quarta-feira, maio 12, 2010

Nuvens



Há muitos anos atrás, estava eu a ver na televisão, com uma amiga, uma reportagem sobre as comemorações da paz em Angola. O repórter dizia:
- "Não se vê vivalma nas ruas" - mostrando a câmara umas ruas desertas.
Os comentadores, perguntados sobre esta inédita situação, afirmavam ser perfeitamente natural, uma vez que o povo já estava céptico. Afinal, era a segunda vez que se anunciava a paz no país. Eu disse à minha amiga:
- O povo angolano céptico e não querendo festejar? Muda de canal!
No outro canal, via-se uma enorme multidão nas ruas e o repórter a afirmar:
- É o delírio! Uma multidão incrível!

Lembro-me sempre disto quando ouço ou leio alguns comentários. Por exemplo, tornou-se consensual dizer que Bento XVI não é um Papa de multidões.
Têm a certeza?

(Pormenor: eram muito bonitas as nuvens que se formaram por detrás do altar. Os barcos, não vi).

terça-feira, maio 11, 2010

Visita Papal


A Língua portuguesa é traiçoeira: fiquei impressionada e sensibilizada por ouvir o Papa (vocês sabem que gostei dele desde o primeiro dia) dizer missa e fazer uma homilia num português perfeito.
Fico sempre impressionada ao ouvi-los falar tantas línguas, o que faz lembra aquele episódio bíblico das línguas de fogo, que deram aos apóstolos o dom de falar todas as línguas.
Incrível falar tão bem tantas línguas como este Papa faz e o seu antecessor!
Mas... fala sempre com pronúncia alemã, incluindo a língua italiana, rolando sempre os rrs... o que dá:
Urremos Irrmãos em vez de : oremos irmãos. Mas talvez tenha razão. Em Portugal, os tempos estão mais para urrar do que para orar.
URREMOS!

segunda-feira, maio 10, 2010

Deseja Factura? Ké Frô?

Quase sempre quando vou a um restaurante, fazem-me esta pergunta, que me coloca um trilema:

Ser simpática e dizer que não, mas ser cúmplice na fuga aos impostos do dono do restaurante, ser antipática, mas boa cidadã? Mentir dizendo que desejo um papel completamente anódino e prosaico?

Apetece-me dizer:
- Ouça lá, uma factura não é um objecto de desejo. Ninguém deseja uma factura!
Sendo assim, a resposta só pode ser:
- Não, não desejo nem nunca desejei uma facturinha.

Mais simpáticos, exactos e correctos são os indianos que andam pela Lisboa nocturna a vender rosas:
- Frô?
Estes sim, poderiam perguntar: "Deseja frô?" Porque a flor, essa já pode ser um objecto de desejo...
E gosto do termo, que faz lembrar o português medieval, o tempo da "fror", da "frol"
Da Frô...

sábado, maio 08, 2010

quinta-feira, maio 06, 2010

Lojas de todo o mundo

Nos últimos, anos Lisboa foi enriquecida com lojas de comida de todo o mundo, ou quase: do Nepal, da Índia, da China, da Roménia...
Que abrem ao Domingo.
Acabo de descobrir o Magazin Romanesc, que tem coisas boas, como chá de framboesa. E outras que ainda não provei, mas devem ser boas, incluindo enchidos, bebidas e doces como compotas.

domingo, maio 02, 2010

Trilema Budista

Mesmo antes de ser meia Budista não-praticante, antes mesmo de ter ouvido falar em Budismo, sempre tive horror a matar ou ver matar animais, por mais pequenos que sejam. Em criança, pegava-me à bulha com as outras crianças para as impedir de matar insectos e outros bichitos assim minúsculos, ou seja, usava a violência para parar a violência...
Agora, estava eu felicíssima com um mangericão que comprei e que me perfuma a casa (refiro-me à erva aromática com fins culinários, mas que neste caso tinha o fim de planta doméstica). Eis senão quando, vejo que metade já foi comida e mesmo reduzida a pó.
Intrigada, fui ver: são umas lagartitas muito pequeninas e muito pretas. E muitas.
E agora, que faço? Mato dezenas, centenas de lagartas para proteger a planta? Uso o que resta com fins culinários e como-a? Como a planta e as lagartas? Não faço nada e permito que as irmãs lagartas reduzam a pó a minha plantinha aromática, o irmão mangericão?
Não sei se isto é um trilema ou um quadrilema, mas dilema não é, porque não há só duas hipóteses.

