quinta-feira, julho 22, 2010

Betânia na Casa Fernando Pessoa




Fui ontem ver e ouvir a Maria Betânia a ler poesia na Casa Fernado Pessoa, aqui ao pé.
Parêntesis para afirmar o seguinte: a Inês Pedrosa tem feito coisas extraordinárias pela Casa Fernado Pessoa, que estava às moscas antes de ser ela a directora e mesmo quando era a Clara Ferreira Alves. Não há comparação possível. É o que se pode chamar uma gestão criativa.
Por exemplo: inventou uma medalha de mérito para distinguir gente que fez muito pela poesia de Pessoa ou pela poesia em geral e chamou-lhe "Medalha do Desassossego", por causa do Livro do Desassossego de Fernando Pessoa - Bernardo Soares. Ofereceu-a no Brasil a Maria Betânia, que ficou tão orgulhosa com a distinção, ao ponto de a trazer ontem ao peito, de a mostrar e de se oferecer para fazer este magnífico espectáculo. Grátis. Para quem está habituado a pagar bem caros os espectáculos desta diva...
Betânia mostrou-se diferente, mais familiar, mais natural e até modesta. É claro que as condições acústicas e outras não eram as ideais, mas a voz é a mesma que era há 10 ou 20 anos, o que é surpreendente. E a inspiração também é a mesma.
Gostei particularmente da ideia que teve de homenagear um seu professor de português do liceu, liceu esse situado naquilo a que chamou "o recôncavo da Baía", afirmando que o ensino público (no Brasil) pode ser óptimo. Disse o nome do professor, declamou um poema dele e informou que o irmão, Caetano Veloso, também seu ex-aluno, musicou alguns dos seus poemas e que ambos lhe estão agradecidos por lhes ter desvendado a poesia.
Foi bom ouvir isto, todos sabemos que alguns professores podem ser estruturantes da nossa personalidade e inspiradores da nossa sensibilidade, mas poucos o afirmam assim alegremente, a esta distância temporal.

O problema foi mesmo encontrar lugar. Algumas pessoas foram para a fila às 11 horas, o espectáculo era às 17:30 e começou às 18. Pessoas que chegaram às 15 horas não entraram, mas houve quem chegasse às 17:15 e entrasse. Por mim, confiei na inventiva da Inês Pedrosa, que já me surpreendeu várias vezes. Cheguei às 16:45 e esperei. Parecia impossível entrar, mas, vejamos: houve muitas pessoas que desistiram; a certa altura, abriu-se a sala de baixo, onde foi colocado um plasma gigante e muitas cadeiras; mais tarde, abriu-se a porta para o jardim, onde foram colocadas colunas de som - como estas pessoas não viam nada, só ouviam, tiveram direito a bebidas grátis.

Enfim, quem não tem cão caça com gato. Nunca tive nenhuma admiração especial pela Inês Pedrosa, mas neste aspecto não tem igual: revela uma grande modéstia, também, uma simplicidade, uma criatividade e um engenho, que a colocam a milénios-luz das eminências-pardas a que estamos habituados, sem ideias, sem capacidade de agir, mas cheios de farroncas.

Esperemos os desenvolvimentos... o que há-de vir...

quarta-feira, julho 21, 2010

Ainda a propósito da Índia


Pouco sabemos e pouco queremos saber sobre o que se passa num país como a Índia, que no entanto tem evoluído de forma estrondosa nos últimos tempos, em muitos aspectos, talvez todos.
Politicamente, para além dos conflitos com o Paquistão, que nos despertam interesse por causa da bomba nuclear que ambos têm, há uma espécie de guerrilha maoísta nos estados mais pobres.
Esta guerrilha, que tem feito muitos atentados, nomeadamente a comboios, pretende a independência desses estados e a instauração, neles, do regime comunista-maoísta. Como ainda existe o sistema de castas e os intocáveis, pessoas que nem sequer podem tocar nas outras por serem consideradas impuras, trata-se de uma estranha democracia.
Vê-se na imagem, em Bihar, uma mulher do congresso a atirar vasos de flores, como forma de protesto contra a corrupção do governo. No site, há também um vídeo, e antes disso, a oposição havia atirado microfones, cadeiras e secretárias. E chinelos.
Bem ou mal, a Índia mexe... muito!

