quarta-feira, junho 20, 2012

Artigo de Pedro Afonso no público - Médico psiquiatra


já vários blogues fizeram eco destas declarações sobre a sociedade portuguesa. o terra imunda é mais um...


Artigo de Pedro Afonso - Médico psiquiatra

Pedro Afonso,médico psiquiatra no Hospital Júlio de matos

Alguns dedicam-se obsessivamente aos números e às estatísticas
esquecendo que a sociedade é feita de pessoas.

Recentemente, ficámos a saber, através do primeiro estudo
epidemiológico nacional de Saúde Mental, que Portugal é o país da
Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população. No
último ano, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença
psiquiátrica (23%) e quase metade (43%) já teve uma destas
perturbações durante a vida.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque assisto com
impotência a uma sociedade perturbada e doente em que violência,
urdida nos jogos e na televisão, faz parte da ração diária das
crianças e adolescentes. Neste redil de insanidade, vejo jovens
infantilizados incapazes de construírem um projecto de vida, escravos
dos seus insaciáveis desejos e adulados por pais que satisfazem todos
os seus caprichos, expiando uma culpa muitas vezes imaginária. Na
escola, estes jovens adquiriram um estatuto de semideus, pois todos
terão de fazer um esforço sobrenatural para lhes imprimirem a vontade
de adquirir conhecimentos, ainda que estes não o desejem. É natural
que assim seja, dado que a actual sociedade os inebria de direitos,
criando-lhes a ilusão absurda de que podem ser mestres de si próprios.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque, nos últimos quinze
anos, o divórcio quintuplicou, alcançando 60 divórcios por cada 100
casamentos (dados de 2008). As crises conjugais são também um reflexo
das crises sociais. Se não houver vínculos estáveis entre seres
humanos não existe uma sociedade forte, capaz de criar empresas
sólidas e fomentar a prosperidade. Enquanto o legislador se entretém
maquinalmente a produzir leis que entronizam o divórcio sem culpa,
deparo-me com mulheres compungidas, reféns do estado de alma dos
ex-cônjuges para lhes garantirem o pagamento da miserável pensão de
alimentos.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque se torna cada vez
mais difícil, para quem tem filhos, conciliar o trabalho e a família.
Nas empresas, os directores insanos consideram que a presença
prolongada no trabalho é sinónimo de maior compromisso e
produtividade. Portanto é fácil perceber que, para quem perde cerca de
três horas nas deslocações diárias entre o trabalho, a escola e a
casa, seja difícil ter tempo para os filhos. Recordo o rosto de uma
mãe marejado de lágrimas e com o coração dilacerado por andar tão
cansada que quase se tornou impossível brincar com o seu filho de três
anos.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque a taxa de
desemprego em Portugal afecta mais de meio milhão de cidadãos. Tenho
presenciado muitos casos de homens e mulheres que, humilhados pela
falta de trabalho, se sentem rendidos e impotentes perante a maldição
da pobreza. Observo as suas mãos, calejadas pelo trabalho manual,
tornadas inúteis, segurando um papel encardido da Segurança Social.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque é difícil aceitar
que alguém sobreviva dignamente com pouco mais de 600 euros por mês,
enquanto outros, sem mérito e trabalho, se dedicam impunemente à
actividade da pilhagem do erário público. Fito com assombro e
complacência os olhos de revolta daqueles que estão cansados de
escutar repetidamente que é necessário fazer mais sacrifícios quando
já há muito foram dizimados pela praga da miséria.

Finalmente, interessa-me a saúde mental de alguns portugueses com
responsabilidades governativas porque se dedicam obsessivamente aos
números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de
pessoas. Entretanto, com a sua displicência e inépcia, construíram um
mecanismo oleado que vai inexoravelmente triturando as mentes sãs de
um povo, criando condições sociais que favorecem uma decadência
neuronal colectiva, multiplicando, deste modo, as doenças mentais.

