quarta-feira, agosto 04, 2010

NAUFRÁGIOS





 


 Narro aqui um acontecimento importante que ocorreu há pouco mais de cem anos, a 9 de Agosto de 1906.
O naufrágio do Navio italiano Sirius.

Transportava emigrantes italianos para o Brasil e soçobrou na costa espanhola, alegadamente porque o comandante (que estava a dormir e que foi um dos primeiros a abandonar o navio, sendo preso depois), teve a intenção de embarcar mais emigrantes clandestinos em Espanha, embora a embarcação já estivesse superlotada e sem meios de salvar tanta gente.
Foram dados como mortos 300 emigrantes, como desaparecidos 200 e também morreu o Bispo de São Paulo, no Brasil, entre muitas outras pessoas.
A canção Sirius, que exprime esta tragédia, ficou célebre, mas foi proibida durante a ditadura brasileira. Mesmo assim, a colónia italiana ainda repete uma frase muito bonita:

"Quem não souber por quem rezar, reze por aqueles que estão no mar".
Ou talvez estejam mesmo no fundo do mar, o que talvez seja mais um motivo para rezar por eles.

O vídeo aqui apresentado, muito interessante, mostra fotografias da época, fotografias do actual micro ecossistema marinho em que foram transformados os despojos do navio, ao largo da costa espanhola e ainda a bela canção italiana "Il Sirius"


terça-feira, agosto 03, 2010

TGV? Para quê?

"China desenvolve comboio magnético que atingirá os 600 quilómetros por hora
03/08/2010
Segundo o “El Mundo”, que por sua vez cita o periódico “China Daily”, esta velocidade alcançar-se-á através de túneis despressurizados que reduzirão a resistência ao ar. Este comboio Maglev – comboio magnético que circula ‘levitando’, sem fricção entre as carruagens e os carris) necessitará inclusive de menos aço na sua construção."

Encontrei esta notícia no Bpi online, de onde se conclui que a viagem de Lisboa - Porto poderá ser feita em meia-hora, num futuro próximo, com um sistema diferente do TGV.

sábado, julho 31, 2010

L+Arte


Esta revista é muito boa, uma das melhores ou a melhor revista portuguesa sobre o assunto. Sobre arte contemporânea e leilões de arte e antiguidades.
O número de Agosto está particularmente interessante. Tem uma página de fãs no Facebook.

As capas, como esta, são de certa forma inquietantes e sempre surpreendentes. Não estamos à espera de ver uma revista com uma capa assim.
No caso presente, tal como acontece com a pintura de Paula Rego, esta fotografia conjuga, num único gesto, uma expressão de delicadeza e talvez de crueldade, a crueldade que é transmitida pela indiferença. A crueldade feminina. Poderia parecer uma fotografia a preto e branco, se não fosse a incidência nas mãos e nas flores. Destacando um gesto misterioso e ambíguo.

P.S.: quem gosta de ler as minhas histórias, deverá ver o meu blogue Escrevedoiros amanhã, dia 1 de Agosto.

sexta-feira, julho 30, 2010

Médica Naturista: Alimentação

Fui ontem outra vez à minha médica naturista, o que é sempre uma aventura. Mas desta vez o meu respeito por ela aumentou de tal maneira, (já contei isso aqui) que trouxe todos os frascos, pós e azeites, caríssimos, que me vendeu.
Manda-me comer peru, feijão raiado, que suponho ser feijão catarino e endívias assadas. Fácil:

- Por favor, traga-me um prato de peru, acompanhado por feijão raiado e por endívias assadas. E traga-me também um batido de ameixa com figo e sementes de abóbora, com um nadinha de água e gelo... se faz favor!
...
- Ai não tem? Mas não tem o quê? Nada? Nem mesmo peru? Hummm...
"Então traga-me dois pastelinhos de bacalhau e um copinho de vinho branco".

É claro que me fez muitas outras recomendações: manda-me fazer um jardim, ainda não sei como nem aonde, mas vou pensar nisso, manda-me pintar e tocar tambor. Pintar já faço às vezes, tocar tambor nunca me passaria pela cabeça...

E afirma, categórica:
- "Estes maricons que nos gobiernam (fala espanhol) é gente que conseguiu castrar quem realmente tem valor. Aqui e em toda a parte". [Traduzido]
Não podemos deixar que nos roubem o nosso valor, entiendes?! A mim ninguém me tira o meu poder. Nada nem ninguém, ouviste? Não deixes que te tirem o teu poder. Ouviste? Nada nem ninguém.
Confundo sempre: "nadie" quer dizer ninguém. Nada diz-se "nada".

