Os portugueses estão sempre a inventar novas formas de submissão e de conformismo.
Longe vão os tempos em que muitos dos “nossos” eram torturados ou mortos, espoliados e, claro, ostracizados.
Mas esses também eram uma minoria, que no seu tempo foi desprezada, para ser elevada ao estatuto de herói depois da revolução de abril e de outras revoluçãoes, pois em Portugal o poder só se perde por revoluções.
Por exemplo, a revolução da Geringonça.
Passar de mártir a herói morto não é para qualquer um. Mesmo que não morra, o herói perde os cabelos, envelhece mais do que o cidadão comum, perde dedos, dentes, etc., tudo antes de chegar a herói.
Vem isto a propósito: há poucos anos, um ou dois apenas, todos os funcionários públicos afirmavam, em tom agressivo para ser convincente, que os funcionários públicos nunca mais receberiam subsídio de Natal ou de férias, que cada vez iriam ganhar menos, pagar mais impostos, por ser esta a evolução natural do governo PAF: passos coelho paulo portas. Seria esta evolução se este PAF continuasse no poder, o que esteve quase para acontecer.
Porquê?
Claro que ninguém iria votar Bloco de Esquerda, ou PCP, nem mesmo PS, pois a país precisava desesperadamente de um tipo parecido com o Salazar, que o espezinhasse e que desse dinheiro aos mais ricos, tirando pobres e remediados.
No segundo ano da Geringonça, ainda tudo está bem, as pessoas ganham mais, recuperaram a alegria, sem as ameaças de catástrofes dos dois urubus, passos e portas.
Conheci pessoas que se reformaram antecipadamente, pessoas que pareciam ser viciadas em trabalho, mas que optaram pela aposentação antecipada perdendo muitíssimo dinheiro por mês, com o argumento de que, como a reforma tem por base o vencimento, como cada vez ganhamos menos, logo, se trabalharmos mais tempo vamos ganhar menos.
Essas pessoas eram e são consideradas muito espertas, sabidas, etc. . Pois!
É o que convém, chamar espertos e sabidos aos submissos e conformistas.
E esta atitude alastra-se a todas as relações de poder. Contestar, criticar, provocar? Não. Os espertos conformam-se.