Estas são algumas das fotos de Charles Fréger, um fotógrafo que viajou durante anos retratando estas máscaras, que recolheu no livro ′′ Wilder Mann ".
São tradições da Europa, todas elas, representando o homem selvagem.
Todas as terras julgam chamar-se A Terra. Todas as terras são, para quem mora nelas, o Umbigo do Mundo. Sempre que desembarquei em terra, depois de ter navegado pelos mar, senti que a terra era imunda. E enjoei.
Nas duas partes da exposição, vemos homenagens à arte antiga, ocidental e oriental, pois existem objetos inspirados na porcelana chinesa, nos desenhos em cerâmica grega, etc…
Talvez seja um êxtase do lado da fantasia é um rapto, da parte da realidade.
Comecemos pela realidade.
As obras que a representam, muitas vezes eivadass de fantasia, outras vezes mostrando a realidade no seu aspeto mais brutal, o chamado realismo, talvez mesmo hiperrealismo, vão desde vídeos, obras enormes, instalações até peças de ourivesaria, com aneis e pulseiras, havendo mesmo, em vídeo, a imagem de milhpes de sementes de girassol feitas em porcelana, por muitos artesãos. sim, muitas das peças não são feitas por Ai Weiwei, que apenas as concebe, encomendando depois a sua execução.
Esta parte da exposição é dominado por uma obra monumental representando so refugiados, tema constante da exposição, dentro de um bote de borracha e por uma série de enormes caixas, como contentores. O material em que é feito o bote e as imagens dos refugiados é o mesmo material de que são feitos esses botes.
Quanto às caixas, elas contam a história de 81 dias em que o artista esteve preso, com dois guardas constantemente a olharem para ele, mesmo qando estava a dormir, a comer, ou mesmo a usar a imunda casa de banho da cela.
Espreitamos por uma pequena janela e vemos isso mesmo: uma imagem muito realista de Ai Weiwei e de dosi guardas de pé, a olharem para ele. Subindo a um pequeno estrado, espreitamos por uma outra abertura e vemos a casa de banho, com grandes pormenores de sujidade e de ferrugem, tudo um pouco mais pequeno do quea realidade, só um pouco.
Vemos um campo de refugiados em vídeo, salientando as condições de insalubridade e logoa seguir belíssimas porcelanas chinesas inspiradas nas antigas, em vasos sobrepostos que apresentam temas pintados de refugiados. O mesmo tema ocupa toda uma parede de desenhos na parte da realidade, a preto e branco e outra enorme parede na parte da fantasia, em tons de azul. E ainda um anel de ouro, ou revestido a ouro.
Poderá alguém não gostar por razões ideológicas, mas, a não ser isso, a exposição é uma muito agradável e muito grande, enorme, surpresa, tanto em dimensão como em originalidade..
Divide-se em duas partes: para o lado direito a fantasia, que contém muito de realidade, para o lado esquerdo a realidade, que às vezes é simplista é bruta, outras vezes contém muito de fantasia.
O tema geral é os refugiados. Não é o único, é o principal.
Vou dividir este tema em três posts do blogue. Introdução, que é este, Realidade e fantasia.
Comecemos pelo pior: A realidade, no próximo, depois, num terceiro, a fantasia.
Encontrei este livro, que contém três contos de Émile Zola. São todos muito impressionantes, muito verosímeis e muito realistas, mas um deles, “A Inundação”, é uma verdadeira obra-prima.
O narrador é um lavrador e proprietário de terras francês abastado, que nós narra a sua situação.
Naquele dia, além da sopa do jantar, decidiu comemorar comum vinho licoroso as muitas coisas que havia a comemorar: as colheitas iam ser fantásticas, o que iria permitir à família adquirir as terras dos vizinhos, até tinha nascido 7ma vitela naquele dia e o noivo da filha mais nova tinha aparecido para marcar o casamento.
De repente, o rio Mose, numa enchente, invadiu a aldeia em que se situava a casa.