Mas são bons conselhos para todos nós.
Não deixemos que os "maricons" nos roubem o poder. E não voltemos a dar-lhes o poder.

terça-feira, julho 27, 2010

Viajar...

"Sabe-se que a eliminação de qualquer doença endémica é condição sine qua non para atrair fluxos importantes de turistas. "

Esta Grande Verdade, não vos está a parecer tão arrepiante como me está a parecer a mim? E, por outro lado, é uma coisa boa... o dinheiro para erradicar as doenças talvez apareça de repente... se é assim tão fácil...

Gostava de ir a São Tomé. Aconselham a vacina da febre amarela, mas não é obrigatória para europeus, creio que é obrigatória para impedir que outros povos a levem para lá. Acontece o mesmo na Índia. Lendo recentemente um livro de Jack London, fico a saber que a pessoa está óptima hoje e amanhã morre de febre amarela.

Como não consigo, este ano, decidir aonde ir, desde que desisti da Índia, único lugar que realmente me interessava, pensei também em voltar a Cabo Verde.
A última vez (e primeira) que lá fui, parti o nariz, o que foi óptimo! Aliás, podem ver-me aqui neste blogue, de nariz alegremente partido, inchado e azul. Há uns 3 anos por esta altura.
Foi óptimo, porque o parti de forma grave aos sete meses. Apresentava, desde essa idade, dificuldades respiratórias, mas não tinha a noção delas. Tinha muita dificuldade em nadar e mergulhar, fazer ginástica e Yoga, mas parecia ser aselhice. E riamo-nos da minha falta de jeito... O otorrino já me tinha aconselhado a fazer a cirurgia, mas para quê? Depois de o ter partido outra vez em Cabo Verde, lá fiz a pequena cirurgia com o maravilhoso Dr. Diogo. E fiquei outra. Nadar, correr, mergulhar, não ter o nariz torto, etc...

Uma das poucas coisas de que gostei na ilha do Sal, não vi as outras ilhas, foi de uma enorme piscina de água salgada onde, mesmo assim, passei várias horas. Como não tem pé, não anda lá gente a patinhar e a empecer. E agora passaria lá o dia inteiro, pois não gosto de praia e foi na praia que parti o nariz.
Antes que me perguntem: não fui ao hospital nem a lado nenhum, fui só ao Dr. Diogo no Inverno, quando já mal podia respirar...

P.S.: Dizem que a ilha do Sal só tem interesse para praia, se fosse agora, iria a S. Vicente. Ou às duas, para nadar na tal piscina...

segunda-feira, julho 26, 2010

Alimentação II

A minha médica naturista aconselha a que passemos pelo menos um dia sem comer, de vez em quando, ou de preferência, três dias seguidos. Acha que faz bem.
Pelo contrário, quando qualquer português está mal disposto e sem vontade de comer, dizem-lhe logo: "come, precisas de te alimentar". Isto, mesmo que esteja sobrealimentado, como estamos quase todos. De facto, nesta situação não se deve comer nada...

Comemos tudo e sempre e podemos basear-nos na Religião Cristã para o fazer: aparentemente, o deus Cristão, tudo o que colocou na terra foi para benefício do homem, que pode dispor de tudo e comer tudo o que lhe apetecer. Aliás, os cruzados cristãos foram acusados pelos árabes, são-no ainda hoje, de terem comido árabes. Pergunto-me se está escrito na Bíblia que isto não se pode fazer. Creio que não, há-de estar implícito, mas não explicitado.

Mas vejamos outra versão dos factos. No Jardim do Paraíso, o que é que o homem tinha para comer?
Apenas frutos. Talvez isso queira dizer que os frutos são o que Deus nos deu para comermos.
Isto faz sentido, não creio que houvesse cebolas e couves no Jardim do Éden, mas, ao apanharmos as cebolas e as couves, estamos também a matar, matamos os animais e as plantas. O que não acontece com os frutos.

Os frutos são realmente feitos para comer.

