mesmo o IP dos seus computadores.
O Calafona vinha cá todos so dias, várias vezes por dia, nunca falhava. Não respondia às minhas mensagens, mas paciência... por outro lado, ele era da mesma terra onde vive uma senhora que teve este blogue nos favoritos do seu, o Chatoyances. Tudo normal.
A certa altura, pareceu-me que havia menos visitas do Calafona e muitas duma terra chamada Colorado Springs, o que me levou a supor que o Calafona tinha ido passar férias em Colorado Springs, uns milhares de Km para o interior dos Estados Unidos. Tudo bem. A coisa piorou quando recebi muitas visitas do Calafona e muitas de Colorado Springs. Será que eram dois calafonas, marido e mulher, que se divorciaram? E a Colorada foi para o Colorado, ou assim. Nunca consegui sequer perceber se o Calafona era homem ou mulher, inclinando-me para a primeira hipótese, por me parecer que há mais homens gostar do que escrevo. Ou de mim?
Até que um amigo, (ex-real e agora virtual) me tirou mais esta ilusão: O Calafona, afinal, é o Google Bot, ou seja, o motor de pesquisa, que coloca os meus blogs para pesquisa. Um grande amigo, também...mas...
Tenho saudades do meu Calafona!!! Ou da minha Calafona!!!
(P.S.: Nada sei da Colorada, mas não digam a ninguém, senão ainda me dizem que também morreu.)
Feliz Inverno!
sexta-feira, dezembro 20, 2013
Acordo / Desacordo Ortográfico : Mentiras, aldrabices e outras maluquices
Esteve agendada para hoje, 20 de dezembro de 2013, uma discussão na Assembleia da República Portuguesa sobre o acordo ortográfico, resultante de uma petição, no sentido de o anular. Foi adiada.
Os que propalam estas opiniões contra o acordo (AO) são useiros e vezeiros em transmitir informações falsas e absurdas.
A aldrabice mais comum, pois não tem outro nome, é afirmar que o AO ainda não está em vigor no Brasil e que os brasileiros não o querem. Está em vigor desde 2009, no Brasil e o que está agora em causa, vários anos depois, é o fim do prazo de transição (período durante o qual podem ser usadas a sduas ortografias sem que nenhuma seja considerada errada) e talvez um balanço sobre o que pode ser ainda mais simplificado.
De facto, estiveram cá dois linguistas brasileiros (foram recebidos também pelos deputados), um dos quais, Ernani Pimentel, propõe que se escreva xuva e ábito. Tem pouca ou nenhuma aceitação no Brasil.
Para esclarecer esse e outros pontos, fica aqui a declaração do diretor executivo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa aos deputados portugueses, publicada no site de referência
Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
terça-feira, dezembro 17, 2013
"Temos fantasmas tão educados / Que adormecemos no seu ombro "
Natália Correia escreveu isto no tempo de Salazar. Atualmente, Portas, o tipo dos submarinos e das decisões irrevogáveis, que se revogam imediatamente, afirma que:
"Reformar com acordo social é uma singularidade positiva de Portugal" (Clicar para ler).
Ou seja, qualquer país, no nosso lugar, já tinha feito uma revolução e decapitado ou defenestardo esta cambada horrenda que nos governa, mas nós não.
- Ke Kridos que nos somos. Não éramos? não tínhamos sido? - Diremos um dia, quando já não existirmos, por excesso de delicadeza.
Aqui vai o poema completo. Foi dito por Natália Correia num julgamento em que era acusada, o que deixou os juízes ainda mais enxofrados contra ela. Tês anos de prisão com pena suspensa, foi a pena. Acusadada de quê? De liberdade de expressão. Claro.
Ganda Natália!
Queixa das almas jovens censuradas |
Dão-nos um lírio e um canivete E uma alma para ir à escola E um letreiro que promete Raízes, hastes e corola. Dão-nos um mapa imaginário Que tem a forma duma cidade Mais um relógio e um calendário Onde não vem a nossa idade. Dão-nos a honra de manequim Para dar corda à nossa ausência. Dão-nos o prémio de ser assim Sem pecado e sem inocência. Dão-nos um barco e um chapéu Para tirarmos o retrato. Dão-nos bilhetes para o céu Levado à cena num teatro. Penteiam-nos os crânios ermos Com as cabeleiras dos avós Para jamais nos parecermos Connosco quando estamos sós. Dão-nos um bolo que é a história Da nossa história sem enredo E não nos soa na memória Outra palavra para o medo. Temos fantasmas tão educados Que adormecemos no seu ombro Sonos vazios, despovoados De personagens do assombro. Dão-nos a capa do evangelho E um pacote de tabaco. Dão-nos um pente e um espelho Para pentearmos um macaco. Dão-nos um cravo preso à cabeça E uma cabeça presa à cintura Para que o corpo não pareça A forma da alma que o procura. Dão-nos um esquife feito de ferro Com embutidos de diamante Para organizar já o enterro Do nosso corpo mais adiante. Dão-nos um nome e um jornal, Um avião e um violino. Mas não nos dão o animal Que espeta os cornos no destino. Dão-nos marujos de papelão Com carimbo no passaporte. Por isso a nossa dimensão Não é a vida. Nem é a morte. |
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