domingo, abril 11, 2021

Chico-espertice e desconfinamento

Agora com as esplanadas abertas e os restaurantes fechados, devido ao relativo desconfinamento da pandemia, voltam a surgir os velhos problemas das esplanadas, até com mais força.

Há uma fila nas esplanadas-quiosque, para ir buscar o café, a comida, o que for. Enquanto estamos na fila, aparecem bandos de pessoas que ocupam as mesas vazias. Ficam sentados e felizes, à espera que a fila diminua, depois vão buscar um café para todos, ou mesmo só um café para um.

Ontem sentei-me a uma mesa, já depois de comprado café, levo-o na mão e vem um bando dizer-me que estava naquela mesa. Já têm alguma coisa para tomar? Não. Mesmo assim, chegaram primeiro à mesa, eu é que estou a mais.

Hoje, a mesma coisa: a empregada tirou um bando para eu me sentar e, antes de eu chegar à mesa, já lá estava outra pessoa instalada, sem consumir nada. Não vê aquela fila? Vejo, mas pensei... 

E volta a linguagem absurda: 

- não se sente nesta cadeira, porque está aí a minha irmã!

- eu estou sentada em cima da sua irmã? 

- Não, mas essa cadeira está ocupada por ela!

- Como assim? Não está aqui ninguém! 

- Mas ela estava aí. 

- Mas já não está...

Não importa quem chegou primeiro, importa quem tomou posse primeiro. Isto é daquelas coisas portuguesinhas absurdas e ridículas... 

Em Itália, já decidiram que, em excursões de autocarros com portugueses, quem vai à frente no primeiro dia, vai atrás no segundo, pois o portuguesinho coloca-se à frente no primeiro dia para reservar e ocupar o lugar toda a semana. Um casal de casados chega em último lugar e fica de pé à espera que alguém se levante para os deixar ir lado a lado mais 10 kms.O quê? Ninguém se levanta? Ninguém respeita a sagrada instituição do casamento?

Nos hotéis, vão de manhã colocar toalhas em todos os lugares das piscinas, esperando encontrá-las ao fim da tarde, quando regressarem dos passeios, na intenção de que ninguém os tenha ocupado, entretanto. Alguns lixam-se, ficam sem as toalhas, sem os cremes, sem o telemóvel... a chicoespertice tem uma componente de ingenuidade bacoca. 

Prefiro mil vezes viajar com espanhóis, que não fazem nada disto.

Quando é que nos livramos desta mentalidade?

terça-feira, março 30, 2021

Distância muitíssimo social - os gadjós

 Na fila do supermercado há uma senhora grudada em mim. Resisto a dizer-lhe que se afaste um bocadinho, em parte, por uma delicadeza que poucos me conhecem, em parte por falta de medo do COVID. Mas ela não tem desses pruridos

- Esta cigana não me larga! Veja lá se pode avançar um bocadinho na fila, mais para a frente.

Avanço um grande bocado, para constatar que a dita senhora está outra vez encostada a mim


- Esta cigana não tem qualquer noção! Não a vê colada a mim outra vez? 


Não, não vejo. O que vejo é que esta senhora prefere estar encostada a mim do que estar a meio metro da cigana. Ou a ir para o fim da curta fila.


Talvez porque eu sou... reflito: sou o quê? Caucasiana? Não, nem deve saber o que quer dizer isso. Branca? Os ciganos não são pretos. Europeia? Os ciganos vivem na Europa. Então, eu sou o quê, para esta seletiva criatura? 

Ah, já sei, os ciganos têm um termo para isso, uma palavra que diz logo tudo. Eu Sou... eu sou... 

  • Gadjó! *
Esta senhora só se encosta a gadjós, com ou sem COVID 19.


  • Palavra cigana que designa logo de uma vez todas as pessoas que não sejam ciganas. Lol. 

terça-feira, março 23, 2021

“O meu telhado é o céu”

 Uma senhora da aldeia de Covide, no telejornal sobre o vírus COVID:

- Não penso nele sem ele bir. Estou aqui no meu lugar.  Não penso nele sem ele bir. Se bier, beu. Não é? Se bier, beu!

