- Esta canalha de agora passa anos e anos sentada numa cadeira sem fazer nada e depois quando é grande já não quer trabalhar!
A falta de exigência e de perfeccionismo também contribuem, e isto percebe-se melhor quando se conhecem países do chamado "terceiro mundo", pois são defeitos terceiromundistas de que enfermamos ainda, apesar de "estarmos na Europa". Orgulhosamente, sempre na cauda do bicho. Da vaca que está a emagrecer.
Vem esta reflexão a propósito de duas situações que me ocorreram recentemente e que me irritaram, caso contrário tê-las-ia esquecido. Ou escrevia no outro blogue, este é o das reclamações.
Fui hoje tirar fotografias para um visto de entrada num país. A rapariga, depois de fazer a primeira, mostrou-ma, disse que estava muito bem e perguntou se eu achava necessário tirar outra, ou se aquela servia. Pedi-lhe que esperasse enquanto punha os óculos, mas mesmo antes de os pôr vi que a foto era de tal modo horrorosa que não valia a pena dizer-lhe que tirasse outra. Se ela fosse capaz de fazer melhor, ter-se-ia envergonhado de ter feito aquilo e não perguntaria se estava bem. Disse que não valia a pena e nem reclamei, limitei-me a rasgar à vista dela a ampliação a que tinha direito e não sabia. Espero que tenha entendido, mas duvido.
Também escapei de que me dissesse que eu sou assim, o argumento primeiro e último de quem não percebe nada de fotografia e portanto não entende que está a insultar os outros. Ninguém é assim. Nós somos seres em movimento, vistos constantemente de baixo, de cima, de baixo e de lado, com expressão... nunca estáticos.
O que é mais estranho é constatarmos que, devido à recente evolução e democratização das máquinas fotográficas, há hoje bons fotógrafos no desemprego e sem esperança de virem a encontrar trabalho nessa área, o que foi ainda agravado pelas recentes medidas do Governo, ao não serem exigidas fotografias para os documentos, nem mesmo para o BI.
A outra situação deste género foi a seguinte: dirigi-me à agência onde costumo comprar a maior parte das viagens e fui atendida duas vezes (sempre) por uma criatura que me perguntou o que queria. Depois de lhe ter explicado, pediu-me a minha direcção de email, apertou-me a mão e disse:
- Estamos conversadas. Mando-lhe um email com a informação pretendida.
Vocês enviaram-me um email com a informação pretendida? Fazendo a pergunta à brasileira, da forma retórica, cómica e impotente, de quem está habituado a estas situações e resignado com elas:
- Jacaré enviou o email? - Ou melhor:
- Jacaré recebeu o email?
Resposta:
- Eu também não. Nenhum dos dois que a criatura prometeu endereçar-me. E os jovens que nos anos anteriores tão bem me entenderam e tão bem me deram o que eu queria ou julgava querer? Provavelmente estão no desemprego.
É por isso que a recentemente introduzida avaliação do desempenho deu tanta contestação. Porque a avaliação que temos funciona assim: quem não sabe fazer nada, nem gosta, é avaliado positivamente, talvez porque o avaliador também não sabe fazer nada e não quer ser ultrapassado... ou sei lá porquê, acho que ninguém entende...
A diferença em termos de procura também se nota. Quando ia à Agência de Viagens, encontrava muitas pessoas aguardando tranquilamente a vez, agora não vejo vivalma.
E queixam-se da crise. A crise permite-nos seleccionar melhor a maneira como gastamos o nosso dinheiro. Aprendemos a não o deitar fora. Talvez os portugueses melhorem com a crise.
Estes dois episódios são apenas dois exemplos entre muitos, mas o inverso também é verdadeiro: quando, recentemente, me dirigi a um centro de análises clínicas novo, fui surpreendida, não só pela competência e profissionalismo das raparigas, mas até mesmo pela sua elegância e beleza. É talvez um caso à parte, pois muitos profissionais de saúde, que antigamente tinham a quarta classe, possuem agora um diploma universitário exigentíssimo, com notas de entrada fabulosas. Verdadeiro perfeccionismo em tudo.
(É talvez por coincidência que todas as pessoas aqui referidas são mulheres jovens).