domingo, agosto 07, 2011

Porto Novo



Rochedo de Santa Rita, Porto Novo.
Sabem a história de Santa Rita de Cássia? É mais uma santa medieval, com uma história estranha.
Era de Cássia, cidadezinha italiana. Essa terra situa-se na região do mundo que tem mais santos por metro quadrado. Assis (S. Francisco de Assis e Santa Clara de Assis) Pádua, Santo António de Lisboa e de Pádua, etc.
Santa Rita rezava num rochedo, que em italiano se diz Scoglio. Deve ser por isso que este escolho se chama Rochedo de Santa Rita. O seu corpo está incorrupto em Cássia, desde a Idade Média.
É das principais santas da religião católica, ou melhor, dos principais santos, juntamente com santa Bárbara e os dois referidos. A prova disso é que há muitas mulheres em Portugal que se chamam Rita de Cássia e que a maior estátua do continente americano é a sua, no Brasil.
Uma das realizações desta mulher como santa, foi pedir a morte dos dois filhos que tinha, porque queriam matar um homem. Adoeceram e morreram, mas não assassinaram ninguém.
Como já era viúva, ficou livre de entrar para o convento, o seu sonho desde a juventude. Muitas das santas foram, a seu modo, feministas.

sábado, agosto 06, 2011

Porto Novo





Esta terra é Porto Novo. Tem um rio que não chega ao mar, por pouco, como se vê na foto.
Foi aqui que desembarcaram os ingleses para combater os franceses das Invasões Francesas.
Antes disso, também andaram por aqui os dinossauros. Tem rochas esquisitas. A da terceira foto faz lembrar ossos: de dinossauro?
Passando a mão por aquela pedra, ficou assim e depois muito macia.
Não acho graça nenhuma aos dinossauros. Já aqui disse que só me interesso pelas realizações humanas. E pela beleza, que é sempre uma realização  divina.

sexta-feira, agosto 05, 2011

O elétrico dos Prazeres




Este elétrico, o famoso 28, faz uma carreira muito regular e muito necessária, entre o largo em frente do Cemitério dos Prazeres (reparem no nome) e o largo da Graça, passando perto do Castelo de São Jorge, etc.
Deste lado nada há para ver, a não ser o cemitério, que tem visitas guiadas, percursos assinalados para turistas e um museu, mas poucos têm interesse por este tipo de turismo. Os cemitérios de Lisboa têm nomes estranhos: o dos Prazeres, o da Ajuda, o de Benfica, que faz lembrar o Benfica e o do Alto de São João, esse mais normal, embora o São João faça lembrar a festa do S. João.

Foi algo que também me impressionou muito quando vim morar para Lisboa. Até refiro este no meu livro Imaginália.

Ora acontece que, quando os moradores desta zona esperam apanhar a dita viatura, ela aparece cheia de turistas, felicíssimos porque o bilhete é muito barato. Todos têm bilhete de ida e volta, pelo que o bicho vai a abarrotar desde a saída.
Com algum bom senso, os condutores mandam sair todo o mundo, sendo suposto que têm direito a entrar primeiro os que já estão na paragem. O que não é simples nem pacífico. Excepto para os estrangeiros, que acham tudo maravilhoso e que não podem discutir por desconhecimento da língua.

Em lado nenhum há um transporte tão exótico e tão barato para turistas, já para nem falar dos barcos que atravessam o Tejo...
Não é por acaso que Lisboa está tão bem cotada como cidade de visita. 

quinta-feira, agosto 04, 2011

Ideias novas, agradáveis e tudo

Na entrevista da revista Visão a Pierre Dukam, médico e autor de best-sellers sobre dietas, a certa altura há a seguinte afirmação:
O prazer é tudo o que nos estimula para a vida. E a luta pela sobrevivência também nos proporciona prazer.
Se estamos desidratados no deserto e bebemos água, o que é que experimentamos? Prazer. Se não necessitamos dela, não a bebemos.


Uma mística muito conhecida na América, Almine, afirma que a nossa missão nesta vida é a penas fruí-la: "enjoy life".

segunda-feira, agosto 01, 2011

Professora e alunos no Nepal



Ainda não entendi de que se queixam os professores...
Desde que haja professores e alunos... não é preciso mais nada...
Nem mais ninguém.
Bem, o quadrito, às vezes, dá jeito.

domingo, julho 31, 2011

E CÁ ESTÃO ELAS!








