Como vivemos todos numa aldeia global e como, em última análise, somos todos irmãos, todas as guerras são fratricidas e cada guerra é uma guerra civil. É a “guerra civil mundial”, no dizer de Simone Veil.
(Foto da Internet)
Todas as terras julgam chamar-se A Terra. Todas as terras são, para quem mora nelas, o Umbigo do Mundo. Sempre que desembarquei em terra, depois de ter navegado pelos mar, senti que a terra era imunda. E enjoei.
Como vivemos todos numa aldeia global e como, em última análise, somos todos irmãos, todas as guerras são fratricidas e cada guerra é uma guerra civil. É a “guerra civil mundial”, no dizer de Simone Veil.
(Foto da Internet)
Refugiados… a quantas coisas terão de renunciar para trazerem um gato, assim? E quantos gatos não terão fugido…
Foto: refugiada da Ucrânia com gato, de reportagem SIC - Skynews
Sugiro a todos os meus amigos que leiam, ou releiam se já leram, o livro 1984.
Nele se descreve uma sociedade imaginária e distópica, situada no futuro, em 1984, em que existe o pensamento único, não pode haver opiniões diferentes, pois isso configura “crime de pensamento”.
Este controle, exercido pelo poder, é conseguido através da televisão (ainda não havia Internet quando George Orwell escreveu), que controla toda a população através da manipulação das emoções: medo, ódio e amor. O ódio exprime-se coletivamente pelo grande inimigo, o amor pelo Grande Irmão (Big Brother). É de lá que vem esse conceito.
Muito interessante
Falando há bocado com uma rapariga da Letónia, que já tem nacionalidade portuguesa, perguntei-lhe se gostava de viver aqui. Sim… gosta de algumas coisas… o clima, as pessoas são simpáticas, eu até já me sinto portuguesa, “mas trabalhar é uma merda”. Portugueses só trabalham bem para empresas estrangeiras. Logo a seguir atende o telefone e exclama, muito alto e muito irritada: - Ele é que poder ser despedida e tu é quem sofrer. Tu é quem fazer o trabalho dela para ele não ser despedida!
Este episódio poderia trazer-me à ideia muitas recordações, mas trouxe apenas uma. Eu trabalhava com uma colega duas ou três horas por semana, mas quando entrava algum aluno (que tinha sido posto na rua por se portar mal) ela apontava para mim e dizia que era eu quem tratava do assunto. Um dia perguntei-lhe, por bem, por que razão empurrava para mim todo o trabalho, para ficar de braços cruzados a olhar para a parede, pois não lia livros, jornais nem vê-los e também não tinha internet, que ainda era rara. Respondeu:
- Porque tu gostas de trabalhar e até te aborreces se não tiveres nada para fazer, ao passo que eu prefiro mil vezes não fazer nada.
Na verdade, eu adoro não fazer nada se não tiver nada para fazer, mas como o trabalho era pouco, fácil e importante, não protestei dessa vez.
Esta mulher protagonizou, como podem calcular, inúmeros casos de balda total, mas, se eu não tivesse mudado de local de trabalho (em parte por isso), no ano seguinte, teria sido avaliada por ela.
Portanto, a rapariga da Letónia, ainda muito ingénua, deveria dizer:
- Tu é que sofrer para ele não ser despedida, tu é que fazer o trabalho dela, mas tu é que vai ser avaliada por ele.
Nunca percebi muito bem uma frase que o povão anda sempre a dizer, já há alguns anos, que deve ter origem num qualquer programa televisivo rasca. (Ainda se pode dizer rasca?) Enfim, a frase é esta:
“Vai lá, vai! Ahahahahah”.
Neste momento, acho que já entendo e que vem muito a propósito. NATO?! UE?! Vocês apreciam muito o Zelensky, então… que tal entrarem nesta guerra oficialmente, com militares e tudo, gente que pode morrer e que pode pôr a opinião pública contra vós?
“Vai lá, vai! Ahahahahah”
Hoje, entre outros casos, como não tenho mais que fazer, encontrei alojamento em Oeiras para uma rapariga ucraniana de 24 anos e o cão, em casa de uma mulher mais ou menos da mesma idade, que vive com a filha de 6 anos, menina que sempre quis ter um cão. A senhora fica preocupada porque acha que deve comprar equipamento para o bicho, mas nada percebe do assunto, porque nunca teve animais de estimação. Descanso-a dizendo que a rapariga tem economias, estava disposta a pagar o alojamento, em vez da cama, mesa e roupa lavada que vai ter até arranjar um emprego, e que pode comprar essas coisas, não se preocupe…
A Vladislava é uma mulher muito positiva, acha que tem muita sorte por estar num parque de campismo da União Europeia, nem diz qual é o país, o que importa é que é da UNiao Europeia. Imaginem o frio que lá deve estar… Pede ajuda para outras pessoas que conheceu no parque (a ajuda nesta fase é sobretudo informação), pede-me que lhes ensine português por Zoom, o que me deixa baralhada, pois não me apetece nada dar aulas outra vez…
Enfim, a rapariga passa a tarde muito satisfeita a fazer vídeos do cão, um buldogue francês pequeno, para mostrar à menina de Oeiras. A mãe da menina anda à procura, entre as mães da escolinha, de um lugar para alojar uma outra rapariga com um filho de quatro anos, essa muito assustada e que quer ficar perto da Vlada, que a pode proteger e que vive isto como uma aventura. Além disso, fala inglês perfeitamente, ao contrário da maioria, que só fala ucraniano.
