domingo, dezembro 29, 2013

A Amizade no Facebook


Conheci pessoas que morreram por não terem conseguido adaptar-se aos novos tempos. Porque já nasceram desadaptadas, oriundas de um passado remoto. Outras nasceram desadaptadas deste tempo, porque já vieram formatadas para o futuro. poderão lamentar muitas coisas, criticar muitas coisas, mas nunca a modernidade e o progresso.

O Facebook desperta em muitos a insatisfação e a revolta que sempre acontece perante as coisas inevitáveis, perante a evolução inevitável. Sobretudo da parte dos velhos (não necessariamente em idade)É "fácil desconectar os amigos", essa é uma evidência, mas também é fácil reconectá-los. A intimidade com amigos/amigas sempre me pareceu aborrecida e mesmo insuportável. E outra vantagem é a partilha de opiniões, objetos como fotos, vídeos e informações. Conhecemos quase bem pessoas que não suportaríamos em intimidade e aprendemos a respeitá-las.. Aprendemos muito no Facebook.É um novo paradigma nas relações humanas e ainda mal começou.Vem este post a propósito do artigo sobre este filósofo Bauman3 MINUTOS COM BAUMAN: AS AMIZADES DE FACEBOOK

Ainda recordo o tempo em que era tudo muito aborrecido, tudo muito lento, a solidão não existia como coisa positiva, aliás, a solidão física não existia. Estávamos sempre rodeados de pessoas enfadonhas, sendo continuamente obrigados a conviver com elas. O tempo passava lentamente. Para o bem ou para o mal, esse tempo acabou.

Só quem for muito chato irá desejar ser aceite sem ter opiniões, sem dar nada, ser aceite numa presença incómoda, obrigatória e talvez até mal cheirosa. Mas ninguém voltará a ser obrigado a  ter apenas dois "bons amigos". Os que deram provas. E quando esses dois se fartassem, o que aconteceria? E os que não deram provas de amizade poderão vir a dar provas, ou de amizade, ou de bondade. Numa sociedade corrupta como a nossa, é muito mais importante a bondade do que a simpatia.

P.S.: Claro que ninguém pode fazer 500 amigos num dia, essa é a ingenuidade das crianças.

sexta-feira, dezembro 27, 2013

Livro para ler: sobre Madame de Montespan



Comprei ontem à tarde, na estação de comboios de Campanhã, um livro difícil de parar de ler: Montespan. Custou cinco Euros, mas neste link custa só três.

É sobre o marido de Madame de Montespan, a amante favorita do rei Louis XIV.
Como quase todos os romances históricos, não é grande coisa no aspeto literário, é mais um best seller e uma espécie de reportagem jornalística sobre a época, mas tem particularidades interessantes.

Em primeiro lugar, Luís XIV foi de tal modo extraordinário, para o bem e para o mal, que merece os inúmeros romances históricos escritos sobre personagens que o circundaram: o jardineiro, como O Jardineiro do Rei, os cozinheiros, como Vatel, sobre o qual se escreveram livros e fizeram filmes, as amantes e agora o marido da amante. Foi uma escolha inteligente, que permitiu ao autor inventar tudo o que quisesse. E nem é necessário inventar muito porque a própria realidade é incrível.

A outra graça do livro é que o autor reproduz os costumes nojentos da época, o que quase todos os escritores evitam. Recordamos logo a cama real coberta de percevejos do Memorial do Convento, de José Saramago, mas este livro vai muito para além, recriando outros pormenores, como o hábito que nobres e reis tinham de defecar em público, por exemplo.
Às vezes talvez confunda mesmo a lenda coma realidade, o que também é natural, como quando afirma que Luís XIV só tomou banho uma vez e se benzia com água benta em vez de se lavar. Tem graça, mas talvez seja exagero, motivado pela ideia transmitida pelos médicos da época de que a água fazia muito mal.
Ainda não acabei de ler, mas estou a tentar não ir a correr pegar nele...