Primeiro, desapareceram todas as colheitas, seguidas d3 todos os animais domésticos: vacas, carneiros e ovelhas, cavalos.
Logo depois desapareceram duas criadas, afogadas, claro. Os homens da casa nada disseram as mulheres.
Depois foi um dos filhos, que, após um gesto heróico para salvar a família, se afogou, logo seguido da esposa e dos dois bebés que esta erguia nos braços, para,lhes dar mais alguns segundos de vida.
E depois é depois, afogaram-se todos, dois deles, foi por suicídio que se entregaram às águas.
Finalmente, só sobreviveu o velho…
Esta estória, por muito ou por demasiado dramática que possa parecer, a verdade é que poderia ter acontecido e aconteceram casos idênticos, em desastres naturais.
Que fazer? A quem apelar?
Aqui vai o link para o livro on-line grátis, em francês no original.
https://www.gutenberg.org/ebooks/7011
Atenção: na Epístola de São Paulo que foi lida no domingo na RTP e que foi considerada machista, quando São Paulo afirma que as mulheres devem obedecer sempre aos seus maridos, São Paulo e a Igreja Católica por ele, não pretendem dizer, de forma alguma, que as mulheres devem obedecer sempre aos seus maridos. É uma metáfora. Isto é de tal modo evidente para todos, de acordo com a hermenêutica e a exegese bíblicas, amplamente conhecidas do povão, que os padres não sentem necessidade nenhuma de o explicar. Toda a gente percebe logo que, segundo a Igreja Católica, as mulheres não devem obedecer nunca aos seus maridos.
Queremos dizer: qualquer semelhança entre a missa televisionada e a situação das mulheres em Cabul, é pura coincidência.
Mas os católicos portugueses e outros não deixam de ficar enCABULados com 3sta coincidência…
Em Portugal nem é preciso explicar nada disto, pois temos a impressão de que os homens são um tanto apatetados, enquanto as mulheres são sensatas, trabalhadoras e responsáveis. Isto vê-se logo quando as raparigas entram para os melhores cursos universitários e os rapazes só não chumbam o ano por causa do Covid.
Foto: “Mãe, Filha e Boneca” da fotógrafa iemenita Almutawakel
Após intereegno devido às medidas de prevenção do Covid 19, voltamos ao prazer de correr na beleza desta maravilhosa cidade.
Esta corrida tem também uma intenção de manutenção da saúde,ao incentivar a s mulheres a fazerem desporto e a preocuparem-se com as doenças que são próprias do género.
É o segundo rio mais longo nascido em território português, a seguir ao Mondego, ambos nascidos na Serra da Estrela e mais limps doque os que vêm de mais longe.
Tem paisagens muito belas, afora aproveitadas pelo turismo, como o Lago Azul, na primeiras imagens. As águas são mansas e belas.
Mais adiante tem a belíssima e mágica aldeia de Dornes, como se fosse uma península de rio. De cortar a respiração, como veremos noutro post.
O navio que se vê é o São Cristóvão, que faz passeios pelo rio, servindo almoços.
Atravesso uma paisagem de folhagens verdes e amarelas, de rios e de plumas, de águas de lagoas, para finalmente chegar à casa de vidro perto do mar.
Nessa casa está uma mulher que nos fala da nossa alma. Como se a conhecesse.
Essa estranha que é a nossa alma, essa estranha que é essa mulher, aparecendo no meio das flores e dos lagos.
Uma mulher com o nome e o gosto de longínquos mares, com a voz rouca dos búzios, ressoante de futuras ondas, com que canta às vezes as passadas marés.
Graciete Nobre
Pintura "La chasse aux papillons" de Berthe Morissot
Sabemos que as mulheres têm terríveis inseguranças quanto à sua aparência física e quanto ao seu papel no mundo e isto é para não falar de outros terrores femininos.
Enquanto as feministas e os psiquiatras as tentam livrar destes horrores, as esteticistas, também muito femininas, exploram tudo isso, com resultados in cash.