terça-feira, julho 20, 2010

A Índia e o Opiário

Apesar de estar neste momento com muito trabalho, vou entrar de férias de hoje a uma semana e, como todos os anos, ando a tentar decidir, com dificuldade, aonde ir.
Tinha a intenção de visitar a Índia, mas todos me aconselham a não ir agora. De facto, é uma viagem difícil em termos físicos e psicológicos, que me seduz muito, em parte pelo lado espiritual, em parte pelo exotismo, que, no entanto, os escritores indianos exprimem ser obra do passado, estar ela a tornar-se incaracterística. Mas não é por isso que ainda não vou. Diversos factores me fizeram, ao contrário do costume, aceitar o conselho.

Fico a pensar: aonde ir? Se mesmo a Índia já não é a Índia e se calhar nunca deveria ter sido, em certos eventos... ou mesmo, se nunca foi...

Fui buscar o poema "Opiário" de Fernado Pessoa - Álvaro de Campos, que diz, com um século de antecedência, mais ou menos o que sinto hoje. Como não sou nada pessimista, ao contrário de Campos, embora seja niilista como ele, pelo menos na opinião da Clara, como aprendi a não ser depressiva e neurasténica, vou colocar aqui apenas as partes do poema com que me identifico ainda e quase totalmente. Censurem-me, se quiserem, por ter censurado o tio Álvaro. Às vezes colocam-me neste blogue críticas medonhas que não apago.
Quanto à viagem, talvez vá para o mar, como sempre. É a última fronteira, o único lugar diferente e desconhecido. Sem gente. Ou com gente vivendo à distância de um fio. Como diz Platão: " Há três tipos de homens: os vivos, os mortos e os que andam no mar".

Opiário (Excertos)

Eu acho que não vale a pena ter
Ido ao Oriente e visto a Índia e a China.
A terra é semelhante e pequenina
E há só uma maneira de viver.
.......................................
Fumo. Canso. Ah uma terra aonde, enfim,
Muito a leste não fosse o oeste já!
Pra que fui visitar a Índia que há
Se não há Índia senão a alma em mim?
...........................................
Não posso estar em parte alguma.
A minha Pátria é onde não estou.
..............................................
Pertenço a um género de portugueses
Que depois de estar a Índia descoberta
Ficaram sem trabalho. A morte é certa.
Tenho pensado nisto muitas vezes.
Leve o diabo a vida e a gente tê-la!
Nem leio o livro à minha cabeceira.
Enoja-me o Oriente. É uma esteira
Que a gente enrola e deixa de ser bela.

domingo, julho 18, 2010

A Turquia é o Peru dos ingleses. E americanos. Etc....

Há dois países chamados Peru. Para nós e para todo o mundo de expressão portuguesa, o país chamado Peru é o Peru.
Para os ingleses, americanos e demais gente de expressão inglesa, o país chamado Peru é a Turquia. Turkey, que quer dizer Turquia, pronuncia-se e escreve-se da mesma maneira que Turkey, ou seja, peru. Para eles, o país chamado Peru não lhes faz lembrar nenhum peru. Só a Turquia é que lhes faz lembrar um peru.
A Turquia é o Peru dos ingleses. E amaricanos. Etc....

Depois não digam assim:
- Ah! Nunca tinha pensado nisso!
Ou então não digam assim:
- A Nadinha é maluca. Imaginem, confundir a Turquia, que fica na Ásia Menor ou Médio Oriente, com o Peru, que fica na América do Sul...
Ou até mesmo na capoeira...
Ah! Sabiam que os perus não são capazes de sair de dentro de um círculo de giz desenhado no chão? E muita outras criaturas também não.
Não são só as pessoas do Peru nem são só as da Turquia que não são capazes de sair de dentro de um círculo de giz desenhado no chão. De forma visível. Ou mesmo invisível.
Mas algumas conseguem.