Recomendo também O Jardineiro do Rei, talvez até um livro melhor do que este.

domingo, dezembro 22, 2013

Espírito Natalício

Visto ontem na rua.
Três homem transportam, com muito cuidado, uma caixa de vinho tinto para a mala de um carro. Vinho especial para as festas. Um deles faz um movimento em falso. A caixa cai ao chão e todas as garrafas se partem, espalhando o precioso líquido, colecionado em várias ocasiões especiais, pela calçada.
- Tu és sempre assim! Tu és sempre assim! Tu és sempre assim! Ouviste?!

Devem acontecer inúmeros casos como este, por esse mundo fora.
Mas a dúvida persiste:
- Ele era sempre assim, como? Deixava sempre cair as garrafas do vinho bom?

sábado, dezembro 21, 2013

Morreu-me um amigo imaginário


Chamava-se Calafona.

Dei-lhe esse nome porque é como os açorianos chamam aos emigrantes que vão para a Califórnia. E ele vivia em Mountain View, California.
Deixei-lhe várias mensagens neste blogue, mas nunca respondeu a nenhuma. Era assim. Não falava, mas parecia-me mais meu amigo do que muitos!
Comecemos pelo princípio. No contador de visitantes dos meus blogues, o Sitemeter, aparecem os visitantes, o tempo que cá passam, as páginas que visualizam e mesmo o IP dos seus computadores.
O Calafona vinha cá todos so dias, várias vezes por dia, nunca falhava. Não respondia às minhas mensagens, mas paciência... por outro lado, ele era da mesma terra onde vive uma senhora que teve este blogue nos favoritos do seu, o Chatoyances. Tudo normal.
A certa altura, pareceu-me que havia menos visitas do Calafona e muitas duma terra chamada Colorado Springs, o que me levou a supor que o Calafona tinha ido passar férias em Colorado Springs, uns milhares de Km para o interior dos Estados Unidos. Tudo bem. A coisa piorou quando recebi muitas visitas do Calafona e muitas de Colorado Springs. Será que eram dois calafonas, marido e mulher, que se divorciaram? E a Colorada foi para o Colorado, ou assim. Nunca consegui sequer perceber se o Calafona era homem ou mulher, inclinando-me para a primeira hipótese, por me parecer que há mais homens gostar do que escrevo. Ou de mim?

Até que um amigo, (ex-real e agora virtual) me tirou mais esta ilusão: O Calafona, afinal, é o Google Bot, ou seja, o motor de pesquisa, que coloca os meus blogs para pesquisa. Um grande amigo, também...mas...

Tenho saudades do meu Calafona!!! Ou da minha Calafona!!!

(P.S.: Nada sei da Colorada, mas não digam a ninguém, senão ainda me dizem que também morreu.)


Feliz Inverno!



Este é um dos mais giros Doodles do Google, por isso aqui vai. Par acomemorar o Solstício de Inverno e para desejar a todos Feliz Inverno. E feliz Primavera, que vem aí.

sexta-feira, dezembro 20, 2013

Acordo / Desacordo Ortográfico : Mentiras, aldrabices e outras maluquices


Esteve agendada para hoje, 20 de dezembro de 2013, uma discussão na Assembleia da República Portuguesa sobre o acordo ortográfico, resultante de uma petição, no sentido de o anular. Foi adiada.

Os que propalam estas opiniões contra o acordo (AO) são useiros e vezeiros em transmitir informações falsas e absurdas.

A aldrabice mais comum, pois não tem outro nome, é afirmar que o AO ainda não está em vigor no Brasil e que os brasileiros não o querem. Está em vigor desde 2009, no Brasil e o que está agora em causa, vários anos depois, é o fim do prazo de transição (período durante o qual podem ser usadas a sduas ortografias sem que nenhuma seja considerada errada) e talvez um balanço sobre o que pode ser ainda mais simplificado.
De facto, estiveram cá dois linguistas brasileiros (foram recebidos também pelos deputados), um dos quais, Ernani Pimentel, propõe que se escreva xuva e ábito. Tem pouca ou nenhuma aceitação no Brasil.