E hesito em prescrever antidepressivos e ansiolíticos a quem tem o
estômago vazio e a cabeça cheia de promessas de uma justiça que se
há-de concretizar; e luto contra o demónio do desespero, mas sinto uma
inquietação culposa diante destes rostos que me visitam diariamente.

sábado, junho 16, 2012

Tese da Anabela





Uma minha amiga, Anabela Rocha, vai defender, na próxima segunda feira, na Universidade Nova, uma tese sobre esta filósofa, Beatriz Preciado. Eu nunca tinha ouvido falar dela, mas vejo agora que é importante ter ouvido falar dela.
Faz parte das ideias novas e das novas transformações do mundo em que vivemos, Sec XXI, sendo, de certa forma, simultaneamente teorizadora e agente dessas transformações.


E tudo isto é, também, é um sinal dos tempos.


Aqui, uma sua entrevista com o muito interessante filósofo e místico Alejandro Jodorovsky.


VER AQUI

sexta-feira, junho 15, 2012

Abundânia, opulência e fome

Assine a petição online


"18 milhões de pessoas -- incluindo 1 milhão de crianças -- estão desesperadas por comida na região do Sahel, afetada pela seca, na África. No entanto, os apelos urgentes por ajuda humanitária foram acompanhados de um silêncio ensurdecedor vindo dos governos ao redor do mundo. A ONU somente recebeu 43% de $1.5 bilhão de dólares em ajuda humanitária que são necessários – é um déficit gigante. Os EUA, Japão, França e Alemanha são os países que têm poder para fazer toda a diferença se comprometendo com sua contribuição de ajuda humanitária. Exigimos que impeçam que essa catástrofe se transforme em algo mortal agindo imediatamente."


AQUI

quinta-feira, junho 14, 2012

Madonna Mia!




Senhora de 54 anos (Madonna) mostra "nipples" e algo mais, deixando todo o mundo passado dos carretos! 
Creio que a palavra "sexagenária" vai desaparecer de todas as línguas, dentro de seis anos.
E um Sinal dos Tempos.
Isto há-de vir a constar dos livros de História e das enciclopédias. 

quarta-feira, junho 13, 2012

Festa de Santo António de Lisboa








Não gosto da noite de Santo António de Lisboa por ser muito bagunçosa (tal como o São João no Porto), mas gosto do dia. Voltei lá, para fotografar para vocês.

São atribuídos grandes poderes a este quadro de Santo António, situado na capela com o mesmo nome (de Santo António).
Há uma década, mais ou menos, esta pintura nem tinha vidro, e toda a gente esfregava nela tudo o que quisesse. Agora, pede-se a umas meninas e a umas senhoras que façam isso. Meninas e senhoras que estão lá de propósito para o efeito. Mas quase só tocam com os objetos.

Encostam-se ao quadro velas, flores, documentos, fotografias, e nesta última foto, bolos. Ou melhor, é o chamado pão de Santo António, umas bolas pequeninas de trigo sem fermento, que nunca ganha bolor nem apodrece. Que nunca se estraga, posso confirmar. Só fica duro. E isso também é atribuído ao santo.
Também há quem "esfregue"roupa interior, dentro de um saco de plástico. O santo, alegadamente, abençoa esses objetos.

O ambiente, na capela, é de descontração e alegre convívio. Como se vê.
A propósito, no Brasil, hoje é o dia dos namorados. Em Portugal, antigamente, também era assim: Santo António no Sul, São João no Norte.






Na parte antiga da capela, onde era o quarto de Santo António, hoje dão a beijar uma relíquia, um osso da cara. Sumi a sete pés quando me disseram que era isso que estavam a beijar. 
Na capela, em cima, (última foto) havia também um osso do braço, e creio que havia uma terceira relíquia na Sé. Parece que estas relíquias são expostas todos os anos no dia 13 de Junho.




(Para ver, neste blogue, mais reportagens fotográficas, feitas noutros anos, sobre o Santo António De Lisboa, clicar aqui embaixo, no link  Santo António De Lisboa)

"Tournée" triunfal de Aung San Suu Kyi




Aung San Suu Kyi vem agora à Europa, em parte, para receber o prémio Nobel da Paz, 21 anos depois de o ter conquistado.