A incompetência, ou a cauda das vacas que emagrecem

Um dos piores defeitos da sociedade portuguesa é a incompetência, intimamente relacionada com a corrupção, por um lado e com a preguiça pelo outro, esta última sendo também efeito do laxismo do sistema educativo. Já dizia o meu avô, há muito tempo:
- Esta canalha de agora passa anos e anos sentada numa cadeira sem fazer nada e depois quando é grande já não quer trabalhar!
A falta de exigência e de perfeccionismo também contribuem, e isto percebe-se melhor quando se conhecem países do chamado "terceiro mundo", pois são defeitos terceiromundistas de que enfermamos ainda, apesar de "estarmos na Europa". Orgulhosamente, sempre na cauda do bicho. Da vaca que está a emagrecer.

Vem esta reflexão a propósito de duas situações que me ocorreram recentemente e que me irritaram, caso contrário tê-las-ia esquecido. Ou escrevia no outro blogue, este é o das reclamações.

Fui hoje tirar fotografias para um visto de entrada num país. A rapariga, depois de fazer a primeira, mostrou-ma, disse que estava muito bem e perguntou se eu achava necessário tirar outra, ou se aquela servia. Pedi-lhe que esperasse enquanto punha os óculos, mas mesmo antes de os pôr vi que a foto era de tal modo horrorosa que não valia a pena dizer-lhe que tirasse outra. Se ela fosse capaz de fazer melhor, ter-se-ia envergonhado de ter feito aquilo e não perguntaria se estava bem. Disse que não valia a pena e nem reclamei, limitei-me a rasgar à vista dela a ampliação a que tinha direito e não sabia. Espero que tenha entendido, mas duvido.
Também escapei de que me dissesse que eu sou assim, o argumento primeiro e último de quem não percebe nada de fotografia e portanto não entende que está a insultar os outros. Ninguém é assim. Nós somos seres em movimento, vistos constantemente de baixo, de cima, de baixo e de lado, com expressão... nunca estáticos.
O que é mais estranho é constatarmos que, devido à recente evolução e democratização das máquinas fotográficas, há hoje bons fotógrafos no desemprego e sem esperança de virem a encontrar trabalho nessa área, o que foi ainda agravado pelas recentes medidas do Governo, ao não serem exigidas fotografias para os documentos, nem mesmo para o BI.

A outra situação deste género foi a seguinte: dirigi-me à agência onde costumo comprar a maior parte das viagens e fui atendida duas vezes (sempre) por uma criatura que me perguntou o que queria. Depois de lhe ter explicado, pediu-me a minha direcção de email, apertou-me a mão e disse:
- Estamos conversadas. Mando-lhe um email com a informação pretendida.
Vocês enviaram-me um email com a informação pretendida? Fazendo a pergunta à brasileira, da forma retórica, cómica e impotente, de quem está habituado a estas situações e resignado com elas:
- Jacaré enviou o email? - Ou melhor:
- Jacaré recebeu o email?
Resposta:
- Eu também não. Nenhum dos dois que a criatura prometeu endereçar-me. E os jovens que nos anos anteriores tão bem me entenderam e tão bem me deram o que eu queria ou julgava querer? Provavelmente estão no desemprego.

É por isso que a recentemente introduzida avaliação do desempenho deu tanta contestação. Porque a avaliação que temos funciona assim: quem não sabe fazer nada, nem gosta, é avaliado positivamente, talvez porque o avaliador também não sabe fazer nada e não quer ser ultrapassado... ou sei lá porquê, acho que ninguém entende...