Sábias e engraçadas palavras!

Também disse que não gosta de estar dentro de casa:

- O meu telhado é o céu!

domingo, março 21, 2021

Primavera


Apetece beijar as pétalas das flores como beijar uma dádiva oferecida pelo tempo.

Tão suaves, tão macias, tão brancas, tão azuis ou vermelhas no calor que se adivinha


E que sejam bem-vindas as moscas!

E as flores aladas, sejam borboletas ou pássaros


E os pássaros desprovidos de asas, os grilos e as cigarras que hão-de anunciar o Verão


Agradeço às deusas fêmeas Ceres, Artemísia, Afrodie e Atena, agradeço aos deuses machos, Apolo, Diónisos, Cronos e a todos os deuses, agradeço ao deus único, talvez Alá ou Jeová


E a mim, e a ti, homem ou mulher, espírito capaz de vislumbrar a beleza, ser iluminado, ente capaz de entender este renascer constante da matéria, da luz e do sonho do espaço.

Graciete Nobre 

Publicado online na revista on-line Triplov

segunda-feira, fevereiro 15, 2021

O Covid e a mangedoura

 A partir de hoje, 15 de fevereiro, já podem desembarcar em Lisboa passageiros e tripulação de navios de cruzeiro.
Podem ver a cidade, podem ir aos supermercados comprar um kilo de batatas... podem trazer as novas variantes do covid, etc...

Vantagens para Portugal? 

Os paquetes pagam para entrar no porto de Lisboa, um dos mais caros do mundo.

Os endinheirados turistas poderão comprar um kilo de batatas nos supermercados, uma cerveja a preço promocional, ou mesmo algum livro num hipermercado.

E ainda poderão trazer para cá as variantes novas do COVID: sul-americana, brasileira, etc. .

Livros proibidos por causa do COVID, exceto nas grandes superfícies

 Qual é a lógica de as livrarias não poderem vender livros e os supermercados sim?
Para além da lógica do favorecimento do grande capital, a lógica de promover a literatura light.
Também não se entende por que razão fecharam as bibliotecas, tudo quando mais precisamos de livros para nos entretermos. 

Depois queixam-se de que vai tudo passear para a rua. Então, que havemos de fazer?
Ver televisão e sermos submetidos à lavagem ao cérebro das notícias?

domingo, janeiro 31, 2021

O Covid e a mangedoura: Na cauda da Europa e na cauda do mundo, outra vez... Ou, pelo contrário...

Ainda não sabemos muita coisa sobre esta catástrofe que nos une e que nos separa, mas sabemos que tudo está a proceder-se da maneira normal no nosso país: alguns comem da mangedoura, outros não.

Todos comem: uns pouco, mas comidas que engordam muito, tendo nós chegado ao ponto em que os nossos pobres são gordos, ao contrário do modelo intemporal e internacional dos pobres muito magros porque comem pouco... embora esses mesmos só comam hidratos de carbono... batatas, arroz, pão...

Sabemos apenas isto: a vacina, que é acessível a muito poucos, tornou-se acessível à gente que se meteu na política exatamente para isso: para ter acesso a bens inacessíveis à "escumalha".

E todos os jornais trazem notícias dessas, o responsável que, qual rei, mandou vacinar os funcionários do café que frequenta, a assistência social que, por saber que os pobres que a ela recorrem, não podem pagar a um advogado para se queixarem e que não têm outro modo para se queixar, manda vacinar-se a si e a todos os que a rodeiam... 

Em Setúbal isso aconteceu, segundo as notícias da comunicação social, fora as vezes em que aconteceu e nada sabemos... alegadamente, pois muita gente sabe...

Este compadrio...

Na cauda da Europa e do mundo... Ou, pelo contrário...

Não gosto nada desta minha opinião, sou um nadinha poética, mas até os poetas se debatem, dentro de si, entre a realidade e o ideal...