Telefonaram-me a propor uma limpeza de pele por um preço módico, alegadamente promocional. Como precisava de fazer uma, aceitei.
A rapariga, amorosa, falou durante uma hora e meia, pondo na lama da rua a minha pele e a minha aparência. Fotografou-me o rosto de vários ângulos, ampliando os aspetos piores. O resultado não parecia eu e sim uma espanhola com 89 anos, injustamente electrocutada numa prisão dos Estados Unidos da América. Cada ruga era um rio Amazonas, ladeado de perto pelo rio Nilo e pelo Grand Canal de Veneza.
Muito infeliz, lá me submeti ao tratamento, de 20 minutos e a mais outras tantas fotos.
A rapariga foi muito simpática até me mostrar as fotos do antes e do depois, dizendo eu que gostava mais da primeira: nesta, eu tinha um ar ingenuamente alegre, na segunda, tinha o aspeto de uma prisioneira política submetido a tortura, a qual incluía muitas dores nos dentes provocada pela trepidação do aparelho e tortura psicológica. Você tem chumbo nos dentes? Chumbo, eu? Porcelana, talvez…
A senhora ficou ainda menos simpática quando eu lhe disse que não saía de lá sem ela apagar à minha frente, todas as fotos. Sim, eu apago depois. Agora!
Finalmente, propôs-me um tratamento feito por mim em casa, com os aparelhos emprestados, alugados, pela módica quantia de 4 mil euros, menos um cêntimo. É claro que eu podia pagar em 24 meses, 250 euros por mês, o que daria, se fizéssemos as contas, mas não fizemos, 6 mil euros. Menos um cêntimo, claro.
Convenho até que o tratamento parece dar resultado, mas, se eu fosse mais insegura ou mais vaidosa (pecado ou virtude que nunca tive) teria imediatamente assinado aquela dívida. Pensar e responder depois é alternativa que não existe, é tudo baseado nas compras por impulso.
Se lermos as reclamações, da DECO e outras, veremos que muitas mulheres assinam contratos destes, apesar de não terem como os pagar, mas não existe piedade quando é para receber…
É uma clínica muito chique e muito bem situada, que deve estar com a corda na garganta por causa do Covid. Fazemos nós o tratamento em casa, não precisamos de lá ir e pagamos só 5 999 euros. Vale tudo…
Mas pelo ar da rapariga, parece que não resulta muito: E não me faça perder tempo dizendo que vai perguntar a opinião da sua dermatologista, não vai nada! Eu vi logo que você não é do género de perder tempo a fazer estas coisas todas! E olhe que não são 4 mil euros, olhe que é menos, gritava ela por fim, já fora de si.
Era mais um telefone em que se via o outro.
Mas também ainda não existia nesse ano.
Bombeiros voar, ainda nos falta isso.
Alunos a aprender numa máquina, com um deles a dar à manivela…
Uma máquina que varre, lava o chão e encera, tão engraçadinha…
Uma baleia sorridente a transportar um submarino…
São imagens de vários artistas, publicadas em cartões, imaginando como seria a vida no futuro. Agora. Há 20 anos.
Ainda estamos longe de muitas delas, mas sobretudo estamos à margem. Com aparelhos muito mais pequenos.
A verdade saindo das águas é o tema de muito belas pinturas. Como estas.
O tema baseia-se numa parábola da época, século XIX: A mentira convenceu a verdade a banharem-se nuas num poço. A mentira saiu, vestiu as roupas da verdade e fugiu. A verdade saiu do poço nua é assim perseguiu a mentira pelas ruas. O povo criticou a verdade por andar nua e homenageou a mentira, vestida com as roupagens da verdade.
As primeiras quatro pinturas aqui apresentadas, com a verdade muito zangada ou muito abatida, são da autoria de Jean-Léon Gérôme. A primeira representa-a a sair do poço com um chicote para castigar a humanidade.
As duas seguintes, representando a verdade em pose de triunfo, são de Edouard Bernard Debat-Ponsan.
A última é de Paul-Jacques-Aimé Baudry.