Enquanto o Terreiro do Paço esteve em obras, dizia-se, iradamente, que tinham roubado as colunas do cais das colunas. Agora que acabaram as obras, cá estão elas, mais bonitas do que nunca, com duas gaivotas verdadeiras e vivas pousadas em cima e com as antigas inscrições... mas dentro de água.


Agora a água vem até quase à rua, invadindo a escadaria, para deleite dos turistas deste Verão. Incluindo esta turista, que tem os pés a secar ao sol. Um nadinha sujos do chão, talvez um nadinha inchados de terem caminhado Kilómetros por esta bela cidade e marcados pelas sandálias novas (MBT).


Os pés são as personagens principais das viagens. Acho eu. Vocês nunca viram estes dois? Eu já.

sábado, julho 30, 2011

Comprar na net

Muita gente tem medo de fazer compras na net, mas agora há um sistema inteiramente seguro, inventado por portugueses e da Caixa Geral de Depósitos. E é gratuito, sem ser necessário ter conta na Caixa.


Através do nosso cartão de crédito, aderimos online ao sistema, que cria, de cada vez que fazemos uma compra, um cartão virtual com um número que nunca será repetido - se fazemos outra compra, dá-nos outro cartão virtual diferente. 


Cartão MBNET. É uma coisa boa. Clicar Aqui

sexta-feira, julho 29, 2011

O Pavilhão das Peónias



Dizer que um livro é muito giro não é grande elogio, mas o que se oferece dizer sobre este é isso mesmo: é giríssimo.
Narra a vida de mulheres chinesas à época da queda da dinastia Ming, o que se deveu, em parte, à chegada dos europeus, no Sec. XVI, nunca referida, e à invasão Manchu.
A protagonista, Peónia, é uma jovem que morre de amor, por influência da sua heroína favorita, uma personagem de ópera. Ia casar aos 16 anos com o jovem que amava, mas não sabia que era ele o seu futuro marido, pois era assim, naquele tempo: estavam apaixonados, mas cada um deles julgava que ia casar com outra pessoa. Vivia numa casa grande, com pátios e jardins, só transporia o portão no dia do casamento, nunca tinha ido nem podia ir a alguns dos pátios interiores. Numa época em que outras mulheres começavam já a ter um certo tipo de liberdade.

Esta é a primeira de três partes. Nas outras duas, o espírito de Peónia vagueia pelo mundo, como o que chamaríamos "alma penada" e que se chama "espírito esfomeado".
No outro mundo é tudo exactamente igual ao que os chineses diziam que era. A avó, que encontra do lado de lá, diz-lhe mesmo que recorde aquilo que ouvia contar, para se orientar.
Nesse sentido, é muito original, uma viagem pelos rituais de vida e de morte chineses e respectivas crenças.
E é sempre tudo mau para as raparigas, claro. Vivas ou mortas.

Autora: Lisa See, editora Bizâncio. Comprei-o no espaço Docas, nas Docas.


De facto, existe a  ópera O Pavilhão das Peónias, escrita por um homem, a qual teve, sobre as mulheres chinesas dessa época, um efeito semelhante ao do Werter, de Goethe sobre os românticos, tendo havido muitos homens que se suicidaram sobre o túmulo do verdadeiro Werter, no qual se inspirou o escritor. 


A persongem Liniang, da ópera, não existiu, mas deu origem a muitas mortes por anorexia entre as mulheres da China, pois essa era mesmo a única maneira de não obedecer: não casar com o escolhido pelo pai, não fazer amor com o marido, etc. A única escolha possível era a morte. Por inanição.


A personagem do livro que li, Peónia, escreveu também um livro, que é uma interpretação desta ópera. É a primeira obra dentro do género, estudos literários, que existiu no planeta, Sec. XVI. Escreveu-o parcialmente, as outras duas autoras são as outras duas esposas do marido, que casou com ela depois de morta.
Bem, esta é a parte da verdade dos factos. Percebem? Esquisito... Se não percebem, tudo bem. Esqueçam.

domingo, julho 24, 2011

Sítio muito bom


Este barzinho fica ao pé do Museu Nacional de Arte Antiga, dum lado vê-se isto, do outro o jardim.
E a limondada é fantástica: sabe a estar à sombra dum limoeiro, deitado/a na erva fresca, na torreira do Verão.
Chama-se Le Chat qui Pêche (O Gato que Pesca) e tem, ali ao fundo em cor-de-laranja espreguiçadeiras onde se pode estar quase deitado.
A Rua do Gato que Pesca, Rue du Chat-qui-Pêche, é considerada a mais estreita de Paris.