Quanto às sementes, na maior parte dos casos não as comemos, mas mesmo depois de comidas e ingeridas e digeridas, algumas delas podem ainda nascer...

domingo, julho 25, 2010

Alimentação

Pouco ou nada entendemos de alimentação, a não ser quando nos interessamos por certas dietas... e mesmo assim pouco ficamos a saber.
Há quem considere que a alimentação, só por si, é capaz de curar quase todas as doenças, é mesmo esse o princípio de certas medicinas, como a Ayurvédica que está hoje a ser imitada por muitos ocidentais.
Na sua autobiografia, Mahatma Gandhi conta as muitas experiências que fez com a comida e o modo como se curou ou curou alguém desse modo. Também conta que, estando a sua esposa muito mal, recusou autorização para que o médico lhe desse caldo de carne, que considerava indispensável, mas que era contra a s suas convicções religiosas, por ser vegetariano. Levou-a para casa e curou-a à sua maneira, usando leite em vez de carne.
Também conta os muitos votos que foi fazendo ao longa da vida. De cada vez que fazia um, renunciava a quase tudo, ou a tudo mesmo, diríamos nós. Mas depois fazia outro em que renunciava ainda mais a tudo... o que antes parecia impossível.
Quando fez o voto de castidade, concluiu que, para não ter pensamentos libidinosos, teria de renunciar ao leite. Quando nos passaria a nós pela cabeça que o leite tivesse esse efeito? Acabou por comer só fruta e mais tarde decidiu ainda que só poderia comer 5 variedades diferentes num dia, para evitar que as pessoas lhe oferecessem banquetes de fruta, com muita variedade.
Ainda narra como a sua mãe passava muitos dias inteiros sem comer, na intenção de fazer jejum. Por exemplo, fazia o voto de só comer quando o sol surgisse visível. Gandhi e os irmãos ficavam à espera que o sol nascesse para a chamarem, mas , na época das monções (agora), às vezes o sol não chega a estar visível vários dias: resignada, dizia "Deus não quis que eu comesse hoje"
O que nós chamaríamos uma pessoa anoréxica, mas não era assim que a consideravam e antes alguém com grande espírito de sacrifício...

Descobri também recentemente que pessoas que se dedicam intensamente à meditação julgam necessário fazerem uma alimentação especial, de onde são também retirados alimentos como cebola, alho e cogumelos. Alho e cebola são excitantes e os cogumelos são considerados por eles parasitas de coisas imundas, para além de poderem ser alucinogéneos. Para nem falar do álcool, claro.
(Continua)

quinta-feira, julho 22, 2010

Betânia na Casa Fernando Pessoa




Fui ontem ver e ouvir a Maria Betânia a ler poesia na Casa Fernado Pessoa, aqui ao pé.
Parêntesis para afirmar o seguinte: a Inês Pedrosa tem feito coisas extraordinárias pela Casa Fernado Pessoa, que estava às moscas antes de ser ela a directora e mesmo quando era a Clara Ferreira Alves. Não há comparação possível. É o que se pode chamar uma gestão criativa.
Por exemplo: inventou uma medalha de mérito para distinguir gente que fez muito pela poesia de Pessoa ou pela poesia em geral e chamou-lhe "Medalha do Desassossego", por causa do Livro do Desassossego de Fernando Pessoa - Bernardo Soares. Ofereceu-a no Brasil a Maria Betânia, que ficou tão orgulhosa com a distinção, ao ponto de a trazer ontem ao peito, de a mostrar e de se oferecer para fazer este magnífico espectáculo. Grátis. Para quem está habituado a pagar bem caros os espectáculos desta diva...
Betânia mostrou-se diferente, mais familiar, mais natural e até modesta. É claro que as condições acústicas e outras não eram as ideais, mas a voz é a mesma que era há 10 ou 20 anos, o que é surpreendente. E a inspiração também é a mesma.
Gostei particularmente da ideia que teve de homenagear um seu professor de português do liceu, liceu esse situado naquilo a que chamou "o recôncavo da Baía", afirmando que o ensino público (no Brasil) pode ser óptimo. Disse o nome do professor, declamou um poema dele e informou que o irmão, Caetano Veloso, também seu ex-aluno, musicou alguns dos seus poemas e que ambos lhe estão agradecidos por lhes ter desvendado a poesia.
Foi bom ouvir isto, todos sabemos que alguns professores podem ser estruturantes da nossa personalidade e inspiradores da nossa sensibilidade, mas poucos o afirmam assim alegremente, a esta distância temporal.