sexta-feira, abril 30, 2010

Deus Mãe

Acabo de descobrir um conceito místico de que nunca tinha ouvido falar nestes termos e que me agrada profundamente:
Deus Mãe
Não é deusa mãe, em inglês é também Mother God e nas outras línguas também deve ser.
Creio que, neste sentido, existe Deus Pai e Deus Mãe.
Eu já tinha conhecimento de que o Espírito Santo pode ser considerado o lado feminino de Deus, mas não conhecia este termo. Aposto que nenhum de vocês ouviu nunca falar de tal.
A título de exemplo,

quarta-feira, abril 28, 2010

Ai que bom!

Ai que bom! A Bolsa de Lisboa só caiu hoje 1,89%.
Muito pouco, se considerarmos que abriu a cair e esteve a perder quase 6 por cento. Afinal não estamos assim tão perto da Grécia, felizmente. Muito menos da Alemanha, infelizmente.
Foi você que votou Sócrates? Parabéns!

quinta-feira, abril 22, 2010

Portugal à beira da falência

Dizia-se que não havia alternativa a Sócrates, por isso ele teria necessáriamente de ganhar as eleiçoes...
Será possível fazer pior do que isto??????

terça-feira, abril 20, 2010

A Vera Intelijumência

Uma professora de português que conheço muito bem... contou-me esta história, a mim, Nadinha. E falou assim.
Tive, há uns anos, uma turma péssima de 10º ano. Muitos alunos tinham notas a português entre dois e cinco valores e quase todos tinham estas notas a matemática. No meio disto tudo, havia a Vera, uma aluna que, quando todos tinham negativa e ela tinha 17, tentava tirar 18 ou 19, tendo acabado o 12º com vintes.

No fim do ano, alguns dos piores alunos resolveram assistir às aulas de apoio que eu podia dar, gratuitamente, se tivesse "fregueses" e, a partir daí, portaram-se muito pior nas aulas, dizendo que, como iam ao apoio, já não precisavam de se esforçar mais.
Um dia, fizeram-me queixa da Vera:
- Ela tem a mania de imitar uma mula nas aulas e os professores nem desconfiam dela e ralham connosco. É claro que nós não fazemos queixa...
Perguntei-lhes várias vezes por que razão não faziam queixa e eles deram sempre boas razões, bondosas e muito solidárias, sem aparentemente se darem conta de que, ao contarem-me a mim, estavam a fazer queixa...
- Mas eu nunca ouvi esse ruído da mula. - Respondi, tentando disfarçar a vontade de rir.
- Ela nas suas aulas não imita uma mula porque gosta muito de si e está sempre a falar de si e a dizer isso.
- Mas o que é isso de imitar a mula?
- Zurra.
- Ah! Zurra?! Mas isso não é imitar um burro? - Perguntei.
- Sim, também pode ser...
- Eu já reparei que ela fica muito aborrecida quando vocês dizem asneiras ou exprimem ideias parvas, racistas, por exemplo. Não será nessa altura que ela "imita a mula"?
- Sim, talvez...
- E vocês não percebem que ela vos está a chamar burros?
- Ah! Pois é! Pode ser... Havemos de reparar quando é que ela faz isso... - iam dizendo eles entre si, muito consternados.