Para esclarecer esse e outros pontos, fica aqui a declaração do diretor executivo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa aos deputados portugueses, publicada no site de referência

Ciberdúvidas da Língua Portuguesa





terça-feira, dezembro 17, 2013

"Temos fantasmas tão educados / Que adormecemos no seu ombro "






Natália Correia escreveu isto no tempo de Salazar. Atualmente, Portas, o tipo dos submarinos e das decisões irrevogáveis, que se revogam imediatamente, afirma que:

"Reformar com acordo social é uma singularidade positiva de Portugal" (Clicar para ler).


Ou seja, qualquer país, no nosso lugar, já tinha feito uma revolução e decapitado ou defenestardo esta cambada horrenda que nos governa, mas nós não.

- Ke Kridos que nos somos. Não éramos? não tínhamos sido?  - Diremos um dia, quando já não existirmos, por excesso de delicadeza.

Aqui vai o poema completo. Foi dito por Natália Correia num julgamento em que era acusada, o que deixou os juízes ainda mais enxofrados contra ela. Tês anos de prisão com pena suspensa, foi a pena. Acusadada de quê? De liberdade de expressão. Claro.

Ganda Natália!

Queixa das almas
jovens censuradas
Dão-nos um lírio e um canivete
E uma alma para ir à escola
E um letreiro que promete
Raízes, hastes e corola.

Dão-nos um mapa imaginário
Que tem a forma duma cidade
Mais um relógio e um calendário
Onde não vem a nossa idade.

Dão-nos a honra de manequim
Para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos o prémio de ser assim
Sem pecado e sem inocência.

Dão-nos um barco e um chapéu
Para tirarmos o retrato.
Dão-nos bilhetes para o céu
Levado à cena num teatro.

Penteiam-nos os crânios ermos
Com as cabeleiras dos avós
Para jamais nos parecermos
Connosco quando estamos sós.

Dão-nos um bolo que é a história
Da nossa história sem enredo
E não nos soa na memória
Outra palavra para o medo.

Temos fantasmas tão educados
Que adormecemos no seu ombro
Sonos vazios, despovoados
De personagens do assombro.

Dão-nos a capa do evangelho
E um pacote de tabaco.
Dão-nos um pente e um espelho
Para pentearmos um macaco.

Dão-nos um cravo preso à cabeça
E uma cabeça presa à cintura
Para que o corpo não pareça
A forma da alma que o procura.

Dão-nos um esquife feito de ferro
Com embutidos de diamante
Para organizar já o enterro
Do nosso corpo mais adiante.

Dão-nos um nome e um jornal,
Um avião e um violino.
Mas não nos dão o animal
Que espeta os cornos no destino.

Dão-nos marujos de papelão
Com carimbo no passaporte.
Por isso a nossa dimensão
Não é a vida. Nem é a morte.


sexta-feira, dezembro 13, 2013

O magnificiente fausto da terra imunda









Só quem conhece a nudez límpida e imensa dos oceanos sabe apreciar o magnificiente fausto de que se enroupa esta terra imunda


segunda-feira, dezembro 09, 2013

PAPA FRANCISCO: A Lista de Bergoglio. Os que foram salvos por Francisco durante a ditadura.



Na primeiríssima aparição de Bergoglio, digo, do Papa Francisco, fiquei logo maravilhada. Não foi nada em especial, foi tudo.
O vestuário de Papa sem dourados, a referência aos irmãos, A irmandade, a escolha do nome Francisco. 
Outros duvidaram: Francisco Xavier? Mas estava muito na cara: Francisco de Assis.