O problema foi mesmo encontrar lugar. Algumas pessoas foram para a fila às 11 horas, o espectáculo era às 17:30 e começou às 18. Pessoas que chegaram às 15 horas não entraram, mas houve quem chegasse às 17:15 e entrasse. Por mim, confiei na inventiva da Inês Pedrosa, que já me surpreendeu várias vezes. Cheguei às 16:45 e esperei. Parecia impossível entrar, mas, vejamos: houve muitas pessoas que desistiram; a certa altura, abriu-se a sala de baixo, onde foi colocado um plasma gigante e muitas cadeiras; mais tarde, abriu-se a porta para o jardim, onde foram colocadas colunas de som - como estas pessoas não viam nada, só ouviam, tiveram direito a bebidas grátis.

Enfim, quem não tem cão caça com gato. Nunca tive nenhuma admiração especial pela Inês Pedrosa, mas neste aspecto não tem igual: revela uma grande modéstia, também, uma simplicidade, uma criatividade e um engenho, que a colocam a milénios-luz das eminências-pardas a que estamos habituados, sem ideias, sem capacidade de agir, mas cheios de farroncas.

Esperemos os desenvolvimentos... o que há-de vir...

quarta-feira, julho 21, 2010

Ainda a propósito da Índia


Pouco sabemos e pouco queremos saber sobre o que se passa num país como a Índia, que no entanto tem evoluído de forma estrondosa nos últimos tempos, em muitos aspectos, talvez todos.
Politicamente, para além dos conflitos com o Paquistão, que nos despertam interesse por causa da bomba nuclear que ambos têm, há uma espécie de guerrilha maoísta nos estados mais pobres.
Esta guerrilha, que tem feito muitos atentados, nomeadamente a comboios, pretende a independência desses estados e a instauração, neles, do regime comunista-maoísta. Como ainda existe o sistema de castas e os intocáveis, pessoas que nem sequer podem tocar nas outras por serem consideradas impuras, trata-se de uma estranha democracia.
Vê-se na imagem, em Bihar, uma mulher do congresso a atirar vasos de flores, como forma de protesto contra a corrupção do governo. No site, há também um vídeo, e antes disso, a oposição havia atirado microfones, cadeiras e secretárias. E chinelos.
Bem ou mal, a Índia mexe... muito!

terça-feira, julho 20, 2010

A Índia e o Opiário

Apesar de estar neste momento com muito trabalho, vou entrar de férias de hoje a uma semana e, como todos os anos, ando a tentar decidir, com dificuldade, aonde ir.
Tinha a intenção de visitar a Índia, mas todos me aconselham a não ir agora. De facto, é uma viagem difícil em termos físicos e psicológicos, que me seduz muito, em parte pelo lado espiritual, em parte pelo exotismo, que, no entanto, os escritores indianos exprimem ser obra do passado, estar ela a tornar-se incaracterística. Mas não é por isso que ainda não vou. Diversos factores me fizeram, ao contrário do costume, aceitar o conselho.

Fico a pensar: aonde ir? Se mesmo a Índia já não é a Índia e se calhar nunca deveria ter sido, em certos eventos... ou mesmo, se nunca foi...

Fui buscar o poema "Opiário" de Fernado Pessoa - Álvaro de Campos, que diz, com um século de antecedência, mais ou menos o que sinto hoje. Como não sou nada pessimista, ao contrário de Campos, embora seja niilista como ele, pelo menos na opinião da Clara, como aprendi a não ser depressiva e neurasténica, vou colocar aqui apenas as partes do poema com que me identifico ainda e quase totalmente. Censurem-me, se quiserem, por ter censurado o tio Álvaro. Às vezes colocam-me neste blogue críticas medonhas que não apago.
Quanto à viagem, talvez vá para o mar, como sempre. É a última fronteira, o único lugar diferente e desconhecido. Sem gente. Ou com gente vivendo à distância de um fio. Como diz Platão: " Há três tipos de homens: os vivos, os mortos e os que andam no mar".

Opiário (Excertos)

Eu acho que não vale a pena ter
Ido ao Oriente e visto a Índia e a China.
A terra é semelhante e pequenina
E há só uma maneira de viver.
.......................................
Fumo. Canso. Ah uma terra aonde, enfim,
Muito a leste não fosse o oeste já!
Pra que fui visitar a Índia que há
Se não há Índia senão a alma em mim?
...........................................
Não posso estar em parte alguma.
A minha Pátria é onde não estou.
..............................................
Pertenço a um género de portugueses
Que depois de estar a Índia descoberta
Ficaram sem trabalho. A morte é certa.
Tenho pensado nisto muitas vezes.
Leve o diabo a vida e a gente tê-la!
Nem leio o livro à minha cabeceira.
Enoja-me o Oriente. É uma esteira
Que a gente enrola e deixa de ser bela.

domingo, julho 18, 2010

A Turquia é o Peru dos ingleses. E americanos. Etc....