É muito bela ou formosa a Ria Formosa.
Na ilha da Culatra encontrei este barco junto à capelania, com os dizeres, numa placa, de que fez a travessia Portugal Brasil. Procurei na Internet, não encontrei nada disso, agora quem procurar encontra isto, neste blogue. Encontrei, sim, a notícia do recorde desta travessia em barco a remos, mas são barcos modernos e apropriados.
Será verdade? Terá sido uma grande aventura. Provavelmente terá navegado à vela, como os navegador3s antigos. Enfim, cá fica a homenagem, tanto à formosa Ria Formosa, como a este senhor.
José Rodrigues Belchior fez a travessia Ilha da Culatra (Portugal) - Porto Seguro (Brasil), no saveiro Natália Rosa, como se lê na foto da lápide.
Há umas décadas, as pessoas consideravam que podiam abusar dos fracos, desde crianças a deficientes e pobres. Era vulgar ver gente a gozar com os cegos ou com os surdos e havia (ainda há) expressões como esta: “bater no ceguinho”. Quer dizer outra coisa, mas implica a ideia de que é fácil bater num cego, que não se pode defender e não pode acusar o agressor porque não sabe quem foi.
Hoje em dia é impensável, para muitíssima gente, fazer algo deste género e existe a ideia generalizada, até mesmo ao nível político e social, de que temos obrigação de defender e proteger os mais fracos.
Quer isto dizer, claramente, que a nossa sociedade evoluiu muito em termos espirituais. Deu um salto “quântico”.
Existe um ditado popular, um pouco impopular, talvez do Alentejo ou Ribatejo, que só ouvi a uma pessoa. Conhecem?
“ Só dá um “chórisso” a quem lhe der um porco gordo”.
Fartei-me de rir, anos depois entendi a metáfora e vou mais longe: alguns pedem o porco gordo, mas não dão nada a ninguém. Não têm vergonha de pedir, não têm limites no que pedem, nem têm vergonha de não dar “sarna a gato”, como se diz na minha terra. Em uma das minhas terras.
Uma minha amiga, que foi minha professora quando fiz o Mestrado, viveu um tempo na América (USA).
Contou que, nos primeiros tempos, se sentia muito bem acolhida por uma rapariga da caixa de um supermercado, que lhe sorria sempre muito simpaticamente, como se fosse a própria América a sorrir-lhe (é muito otimista).
Um dia resolveu agradeceu à rapariga, comovida como se sentia. Respondeu-lhe que, se a Isabel não obtivesse sempre aquele sorriso esfuziante, podia reclamar e tinha direito a um pacote de bolachas ou a uma certa quantidade de café.
Nas Amoreiras há tempos, numa geladaria Hagen Dazs, também uns rapazes elogiaram uma rapariga por ser muito simpática, ao que ela respondeu que iria para a rua se não fosse muito simpática. Só a propósito, a marca Hagen Dazs nada tem de nórdico, sueco, ou seja o que for, tem este nome porque as coisas nórdicas estavam na moda quando foi criada. Também me deram essa informação na dita gelataria.
Enfim, com tanta sinceridade, não existe muito o risco da hipocrisia. E também se evita a situação muito comum: estamos doentes e aflitos, mas somos tratados com pesporrência pelos administrativos, logo seguidos pelos enfermeiros e pelos médicos. Precisamos de tomar uma simples injeção, mas ficamos a coxear 15 dias.
Sem direito ao pacote de bolachas…
Habituada a ir a clínicas particulares e mesmo aí, poucas vezes, habituada a ser atendida por toda a gente com grande amabilidade, fico abismada quando agora tenho de telefonar para o sns 24, por não haver alternativa.
Algumas pessoas que atendem o telefone comportam-se como se fossem os donos da loja, tratando os utentes como fregueses que lhes queriam roubar um sabonete ou um pacote de bolachas.
Outros são simpáticos e delicados. Cada um mostra-se como é, bom, mau, antipático, amoroso. E o profissionalismo, onde para?