Gostei logo do Papa Francisco, como havia gostado do Papa Bento XVI, sem ter gostado de nenhum dos anteriores. Muito menos de João Paulo II. Mas subsistia uma dúvida: será que Francisco cooperou com o regime ditatorial, direitista e fascista da Argentina? Improvável, mas faltava esclarecer essa dúvida.

Um jornalista italiano, NELLO SCAVO, decidiu também esclarecer essa dúvida. E esclareceu. Dando origem ao livro  A Lista de Bergoglio. Os que foram salvos por Francisco durante a ditadura. 

VER AQUI, NO INÍCIO DO POST, O VÍDEO DE FRANCISCO DE ASSIS, POR FRANCO ZEFFIRELLI (Ver, pelo menos, entre os minutos 40 e 50). Mostra também Santa Clara de Assis.

O MEDO TAMBÉM É UMA REALIDADE VIRTUAL



O MEDO TAMBÉM É UMA REALIDADE VIRTUAL. QUANTAS VEZES TIVEMOS MEDO DE NADA? DE COISA NENHUMA?


TANTAS VEZES QUE O MEDO É UMA VISÃO FALSA OU FALSIFICADA DA REALIDADE! UMA VISÃO PROVOCADA POR OUTROS.

OU SEJA: UMA ATITUDE INGÉNUA.

Graciete Nobre

domingo, dezembro 08, 2013

Marfins Luso-orientais no Museu Nacional de Arte Antiga







Para além da maravilhosa exposição vinda do Museu do Prado, ainda temos esta, inaugurada hoje: "Vita Christi, Marfins Luso-orientais".

Cada pequeníssima peça é um mistério, um acontecer de confusões / cisões, inovações / confusões, sincretismos, mistura dos paradigmas orientais com os ocidentais.

Santos cristãos representados à maneira budista ou hinduista, enfim, um mundo a descobrir nos detalhes das pequeníssimas coisas.

Há quem diga que Deus está nos pormenores. Outros ainda, afirmam que o Diabo está nos pormenores.

Como dizia José Régio:

"Deus ou o Diabo é que me guiam
Mais ninguém."

sábado, dezembro 07, 2013

Tu vai mas é para a tua terra!

Conversa de autocarro apinhado em dia de greve parcial de autocarros: 
- Tu vai mas é para a tua terra! ouvistes?
- Eu vou para a minha terra mas é quando os da tua terra que lá estão vierem para cá. Ouvistes? Olha que eu dou-te uma chapada!
- Tu dás-me uma chapada e levas outra, não é por eu ser velha que não tenho mãos!
- Estas duas são umas peixeiras! - diz-me, em voz baixa, uma senhora "fina".
- Todos ralham e ninguém tem razão - respondo, também em voz baixa.


" A Minha cabeça está ensanguentada, mas não curvada." - Poema preferido de Nelson Mandela




Este é o poema preferido de Mandela, que lhe permitiu aguentar o sofrimento de cabeça "não curvada".
O que mostra, masi uma vez, o imenso poder da poesia, muitas vezes esquecido.

Invictus

De dentro da noite que me cobre,
Preta como a cova, de ponta a ponta,
Eu agradeço a quaisquer deuses que sejam,
Pela minha alma inconquistável.

Na cruel garra da situação,
Não estremeci, nem gritei em voz alta.
Sob a pancada do acaso,
Minha cabeça está ensanguentada, mas não curvada.

Além deste lugar de ira e lágrimas
Avulta-se apenas o Horror das sombras.
E apesar da ameaça dos anos,
Encontra-me, e me encontrará destemido.

Não importa quão estreito o portal,
Quão carregada de punições a lista,
Sou o mestre do meu destino:
Sou o capitão da minha alma.

