Nem sequer vou referir a ingenuidade das recentes teorias pedagógicas, baseadas na filosofia de Rousseau, segundo a qual "O homem é bom, a sociedade é que o corrompe", que nos oferece uma grande quantidade de anjinhos maquiavélicos.
Nem sequer vou referir a atitude dos sucessivos Ministérios de Educação, que só querem que os alunos passem a todo o custo, mesmo sem saberem nada, para diminuirem esta coisa política e estatística chamada "insucesso escolar".
Tal como acontece na religião, em que é tudo porreiro, menos os resultados, assim acontece na educação, em que nem são porreiros muitos dos pais, nem muitos dos professores, nem muitos dos filhos. Muito pelo contrário.
Vou só narrar um mito que existe na educação, um mito bacoco, que muito contribui para o caos actualmente existente.
Eu, Nadinha, soube dum caso, numa escola que acabou por fechar por falta de alunos... nessa e em muitas outras escolas existia (existe) o mito bacoco de que os professores e os alunos têm os mesmos direitos. As direcções que assim pensam são de esquerda, claro, uma esquerda irreflectida e incapaz de lidar com a realidade e com o poder, como acontece com a nossa actual esquerda.
Bem, nessa dita escola existia, como em muitas outras actualmente, a seguinte prática, e vou só dar um exemplo de práticas pedagógicas "ingénuas" e parvas: segundo a legislação, há uma tolerância de 10 minutos ao primeiro tempo e de 5 em todos os outros, para quem se atrasa. A partir daí, têm falta.
Então, conclui-se que, sendo os direitos iguais, tanto tem falta um aluno como um professor que se atrase. Reparem nisto: se o professor se atrasa, o aluno "tem o direito" de não ter aula, o que faz imenso sentido para as crianças e os jovens, apesar de ser o contrário do direito à educação, ou seja, o direito de ter aulas.
Então, verifica-se o seguinte: o aluno tem o direito a não ter aula e a ir brincar e fazer arruaças para onde lhe apetecer, o professor, dado que tem direitos iguais, tem o direito de ser humilhado publicamente por alunos e funcionários (são os funcionários, hierarquicamente muito inferiores aos professores, que marcam as faltas aos professores). Para além de haver funcionários muito temperamentais, é claro que o relógio dos alunos funciona segundo a conveniência dos mesmos e, neste caso, de acordo com a maioria, que o atrasa ou adianta, conforme lhe dá mais jeito.
Sendo assim, se o professor se atrasou 3 minutos poderá ter falta, embora possa não marcar falta a um aluno que se atrasou 30 minutos, ou por bondade, ou por tolerância, ou por estupidez, ou ainda porque tem medo dele. É claro que não poderá dar aula, pois todos os seus alunos têm o direito de zarpar a grande velocidade, injuriando-o enquanto se retiram e apontando para os relógios e telemóveis, cuja hora alteraram.
Não pensem que exagero: sei do que estou a falar!
O direito à não-educação é muito mais perceptível para os estudantes do que o direito a apanharem uma seca e uma estopada, tendo aulas. E os adultos não refletem de maneira muito diferente, nem muito mais profunda...
(N.B.: É por eu ser de esquerda e estar entre a espada e a parede nestas eleições que reflicto desta maneira - a crítica é importante).