A rua chama-se assim, porque morava lá um alquimista que tinha um gato preto, o qual costumava pescar peixes no Rio Sena, com as garras. Convencidos de que o gato era o próprio alquimista, uns estudantes mataram-no e deitaram-no à água. O alquimista também desapareceu.
Mais tarde, voltaram os dois. O alquimista estava em viagem. E o gato continuou a pescar. Isto é o que está escrito na placa com o nome da rua.

sábado, julho 23, 2011

Receita que inventei: perú assado com gengibre e castanhas.

Inventei uma receita ótima: perú assado com gengibre e castanhas.
Só há pouco tempo aprendi a cozinhar, pois fui sempre alérgica a trabalhos domésticos. Quando perdi a alergia à culinária, engordei bastante, mas também descobri prazeres inesperados dentro de casa: o de cozinhar e o de comer, pois comia sempre fora.

Foi assim: a minha médica naturista receitou-me perú e chá de gengibre, entre outros alimentos, pois o tratamento é sobretudo o que se come. O chá de gengibre faz-se com bocadinhos de gengibre, mas eu fui  a uma loja comprar. Deram-me um pó picante, que deu um chá picante e horrendo. Resolvi que o melhor era pôr o pó no perú. E resultou. Os orientais assam carne com gengibre, que substitui a pimenta e parte do sal (ou a totalidade do sal, para quem não o pode comer). Como se vê nos romances que hoje nos chegam do Oriente

Receita: deita-se, numa assadeira, bastante vinho branco e um nadinha de óleo, alhos (opcional), que ficam bem en camicia, como se diz em italiano, que é com pele, louro, sal. ou só vinho branco, óleo e sal. Coloca-se por cima o peito de perú (também dá com perna), deita-se um pouco de vinagre sobre a carne, de preferência balsâmico e muito pó de gengibre. Isto na parte que fica de fora do molho. Como o perú tem uma carne doce, o vinagre e o gengibre tornam-no mais agradável. Deixa-se tudo assim, até ao dia seguinte.

No dia seguinte, põem-se as castanhas (descascadas e cruas) na parte em que couberem, mais ou menos por cima da carne, ou assim, acrescenta-se um pouco de sal sobre as castanhas e coloca-se no forno, 20 minutos. Pode ser 25, mas não muito mais.

Quando o cronómetro tocar, vira-se o perú, colocando-o por cima das castanhas e quase fora do molho, ou totalmente fora do molho (o recipiente há-de ser pequeno, para ficar melhor). E deixa-se assar mais 20 minutos, 45 no total. 

Pode ser mais um nadinha, por exemplo, você está a ler um livro, toca o cronómetro, lê só mais um nadinha, vai assando, e como é que acaba isto? Não, tenho de ir virar o perú... não, vou só ler até ao fim do parágrafo, não, só mais esta página, etc...

Da última vez que fiz, foi quando ficou melhor. Vá repetindo, até acertar.

Bon appetit. Vão ver que é ótimo!!! 
Eu nunca soube cozinhar, mas sempre soube comer.

(Hei-de colocar aqui uma foto)

( A minha médica naturista, a quem contei a receita,  diz que as ameixas secas também servem para contrastar com o doce do peru. Ou tomate, que é amargo. Peru guisado com tomate, cebola e ameixas secas. ainda não experimentei, mas hei-de pôr as ameixas no assado. Também é bom com pommes noisettes)
P.S.: comprei agora, em 2012, um forno elétrico e portátil, daqueles do Lidl, e a princípio não saiu bem, talvez por ser demasiado quente. Nesse caso deve colocar-se um papel de estanho por cima, na primeira parte e poderá tirar-se depois.

(Acrescento de 14 de Julho de 2013: em caso de dieta e já que é um assado com pouco (ou nenhuma gordura), em vez de gengibre, colocar açafrão das Índias - fica igualmente bom e com uma cor ainda mais bonita).