William Ernest Henley (1849-1903)


E agora, no original

Invictus

Out of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds, and shall find, me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll.
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul. 

segunda-feira, dezembro 02, 2013

Carris: o caos quotidiano



Depois de terem esperado uma hora pelo autocarro, dezenas de pessoas empurram-se para entrar no primeiro que lhes aparece, já demasiado cheio, sufocando de tão apertados que estão, uns passageiros contra os outros. Apresentam uma expressão patética, quase todos com um sorriso, que é um misto de ironia, vergonha e auto-compaixão.
Logo atrás daquele autocarro vêm mais quatro, da mesma carreira: o segundo está muito cheio, o terceiro já tem pouca gente, o quarto está quase vazio, o quinto não tem vivalma. Inverter a sequência e colocar à frente o que está vazio? Nem pensar: irão nesta mesma sequência, desde o princípio, até ao fim da carreira. Porque é assim que está estipulado pela Carris.

Começou hoje mais uma greve da Carris. 
Mesmo sem greve, vivemos uma situação de catástrofe e de caos. Quotidiana.
Com a greve, há trabalhadores que não podem ir trabalhar, estudantes que não podem ir estudar, trabalhadores que perdem o emprego porque faltam muito, "trabalhadores" e "estudantes" que aproveitam a greve para se baldarem...

Será que a direção da Carris pretende colaborar com os condutores grevistas, na criação do caos na cidade de Lisboa?




domingo, dezembro 01, 2013

Mário Soares, O Papa Francisco e a Igreja portuguesa

Mário Soares afirma em "O Papa Francisco e a Igreja portuguesa":
    "(…) a Igreja portuguesa tem mantido um silêncio inaceitável, tal como o actual patriarca, em relação ao Papa. Parece que não gosta dele ou mesmo que o detesta.

    Prefere a corrupção e a imoralidade, que reinava no Vaticano, à solidariedade do Papa que respeita os pobres? Que patriarca é este que há meses não fala e, em especial, de Sua Santidade. Aliás, quando era bispo fazia-se passar por um homem desempoeirado e progressista – que afinal não é; tendo em conta o que não diz agora, parece que nunca foi."

Quem não notou a falta de entusiasmo e de admiração por parte dos católicos portugueses? A igreja portuguesa está tão contentinha com ela própria e com o mundo, que se assusta perante as grandes mudanças que o Papa preconiza.
Porque a maioria das pessoas de esquerda saiu há muito da Igreja e ameaça regressar, com este novo "Papa dos pobres", o Papa franciscano.

sábado, novembro 30, 2013

Novo Mercado de Campo de Ourique: vista-se bem e vá ao cabeleireiro, se quer comprar umas couves.





Onde antes só havia legumes, frutas e peixes mortos, abriu esta semana um novo conceito.

No meio das tendas há barezinhos gourmet, com nomes que são neologismos: champanharia, empadaria, petiscaria, etc. Outros têm toda a comida japonesa, desde sushi já feito, até carne crua daqueles bois que já são alimentados a vinho e alho para ficarem logo em vinha de alhos, ou lá como é que fazem... (Kobe). Talvez estas lojas se chamem shusharias... você pode ir comprar o peixe cru às atónitas peixeiras e levá-lo à shusharia para cozinhar. Não sei se se diz cozinhar, já que se come cru.

Enfim, vêem-se senhoras de casacos de peles a tomar uma sopinha de marisco como aperitivo e as caixas multibanco estão completamente vazias de dinheiro.
Quanto ao resto, sendo hoje o primeiro sábado do resto da vida deste mercado, a carne é tão fresca que parece de plástico, os legumes e a fruta rebrilham como se fossem de loiça do Bordalo Pinheiro e os peixes parecem os dos desenhos animados.

Portanto, já sabe: se, no sábado, quiser ir comprar uns carapaus e umas couves à praça, levante-se bem cedo, vista a sua melhor roupa, vá ao cabeleireiro e acabe a manhã a comer duas ostras cruas e vivas a 2 Euros cada uma, com uma taça de champagne verdadeiro ou falso (5 ou 3,5 Euros cada uma).

Está aberto todo o dia (exceto a parte das couves e do peixe), até às 11 da noite durante a semana, até à 1 da madrugada a partir de quinta feira. Quer saber mais? Vá lá ver.