Do milagre à catástrofe

Não há dúvida que vivemos em tempos de quase catástrofe, mas vale a pena pensar e trocar ideias sobre isto. Como é que se passou do “milagre português” ao desastre de sermos os piores do mundo em alguns aspetos (não todos)?

No princípio, muitas pessoas tinham medo, agora têm menos medo, ou têm outra vez muito medo, mas o medo nunca pode ser a medida de todas as coisas.

Será que temos culpa (sem dolo), ou será que tudo isto nos ultrapassa? Nunca ninguém percebeu por que razão o pior sítio do mundo em termos de Covid foi a parte mais rica de Itália. Mas não há dúvida de que as opiniões diferentes das veiculadas pela comunicação social ( que tm funcionado em uníssono) têm sido ignoradas. E isto é uma parte da catástrofe: a falta de liberdade de expressão, que pode levar a extremos de reivindicação.

Nas últimas aulas presenciais que dei, sabendo que os jovens andaram em festas com muita gente na passagem de ano, estando com alguns desses numa cave em que as janelas, lá muito em cima, pouco abrem, disse-lhes que deveríamos todos ter mais cuidado do que nunca, explicando que ter cuidado não é o mesmo que ter medo. Ainda hoje não tenho medo, mas abdiquei da Páscoa e do Natal, que sempre passei no Norte, exceto os últimos.

Ocorre-me que não é a primeira vez que isto acontece, o passarmos do milagre ao desastre: a certa altura, fomos o milagre económico português, éramos o bom aluno da CEE e pouco depois estávamos à beira da bancarrota. Neste último caso, a culpa só pode ter sido nossa... 

Agora pode ser ou não ser, quase parece ser o destino e o fado, por isso devemos trocar opiniões, se eu não vos convencer, convencem-me vocês a mim, sem que pareça derrota a mudança de opinião, que é apenas conciliação e paz.

Será que Portugal continua a ser simbolizado por Gonçalo Mendes Ramires, personagem central do livro de Eça de Queirós a Cidade e as Serras? Passo a citar:

“Como acertadamente observa a personagem João Gouveia, no final do romance, Gonçalo Ramires, o Fidalgo da Torre, com "a generosidade, o desleixo, a constante trapalhada nos negócios", "a esperança constante nalgum milagre", "a desconfiança terrível de si mesmo, que o acobarda, o encolhe", "aquela antiguidade de raça", "aquele arranque para a África", simboliza o Portugal contemporâneo de Eça, dilacerado entre o passado glorioso e a miséria presente.”

Será que isto nos carateriza? Isto: “a generosidade, o desleixo, a constante trapalhada nos negócios", "a esperança constante nalgum milagre", "a desconfiança terrível de si mesmo, que o acobarda, o encolhe"?

P.S: Este post não tem nenhuma atitude político-partidária, pois essa, sim, é a nossa cegueira específica. Desde o 25 de abril que pouca gente pensa fora desta caixa.

domingo, janeiro 17, 2021

Os perigos da Educação Sexual


Os perigos da Educação Sexual

Contaram-me este episódio ocorrido há uns anos, em Braga, a nossa cidade mais religiosa e mais católica.

Uma família abastada recebeu na sua ca Daniel Sousa as máscaras ci Daniel Sousa no Japão não há Natal nem Ano Novo, mas o covid aumentou lá tanto como aqui, ou mais. rúrgicas foram feitas para serem usadas durante uma cirurgia, com todo o cuidad Daniel Sousa no Japão não há Natal nem Ano Novo, mas o covid aumentou lá tanto como aqui, ou mais. o. Não poderíamos tocar-lhes porque isso anularia o seu efeito. Estamos sempre a mexer-lhes. sa uma rapariga pouco instruída e algo ingénua, que ia casar com um rapaz educado e estudado, talvez por causa do dinheiro que a menina trazia. A missão da dita família era ensinar-lhe boas maneiras e dar-lhe umas luzes de educação sexual, tarefa particularmente difícil, pois ainda hoje é um bico-de-obra.