Muitas vezes aqui nos referimos À luta desta mulher e do povo da Birmânia (Burma), assinámos petições, que eu coloquei aqui, revoltámo-nos com a arbitrariedade do poder que a tinha prisioneira.

E agora venceu. Se sempre foi para nós uma inspiração, deverá agora ser aprova de que nada está construído nem feito. De que vale sempre a pena lutar.


VER AQUI (em francês)

segunda-feira, junho 11, 2012

O PREC tardio do Ensino:O povo unido jamais será vencido. E muito menos convencido!!!

O ensino está a viver um PREC, do qual nunca saiu, mas que se tem agravado. "O povo (dos alunos) é quem mais ordena!" Há muitos professores que não conseguem dar aulas. Mas tudo bem.
"O povo unido jamais será vencido". E muito menos convencido!!!


E "lá vamos, cantando e rindo".


VER AQUI: 

Metade dos professores portugueses sofre de stress, ansiedade e exaustão


Só metade? É que os outros disfarçam!

sábado, junho 09, 2012

O Naufrágio da Europa? Uma produção coletiva



Esta é a capa da revista The Economist.
Uma imagem vale mais do que mil palavras? Mas esta imagem também tem palavras. Tradução:
"Por favor, Senhora Merkel, podemos ligar agora os motores?"

domingo, junho 03, 2012

Lisboa Maravilhosa... festas de Lisboa









Na abertura das festas, quinta feira passada, da 31 de Maio, talvez à meia-noite (não vi as horas) a companhia alemã de teatro de rua encenou, em pleno Rossio, o espetáculo FIREBIRDS.
Entre as caravelas das descobertas, a passarola voadora e os pássaros de fogo, assim vemos uma grua (que deveria ser invisível, mas não era) erguer uma caravela com chamas como faróis e como leme, por sobre os maravilhosos edifícios do Rossio, incluídos o Teatro Nacional de D. Maria II e a Estação de comboios do Rossio.

É só uma estação de comboios esta coisa? Com portas rendilhadas em pedra e guerreiros e tudo?!
Oh, como dizia Fernão Lopes, citando o povo de Lisboa de 1383,


"E as moças, sem nenhum medo, apanhando pedra pelas herdades, cantavam altas vozes, dizendo:
"Esta é Lixboa prezada
Mirá-la e leixá-la"
(Ou seja, as moças de Lisboa diziam aos espanhóis, que cercavam a cidade, tentando conquistá-la: esta é a Lisboa prezada, mirai-a e deixai-a.)




E assim dizemos nós aos turistas...

sábado, junho 02, 2012

Lisboa Maravilhosa... e os elétricos









Sim, Lisboa está recomendada como uma das melhores cidades do mundo para viajar, nalguns casos a quarta cidade, noutros a quinta. Mas isso não é necessariamente muito bom nem muito cómodo para os habitantes desta maravilhosa cidade.
Que o digam os passageiros do elétrico 28, o preferido dos estrangeiros porque atravessa os locais mais turísticos. E tão barato! O bilhete só custa 2 Euros e 85 cêntimos, se não me engano, apenas o dobro, mais ou menos, dos outros bilhetes. E custa o preço normal se for pré-comprado.

Então, vejamos: um autocarro do hotel larga os turistas na paragem do fim da linha (Cemitério dos Prazeres) (Até o nome é cinematográfico)!

Como Lisboa está entre a chuva e a névoa, alguns aguardam lá dentro. Como se vê nas fotos. E depois batem palmas quando chega o elétrico.
E exclamam, entusiasmados, nas suas línguas:

- Isto parece o nosso primeiro carrossel!

- Isto é um museu!!!!!!!
- Oh, avariou!
- Temos de sair??
- Não, não avariou, parou!
- Tão lento!
- E agora vai ficar aqui, parado?
- Tão primitivo!
- Tão engraçado, tão giro...

E assim vão, muitos deles, até ao fim da linha e regressam.
Outros saem pelo caminho e apanham outro 28, para trás ou para a frente.
Para desespero dos lisboetas passageiros da carris, que assim se vêem apertados no meio desta gente muito alegre e bem disposta.