Falar com os animais

Fui ao supermercado do Corte Inglês, muito prosaicamente comprar uma mão-cheia de camarões prontos a comer, seguindo o conselho que me foi dado em tempos por uma amiga sensata.

Tinha eu ido a esse Centro Comercial para experimentar umas sandálias MBT. Já ouviram falar no calçado MBT? Se não ouviram, vejam na net. Custam entre 200 e 300 Euros, mas mandadas vir da net só custam 88.
Estava distraidamente à espera de ser atendida, quando vejo um homem, aparentemente estrangeiro, a olhar, profundamente comovido, para uma sapateira, habitante de um dos aquários que para ali estavam, sendo todos eles muito superpovoados. 

O homem dava toques no vidro, como quem faz festas a um gatinho e, ilusão decerto, parecia-me ver a sapateira a corresponder a estas festinhas, ou com o olhar, granítico e cascudo, ou mexendo, talvez, uma patinha.

Fiquei um pouco a observar discretamente. Apeteceu-me perguntar ao senhor (seria espanhol? Há muitos espanhóis no Corte Inglês) se gostava daquela sapateira e se estava a comunicar com ela.

Mas não me pareceu possível: o senhor estava quase em estado de choque, tão emocionado como se estivesse a despedir-se de um condenado à morte. E condenado a ser comido.

Preferi afastar-me a imaginar e a recordar. Sim, quando uma vez estive quase a comprar uma lagosta para  a deitar ao mar, na praia da Rocha. Porque ela andava a ensaiar um bailado macabro por cima do móvel onde estava o aquário de que tinha conseguido escapar. Na sala onde só nos encontrávamos nós as duas. Mas não me pareceu que ela comunicasse comigo. Nem em tinha dinheiro, nessa época, para  a comer e muito menos para a libertar numa praia cheia de gente. Não estava de férias no Algarve, estava a trabalhar no Algarve. 

E o homem? Coitado, será que comprou a sapateira para a deitar ao mar? Não me pareceu, antes parecia dar-lhe afecto, ânimo e coragem para enfrentar o destino...

Fez-me lembrar aquela psicóloga que falava com os animais, de que vos falei em tempos. VER AQUI.

Ele há gente!!!

quinta-feira, julho 21, 2011

Sinal dos Tempos

Esta época de contínua mudança traz-nos sinais muito positivos. Que podem sempre ser vistos ao contrário, como negativos,  mas existem maneiras mais modernas e mais antiquadas de ver as coisas.

É o caso desta notícia que me parece um sinal dos tempos, entre muitos outros.
Uma atleta,  Diana Nyad,  vai tentar percorrer a nado 165 quilómetros em 60 horas, desde Cuba até à Flórida. Se atingir a meta,  superará o recorde mundial de nado em oceano, sem jaula, conquistado pela própria em 1979.

Terá apoio de várias pessoas e equipamentos, o que é caríssimo, ainda nem angariou todos os fundos necessários, mas fá-lo-á. Não podemos comparar esta situação com a de alguém que conta só com a cara e com a coragem.

Então, o que é que me extasiou nesta notícia? É que a senhora terá nessa altura 61 anos. Tentou antes, mas não deu, preparou-se bem e cá vai ela.

Também me encanta o acto de nadar, a  que me tenho dedicado em exclusivo em termos de treino desportivo (ainda só em piscina aquecida), e que ela expõe como sendo assim:
“Nadar é a última forma de privação sensorial. És deixada sozinha com os teus pensamentos de um modo muito severo".

Talvez possa ser mesmo considerada uma forma de ascetismo, digo eu. Para aguentar a monotonia, canta mentalmente as músicas de que gosta e diz:

“Fisicamente, estou mais forte do que antes, embora fosse mais rápida quando tinha vinte e tal anos. Hoje sinto-me forte, poderosa e com sabedoria para lidar com as horas de resistência”- afirma.

É certo que já outros tentaram a mesma distância, mas dentro de jaulas, para os pretegerem dos tubarões. As jaulas são puxadas por barcos, o que facilita muito o esforço do nadador, claro.

Diana Nyad tentará fazer a viagem em 60 horas sem parar, são 164 Kilómetros, sem jaulas, e logo se verá. Se for comida por um tubarão, morrerá em glória e a tentar dar o máximo. 