Há dois países chamados Peru. Para nós e para todo o mundo de expressão portuguesa, o país chamado Peru é o Peru.
Para os ingleses, americanos e demais gente de expressão inglesa, o país chamado Peru é a Turquia. Turkey, que quer dizer Turquia, pronuncia-se e escreve-se da mesma maneira que Turkey, ou seja, peru. Para eles, o país chamado Peru não lhes faz lembrar nenhum peru. Só a Turquia é que lhes faz lembrar um peru.
A Turquia é o Peru dos ingleses. E amaricanos. Etc....

Depois não digam assim:
- Ah! Nunca tinha pensado nisso!
Ou então não digam assim:
- A Nadinha é maluca. Imaginem, confundir a Turquia, que fica na Ásia Menor ou Médio Oriente, com o Peru, que fica na América do Sul...
Ou até mesmo na capoeira...
Ah! Sabiam que os perus não são capazes de sair de dentro de um círculo de giz desenhado no chão? E muita outras criaturas também não.
Não são só as pessoas do Peru nem são só as da Turquia que não são capazes de sair de dentro de um círculo de giz desenhado no chão. De forma visível. Ou mesmo invisível.
Mas algumas conseguem.


A incompetência, ou a cauda das vacas que emagrecem

Um dos piores defeitos da sociedade portuguesa é a incompetência, intimamente relacionada com a corrupção, por um lado e com a preguiça pelo outro, esta última sendo também efeito do laxismo do sistema educativo. Já dizia o meu avô, há muito tempo:
- Esta canalha de agora passa anos e anos sentada numa cadeira sem fazer nada e depois quando é grande já não quer trabalhar!
A falta de exigência e de perfeccionismo também contribuem, e isto percebe-se melhor quando se conhecem países do chamado "terceiro mundo", pois são defeitos terceiromundistas de que enfermamos ainda, apesar de "estarmos na Europa". Orgulhosamente, sempre na cauda do bicho. Da vaca que está a emagrecer.

Vem esta reflexão a propósito de duas situações que me ocorreram recentemente e que me irritaram, caso contrário tê-las-ia esquecido. Ou escrevia no outro blogue, este é o das reclamações.

Fui hoje tirar fotografias para um visto de entrada num país. A rapariga, depois de fazer a primeira, mostrou-ma, disse que estava muito bem e perguntou se eu achava necessário tirar outra, ou se aquela servia. Pedi-lhe que esperasse enquanto punha os óculos, mas mesmo antes de os pôr vi que a foto era de tal modo horrorosa que não valia a pena dizer-lhe que tirasse outra. Se ela fosse capaz de fazer melhor, ter-se-ia envergonhado de ter feito aquilo e não perguntaria se estava bem. Disse que não valia a pena e nem reclamei, limitei-me a rasgar à vista dela a ampliação a que tinha direito e não sabia. Espero que tenha entendido, mas duvido.
Também escapei de que me dissesse que eu sou assim, o argumento primeiro e último de quem não percebe nada de fotografia e portanto não entende que está a insultar os outros. Ninguém é assim. Nós somos seres em movimento, vistos constantemente de baixo, de cima, de baixo e de lado, com expressão... nunca estáticos.
O que é mais estranho é constatarmos que, devido à recente evolução e democratização das máquinas fotográficas, há hoje bons fotógrafos no desemprego e sem esperança de virem a encontrar trabalho nessa área, o que foi ainda agravado pelas recentes medidas do Governo, ao não serem exigidas fotografias para os documentos, nem mesmo para o BI.

A outra situação deste género foi a seguinte: dirigi-me à agência onde costumo comprar a maior parte das viagens e fui atendida duas vezes (sempre) por uma criatura que me perguntou o que queria. Depois de lhe ter explicado, pediu-me a minha direcção de email, apertou-me a mão e disse:
- Estamos conversadas. Mando-lhe um email com a informação pretendida.
Vocês enviaram-me um email com a informação pretendida? Fazendo a pergunta à brasileira, da forma retórica, cómica e impotente, de quem está habituado a estas situações e resignado com elas:
- Jacaré enviou o email? - Ou melhor:
- Jacaré recebeu o email?
Resposta:
- Eu também não. Nenhum dos dois que a criatura prometeu endereçar-me. E os jovens que nos anos anteriores tão bem me entenderam e tão bem me deram o que eu queria ou julgava querer? Provavelmente estão no desemprego.