- Ah, agarra-te naquilo ali em cima! Parece um carrossel!!!
- AHAHAHAHAH!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Malefícios de viver numa das mais belas cidades do mundo! Mas os benefícios de contemplar a beleza são muito maiores.

Nuno K Rato! O que é que vai sair dali???

Até agora não saiu nada, o ministro limitou-se a imitar em tudo as duas anteriores ministras, que tanto criticou. Caso para dizer que a montanha pariu um RATO ( K rato). Vem este trocadilho a propósito de eu estar sem a letra c no teclado e saiu rato em vez de Crato... e já num post anterior, titulei: "a montanha pariu um rato", pois é o que pareCe.

Este ano que agora termina, foi o culminar de vários anos de intenso laxismo, disparatada tolerância, igualitarismo entre professores e alunos, fazendo lembrar o PREque, no caso da educação e do ensino, ainda não terminou.

Os alunos chegavam às aulas com atraso de meia hora, ou nem iam, traziam um papel assinado pela mãe a dizer que o autocarro se atrasou (todos os dias) e, como era chato trazer sempre o papel, acabavam por convencer os professores a não marcarem faltas.

Os que eram postos fora da aula todos os dias, também justificavam as faltas disciplinares, e muitos diretores de turma aceitavam a justificação por medo dos pais. E por medo dos alunos.

Os pais acham giríssimo que o filho seja rebelde, toda a família acha giríssimo e, claro, acabam por minimizar o facto de não saber coisa alguma, consequência da dita rebeldia. De ter notas péssimas. Mas talvez as notas nem sejam tão más assim... pelos motivos que já disse.

Vem isto a propósito da recente legislação de Nuno K rato.

Talvez resulte. É à inglesa. A dita liberdade inalienável de os alunos fazerem tudo o que lhes apetece, tudo o que lhes dá na bolha, talvez se "aliene", afinal, com os dinheiros dos subsídios, que os pais dos alunos "rebeldes" perdem... ou com as multas que serão obrigados a pagar. Se forem altas.

Afinal, tudo se aliena.

A ideia parece boa, mas receio que não flutue. Vai muito contra a maré.


VER AQUI




(P.S.: A propósito, agora que não tenho a letra c, constato que, com a reforma ortográfica, ela faz muito pouca falta.)

sexta-feira, junho 01, 2012

Lisboa Maravilhosa e o sabor da cereja









Lisboa está maravilhosa, pelo menos desde ontem, dia em que começaram as festas da cidade.
Dou por mim a deambular por aí e a banzar-me. Lisboa sempre foi bela, mas agora então...
As cerejas do Fundão têm fama de ser as melhores, para além de serem cultivadas em extensão.
Estas meninas andaram a oferecer uma caixinha delas a cada pessoa que passava. Uma ou mais.
Lisboa saborosa, com sabor a cereja.


Só não deve ter sido muito bom para aquela carrinha que vende... cerejas. Talvez mesmo... cerejas do Fundão. Pelo menos de nome.


E já agora, a CP tem viagens para o Fundão, exatamente para o tempo das cerejas.


AQUI

quarta-feira, maio 30, 2012

Mentalidade contra a incompetência

Todos os dias nos deparamos neste país à beira-mar e à beira de um ataque de nervos, com a mais descarada das incompetência em toda a espécie de profissões. Será só a mim que acontee às vezes deparar-me com várias situações confrangedoras, todas no mesmo dia? de fazer perder a paciência a uma santa...

Mas os portuguesinhos, quando criticam, é toda a classe médica, todos os professores (incluindo todos os graus de ensino), todos os condutores da carris, etc.

Não passa pelas nossas pobres moleirinhas que devemos agradecer a alguns destes por serem bons ou mesmo ótimos, apesar de não ganharem nada com isso, nem ganharem mais do que os outros.

Começa  logo por haver pessoas que tiraram cursos superiores a copiar, a plagiar ou a comprar trabalhos feitos por encomenda e há mesmo quem se gabe disto. Estas pessoas não estão, obviamente, preparadas para a profissão que desempenham e, além disso, trabalham pouco (e mal) e faltam muito.