Aparentemente, o percurso não tem simbolismo político, apenas se considera a distância. 
Se, na realidade, tiver dimensão política, então deve ser anarquista. 




Gosto. Gosto Muito.


(Escrito em setembro de 2013: desta vez teve de desistir por causa de uma dor persistente numa perna, causada pelas medusas e finalmente conseguiu, aos 64 anos, sem gaiola de tubarões)




quarta-feira, julho 20, 2011

Dia Internacional da Amizade: Deveríamos pagar aos amigos que nos fazem rir

FELIZ DIA DO AMIGO PARA TODOS OS MEUS AMIGOS, REAIS, VIRTUAIS E MAIS O QUE SE INVENTAR!

Todas as pessoas pagam muito bem aos humoristas que as fazem rir, uma vez que eles ganham muito dinheiro com essa profissão.

Porque será que não pagam nem agradecem aos amigos e conhecidos que as fazem rir, com mais prazer ainda?

Nem pensam que devem alguma coisa aos amigos e conhecidos engraçados. 
Que as ajudam a suportar o fardo monótono do dia a dia.

segunda-feira, julho 18, 2011

"Nha Cretcheu" e Literatura de Cabo Verde


Ouvi e li por toda a parte em cabo Verde esta expressão "Nha Cretcheu". Procuro na net e descubro o seu significado:

Literalmente, cretcheu quer dizer quero-te muito (cre-tcheu). Logo, nha cretcheu é meu amor, e por aí fora. Pode significar meu namorado, minha namorada, meu amor, etc...
"Nha Terra Nha Cretcheu", será algo como minha terra querida, amada, ou "minha terra, amo-te muito", ou assim...


Quando vou  a uma terra, gosto de ler obras literárias que lá foram produzidas, ou por autores dessa terra, ou por outros.
Regressada do Mindelo, continuo a ler um livro que refere constantemente esta cidade, embora a localize entre o início e meados do Sec. XX, período que abrange a revolução salazarista de 28 de Maio de 1923, sobre a qual parece ter boa opinião. É Oh! mar de túrbidas vagas  de Teixeira de Sousa.

Falando de literatura de Cabo Verde, refiro os autores que encontrei, enquanto consultava a biblioteca do instituto Camões, no Mindelo. 
Salientarei este escritor, Teixeira de Sousa, até pelos temas escolhidos, que me agradam muitíssimo: mares, navios, navegações. É um autor simpático, que não faz sofrer as suas personagens para além do necessário para inventar uma história romanesca. Nesse aspecto, faz lembrar Júlio Dinis: não há grandes conflitos, nem problemas que não se resolvam totalmente. Além disso, fala das navegações com muito conhecimento de causa.

O seu romance Oh! mar de túrbidas vagas é um retrato heróico dos marinheiros que nessa época faziam a travessia entre Cabo Verde e a América do Norte em barcos à vela, carregando produtos e passageiros, que assim emigravam, numa viagem turbulenta e  incerta.
Tem outros livros sobre navegações, que espero encontrar em Portugal, pois de momento interesso-me por narrações de vidas simples, como se fossem arquétipos de vidas, casas, barcos, etc.
Mas de repente, dou-me conta de que não se trata de escritor caboverdeano e sim português, ressuscitando uma questão de que nós, portugueses, nunca ouvimos falar, mas que é muito polémica no Brasil e nessas terras. 
É o seguinte: o autor nasceu em Cabo Verde, que era Portugal nessa época. Após a independência, vem para Portugal viver em Oeiras, onde morre. 
Assim, podemos considerar portugueses os escritores e artistas das colónias portuguesas até à sua independência, o que as deixa sem literatura nem arte.

Neste caso particular, sendo aparentemente Salazarista, este escritor seria completamente ignorado em Portugal após a revolução de 74, como aconteceu com outros.

Um outro autor,  presente neste livro como personagem aludida, dificilmente seria considerado português. Trata-se do poeta popular 

Eugénio Tavares, que escreveu em crioulo muitos dos seus poemas. É dele o verso que dá título ao romance ("Oh! mar de túrbidas vagas" ou "ondas", da sua Canção ao Mar, vídeo abaixo) e de muitas letras de mornas caboverdeanas. Mornas parece derivar da palavra inglesa mourn, significando luto, tristeza, etc. 