Continua nos próximos capítulos…
(A Vlada (nome fictício) autorizou-me a partlhar a foto dela e do Kutz, muitissimo expressiva. Reparem nos olhos dos dois.)
Este romance, As Altas Montanhas de Portugal, é do mesmo autor de A Vida de Pi, livro que deu origem ao conhecido filme com o mesmo nome.
Altas Montanhas é o que o autor chama a Trás-os-Montes. A ação começa no tempo dos primeiros automóveis e narra a viagem de um dos personagens, viajando de Lisboa a Trás-os-Montes, despertando na população os mais variados sentimentos emoções e reações, mas sobretudo espanto e irritação.
Muito mais tarde, um luso-americano faz a mesma viagem num Chevrolet 4 Cavalos, acompanhado de um chimpanzé que já foi cobaia e que agora é o seu animal de estimação. O chimpanzé também provoca as mais variadas emoções no povo da terra.
O que têm de comum estas duas histórias? Quase nada… há outra história pelo meio, a de um médico que só faz autópsias, mas todos os protagonistas são viúvos recentes e inconsoláveis.
Como fio de união de tudo isto, há uma teoria mística muito estranha, inventada por um antigo padre missionário, que escreveu um diário. E uma imagem de Cristo feita por esse padre, que se encontra na igreja de uma aldeia perdida nas Altas Montanhas.
O autor desta obra, com laivos de absurdo e muito simbólica, é Yann Martel.
Não percebi muito bem aquilo do terrorista. A besta ocupava-lhe as duas mãos e tinha de parar para procurar as setas 3 segurar na coisa que tinha dentro as setas e escolher uma. Com que mãos iria utilizar as facas? E como ia levar aquilo tudo para um exame sem dar demasiado nas vistas?
- Segura-me nesta botija de gás enquanto eu abro esta coisa da gasolina e pego nas duas facas. Segura na mochila para eu puxar a besta que está muito atafulhada lá dentro e não sai.
- Mas porque é que trouxeste esta tralha toda para o exame de informática? Eu não trouxe nada! O setôr disse que era preciso? Ó Joana, tu também trouxeste uma besta, 4 facas, 3 latas de gasolina e uma botija de gás e … ?
- Não, eu só trouxe uma caneta. Ó Tiago, tu trouxeste para o exame 4 facas e… é mais o quê?
Estou convencida de que o atentado ia falhar redondamente. A menos que o mocinho tivesse tantos braços azuis como a deusa Kali (na imagem).
Enfim, os nossos terroristas não prestam para nada. Sonham explodir tudo, mas não explodem nada... que vergonha!
Imagem: deusa Kali, da religião hindu, imagem da net.
O que vou contar aconteceu várias vezes, durante a minha infância e está gravado na minha memória em pensamentos, sons, cheiros e, finalmente, sabores.
Havia um dia em que eu acordava, de manhã bem cedo, com guinchos estridentes. Guinchos de cortar a respiração, de furar os tímpanos, guinchos de um ser que quer agarrar-se à vida, gritos cada vez mais ténues, cada vez menos estridentes, depois já só um sopro…
Prestando atenção, totalmente acordada apesar da madrugada, eu sentia uma enorme energia por todo o lado, uma grande azáfama nas duas casas (a nossa e a do meu avô, muito próximas), um sentido do dever, sim, mas também uma indisfarçável alegria, uma expectativa de prazer. De todos, mas sobretudo de quem, como eu, não iria fazer nada, iria apenas observar e usufruir.
Era a matança do porco, como vocês já devem ter entendido.
Quando o silêncio, enfim, se instalava, havia um cheiro adocicado de queimado, estavam a queimar com fogo a pelagem do bicho. E logo um cheiro a sangue e a carne crua. O dia era longo e terminava com uma grande jantarada das duas casas, mas ainda não era a refeição principal, que teria convidados. Neste dia ainda eram só as “papas de sarrabulho”, acompanhadas com o sangue solidificado e cozido, a que o meu avô acrescentava açúcar, o único que o fazia. As papas eram verdes, enverdecidas por algum legume, não me perguntem pormenores, só recordo as sensações. Creio que também havia rojões de redenho, uma coisa esquisita. E no dia seguinte, então sim, a rojoada, uma festa dos sentidos e da comunicação familiar, em que o matador, com as suas enormes facas, era o herói.