A diferença em termos de procura também se nota. Quando ia à Agência de Viagens, encontrava muitas pessoas aguardando tranquilamente a vez, agora não vejo vivalma.

E queixam-se da crise. A crise permite-nos seleccionar melhor a maneira como gastamos o nosso dinheiro. Aprendemos a não o deitar fora. Talvez os portugueses melhorem com a crise.

Estes dois episódios são apenas dois exemplos entre muitos, mas o inverso também é verdadeiro: quando, recentemente, me dirigi a um centro de análises clínicas novo, fui surpreendida, não só pela competência e profissionalismo das raparigas, mas até mesmo pela sua elegância e beleza. É talvez um caso à parte, pois muitos profissionais de saúde, que antigamente tinham a quarta classe, possuem agora um diploma universitário exigentíssimo, com notas de entrada fabulosas. Verdadeiro perfeccionismo em tudo.
(É talvez por coincidência que todas as pessoas aqui referidas são mulheres jovens).

quarta-feira, julho 14, 2010

Visitantes dos blogues, em viagem

Como habitualmente no Verão e noutras épocas do ano, começam a aparecer nos meus blogues visitas de todo o mundo, que não derivam de pesquisa, mas sim de acesso directo.
São os meus "amigos e amigas" que andam em viagem pelo planeta: constatei para já: Espanha e Rússia. Os portáteis ajudam, por manterem os favoritos, mas há outras hipóteses como usarem o "Bloglines", ou instalarem-se como seguidores...

Boa viagem e obrigada por se lembrarem da Nadinha, que se calhar nem conhecem pessoalmente...
Já agora, adivinhem aonde vou este ano. Surpresa. Tabu. Vocês depois vêem. Eu conto aqui.

Depois conto aonde fui. Se tiver fotos, ponho-as nos dois blogues. E devo ter. Se regressar viva do sítio aonde vou. Antes disso, vou cirandar por aí.

Oh, como é tranquilizante, amável e serena a doce rotina do Inverno! Só corremos o risco de morrer de enfarte. Ou de tédio.

Uma planta, um gato, uma lareira... papel... uma caneta... Quando eu for velhinha talvez tenha isto tudo. Se voltar viva do sítio para onde vou. (LOL)

terça-feira, julho 13, 2010

Pearl Buck: A Grande Vaga



Ando a ler, entre outros, um livro que encontrei por um euro na livraria Ler Devagar, onde agora vou quase todos os dias: também tem um barzinho e mesas para ler. Está traduzido em francês, mas é o livro de memórias da Pearl Book intitulado A Bridge to Pass.
Como se trata de uma das minhas escritoras favoritas e dado que tenho agora tempo, venho de vez em quando à net à procura das coisas que refere, como um filme baseado numa sua novela que narra um Tsunami no Japão, " The big wave", ou o compositor que escolheu para a banda sonora, Toshirô Mayuzumi, etc.
É fantástico ler assim. Encontrei no youtube algumas cenas do filme, do qual a Pearl conta a rodagem... e que coloquei aqui , para vocês. Tão actual!
Um dia haverá livros assim, que incluem o filme, vídeos do autor, etc. Não me refiro ao futuro, é algo possível agora...

(Algumas pessoas que me conhecem na "vida real" consideram-me ingénua, idealista, poética, lírica, ou seja, parva, em parte por crer no futuro. Eu a elas só as considero estúpidas e ignorantes. Recentemente apaguei uma "amizade" no Facebook por ter feito um comentário desse tipo. LOL.).
Bendita net, que nos permite entrar em contacto com gente que nos entende!

Mas o que mais me surpreendeu foi a biografia de Pearl Buck, que desconhecia por completo: tendo tido uma primeira filha atrasada, é o nome que utiliza, dedicou parte da sua vida e da vida de toda a família a apoiar as pessoas "atrasadas" e suas famílias, assim como a procurar famílias americanas dispostas a adoptar crianças mestiças, por exemplo de chinês ou japonês e americano. Na época, essas pessoas eram rejeitadas, sendo símbolo dessa rejeição a ópera de Puccini Madame Butterfly.
Uma das famílias a adoptá-los foi a sua própria, tendo tomado conta de várias crianças.
Li mil vezes o livro The Good Earth traduzido como Terra Bendita ou Boa Terra.