Despertou-me muita curiosidade Baltasar Lopes e o seu livro Chiquinho, que, segundo me disseram lá, não existe à venda porque os herdeiros não permitem a publicação das suas obras. Tentarei encontrá-lo num alfarrabista, pois também poderá ser considerado, ou ter sido considerado escritor português.


Germano Almeida: já tinha lido o livro O Testamento do Senhor Nepumoceno da Silva Araújo, mas parece-me que o comprei no Brasil. É um livro muito original, que me ficou na memória, tratando sobretudo de convenções sociais, hipocrisia social, atitudes consideradas correctas, etc. O autor vive em Cabo Verde, na actualidade.




De Orlanda Amarílis, Ilhéu dos Pássaros, agradou-me pelo título e pelo que li, folheando e me pareceu interessante. O mesmo para 

Dina Salústio, com o livro A Louca de Serrano.

Amor na Ilha e outras Paragens, de Camila Mont-Rond, que comprei e li, tem alguma graça e alguma cor local, com referência, por exemplo, à época da Independência e sequentes atitudes dos jovens, mas as vírgulas estão todas fora do sítio e não existe fio condutor da narrativa que é autobiográfica, com episódios desgarrados sobre a família. É como se fosse um livro de contos disfarçado de romance. Trata-se, contudo, de um primeiro livro.


Esta autora tem a particularidade engraçada de ter nascido num navio em viagem de Cabo Verde para Lisboa. Consta da sua certidão de nascimento a latitude a longitude do navio nesse momento.




Morabeza







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Alguns fizeram comentários, no blogue e no Facebook, dizendo que tinham saudades do Mindelo, o que me surpreendeu a princípio, pois não são de cá.
Compreendo agora que qualquer um que conheça esta terra e estas gentes poderá vir a ter saudades.
É uma gente simpática, calma e delicada.
É a Morabeza: vejo, na nota do livro que ando a ler, o seu significado. Substantivo correspondente ao adjectivo morabi, que significa amável, amorável, hospitaleiro, simpático (em crioulo).

Se entramos numa loja e ficamos à espera que nos atendam, eles também ficam à espera que digamos alguma coisa, por tempo indefinido.
O que não dá é para pedir informações a qualquer um, até porque muitos não falam português, embora os jovens já tenham tantos estudos como os jovens portugueses. Pergunto a uma menina do café, mostrando-lhe um mapa, se é possível ir ao Ilhéu dos Pássaros.
- Podes.
- Como é que se vai?
- De táxi.
- De táxi? Mas é uma ilha. No mar!
- Vais de táxi até ali - apontando no mapa - e depois sobes.
Fiquei na mesma, o que aconteceu muitas vezes. Afinal, para ir à dita ilha, era preciso pedir autorização à capitania do porto, era muito complicado.

(Na segunda foto, são todas do Mindelo, vê-se uma réplica da nossa Torre de Belém. Um mamarracho. A última é do Palácio do Governo).

sábado, julho 16, 2011

Com o coração cheio de alegria

Ao aterrar em Lisboa, doíam-me os ouvidos. E estava a ler, com interesse, uma obra literária passada em Cabo Verde, com gente simples, no início do século passado. Chama-se Oh mar de túrbidas vagas, o autor é  Teixeira de Sousa. Ao meu lado, seguiam duas senhoras, mãe e filha. Deslocavam-se a Lisboa para uma consulta da mãe, que teve um AVC, mas já passou, paga por filhos emigrantes na América, em França e na Holanda.

Apeteceu-me mostrar-lhes a terra. Quando vejo Lisboa, os ouvidos doem-me menos ao aterrar, calculo que doam muito mais aos estrangeiros, sobretudo àqueles que ainda não conhecem esta nossa cidade.

- Vejam! Isto é Lisboa! Tão a ver???

A simpática senhora de idade e a filha estavam de mãos dadas e olhos cerrados, agarradíssimas, a tremer  e a morrer de medo, como quem diz que, se o avião caísse, iam assim as duas para algures, grudadinhas uma na outra.

- Graças a Deus que aterrámos aqui nesta terra, com saúde e com o coração cheio de alegria! - Exclama a senhora mais velha, assim que se sentiu em segurança.