É por isso que a recentemente introduzida avaliação do desempenho deu tanta contestação. Porque a avaliação que temos funciona assim: quem não sabe fazer nada, nem gosta, é avaliado positivamente, talvez porque o avaliador também não sabe fazer nada e não quer ser ultrapassado... ou sei lá porquê, acho que ninguém entende...

A diferença em termos de procura também se nota. Quando ia à Agência de Viagens, encontrava muitas pessoas aguardando tranquilamente a vez, agora não vejo vivalma.

E queixam-se da crise. A crise permite-nos seleccionar melhor a maneira como gastamos o nosso dinheiro. Aprendemos a não o deitar fora. Talvez os portugueses melhorem com a crise.

Estes dois episódios são apenas dois exemplos entre muitos, mas o inverso também é verdadeiro: quando, recentemente, me dirigi a um centro de análises clínicas novo, fui surpreendida, não só pela competência e profissionalismo das raparigas, mas até mesmo pela sua elegância e beleza. É talvez um caso à parte, pois muitos profissionais de saúde, que antigamente tinham a quarta classe, possuem agora um diploma universitário exigentíssimo, com notas de entrada fabulosas. Verdadeiro perfeccionismo em tudo.
(É talvez por coincidência que todas as pessoas aqui referidas são mulheres jovens).

quarta-feira, julho 14, 2010

Visitantes dos blogues, em viagem

Como habitualmente no Verão e noutras épocas do ano, começam a aparecer nos meus blogues visitas de todo o mundo, que não derivam de pesquisa, mas sim de acesso directo.
São os meus "amigos e amigas" que andam em viagem pelo planeta: constatei para já: Espanha e Rússia. Os portáteis ajudam, por manterem os favoritos, mas há outras hipóteses como usarem o "Bloglines", ou instalarem-se como seguidores...

Boa viagem e obrigada por se lembrarem da Nadinha, que se calhar nem conhecem pessoalmente...
Já agora, adivinhem aonde vou este ano. Surpresa. Tabu. Vocês depois vêem. Eu conto aqui.

Depois conto aonde fui. Se tiver fotos, ponho-as nos dois blogues. E devo ter. Se regressar viva do sítio aonde vou. Antes disso, vou cirandar por aí.

Oh, como é tranquilizante, amável e serena a doce rotina do Inverno! Só corremos o risco de morrer de enfarte. Ou de tédio.

Uma planta, um gato, uma lareira... papel... uma caneta... Quando eu for velhinha talvez tenha isto tudo. Se voltar viva do sítio para onde vou. (LOL)

terça-feira, julho 13, 2010

Pearl Buck: A Grande Vaga



Ando a ler, entre outros, um livro que encontrei por um euro na livraria Ler Devagar, onde agora vou quase todos os dias: também tem um barzinho e mesas para ler. Está traduzido em francês, mas é o livro de memórias da Pearl Book intitulado A Bridge to Pass.
Como se trata de uma das minhas escritoras favoritas e dado que tenho agora tempo, venho de vez em quando à net à procura das coisas que refere, como um filme baseado numa sua novela que narra um Tsunami no Japão, " The big wave", ou o compositor que escolheu para a banda sonora, Toshirô Mayuzumi, etc.
É fantástico ler assim. Encontrei no youtube algumas cenas do filme, do qual a Pearl conta a rodagem... e que coloquei aqui , para vocês. Tão actual!
Um dia haverá livros assim, que incluem o filme, vídeos do autor, etc. Não me refiro ao futuro, é algo possível agora...

(Algumas pessoas que me conhecem na "vida real" consideram-me ingénua, idealista, poética, lírica, ou seja, parva, em parte por crer no futuro. Eu a elas só as considero estúpidas e ignorantes. Recentemente apaguei uma "amizade" no Facebook por ter feito um comentário desse tipo. LOL.).
Bendita net, que nos permite entrar em contacto com gente que nos entende!