Eu tinha muita pena desta rapariga, caída no meio daquela cambada de ignorantes e parvos, muito enfadada, mas ela não se deixava influenciar nada por ninguém, nunca. E divertia-se à sua maneira. Um dia, no fim do ano, uma colega pediu-lhe que lhe fizesse um trabalho para me apresentar, a ver se não reprovava.
O trabalho estava invulgarmente bem redigido, mas aparecia nele várias vezes a palavra vera, com o sentido de verdadeira, autêntica, etc... a amiga também não reparou nesta assinatura... e eu não podia afirmar que fosse uma assinatura, nem tinha provas de que o trabalho não tinha sido feito por ela... de facto, o único defeito do texto era a repetição excessiva desta palavra.

Vou pedir à Vera que leia isto, a ver se é vero, pois nunca lhe contei esta "não-queixa" que os colegas me fizeram e também tive o cuidado de não a contar aos outros professores da rapariga, a não ser depois de as aulas acabarem.

Há quem chame a isto, e vem a propósito o termo: intelijumência (palavra aglutinada e derivada de jumento).
Pensando melhor, as mulas não zurram, acho eu.

sábado, abril 17, 2010

100 anos


Nem de propósito, no dia do meu aniversário, descubro no Facebook uma mulher que, aos 100 anos, renovou o passaporte para o caso de lhe apetecer partir outra vez à aventura. E porque não, diremos nós?
Não é que eu tenha depressões com a idade, mas se tivesse...
É uma grande exploradora, do século XX e creio até que já li um livro dela, sobre uma viagem ao Tibete.
Desse livro guardei sobretudo a recordação da imundície que refere constantemente, dentro das casas onde dormiu e que me parece ser, hoje em dia, o principal obstáculo às viagens assim.
Conheci recentemente uma jovem francesa que fez uma viagem à Índia como todo o mundo gostaria de fazer, a não ser as dondocas que não podem viajar a não ser em hotéis de 5 estrelas, como conheço algumas. Perguntei-lhe se não teve problemas com a higiene: sim, esse era exactamente o principal problema: andou a vomitar sangue muito tempo, sobretudo enquanto andou por lá, mas acha que depois disso se tornou resistente às doenças.
Mas é claro que o livro é muito interessante, passado numa época antiga e que parece mais antiga ainda, como se estivéssemos quase no princípio dos tempos. Um exotismo que quase já não existe em lado nenhum.

e Aqui:

End of story: morreu aos 101 anos, em 1969. A esperança de vida era, então, bem inferior à de hoje.
A fotografia é interessante: não está nos olhos dela o desejo de fazer grandes e diferentes coisas? No entanto, seria talvez normal que acabasse por fazer apenas o mesmo que fazem todos...

sexta-feira, abril 16, 2010

Aniversário

Nasci e sou uma menina.
Quero compartilhar com vocês o meu aniversário. Não costumo festejar, a não ser interiormente, mas hoje já me fizeram uma festa surpresa ao meio-dia. É um número redondo...
Ah, a propósito: o Papa de Roma também faz anos hoje e costuma ficar tão feliz como eu.
Por termos nascido. Por ainda estarmos aqui. Pelos amigos. Pela vida.
No meu caso, também: por estar a viver no Século XXI, um tempo mais adequado, para mim, do que o Sec. XX, que sempre me pareceu demasiado atrasado.
Este tempo que vivi até agora, bastante tempo, já cá canta. Já ninguém mo tira.

quinta-feira, abril 15, 2010

Música Folclórica do Nepal

Música Popular do Nepal

Música Folclórica do Nepal

Música popular do Nepal.

PEC Peque

Anda o governo a pagar ao Figo e aos boys, para depois nos vir pedir dinheiro e sacrifícios porque o país está mal, (para o Plano de Estabilidade e Crescimento PEC)
Está mal, porquê? Por culpa de quem? Essencialmente, por culpa da corrupção e dos corruptos.
Este Pec, segundo alguns especialistas, podia ir buscar mais dinheiro aos bancos e às empresas públicas em vez de o tirar dos nossos impostos, mas essas empresas têm de pagar fortunas para subornos...
Peque por mal dos nossos pecados.
Os boys e os figos não são portugueses? Não têm de pagar os erros e os pecados dos governantes?