Depois de terem explicado à rapariga os rudimentos da questão sexual conjugal, deram-lhe para ler um livro católico sobre o assunto, daqueles que usavam mais metáforas evangélicas do que propriamente informação objetiva.

Em vésperas do casamento Daniel Sousa as máscaras ci Daniel Sousa no Japão não há Natal nem Ano Novo, mas o covid aumentou lá tanto como aqui, ou mais. rúrgicas foram feitas para serem usadas durante uma cirurgia, com todo o cuidad Daniel Sousa no Japão não há Natal nem Ano Novo, mas o covid aumentou lá tanto como aqui, ou mais. o. Não poderíamos tocar-lhes porque isso anularia o seu efeito. Estamos sempre a mexer-lhes. , as senhoras perguntaram à nubente:

Então, percebeste tudo? 

Percebi.

Tens alguma dúvida, houve alguma coisa que não percebeste?

Só não percebi uma coisa...

Então diz lá o que não percebeste.

Só não percebi o que é o seixo!

Podemos entender, claro, que a noiva não precisava de perceber nada antes do casamento, mas, para as boas famílias, talvez existisse um problema: talvez o rapaz deixasse em casa a esposa e procurasse mulheres que soubessem o que é o seixo.


segunda-feira, dezembro 21, 2020

Aquarius, Aquarius... harmony and understanding...



Neste dia em que se verifica um alinhamento especial de Júpiter com Saturno coincidindo com o solstício de inverno, logo as seguir a um eclipse total do Sol, dizem alguns que começa a era do Aquário.


Fazem-se celebrações em todo o mundo.
Somos convidados a meditar na paz e no amor universal, sonhando para todos o que desejamos para nós.
Que todos os seres tenham alegria, liberdade, paz, amor e abundância!


P.S.: Imagem da comunicação social

segunda-feira, novembro 23, 2020

O Covid e a mangedoura

 As medidas do nosso e outros governos para combater o Covid não estão a resultar, de forma alguma. E ainda está quase calor! 

As atitudes alternativas são ridicularizadas pela nossa comunicação social, o mesmo se passando noutros países da Europa. 

Isto quer dizer o quê? Vamos continuar a destruir a economia e a aumentar o número de mortos, Covid e não Covid, mas não vamos mudar de estratégia porque somos maravilhosos e detemos a razão?

E porque quem propõe alternativas é porque acredita que a terra é plana e que nos querem meter um chip na cabeça?

Ou porque há muitos comunicadores a comer da mangedoura das farmacêuticas?

sexta-feira, novembro 13, 2020

Será que temos um "Governo pela Verdade"?

Fui almoçar com uma amiga a uma "tasca" de petiscos, antes de nos trancarmos no confinamento deste fim de semana.

A minha amiga é professora. Hoje mesmo, toda uma sua turma foi mandada para casa, uns porque têm Covid, os outros porque fazem parte da bolha.

A minha amiga também faz parte da bolha, mas, como está à beira da reforma e faz parte dos grupos de risco... Enfim, resumindo, vai continuar a dar aulas às outras turmas e a conviver com os outros professores, claro.


Como foi ela que me convidou e como só me contou isto durante o almoço, eu deveria tê-la tratado como uma leprosa que me quer matar, pegando-se a peçonha. A lepra. O Covid. 

Mas neste aspeto, o governo "pensa" o mesmo que Os Médicos pela Verdade, os Jornalistas pela Verdade e quejandos, esses grupos que são tão criticados urbi et orbi, pelo sistema e postos de rastos pela comunicação social. 


E eu concordo com eles, quero dizer, eu concordo com o governo e ...  E...  Bem,  foi um ótimo almoço.


quinta-feira, novembro 12, 2020

Ouro Preto, Romance Histórico

 



Ando a ler um livro que descobri numa biblioteca, intitulado Ouro Preto, de Sergio Luís de Carvalho. É um romance histórico que se baseia na vida de um aventureiro português que, vivendo no Brasil, se inspirou no livro de António Vieira Clavis Prophetarum, para desenvolver a ideia lá contida de que Portugal iria liderar o Quinto Império sobre todo o mundo, um império espiritual com sede no Maranhão.