Notícia AQUI


quinta-feira, novembro 28, 2013

A seda azul dos dias / A seda azul das noites



A noite vai descendo lentamente, muito lentamente
Sobre esta parte da terra antes do mar,
No centro do Ocidente do mundo (conhecido)

A dádiva do repouso acaricia finalmente
As nossas cabeças inclinadas, entregues à febre do tempo

Muitos nunca vão esquecer este dia que agora acaba em sombras,
Quase todos o olvidarão para sempre

A luz desaparece lentamente, muito lentamente...
Ouvem-se as vozes, diálogos familiares, falas tranquilas do dia que assim se extingue na cidade

Ouvem-se os sons da água que corre, invisíveis cascatas, ou fontes dos jardins escondidos e dos quintais ocultos
Ouve-se o som surdo das rodas dos automóveis, cada vez mais espaçado, mais lento, na cidade que repousa

Muitos dormem


E outros partem para a aventura da noite
Podemos descansar se quisermos, podemos partir se quisermos nesta cidade noctívaga

A lua cheia e a estrela do pastor aparecem agora, tranquilamente
Lembrando-nos a placidez dos campos, das terras longe, noutras paragens

Dizem-nos que nada mudou. E que tudo muda sempre?
Que nada mudou, dizem:
- Voltamos sempre aqui, mais ou menos a esta hora. Aqui e a toda a parte...
Dizem-nos que a luz há-de vir todos os dias e todas as noites
"Para ti" - quase parecem sussurrar




- SÃO MAIS OS MORTOS DO QUE OS VIVOS - ciciamos baixinho, como se ninguém nos escutasse,

Nas trevas que se adensam, medonhas, e para cá dos montes, já quase invisíveis


- São mais os vivos - parece tranquilizar-nos a luz obscura, a escuridão tenebrosa, a claridade ambígua do luar
- Porque todos foram vivos, um dia.
E todos tiveram medo da escuridão,
Como tu

Muitos dormem!


Graciete Nobre, Julho, 2010

quarta-feira, novembro 27, 2013

Entrevista com Marguerite Yourcenar: "Não, eu não acredito nas pátrias exclusivas"




Encontramos aqui uma magnífica entrevista com Marguerite Yourcenar, um dos meus escritores favoritos.
Não é permitido incorporar o vídeo, razão pela qual aqui fica apenas o link e a foto da mesma época. Não tem tradução para português, mas tem para espanhol.

Marguerite Yourcenar - Apostrophes


Excerto da entrevista, que traduzo:

- Voltemos à sua paixão pela Grécia: a senhora [você] é meia francesa, meia belga, agora americana, e no entanto, eu diria que a sua verdadeira pátria é a Grécia.
- Bem, não me parece. Eu creio que tenho dúzias de pátrias.
- Dúzias?!
- Sim, claro.
- Quais? Gostaria de as conhecer...
- Os países de que gosto mais? Na Europa? [Divaga, com ar sonhador]
- Tenho uma paixão pela Áustria, uma paixão pela Suécia, uma paixão por Portugal, uma paixão por Inglaterra. A literatura inglesa alimentou-me tanto, que é, certamente, uma das minhas pátrias.
-Sim?
-Sim.
E gosto muito da Ásia. Estudei tanto as literaturas asiáticas, que sinto ter uma pátria asiática, tanto como uma pátria europeia.
- Sim?
- Não, não, eu não acredito nas pátrias exclusivas. Tal como não acredito nas mães insubstituíveis.

segunda-feira, novembro 25, 2013

Homenagem a Ramalho Eanes









Apesar do mau gosto de realizar a homenagem a Ramalho Eanes no dia 25 de novembro, dia em que a esquerda se sentiu derrotada e que o PREC terminou, destaca-se nesta homenagem a valorização de um português e político que ninguém poderá suspeitar de ser corrupto, a lembrar que é possível ser político por noção do dever e por amor à Pátria. 