P.S.:
Embora pareça baratíssimo este livro, que só custou um Euro e é óptimo e raro, andei à procura de livros desta escritora, que não tivesse lido, em Amazon. com e descobri vários a um cêntimode Dólar. Um cêntimo de Dólar é menos que um cêntimo de Euro. Mas nós somos ricos, podemos comprar livros caros.
Não acham?

segunda-feira, julho 12, 2010

Tolerância e amor

Vem esta reflexão a propósito, não só do post anterior, mas de algo que vi recentemente na CNN.
Era uma pequena reportagem sobre crimes de "honra". Mais precisamente, mostrava o caso passado recentemente na Índia, em que um jovem casal de apaixonados tinha sido enforcado, dentro de casa, pelos pais da rapariga. Algemados os dois e de mãos dadas, o homem perguntava, de forma patética, que outra coisa poderia ter feito para defender a sua honra...
Como estão diferentes os tempos na nossa sociedade, que também já foi assim: os pais não ousam contrariar os filhos em nada, são muitas vezes dominados por eles... e é com espanto que vemos uma cena como esta, parecendo-nos incrível, ou mesmo impossível.
Quando às vezes fazemos duras críticas à nossa sociedade, esquecemo-nos de como ela evoluiu e podia não ter evoluído, no sentido da tolerância, dos direitos humanos e do amor. Amor que impede a violência, pelo menos física... dar uma estalada já parece mal.
É a ideia de posse que está na base da destruição do outro, dentro da família. Posso destruir algo que me pertence e já não me "serve" (em todos os sentidos desta palavra), se a mentalidade comum me der esse direito.

sábado, julho 10, 2010

Use a sua liberdade para promover a nossa

Não se assustem com a imagem. Trata-se, apenas, da foto duma manifestação em Bruxelas contra a pena de morte por apedrejamento, que ainda se realiza no Irão e provavelmente noutras partes do mundo.
A organização Avaaz.org conseguiu salvar deste suplício a última condenada, que vai "apenas" ser enforcada.
Podemos assinar uma petição, que está a ser assinada em todo o mundo de forma visível no site, enviar donativos e participar noutras campanhas com o objectivo que se segue:

"A Avaaz tem uma missão simples e democrática: fechar o fosso entre o mundo que nós temos e o mundo que a maioria das pessoas em toda a parte quer ter." ("Avaaz has a simple, democratic mission: close the gap between the world we have and the world most people everywhere want.")


Como diz Aung San Suu Kyi, "usem a vossa liberdade para promover a nossa" (‎"Use your liberty to promote ours")


P.S.: Quando ontem fiz este post, havia cerca de 40 000 petições, hoje, pelas duas da tarde, já há 136 000. Eles pedem 150 000, mas se houver mais...
Podemos fazer muito através da net. É a opinião pública, como neste caso, é o nosso estatuto de consumidores, usado em favor dos outros, como no "Thehungersite", que usa a publicidade para ajudar e que tem um link neste blogue...

sexta-feira, julho 09, 2010

The Venus Project



Acabo de descobrir, através dum amigo virtual e leitor deste blogue, o projecto "The Venus Project". É um dos muitos projecto alternativos, que propõem tudo de novo na sociedade, mas neste caso com a construção de estruturas adequadas e até de materiais novos. O seu criador, Jacques Fresco, considera que a corrupção, a miséria e quase todo o mal derivam da sociedade do lucro e que tudo isso pode ser eliminado criando outro sistema. O título do projecto deriva do local, Venus- Flórida, onde está instalado o seu centro de investigação.
Imagino que tenha muitos detractores, mas ainda não cheguei aí. No fim do vídeo coloquei outros relacionados, que vocês podem ver clicando por cima deles.
Vejam!