Até recentemente e mesmo agora, não é possível despedir esses trabalhadores, sobretudo se trabalham para o Estado. Com os últimos governos, aconteceu mesmo algo imprevisível: se essas pessoas são funcionárias públicas, com a nova avaliação, têm notas superiores às dos colegas. 

Estranho? Porquê? É fácil. Sendo o portuguesinho tão frágil e delicado, sente uma indestrutível necessidade de ser elogiado. Estas criaturas incompetentes, baldas e oportunistas, muito naturalmente tecem os mais generosos e rasgados elogios aos avaliadores, para, nas suas costas, lhes fazerem as críticas mais inconcebíveis.
Ter caráter? Isso já não se usa. Mas alguma vez se usou nesta terra? Basta ler a literatura antiga..

E tudo passa, assim, nesta massa acrítica e acéfala que é a sociedade portuguesa. 

Até nos darmos conta de que está tudo a correr mal e que já não vamos a tempo fazer nada.

domingo, maio 27, 2012

Ao longe, os barcos de flores


Pintura de Vladimir Kush: Arrival of the Flower Ship

Este verso de Camilo Pessanha é também o título de um blogue muito belo sobre poesia, que já aqui foi referido algumas vezes. 
A autora desse blogue acaba de falecer e é recordada com muita saudade pelos seus antigos alunos, atuais amigos. Dedicou-se a fazer o blogue quando se aposentou.
É um daqueles casos que toda a gente esquece quando critica os professores no geral, esquecendo que não são todos iguais.
Fica-nos o blogue, que é, pelo menos, uma bela antologia poética.

VER AQUI O BLOGUE


E já agora, aqui fica o poema de Camilo Pessanha.


AO LONGE OS BARCOS DE FLORES

Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranquila,
— Perdida voz que de entre as mais se exila,
— Festões de som dissimulando a hora.

Na orgia, ao longe, que em clarões cintila
E os lábios, branca, do carmim desflora...
Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranquila,

E a orquestra? E os beijos? Tudo a noite, fora,
Cauta, detém. Só modulada trila
A flauta flébil... Quem há-de remi-la?
Quem sabe a dor que sem razão deplora?

Só, incessante, um som de flauta chora...


P.S.: Os barcos de flores eram barcos de "prazer" na China, com gueishas, decorados com muitas flores.

sexta-feira, maio 25, 2012

Homens e bichos. Às vezes, tudo OK.



Para quem gosta de animais... eu, por exemplo, gosto. Não me parece que devamos preocupar-nos mais com os bichos do que com os nossos semelhantes humanos. Muito menos me parece que o gostar de bichos possa ser um pretexto para não nos importarmos com os nossos semelhantes humanos. 

 Parece-me que já estamos todos fartos desse humanismo animalesco. 

Mas ainda há coisas lindas no mundo, na relação entre gente comum e animais. Como esta, em que gente comum salvou um cardume de golfinhos. 

Os homens e as mulheres deste vídeo começaram por ter medo, bichos tão enormes... e acabaram por revelar uma grande delicadeza, tão grande delicadeza, conciliada com o medo, o que é mais raro. 

O medo impele-nos, às vezes, a sermos bruscos e descontrolados.
O amor pelos animais e por nós mesmos impele-nos, às vezes, à crueldade. À indiferença. Ao disparate.

terça-feira, maio 22, 2012

segunda-feira, maio 21, 2012

Amizade, coragem, cobardia, sistema político: tudo se relaciona?

Vejo no Facebook uma minha amiga muito jovem,  que se queixa de várias coisas, pois está a atravessar um mau momento. Problemas amorosos, problemas de trabalho.
Queixa-se de que as pessoas que estavam do seu lado, deixaram de estar e isso deixa-a perplexa e perdida.
Os amigo da mesma idade respondem que é nesta altura que se conhecem os verdadeiros amigos, porque esses estão e estarão sempre do nosso lado.