Este homem, que de facto existiu, chama-se Pedro Heneken e, no início do livro, está em Lisboa, preso nos calabouços da Inquisição, por incitamento à heresia. Por aquilo que diz, parece mais louco do que herético, mas será a loucura sagrada. Dos profetas? Os seus escritos foram todos apreendidos.

O livro está regularmente bem escrito, nada de especial, é mais interessante o que podemos imaginar do que as descrições que lemos, mas é também interessante obter informação sobre o tema e de forma leve.


Como se passa no reinado de D. João V, este livro dialoga, em termos de leitura, com o Memorial do Convento.

sexta-feira, novembro 06, 2020

Você está doente? Então desapareça daqui! E depressa, ouviu??!!

 Às vezes, muito raramente, vou almoçar com amigos à cantina dos Funcionários dei Estado, com comida barata e às vezes boa, a que nós chamamos a "cantina dos pobres" e que fica muito perto do meu local de trabalho. Medem-nos  temperatura à entrada e, se estivermos com febre, não nos deixam entrar.

- Obrigada! Quanta bondade!!!!

- Você tem febre? Não lhe dou de comer! Vá-se embora! Vá comer a casa do diabo mais velho! Vá-se tratar!

Uma vez disseram-me: 

- Tem 35,6!

- Tão pouco? Devo estar doente!!!

Todos se riram, pois a vontade de rir é o que nos vale!!!

Antigamente, quero dizer, há talvez uns 10 meses, seria ao contrário, não? Está doente? Sente-se aqui. Vou buscar-lhe um copinho de água com açúcar... pode não fazer bem, mas não deve fazer mal...


Escolas e Covid

 Isto está acontecer em muitas escolas do país. Alguns alunos de uma turma têm Covid e vai a turma toda para casa de quarentena.

Os professores, que para entrarem na sala tiveram de se roçar pelos alunos, que corrigiram testes para cima dos quais os alunos com Covid respiraram, espirraram e tossiram, esses ficam e dão aulas às outras turmas.
É claro que a ideia é não fechar as escolas e eu espero que não fechem, mas então, para que me queriam obrigar a usar o Stayaway Covid e até punham a polícia a revistar-me a carteira e o telemóvel?
Para me dizerem se tive contacto com doentes Covid?
AHAHAHAHAHA !!!!

segunda-feira, outubro 19, 2020

Outra vez Tancos

 



O rapaz que roubou as armas de Tancos resolveu devolver mais algumas. 

Quando precisar delas, vem buscá-las outra vez.


Imagem da Internet

sexta-feira, outubro 16, 2020

Sété Ué não sei quê... 500 aéreos de multa...Humor involuntário?



O MEU TELEFONE É ASSIM. Será que tenho de andar sempre com ele, para o caso de a polícia mo pedir, para ver se eu tenho o coiso...? Aquilo que é Seté Ué Não sei quê.
E os fios? Também tenho de levar os fios quando for ao Mini-Preço?

Eu não quero pagar 500 aéreos de multa, porque eu só ganho 360 aéreos da reforma, mais o meu homem que não ganha nenhum porque é patrão e agora já não tem fregueses na tasca porque a tasca tem que fechar às 8 da noite e os fregueses só vinham depois do comer.
Não se pode vender álcool, não se pode vender álcool, 
dizem eles, depois das 8 da noite, mas a gente nunca vendemos álcool, a gente só vendemos vinho, cerveja e aguardente. 
- Ai você quer álcool?- diz o meu - Então vá à farmácia! Nós aqui só temos vinho!

quinta-feira, outubro 15, 2020

Muito belo poema de Louise Gluck: "O lírio prateado"

 