Chamei a atenção a um deles para o facto de que a chamada estava a ser gravada e que ele não tinha o direito de tratar assim os utentes. Mesmo assim, rangeu os dentes e continuou a falar num tom irritadíssimo, só porque eu lhe disse que, no link que me enviaram, clicando no botão “Lista de Laboratórios” não existia nenhuma lista de laboratórios. Depois de muito insistir, explicou-me onde encontrar a lista de laboratórios pagos pelo SNS 24. O teste custa 90 Euros, se não for pago pelo SNS e não vale para o efeito de parar o isolamento profilático.
Outra questão: quem faz estes sites e por que razão funcionam assim, tão mal, que nem eu os entendo…
Apesar do muito mal que se diz dos professores e embora não me identifique com todos, talvez nem com a maioria, não vejo os professores do ensino público a tratarem as pessoas conforme os seus caprichos e impulsos… a não aceitarem críticas e sugestões…
Talvez sejam os donos da loja, porque são mesmo. Mas não se comportam como donos da loja… geralmente, tratam bem os “fregueses”.
O Ministério da Educação decidiu e é agora notícia, que os exames, este ano, vão ser mais difíceis do que no ano passado.
Tem imensa lógica: no ano passado, os alunos que iam a exame só tinham tido um ano de confinamento, todos da mesma maneira. Os que vão este ano, já levam dois anos, todos de maneira diferente: turmas em casa enquanto outras estão na escola, turmas na escola com professores confinados em casa, incapazes de lhes dar aulas pela internet porque não é possível segurá-los sozinhos numa sala.
Outra diferença: o ano passado os alunos estavam preocupados com o exame, como as notas foram maravilhosas, este ano estão-se nas tintas e acham que ainda vai ser mais fácil, como seria de esperar.
Por que será que os organismos do estado mostram tanta incompetência e estão tão desligados da realidade?
Agora com as esplanadas abertas e os restaurantes fechados, devido ao relativo desconfinamento da pandemia, voltam a surgir os velhos problemas das esplanadas, até com mais força.
Há uma fila nas esplanadas-quiosque, para ir buscar o café, a comida, o que for. Enquanto estamos na fila, aparecem bandos de pessoas que ocupam as mesas vazias. Ficam sentados e felizes, à espera que a fila diminua, depois vão buscar um café para todos, ou mesmo só um café para um.
Ontem sentei-me a uma mesa, já depois de comprado café, levo-o na mão e vem um bando dizer-me que estava naquela mesa. Já têm alguma coisa para tomar? Não. Mesmo assim, chegaram primeiro à mesa, eu é que estou a mais.
Hoje, a mesma coisa: a empregada tirou um bando para eu me sentar e, antes de eu chegar à mesa, já lá estava outra pessoa instalada, sem consumir nada. Não vê aquela fila? Vejo, mas pensei...
E volta a linguagem absurda:
- não se sente nesta cadeira, porque está aí a minha irmã!
- eu estou sentada em cima da sua irmã?
- Não, mas essa cadeira está ocupada por ela!
- Como assim? Não está aqui ninguém!
- Mas ela estava aí.
- Mas já não está...
Não importa quem chegou primeiro, importa quem tomou posse primeiro. Isto é daquelas coisas portuguesinhas absurdas e ridículas...
Em Itália, já decidiram que, em excursões de autocarros com portugueses, quem vai à frente no primeiro dia, vai atrás no segundo, pois o portuguesinho coloca-se à frente no primeiro dia para reservar e ocupar o lugar toda a semana. Um casal de casados chega em último lugar e fica de pé à espera que alguém se levante para os deixar ir lado a lado mais 10 kms.O quê? Ninguém se levanta? Ninguém respeita a sagrada instituição do casamento?
Nos hotéis, vão de manhã colocar toalhas em todos os lugares das piscinas, esperando encontrá-las ao fim da tarde, quando regressarem dos passeios, na intenção de que ninguém os tenha ocupado, entretanto. Alguns lixam-se, ficam sem as toalhas, sem os cremes, sem o telemóvel... a chicoespertice tem uma componente de ingenuidade bacoca.