quinta-feira, julho 08, 2010

"Há já muito tempo que eu ultrapassei o estado conservador e prudente da juventude"
Pearl Buck in A Bridge for Passing (minha tradução)

domingo, julho 04, 2010

"Tão Longe do Mundo"

Acabo de ler, com entusiasmo e alegria, o relato de um naufrágio no Pacífico, o livro "Tão Longe do Mundo". Quase não consegui parar de ler, o que é estranho, dada a aparente monotonia do tema: um homem à deriva no Pacífico durante quatro meses, 180 dias. Mesmo contando com a minha paixão pelo mar (que não pela praia, de que não gosto) e pelas navegações, o mérito da narrativa deve-se, em grande parte, ao jornalista que ouviu este pescador e que escreveu o livro, como se fosse ele o autor e o protagonista.
Estes pescadores do Thaiti eram considerados os "Senhores do Mar" e estão agora em extinção absoluta pela globalização que, neste caso, se deve sobretudo às experiências nucleares em Samoa, a pior de todas as globalizações. Onde esperávamos encontrar o Paraíso, surge-nos o pesadelo, num lugar escolhido de propósito por ser remoto e longínquo.
Devido a uma avaria no motor, Tavae vê-se arrastado pela corrente marítima para longe da ilha onde vive e onde tem filhos e netos, tendo sobrevivido miraculosamente por efeito de dois ou três factores: a sua extraordinária experiência do mar e a invulgar perícia de navegação, que lhe permitem enfrentar uma tremenda tempestade, durante a qual partiu as costelas, (mas não o pequeníssimo e desprovido barco, ficando também com as pernas paralisadas), alguma sorte, se assim lhe podemos chamar, por ter chovido torrencialmente quando estava a morrer de sede, (não de fome que conseguiu sempre pescar), mas sobretudo à sua incrível e indestrutível fé em Deus. Este é um dos aspectos mais interessantes do livro, pois o protagonista interpreta todos os acontecimentos invulgares que presencia, como o aparecimento dos pássaros, das orcas, da tempestade, pensando que se trata de sinais que Deus lhe quer transmitir.
Tal como pensam outros invejáveis crentes, talvez de entre os mais simples, dir-se-ia que Deus nem tem mais em que pensar senão no modo de pôr à prova este seu fervoroso seguidor, num diálogo íntimo que "mantêm". As narrativas míticas, politeistas, são um lenitivo para os momentos em que nada acontece e isto deve-se ao jornalista co-autor. Aqui, Tavae recorda a origem da ilha e outros pormenores, em que os deuses são as personagens principais. Mas talvez seja desta religião primitiva que o protagonista retira a intimidade com Deus, mais improvável na austeridade do catolicismo... em que fomos criados... Tal é a crença nos desígnios divinos, que Tavae decide ir viver para a ilha onde acabou por aportar, vivo devido à sua perícia, a mil quilómetros da sua terra, mas só depois de casar a filha que faz anos no dia da sua "aterragem". Também porque os habitantes da ilha, que tão bem o acolheram, incluindo a "família real", achariam estranho se ele se fosse embora para sempre... até porque reencarna um dos seus mitos/deuses.

Fez-me lembrar um livro que foi marcante na minha primeira juventude:
"Náufrago Voluntário", com a vantagem de tudo ser natural e espontâneo neste livro que agora acabo de ler, reservando a intenção de reler com frequência algumas passagens.

O mar, a última fronteira, pode colocar-nos em contacto com o mundo, com a nossa essência e com o milagre quotidiano da existência.
(Pormenor curioso, o livro custa 2,50 Euros, Editora Bizâncio.)
Comprado no novo e muito interessante "Espaço Docas", nas Docas de Alcântara.

sexta-feira, julho 02, 2010

LX Factory







É claro que já tinha ouvido falar da LX Factory, tinha lido listas de eventos lá realizados, mas não estava preparada para que fosse assim e muito menos para que este "mundão" ficasse num dos sítios onde passo todos os dias. E onde agora me apetece ir todos os dias.