Até aquele primeiro momento, o porco tinha sido criado quase como animal de estimação, embora nos fossem contadas histórias exemplares de bebés que foram comidos pelos porcos, era preciso ter cuidado… era amigo, mas também inimigo, não como se fosse gente…
Era assim.
Era assim, quando o homem ia buscar o seu alimento à natureza, às coisas e aos bichos. Mas não passava pela cabeça de ninguém dar um nome ao porco.
E muito menos lhe dariam um nome de gente.
Graciete Nobre
Deambulando por Lisboa e descobrindo belezas desconhecidas ou esquecidas, todas "à mão de semear".
Na primeira etapa, perguntam-me se as fotos são montagens, mas é mesmo um hotel novo bem no centro da cidade, na Praça do Saldanha. Passa despercebido, pessoas que por lá andam ficam surpreendidas com estas fotos, porque passamos pela cidade sem reparar em nada. Como se vê na segunda foto, é o hotel Evolution, muito moderno e confortável.
O segundo lugar é a estação do metro do Campo Pequeno, com muitas esculturas femininas, do escultor Francisco Simões, que quase se confundem com as mulheres reais, como também se vê na foto.
Meditação do grande mestre budista Thich Nhat Hanh no dia do seu passamento.
Hoje é o dia da minha Santa favorita, Santa Bárbara de Nicomédia. A par de São Francisco de Assis, nas minhas preferências. Tendo sido considerada um dos 12 santos principais da igreja católica, foi retirada do calendário no Concílio Vaticano II por não existirem provas da sua existência histórica. Mesmo assim, continua a ser importante no imaginário cristão, já que esta aqui fotografada foi comprada ontem e está adaptada às novas versões. Era grega, mas nas Ilhas Canárias garantem que era de lá, como seria, talvez, de toda a parte…
Padroeira dos mineiros e de todos os que trabalham com fogos e raios, como os militares artilheiros, é também invocada contra tempestades e trovoadas e ainda contra o medo. Traduzida nas mais variadas obras de arte, os seus atributos são a torre com três janelas, a palma do martírio e, eventualmente a eucaristia, em vez da torre.
Gosto particularmente desta oração:
“Ó Santa Bárbara, que sois mais forte que as torres das fortalezas e a violência dos furacões, fazei que os raios não me atinjam, os trovões não me assustem e o troar dos canhões não me abalem a coragem e a bravura.
Ficai sempre ao meu lado para que eu possa enfrentar, de fronte erguida e rosto sereno, todas as tempestades e batalhas da minha vida para que, vencedor de todas as lutas, com a consciência do dever cumprido, possa agradecer à Deus, criador do céu, da terra e da natureza, e que tem poder de dominar o furor das tempestades e abrandar a crueldade das guerras.”
Ambas resultam da transformação que o mar fez a resíduos de vidro e cerâmica que as fábricas lançaram nas imediações.
Nem tudo se perde, afinal.
Estas praias são designadas em ingles por Glass Beach e há mais aqui. Há muitas.
Clicar neste link
O tempo quente nesta época, que os metereologistas, muito prosaicamente, atribuem a correntes quentes e anticiclones, chama-se verão de São Martinho e é ele mesmo um milagre que muitos de nós apreciamos, aqui em Portugal.
Um milagre que gostamops de acompanhar com castanhas assadas, muito vinho e jeropiga, ou água pé... a caridade não parece ser uma tradição destes dias prolongdos, pois são vários os dias de temperatura amena.
Seguem aqui vários proverbioos relativo a a estes dias, enfatizando o facto de ser nestes dias que se abrem as pipas de vinho e que se abatocam: as rolhas (batoques) ficaram desde outubro ou setembro apenas encistados apra deixarem entrar o ar. Agora abatocam-se. Enfatizando a tradição de matar o porco por esta altura (agora, com ads arcas frigoríficas, mata-se emq aulquer altura, mas antigamente esperava-se que o frio do inverno, junatente com o sal das salgadeiras conservasse a carne. Sem mencionara s castanhas novas, que ficam boas nesta época.
· A cada bacorinho vem o seu S. Martinho.
· Em dia de S. Martinho atesta e abatoca o teu vinho.
· Martinho bebe o vinho, deixa a água para o moinho.
· No dia de S. Martinho, fura o teu pipinho.
· No dia de S. Martinho, lume, castanhas e vinho.
· No dia de S. Martinho, mata o porquinho, abre o pipinho, põe-te mal com o teu vizinho. (sic.)
· No dia de S. Martinho, mata o teu porco, chega-te ao lume, assa castanhas e prova o teu vinho.