Prefiro mil vezes viajar com espanhóis, que não fazem nada disto.
Quando é que nos livramos desta mentalidade?
Na fila do supermercado há uma senhora grudada em mim. Resisto a dizer-lhe que se afaste um bocadinho, em parte, por uma delicadeza que poucos me conhecem, em parte por falta de medo do COVID. Mas ela não tem desses pruridos
- Esta cigana não me larga! Veja lá se pode avançar um bocadinho na fila, mais para a frente.
Avanço um grande bocado, para constatar que a dita senhora está outra vez encostada a mim
- Esta cigana não tem qualquer noção! Não a vê colada a mim outra vez?
Não, não vejo. O que vejo é que esta senhora prefere estar encostada a mim do que estar a meio metro da cigana. Ou a ir para o fim da curta fila.
Talvez porque eu sou... reflito: sou o quê? Caucasiana? Não, nem deve saber o que quer dizer isso. Branca? Os ciganos não são pretos. Europeia? Os ciganos vivem na Europa. Então, eu sou o quê, para esta seletiva criatura?
Ah, já sei, os ciganos têm um termo para isso, uma palavra que diz logo tudo. Eu Sou... eu sou...
Uma senhora da aldeia de Covide, no telejornal sobre o vírus COVID:
- Não penso nele sem ele bir. Estou aqui no meu lugar. Não penso nele sem ele bir. Se bier, beu. Não é? Se bier, beu!
Sábias e engraçadas palavras!
Também disse que não gosta de estar dentro de casa:
- O meu telhado é o céu!
Apetece beijar as pétalas das flores como beijar uma dádiva oferecida pelo tempo.
Tão suaves, tão macias, tão brancas, tão azuis ou vermelhas no calor que se adivinha
E que sejam bem-vindas as moscas!
E as flores aladas, sejam borboletas ou pássaros
E os pássaros desprovidos de asas, os grilos e as cigarras que hão-de anunciar o Verão
Agradeço às deusas fêmeas Ceres, Artemísia, Afrodie e Atena, agradeço aos deuses machos, Apolo, Diónisos, Cronos e a todos os deuses, agradeço ao deus único, talvez Alá ou Jeová
E a mim, e a ti, homem ou mulher, espírito capaz de vislumbrar a beleza, ser iluminado, ente capaz de entender este renascer constante da matéria, da luz e do sonho do espaço.
Graciete Nobre
Publicado online na revista on-line Triplov
A partir de hoje, 15 de fevereiro, já podem desembarcar em Lisboa passageiros e tripulação de navios de cruzeiro.
Podem ver a cidade, podem ir aos supermercados comprar um kilo de batatas... podem trazer as novas variantes do covid, etc...
Vantagens para Portugal?
Os paquetes pagam para entrar no porto de Lisboa, um dos mais caros do mundo.
Os endinheirados turistas poderão comprar um kilo de batatas nos supermercados, uma cerveja a preço promocional, ou mesmo algum livro num hipermercado.
E ainda poderão trazer para cá as variantes novas do COVID: sul-americana, brasileira, etc. .
Qual é a lógica de as livrarias não poderem vender livros e os supermercados sim?
Para além da lógica do favorecimento do grande capital, a lógica de promover a literatura light.
Também não se entende por que razão fecharam as bibliotecas, tudo quando mais precisamos de livros para nos entretermos.
Depois queixam-se de que vai tudo passear para a rua. Então, que havemos de fazer?
Ver televisão e sermos submetidos à lavagem ao cérebro das notícias?
Ainda não sabemos muita coisa sobre esta catástrofe que nos une e que nos separa, mas sabemos que tudo está a proceder-se da maneira normal no nosso país: alguns comem da mangedoura, outros não.