Mas isso não é verdade. Pois não? Respondo-lhe assim: "Umas pessoas por falta de caráter, outras por ambição ou medo, mudam. Outras não. Mas nem sempre isso tem uma relação connosco. É mais uma atitude genérica."

De facto, uma regra genérica é que as pessoas comuns não são muito corajosas. No estado em que estão as coisas, em termos laborais, essas pessoas não muito corajosas farão o que for melhor para elas, independentemente do que deveriam fazer pelos amigos. Confrontadas com isso, dirão que tiveram medo. E isso colocá-las-á no lugar das vítimas, lugar que os portugueses tanto amam.

Um dia, a Natália Correia disse-me, discutindo comigo e com outras pessoas, o seguinte:

- A menina precisa de estar muito atenta! Ouviu? Muito atenta! Porque a menina não é nada atenta! Ouviu? (pronunciava aténta, abria muito algumas vogais, por ter lutado contra  a sua pronúncia açoriana, que as fecha todas). 
- Precisa de observar bem as pessoas e estar muito aténta!
- Eu não preciso de estar muito atenta, porque não sou burra!

- Está a chamar-me burra? - Vociferou, de forma atroadora, como costumava fazer quando se zangava.
Fiquei tão aflita com esta pergunta, que respondi em voz baixa:
- Claro que não, por favor! Nunca me passaria pela cabeça chamar-lhe tal coisa. - A voz baixa significava ausência de agressividade e de veemência argumentativa, ao contrário do tom em que tinha proferido a frase "não preciso de estar muito atenta, porque não sou burra!"

Acusou-me, então, também em voz baixa, de, aparentemente lhe ter chamado burra em voz alta e de me ter desculpado em voz baixa. 
(Esta mulher tinha um lado teatral que nunca podia ser ignorado quando se falava com ela.)

Não me foi nada difícil ultrapassar este problema, foi só questão de dizer, em voz muito alta, que a admirava muito, muitíssimo, sobretudo a sua enorme inteligência, embora nem sempre concordasse com ela (o que era inteiramente verdade). Acabámos as duas a rir deste pequeno show improvisado. (Isto passava-se no seu Retaurante- Bar Botequim)

E continuámos a conversa em voz baixa.

A Natália passou pela ditadura salazarista. Alguém em quem confiávamos poderia ir fazer queixa de nós à PIDE. E também os empregados, os vizinhos, os companheiros de trabalho, não só aqueles com quem estávamos em conflito ou competição. No momento em que estávamos a falar, 1993, meses antes da sua morte repentina, nada disso existia. Concluí eu, então: "não preciso de estar muito atenta, porque não sou burra!" 


Mas os tempos que atualmente vivemos, são outros. O medo voltou. A delação voltou. Está a voltar quase tudo, embora não tudo, no sentido dramático.
Está a voltar a necessidade de ter coragem. Estão a voltar os amigos nos quais não podemos confiar. Embora nos amem muito. Mas não têm coragem de nos defender...


- A menina precisa de estar muito atenta! Ouviu? Muito atenta! 

domingo, maio 20, 2012

Calafona, seguidor (a) deste blogue

Calafona: tem andado doente? Nem pergunto se se fartou destes blogues... por parecer impossível, tal coisa.    
 :)
As melhoras. Beijinhos.




P.S.: Refiro-me a uma pessoa (serão várias?) que vive na Califórnia e que vem a estes meus blogues muitas vezes por dia, mas tem faltado. Ou então, mudou de fornecedor de Internet...

sábado, maio 19, 2012

Teatro em exibição: Vânia



A peça de Anton Tchekhov é muito expressiva da complexidade da natureza humana, da pequena diferença que pode existir, às vezes, entre o amor e o ódio, entre a admiração e a inveja, entre a emulação e o desprezo por si mesmo e pelo outro... da pequena diferença que pode existir entre um santo e um ser maléfico, cohabitando os dois, talvez, no mesmo homem: "O TioVânia", que vai da mesquinhez à abnegação e regressa ao mesmo em pouco tempo. 
Tudo isto adquire uma dimensão dramática através do conflito entre as personagens.
 A palavra tio foi retirada ao título, talvez devido às conotações que tem hoje este conceito de tios e tias...
Assisti à estreia da peça e a representação estava já muito amadurecida e sem falhas. Os atores são bons, a encenadora e dramaturga, Isabel Medina, apresenta-nos aqui um dos seus melhores trabalhos de sempre.
Recomenda-se.

sexta-feira, maio 18, 2012

Eu sei um ninho!!! Eu sei tantos ninhos!!!


