Já fui hoje à Baixa Lisboeta, comprar arroz basmati indiano no supermercado indiano, (muito bom porque o arroz vem do oriente e lá não é branqueado) e morri de calor.
Embora estejamos no início de Março, está verão (quero dizer, verão estação, não verão de vereis) - ai este acordo... tantas palavras homónimas. Poupa-se, ao menos, o trabalho de escrever os cs e de clicar no shift para as maiúsculas... mas o problema é mesmo a língua. Por que não dizemos vós vereis, em vez de verão? THINK!
Uma língua cheia de tiques e de truques. Sobretudo tiques sociais.
Vou referir alguns.
1. Porquê vocês em vez de vós, já disse.
2. Não devemos repetir o sujeito na frase, ela, ela, ao contrário dos ingleses e franceses, por exemplo, que obrigam a fazer isso. Eu sei, eu sei... é que nós em português temos uma forma verbal diferente para cada pessoa... não precisamos de repetir.
3. Os ingleses e franceses também dizem vós em vez de vocês, claro, esta coisa do você vocês... e dizer vocês até é pouco respeitoso, devemos dizer "os senhores", mas vós ainda é menos respeitoso... ou talvez seja mais...
Mas também há casos em que não podemos dizer ele ou ela, porque é falta de respeito, ex: Camões, ele... (não, never)
Ou um estudante dizer a outro, a respeito da professora, ouvindo ela a conversa, se ainda não estiver surda, "derivado" ao ruído no trabalho:
- Ela disse...
- Rua! Você está a faltar-me ao respeito!
- Eu, Setôra? Que é que eu fiz?
- Trataste a setôra por ela.
- Cala-te, Ricardo!
- Ó Setôra, o Ricardo está-lhe a mostrar o dedo do meio!!!
- Eu?!!! Ó Setora, eu não lhe mostrei o dedo do meio!!!
- Claro, Ricardo. Eu não vi, nem acredito! O Ricardo nunca faria uma coisa dessas.
Tratar a setôra por ela ou mostrar-lhe o dedo do meio, é quase igual. Mas muitos não sabem isso, o que complica as coisas ainda mais, e tão complicadas são elas já...
Uma língua marcada por ditaduras, por subserviências, pela superioridade de umas criaturas sobre as outras, indiscutível e indesmentível... honras falsas, ouro falso...
Tenho aprendido muito com a minha nova empregada de limpeza, caboverdiana.
É ótima, inteligente, trabalhadora, tem um cancro, nunca falta ao trabalho, nunca se queixa, eu trato-a por senhora, ela trata-me por tu. Em posts anteriores, referentes à minha última viagem a Cabo Verde, já contei que os autóctones me tratavam por tu...
Esta portuguesa língua!!!
SUS!
Bem, este texto podia ficar melhor, mais irónico, mais trabalhado, mas nos blogues sou imediatista. já está! Beijinhos. Aqui vai o meu contributo (anarquista?! Quem disse anarquista?! Eu?!) para o entendimento do acordo ortográfico e outros desacordos do mesmo género.