Todos comem: uns pouco, mas comidas que engordam muito, tendo nós chegado ao ponto em que os nossos pobres são gordos, ao contrário do modelo intemporal e internacional dos pobres muito magros porque comem pouco... embora esses mesmos só comam hidratos de carbono... batatas, arroz, pão...
Sabemos apenas isto: a vacina, que é acessível a muito poucos, tornou-se acessível à gente que se meteu na política exatamente para isso: para ter acesso a bens inacessíveis à "escumalha".
E todos os jornais trazem notícias dessas, o responsável que, qual rei, mandou vacinar os funcionários do café que frequenta, a assistência social que, por saber que os pobres que a ela recorrem, não podem pagar a um advogado para se queixarem e que não têm outro modo para se queixar, manda vacinar-se a si e a todos os que a rodeiam...
Em Setúbal isso aconteceu, segundo as notícias da comunicação social, fora as vezes em que aconteceu e nada sabemos... alegadamente, pois muita gente sabe...
Este compadrio...
Na cauda da Europa e do mundo... Ou, pelo contrário...
Não gosto nada desta minha opinião, sou um nadinha poética, mas até os poetas se debatem, dentro de si, entre a realidade e o ideal...
Não há dúvida que vivemos em tempos de quase catástrofe, mas vale a pena pensar e trocar ideias sobre isto. Como é que se passou do “milagre português” ao desastre de sermos os piores do mundo em alguns aspetos (não todos)?
No princípio, muitas pessoas tinham medo, agora têm menos medo, ou têm outra vez muito medo, mas o medo nunca pode ser a medida de todas as coisas.
Será que temos culpa (sem dolo), ou será que tudo isto nos ultrapassa? Nunca ninguém percebeu por que razão o pior sítio do mundo em termos de Covid foi a parte mais rica de Itália. Mas não há dúvida de que as opiniões diferentes das veiculadas pela comunicação social ( que tm funcionado em uníssono) têm sido ignoradas. E isto é uma parte da catástrofe: a falta de liberdade de expressão, que pode levar a extremos de reivindicação.
Nas últimas aulas presenciais que dei, sabendo que os jovens andaram em festas com muita gente na passagem de ano, estando com alguns desses numa cave em que as janelas, lá muito em cima, pouco abrem, disse-lhes que deveríamos todos ter mais cuidado do que nunca, explicando que ter cuidado não é o mesmo que ter medo. Ainda hoje não tenho medo, mas abdiquei da Páscoa e do Natal, que sempre passei no Norte, exceto os últimos.
Ocorre-me que não é a primeira vez que isto acontece, o passarmos do milagre ao desastre: a certa altura, fomos o milagre económico português, éramos o bom aluno da CEE e pouco depois estávamos à beira da bancarrota. Neste último caso, a culpa só pode ter sido nossa...
Agora pode ser ou não ser, quase parece ser o destino e o fado, por isso devemos trocar opiniões, se eu não vos convencer, convencem-me vocês a mim, sem que pareça derrota a mudança de opinião, que é apenas conciliação e paz.
Será que Portugal continua a ser simbolizado por Gonçalo Mendes Ramires, personagem central do livro de Eça de Queirós a Cidade e as Serras? Passo a citar:
“Como acertadamente observa a personagem João Gouveia, no final do romance, Gonçalo Ramires, o Fidalgo da Torre, com "a generosidade, o desleixo, a constante trapalhada nos negócios", "a esperança constante nalgum milagre", "a desconfiança terrível de si mesmo, que o acobarda, o encolhe", "aquela antiguidade de raça", "aquele arranque para a África", simboliza o Portugal contemporâneo de Eça, dilacerado entre o passado glorioso e a miséria presente.”
Será que isto nos carateriza? Isto: “a generosidade, o desleixo, a constante trapalhada nos negócios", "a esperança constante nalgum milagre", "a desconfiança terrível de si mesmo, que o acobarda, o encolhe"?
P.S: Este post não tem nenhuma atitude político-partidária, pois essa, sim, é a nossa cegueira específica. Desde o 25 de abril que pouca gente pensa fora desta caixa.