· Pelo S. Martinho abatoca o pipinho.
· Pelo S. Martinho mata o teu porquinho e semeia o teu cebolinho.
· Se queres pasmar o teu vizinho, lavra, sacha e esterca pelo S. Martinho.
· Veräo de S. Martinho säo três dias e mais um bocadinho.
Imagens
A primeira imagem: Pintura original de Giovanni Canova.
Nas duas partes da exposição, vemos homenagens à arte antiga, ocidental e oriental, pois existem objetos inspirados na porcelana chinesa, nos desenhos em cerâmica grega, etc…
Talvez seja um êxtase do lado da fantasia é um rapto, da parte da realidade.
Comecemos pela realidade.
As obras que a representam, muitas vezes eivadass de fantasia, outras vezes mostrando a realidade no seu aspeto mais brutal, o chamado realismo, talvez mesmo hiperrealismo, vão desde vídeos, obras enormes, instalações até peças de ourivesaria, com aneis e pulseiras, havendo mesmo, em vídeo, a imagem de milhpes de sementes de girassol feitas em porcelana, por muitos artesãos. sim, muitas das peças não são feitas por Ai Weiwei, que apenas as concebe, encomendando depois a sua execução.
Esta parte da exposição é dominado por uma obra monumental representando so refugiados, tema constante da exposição, dentro de um bote de borracha e por uma série de enormes caixas, como contentores. O material em que é feito o bote e as imagens dos refugiados é o mesmo material de que são feitos esses botes.
Quanto às caixas, elas contam a história de 81 dias em que o artista esteve preso, com dois guardas constantemente a olharem para ele, mesmo qando estava a dormir, a comer, ou mesmo a usar a imunda casa de banho da cela.
Espreitamos por uma pequena janela e vemos isso mesmo: uma imagem muito realista de Ai Weiwei e de dosi guardas de pé, a olharem para ele. Subindo a um pequeno estrado, espreitamos por uma outra abertura e vemos a casa de banho, com grandes pormenores de sujidade e de ferrugem, tudo um pouco mais pequeno do quea realidade, só um pouco.
Vemos um campo de refugiados em vídeo, salientando as condições de insalubridade e logoa seguir belíssimas porcelanas chinesas inspiradas nas antigas, em vasos sobrepostos que apresentam temas pintados de refugiados. O mesmo tema ocupa toda uma parede de desenhos na parte da realidade, a preto e branco e outra enorme parede na parte da fantasia, em tons de azul. E ainda um anel de ouro, ou revestido a ouro.
Poderá alguém não gostar por razões ideológicas, mas, a não ser isso, a exposição é uma muito agradável e muito grande, enorme, surpresa, tanto em dimensão como em originalidade..
Divide-se em duas partes: para o lado direito a fantasia, que contém muito de realidade, para o lado esquerdo a realidade, que às vezes é simplista é bruta, outras vezes contém muito de fantasia.
O tema geral é os refugiados. Não é o único, é o principal.
Vou dividir este tema em três posts do blogue. Introdução, que é este, Realidade e fantasia.
Comecemos pelo pior: A realidade, no próximo, depois, num terceiro, a fantasia.
Encontrei este livro, que contém três contos de Émile Zola. São todos muito impressionantes, muito verosímeis e muito realistas, mas um deles, “A Inundação”, é uma verdadeira obra-prima.
O narrador é um lavrador e proprietário de terras francês abastado, que nós narra a sua situação.
Naquele dia, além da sopa do jantar, decidiu comemorar comum vinho licoroso as muitas coisas que havia a comemorar: as colheitas iam ser fantásticas, o que iria permitir à família adquirir as terras dos vizinhos, até tinha nascido 7ma vitela naquele dia e o noivo da filha mais nova tinha aparecido para marcar o casamento.
De repente, o rio Mose, numa enchente, invadiu a aldeia em que se situava a casa.
Primeiro, desapareceram todas as colheitas, seguidas d3 todos os animais domésticos: vacas, carneiros e ovelhas, cavalos.
Logo depois desapareceram duas criadas, afogadas, claro. Os homens da casa nada disseram as mulheres.
Depois foi um dos filhos, que, após um gesto heróico para salvar a família, se afogou, logo seguido da esposa e dos dois bebés que esta erguia nos braços, para,lhes dar mais alguns segundos de vida.
E depois é depois, afogaram-se todos, dois deles, foi por suicídio que se entregaram às águas.
Finalmente, só sobreviveu o velho…
Esta estória, por muito ou por demasiado dramática que possa parecer, a verdade é que poderia ter acontecido e aconteceram casos idênticos, em desastres naturais.
Que fazer? A quem apelar?
Aqui vai o link para o livro on-line grátis, em francês no original.
https://www.gutenberg.org/ebooks/7011