Situa-se num antigo complexo industrial (fábricas de têxteis) e o espaço foi aproveitado, sem grandes alterações, para um polo que agrupa as mais diversas coisas: empresas de arquitectura, o Forum Dança, bares, restaurantes, a Livraria Ler Devagar, etc. É também um novo centro da "night". Curiosamente, mantém um ar decrépito, que lhe fica bem. Deve ter sido uma imitação do que aconteceu à antiga zona industrial de Nova Iorque.

A arquitectura industrial não é muito bonita, pelo menos numa primeira impressão e tende a ser menosprezada. Mas Lisboa já tem bons exemplos de conservação, como o Museu da Electricidade.
Sem esquecer os antigos armazéns das docas, hoje convertidos em elegantes bares e discotecas.

N.B.: Todos os prédios que se vêem na primeira foto estão ocupados, com interiores muito modernos. Segunda e terceira fotos: Livraria Ler Devagar, mantendo o espaço original e algumas máquinas. Podem comprar lá os meus livros.


N.B.: Por alguma razão que desconheço, têm tentado colocar aqui publicidade, sempre neste post. Por esse motivo, bloqueei os comentários. Podem fazê-los nos outros posts do blogue. ( Pormenor só escrito em 23/2/ 2014)

quinta-feira, julho 01, 2010

Outra vez o Oceano




Vídeo da música de Keiko Matsui: Deep Blue.
É muito bonito, ver em écran completo.

terça-feira, junho 29, 2010

Para o Miguel: O Primeiro Navio a Vapor



"Está avançando sem remos nem velas!" - exclama o pirata, abismado.
Ainda o filme "Cantando por detrás das cortinas", baseado na vida de uma pirata chinesa. Ver penúltimo post deste blogue.

domingo, junho 27, 2010

Summertime




Como é Verão, aqui vai uma música de Verão.
Summertime: Ella Fitgerald e Louis Armstrong

quinta-feira, junho 24, 2010

De como inventar uma tradição nova em folha. Em todo o mundo

Basta alguém lembrar-se de algo que dê dinheiro, arranjar um patrocinador multinacional... e cá temos uma tradição.
Exemplos: o São Valentim (em vez do Santo António que era o padroeiro dos namorados, mas não dava grana ao comércio)
As maravilhosas Vuvuzelas, tipicamente... o quê? Nacionais? Europeias? O Quê?

Definição do Google:

"A vuvuzela tem sido alvo de controvérsia devido ao instrumento causar danos auditivos graves e permanentes, e por ser um disseminador de doenças (a gripe em particular, mas podendo ser qualquer germe) substancialmente mais perigoso do que tossir ou falar. É também perigosa para animais, visto que estes possuem geralmente uma audição mais sensivel, podendo criar situações de pânico e terror além de danos mais sérios em comparação com humanos."

Já por muito menos se proibiram coisas...

quarta-feira, junho 23, 2010

Cantando dietro i paraventi


CANTANDO DIETRO I PARAVENTI

Um filme de Ermanno Olmi, de 2003, passado na China Imperial, é inspirado na história verdadeira da (mulher) pirata chinesa Ching. O realizador tem também "A árvore dos tamancos", muito bonito, mas mais antigo e neo-realista.
Este é de uma beleza surpreendente.
É um dos meus filmes favoritos, como tenho no perfil. Vejam que imagens tão belas!

Em português: "Cantando por detrás das cortinas" (que seria o destino desta mulher, como o de todas, se não se tivesse tornado pirata). Por amor e por ódio. Que é, às vezes, uma das formas de que se reveste o amor...