Exatamente o contrário do que suspeitamos de Sócrates, Passos Coelho e Cavaco Silva. Por isso, fui lá.

O homenageado apareceu nos últimos minutos, exatamente os últimos 10 ou 15 minutos e falou por poucos momentos, num discurso nada político.

O General, que nunca sorria, chorou visivelmente, limpando os olhos com um lenço branco de pano (talvez de pano:)) quando agradeceu à mulher, aos filhos, às noras e aos netos o que lhe "ensinaram" em termos de proteção do... seria estado social? Confesso que não registei as palavras exatas, mas os jornais hão-de dizê-lo. Bonita homenagem às mulheres, da parte de um militar.

O evento terminou com o Hino Nacional cantado num tom "piano", "moderato cantabile". 
Pela primeira vez entendi as palavras "Contra os canhões marchar marchar!" - o que sempre me pareceu um hino bélico e despropositado, assim cantado suavemente, docemente, fez-me entender que: mesmo se a nossa luta não é aceite por uma maioria conformista que nos esmaga, mesmo se somos ameaçados pela Troika, pelo FMI, ou seja por quem for que nos esmaga, podemos ainda, metaforicamente, marchar contra eles. Marchar contra eles.

Derrotados agora, venceremos mais tarde. Ou nem venceremos. 
Ou seremos derrotados a lutar. Pela Pátria.

Por absurdo que pareça, podemos até mesmo morrer a lutar pela Pátria. Como muitos outros, ao longo da história. Ou podemos enriquecer a sugar a Pátria, como muitos outros, ao longo da história. Mas essa parte era a que nós já sabíamos...

Obrigada, Comandante: General Ramalho Eanes.


sábado, novembro 23, 2013

Prova de Avaliação para Professores


Nem sequer é possível compreender a razão que leva o Ministério a obrigar os professores a submeterem-se a uma prova com perguntas como estas e outras ainda mais fáceis. Coloquei estas, apenas por serem as mais fáceis de copiar e colar.

É ridículo. São professores que dão aulas, às vezes, há 20 anos, muitos com Mestrados e Doutoramentos, alguns dos quais foram convocados para corrigir estas mesmas provas. Estarão os do GAVE, agora remodelado e renomeado para IAVE, completamente senis?
Pensávamos que o Iave não poderia ser pior do que o Gave, mas somos sempre surpreendidos. Afinal, há sempre pior.

Alguns professores de Português, corretores do 12º ano foram "convidados" a corrigir a parte do português desta prova. Durante as férias do Natal, deveriam corrigir 100 textos, recebendo 3 Euros por cada um. Deve ser necessário preencher uma papelada por cada texto... quase todos recusaram. Como alguns contratados são corretores, receberam também o convite para corrigirem a  prova à qual se submetem.


Prova de avaliação de professores Resposta certa: B


Um indivíduo pretende comprar uma máquina fotográfica. Fez uma prospeção de mercado e encontrou a máquina que procurava em duas lojas, com preços diferentes.Loja X: O preço da máquina é 120 €, acrescido de uma taxa de 10%.Loja Y: O preço da máquina é 180 €, mas sobre esse valor aplica-se uma promoção de 30%.A escolha da loja será feita em função do preço mais baixo.9. O indivíduo irá comprar o artigo(A) na loja X, porque irá pagar menos 6 € do que na loja Y.(B) na loja Y, porque irá pagar menos 6 € do que na loja X.(C) na loja X, porque irá pagar menos 40% do que na loja Y.(D) na loja Y, porque irá pagar menos 20% do que na loja X.

Ou Esta: Resposta certa: A


A sequência abaixo é constituída por letras do alfabeto português. A A B A C C D C E E ... 


10. Mantendo o mesmo padrão de formação da sequência, qual das opções contém as quatro letras que permitem continuá-la? (A) F E G G (B) F E H H (C) F F G F (D) F F G H