-Ah! Pois! Claro!


Ao reflectir sobre estas palavras, constato que também eu tenho o coração cheio de alegria.

sexta-feira, julho 15, 2011

Literatura de Cabo Verde



Não seria razoável eu ir a Cabo Verde pela segunda vez, onde conheci um português casado com uma caboverdiana, vivendo ambos na Holanda... e a ela também...

Não seria normal em mim ir lá, apresentar um ponto de vista crítico daqui e de lá, sem falar da literatura caboverdeana.

Cenas dos próximos capítulos: o pouco que sei e o muito que gostaria de saber sobre este nebuloso assunto, nebuloso em todos os países da terra.

Mosquitos, ou lá o que é




O pior defeito que vejo em Cabo Verde é, sempre que cá venho, ficar picada que nem um crivo por insectos invisíveis.
São tão atrasados que em vez de serem repelidos pelos repelentes de insectos, parecem ser atraído por eles.
- Ó mosquitos burros! Isto é re-pe-len-te! Percebem?
Não.
Descobri recentemente o que muita gente sabe: alguns insectos ainda são do tempo dos dinossauros.

Também estou um nadinha farta de comer inhame, mandioca, batata doce, banana verde, ou, em alternativa, fast-food. Cachupa, as melhores que comi foram em Lisboa. Aqui é raro encontrar-se, embora a metáfora para "pão", em Cabo Verde, seja catchupa. É o que comem ao pequeno almoço. Mas não nos restaurantes.
Enfim, vou hoje embora e apetece-me ir.

Mas já começo a ter saudades do Mindelo e desta gente boa.
(N.B.: Na ilha de São Vicente não há grandes problemas com insectos. Na de Santo Antão, sim.)

quinta-feira, julho 14, 2011

Areias




Da última vez que vim a Cabo Verde, parti o nariz na praia, o que foi óptimo, pois estava a precisar de ser operada a uma fractura que fiz aos sete meses de idade. Ou que me fizeram.
O Dr. Diogo pôs-me um nariz novo, mais funcional e mais bonito...

O meu pouco amor à praia foi ainda dissuadido por estas areias que me pareceram imundas, nojentas e cheias de gasóleo. Afinal, era apenas areia preta, misturada com branca, em camadas distintas. Uma camada de areia grossa e outra camada de areia fina. E a água tão morna, tão macia que até parece doce...
Descubro isto no último dia. De facto, o rapaz da agência de viagens disse-me que eu tinha direito a algumas informações, mas que ninguém quer, não vale a pena, todos dizem...
- Diga-me só...
- Não, para lhe dar informações temos de combinar um dia, uma hora... e você tem de estar no hotel, à minha espera.
- Então esqueça.

Os europeus nunca estão preparados para este descarada preguiça dos agentes de viagens, que só vi aqui e no Brasil.

San Pêde (São Pedro)





Alguém espera que o transporte privativo para um Resor de Luxo, O Foya Branca, em são Pedro, seja aquela carroça enferrujada e sem marcas nenhumas?
Perdi-a várias vezes, não só por ser assim, mas também porque nem sempre aparece quando era suposto.
Os transportes, aqui, são o fim. Também há táxis, mas não me apetece ir sozinha com uma criatura, pois os homens aqui são muito atiradiços... 

Acabei por ir de Toyota (também chamado Hiace)(Ver posts anteriores), um dos mais mixurucas que vi. Pelo caminho gozaram muito com o meu português que lhes parecia excessivo e pomposo, mas ensinaram-me crioulo:
- Tant' é?
- Bô Cré?
- Tant' Bô Cré?
Tradução: Quanto é? Você, o que quer?
Digo você, mas em português todos se tratam e nos tratam por tu. Bô é mais parecido com você, não acham?


Bem , a minha querida amiga Clara, linguista, que esteve por estes dias num congresso sobre crioulos, diz ela que por coincidência, talvez nos possa esclarecer.
Mas receio não entendermos a explicação, demasiado erudita. E a Claríssima não se enturmou ainda bem com a net, nunca conseguiu fazer aqui nenhum comment. LOL!


Foi a minha maior amiga na Universidade do Porto, era a melhor aluna do nosso curso. Eu era uma criatura com problemas existenciais, orfã recente de pai e mãe. Ela, só de mãe.