Ver em "écran" completo.

domingo, junho 20, 2010

O pato mudo do jardim

Antigamente, havia patos no jardim da Parada, em campo de Ourique.
Fizeram obras e desapareceram os patos, as galinhas, os garnizés e outra bicharada, tudo do reino das aves.

Até que, de repente, apareceu no lago vazio um pato velho. Sozinho e preto. Um pato mudo.
Foi logo adoptado por todos os frequentadores deste jardim, que nem parece ser de Lisboa, pois tem uma movimentação que já não se vê em lado nenhum, e muitos são os que lhe levam legumes cortados como se fosse para fazer caldo verde, talvez porque não têm milho. O pato é simpático, vem comer à mão, abana a cauda e interage com as pessoas, quase parece um cão. Só não canta, porque é mudo, mas sopra... e ninguém lhe pede mais, só lhe agradecem por ser ele o único ser vivo constante e permanente ali, onde há muitos pássaros, mas são todos demasiado voláteis.
Este pato deve ter uma história... Talvez...

Uma minha amiga contou-me que, um dia, lhe deram uma pata para fazer um arroz de pato. No momento em que me narrou esta história, já a pata tinha dez anos (talvez menos, não me lembro bem) e coxeava de uma pata, pois ninguém teve coragem para a matar. Acabou por morrer de velha e por deixar muitas saudades. O que significa que não tinha vocação nenhuma para arroz de pato.

Imagino então isto: deram a uma senhora de idade um pato mudo para fazer um arroz de patos mudos. O pato foi ficando, foi ficando, habituou-se a comer na mão, a abanar a cauda, que giro, que lindo patinho...
Até que a senhora morreu. Que fazem os herdeiros?
- Que fazemos ao pato?
- Que fazemos ao Euclides? (Devia ter nome, claro).
- Arroz de pato - afirma o primo mais materialista.
- Coitadinho do Euclides! Arroz de pato? - protesta, indignada, a prima vegetariana.
- Que horror! Tadinho! - Exclama a sua irmã, uma carnívora muito humana, que adora animais, mas que vive num pequeno apartamento com três cães, cinco gatos e uma tartaruga. - Eu é que não posso ficar com ele, que os meus cães matavam-no - o Sócras é um bicho muito agressivo e que não para quieto um minuto. A Cavaca é enorme e tem a mania de saltar para cima de tudo, atirava as patas para cima do pato... Uma pastora-alemã... porque senão eu levava o Euclides... Coitadinho!
- Mas tu não tens piscina para ele nadar - retorquiu a vegetariana, já com medo que a criatura levasse o Euclides para o minúsculo e infernal apartamento.
- Bem, eu tenho uma banheira...
- É verdade! Podíamos pô-lo no jardim de Campo de Ourique, que tem um lago! - Disse alguém.

Onde faz as delícias da criançada, dos avós, dos pais e... de toda a gente. Só pelo facto de existir. E de estar ali.

sábado, junho 19, 2010

José Saramago

Aprecio muitíssimo a obra de José Saramago, mas nunca gostei da personagem José Saramago e não vou agora afirmar o contrário.

Pergunto-me se a personagem era real ou também fictícia, aquela que apostava sempre no cavalo errado em termos de polémica: pelo comunismo no pós-comunismo e no pós-muro de Berlim, estalinista décadas depois de se ter percebido o que foi o estalinismo, por Fidel quando os cubanos fugiam de Cuba em embarcações improvisadas para serem pasto de tubarões... contra a religião numa época em que o mundo inteiro regressa à religião, tentando livrar-se do materialismo que até hoje tem empedernido o planeta.
Fica a sua obra e deixa de existir, a partir de agora, essa diferença entre obra e autor, razão pela qual muitos irão dar o dito por não-dito.

E fica a satisfação de ter regressado a Portugal.

Quanto à obra, essa ficará para sempre no nosso coração e no nosso imaginário. Personagens como Baltazar Sete Sóis e Blimunda Sete Luas... são tão de lado nenhum, que podem muito bem ser portuguesas.