domingo, abril 11, 2010

Comida de Reis

Tivemos um rei, o tão mal-amado rei D. João VI, mal-amado em Portugal e no Brasil, que comia um frango assado a todas as refeições. E se calhar, às vezes repetia.
O espanto desta informação não vem tanto da quantidade, deveria comer várias outras coisas além do frango, mas sobretudo de nessa época não se comerem frangos assim, à "tripa-forra" (expressão também ela antiga e antiquada, mas que vem a propósito).
Lembrei-me disto agora, por me ocorrer que todos nós, isto é, eu é vocês, podemos comer como um rei, se nos apetecer e se tivermos apetite, dado que o dito frango é hoje vulgar e barato.
Vejamos: os do rei eram biológicos, que agora são mais caros, mas podiam muito bem estar doentes ou até mesmo terem morrido de doença, que na época era assim...
Outro aspecto: deveria ser preciso ter um aviário só para ele, pois comia cerca de 800 frangos por ano e a produção não era assim tanta nesse tempo.
Moral da história (tive, durante alguns meses, um namorado completamente ignorante, que achava sempre que todas as histórias tinham moral):
Este nosso rei deveria ser considerado o percursor do fast-food, tanto em Portugal como no Brasil e, sem a menor dúvida, merece a honra de ser considerado o verdadeiro...
O Verdadeiro Rei dos Frangos!
P.S.: O dito noivo, vendo-me um dia a folhear um livro da grande poetisa Sapho, perguntou-me se eu estava a pensar comprar um livro sobre sapos. Mas era meiguinho.

Novo PS!: Com o receio de ter errado, fui consultar a net. Fiquei a saber (será verdade?) que o dito D. João VI comia nove frangos assados por dia, o que dá 3285 frangos por ano, sendo que nos bissextos seriam 3294 e que a sua esposa foi a inventora da caipirinha. Obrigada, Dona Carlota Joaquina! A caipirinha é uma das coisas boas que existem!
Vale a pena pesquisar este tema na net. Experimentem.


sexta-feira, abril 09, 2010

Alminhas





Em Dezembro apresentei neste blogue uma cruz dos caminhos, como se pode ver
Nessa altura, a Gi fez um comentário sobre as Alminhas, nichos sagrados muito frequentes em certas zonas de Portugal, Itália, Espanha, pelo menos que eu saiba, mas desconhecidos noutros lugares desses países e noutras terras.
Em resposta a esse comentário, prometi colocar aqui fotos de Alminhas e aí estão elas.
Remeto para o comentário da Gi, no seu blogue

Estas Alminhas situam-se em Castelo de Paiva, no Douro Litoral, o primeiro conjunto de duas situa-se num pequeníssimo lugar chamado Alminhas, o outro fica muito próximo.
Representam as almas do Purgatório, auxiliadas por Nossa Senhora e pelos suplicantes que são passantes dos caminhos; tudo isto apresentado em azulejos policromados. Ainda ninguém se lembrou de roubar isto...
Já neste blogue coloquei umas alminhas que ficam próximas destas, mas demoro a encontrar o post, por não o ter indexado.
Recentemente constatei que na cidade do Porto também existem estes nichos. Vi hoje um, perto de Campanhã.
Tenho imagens semelhantes, embora de índole diferente, fotos tiradas em Itália e Espanha. Um dia destes...

quarta-feira, março 31, 2010

O Mar

O Tema central do Terra Imunda é, obviamente, o mar,
como já todos tinham percebido...


Eu sou tão pouco saudosista, que raramente acho graça às coisas antigas. Gosto do futuro e não do passado. Mas, ao ouvir esta música, recordei sensações que não me lembro de ter tido, ou melhor, que não tinha há tanto tempo, que já nem me lembrava delas.
É o que Fernando Pessoa chamaria "sensações do universo interior". Neste caso, uma tristeza que vem do corpo e do tempo.
Durante a maior parte da minha vida, senti-me exilada no tempo: exilada no passado, sabendo que o meu lugar era no futuro. Isso provocava-me a angústia de não saber se algum dia chegaria a esse futuro.

Ainda não cheguei, felizmente.