Watch live video from Swallows Nest on Justin.tv

*** Ver nota

- Eu sei um ninho!!!

Esta era uma frase que resumia tudo. Eu sei onde está um ninho. Queres ver???
No blogue Escrevedoiros, conto uma minha pequena aventura infantil ao entrar em contacto com um ninho de carriça, passarinho pequenininho. VER AQUI.

Mas vivemos nos novos tempos. Agora, basta ligar a net e vemos logo um ninho em direto. Talvez na Alemanha da Merkel, na Jugoslávia, em sobral do Monte Agraço, em Castanheira de Pêra, enfim, onde houver uma webcam e um ligação à Internet. 

E aqui estão vários exemplos. Como links, por todo o mundo. Tem de todas as espécies, ou quase, em volta do planeta.

AQUI


- Eu sei muitos ninhos!!!




*** Esta andorinha ainda está chocar os ovos. Ainda hão-de vier a nascer à nossa vista e a voar pelo mundo.




Transcrevo aqui o texto que escrevi





Estava eu com o corpo todo suspenso.
As mãos arranhadas. Os joelhos esfolados.
Podia cair.

Os dedos das mãos metidos no buraco do muro, entre duas pedras.
Os dedos dos pés metidos no buraco do muro, entre duas pedras.
O corpo em precário equilíbrio, quase a cair.

Mas em mim só existiam os olhos: só via!
Um segundo antes de cair vi:
Três passarinhos minúsculos com os bicos abertos, cantavam.

Já antes tinha caído, é claro, mas ainda só tinha visto os ovos... do ninho

Douro litoral: socalcos: muros feitos de bocados de pedras: crianças felizes descobrem ninhos.

quinta-feira, maio 17, 2012

Feliz Dia da Espiga 2012





Que o próximo Verão nos traga abundância, alegria, calor e luz.

(Clicar nos links abaixo, para ver mais, em posts anteriores ou futuros, sobre os mesmos temas. Aparecerá este post e muitos outros, todos a seguir.)

Ainda Natália Correia



Acabo de colocar no meu blogue Escrevedoiros, este vídeo. Foi-me enviado por José Daniel Soares Ferreira, que o descobriu em vinil. Acrescento um texto sobre ele. Como O Terra Imunda tem muitos mais visistantes e mais alguns seguidores, coloco-o também aqui.


Poderão ler mais




quarta-feira, maio 16, 2012

Ninho de falcões em direto e online


Portugal e o que se come. Aparentemente, tudo




Aqui está. Tem sido falado este programa sobre comida tradicional portuguesa feito por este Anthony Bourdain, que ainda não está disponível na televisão portuguesa, incluindo a que nos chega por cabo.

Entrevista, entre outros, António Lobo Antunes, cujas declarações vão ao ponto de me surpreender...

Pena não ter legendas em português.

Existem também dois outros programas sobre as comidas portuguesas: sobre o Porto e sobre os Açores. Tudo disponível no Youtube, pelo menos até ver.


sábado, maio 12, 2012

Nada é mais universal do que o regional


"Nada é mais universal do que o regional" como diz Cecília Meireles. 


Aqui está uma foto após o pôr-do-sol, princípio da noite, com o planeta Vénus, "Étoile du berger". Com uma torre de telecomunicações e umas casinhas iluminadas.

Bem, a foto foi tirada, confortavelmente, da minha janela. Em Lisboa. Das minhas janelas de Lisboa.


Muitas vezes, sentando-me em frente desta paisagem, julgo estar na Grécia, contemplando o Monte Parnaso, ou em qualquer outro lugar da terra, contemplando outros montes.

Mas é aqui que gosto de estar.