Foto da Internet Papoilas Brancas

"O lírio prateado"
As noites ficaram frias de novo, como as noites
de começo de primavera, e quietas de novo.
Será que a conversa te incomoda? Estamos
sozinhos agora; não temos razão para silêncio.
Vês, sobre o jardim — a lua cheia nasce.
Não verei a próxima lua cheia.
Na primavera, quando a lua nascia, significava
que o tempo era infinito. Anêmonas
abriam e fechavam, as sementes
em cachos caíam dos bordos em pálidas lufadas.
Branco sobre branco, a lua nascia sobre o vidoeiro.
E no arco em que a árvore se divide,
folhas dos primeiros narcisos, ao luar
prata-verde-claras.
Juntos, chegamos
perto demais do fim para agora
temermos o fim.
Nessas noites, não estou nem mesmo certa
de que sei o que significa o fim.
E tu, que estiveste com um homem —
depois dos primeiros gritos,
não faz a alegria, como o medo,
barulho algum?"

Louise Gluck in Revista Bula

segunda-feira, outubro 12, 2020

Louise Gluck - Paisagem 3




Jean François Millet "Les Glaneuses" ou "as Respigadoras"


Louise Gluck, escritora que ganhou o Prémio Nobel 2020, escrevendo sobre a atualidade e inspirada na mitologia grega.

"Paisagem/3
Nos fins do outono uma rapariga deitou fogo
a um trigal. O outono
fora muito seco; o campo
ardeu como palha.
Depois não sobrou nada.
Se o atravessávamos, não víamos nada.
Nada havia para colher, para cheirar.
Os cavalos não compreendem –
Onde está o campo, parecem dizer.
Como tu ou eu a perguntar
onde está a nossa casa.
Ninguém sabe responder-lhes.
Não sobra nada;
resta-nos esperar, a bem do lavrador,
que o seguro pague.
É como perder um ano de vida.
Em que perderias um ano da tua vida?
Mais tarde regressas ao velho lugar –
só restam cinzas: negrume e vazio.
Pensas: como pude viver aqui?
Mas na altura era diferente,
mesmo no último verão. A terra agia
como se nada de mal pudesse acontecer-lhe.
Um único fósforo foi quanto bastou.
Mas no momento certo – teve de ser no momento certo.
O campo crestado, seco –
a morte já a postos
por assim dizer."
*Terceira parte do poema “Landscape”, de Averno (2006), traduzido por Rui Pires Cabral. Os versos foram publicados no n.º 12 da revista Telhados de Vidro, da editora Averno, em maio de 2009

domingo, outubro 11, 2020

Louise Gluck

 


Circe de Wright Barker, 1889

Louise Gluck: lúcida, clássica e moderna, vendo o nosso tempo sob inspiração da mitologia grega.

O Poder de Circe
Nunca transformei ninguém em porco.
Algumas pessoas são porcos; faço-os
parecerem-se a porcos.
Estou farta do vosso mundo
que permite que o exterior disfarce o interior.
Os teus homens não eram maus;
uma vida indisciplinada
fez-lhes isso. Como porcos,
sob o meu cuidado
E das minhas ajudantes,
tornaram-se mais dóceis.
Depois reverti o encanto,
mostrando-te a minha boa vontade
e o meu poder. Eu vi
que poderíamos ser aqui felizes,
como o são os homens e as mulheres
de exigências simples. Ao mesmo tempo,
previ a tua partida,
os teus homens, com a minha ajuda, sujeitando
o mar ruidoso e sobressaltado. Pensas
que algumas lágrimas me perturbam? Meu amigo,
toda a feiticeira tem
um coração pragmático; ninguém
vê o essencial que não possa
enfrentar os limites. Se apenas te quisesse ter
podia ter-te aprisionado.
*Poema publicado originalmente na coletânea Meadowlands (1996), com o título “Circe’s Power”. Editado em Portugal na antologia Rosa do Mundo. 2001 Poemas Para o Futuro (2001), da Assírio & Alvim, numa tradução de José Alberto Oliveira. A antologia encontra-se atualmente esgotada