Mas o que mais me surpreendeu foi a biografia de Pearl Buck, que desconhecia por completo: tendo tido uma primeira filha atrasada, é o nome que utiliza, dedicou parte da sua vida e da vida de toda a família a apoiar as pessoas "atrasadas" e suas famílias, assim como a procurar famílias americanas dispostas a adoptar crianças mestiças, por exemplo de chinês ou japonês e americano. Na época, essas pessoas eram rejeitadas, sendo símbolo dessa rejeição a ópera de Puccini Madame Butterfly.
Uma das famílias a adoptá-los foi a sua própria, tendo tomado conta de várias crianças.
Li mil vezes o livro The Good Earth traduzido como Terra Bendita ou Boa Terra.

P.S.:
Embora pareça baratíssimo este livro, que só custou um Euro e é óptimo e raro, andei à procura de livros desta escritora, que não tivesse lido, em Amazon. com e descobri vários a um cêntimode Dólar. Um cêntimo de Dólar é menos que um cêntimo de Euro. Mas nós somos ricos, podemos comprar livros caros.
Não acham?

segunda-feira, julho 12, 2010

Tolerância e amor

Vem esta reflexão a propósito, não só do post anterior, mas de algo que vi recentemente na CNN.
Era uma pequena reportagem sobre crimes de "honra". Mais precisamente, mostrava o caso passado recentemente na Índia, em que um jovem casal de apaixonados tinha sido enforcado, dentro de casa, pelos pais da rapariga. Algemados os dois e de mãos dadas, o homem perguntava, de forma patética, que outra coisa poderia ter feito para defender a sua honra...
Como estão diferentes os tempos na nossa sociedade, que também já foi assim: os pais não ousam contrariar os filhos em nada, são muitas vezes dominados por eles... e é com espanto que vemos uma cena como esta, parecendo-nos incrível, ou mesmo impossível.
Quando às vezes fazemos duras críticas à nossa sociedade, esquecemo-nos de como ela evoluiu e podia não ter evoluído, no sentido da tolerância, dos direitos humanos e do amor. Amor que impede a violência, pelo menos física... dar uma estalada já parece mal.
É a ideia de posse que está na base da destruição do outro, dentro da família. Posso destruir algo que me pertence e já não me "serve" (em todos os sentidos desta palavra), se a mentalidade comum me der esse direito.

sábado, julho 10, 2010

Use a sua liberdade para promover a nossa

Não se assustem com a imagem. Trata-se, apenas, da foto duma manifestação em Bruxelas contra a pena de morte por apedrejamento, que ainda se realiza no Irão e provavelmente noutras partes do mundo.
A organização Avaaz.org conseguiu salvar deste suplício a última condenada, que vai "apenas" ser enforcada.
Podemos assinar uma petição, que está a ser assinada em todo o mundo de forma visível no site, enviar donativos e participar noutras campanhas com o objectivo que se segue:

"A Avaaz tem uma missão simples e democrática: fechar o fosso entre o mundo que nós temos e o mundo que a maioria das pessoas em toda a parte quer ter." ("Avaaz has a simple, democratic mission: close the gap between the world we have and the world most people everywhere want.")


Como diz Aung San Suu Kyi, "usem a vossa liberdade para promover a nossa" (‎"Use your liberty to promote ours")


P.S.: Quando ontem fiz este post, havia cerca de 40 000 petições, hoje, pelas duas da tarde, já há 136 000. Eles pedem 150 000, mas se houver mais...
Podemos fazer muito através da net. É a opinião pública, como neste caso, é o nosso estatuto de consumidores, usado em favor dos outros, como no "Thehungersite", que usa a publicidade para ajudar e que tem um link neste blogue...

sexta-feira, julho 09, 2010

The Venus Project



Acabo de descobrir, através dum amigo virtual e leitor deste blogue, o projecto "The Venus Project". É um dos muitos projecto alternativos, que propõem tudo de novo na sociedade, mas neste caso com a construção de estruturas adequadas e até de materiais novos. O seu criador, Jacques Fresco, considera que a corrupção, a miséria e quase todo o mal derivam da sociedade do lucro e que tudo isso pode ser eliminado criando outro sistema. O título do projecto deriva do local, Venus- Flórida, onde está instalado o seu centro de investigação.
Imagino que tenha muitos detractores, mas ainda não cheguei aí. No fim do vídeo coloquei outros relacionados, que vocês podem ver clicando por cima deles.
Vejam!

quinta-feira, julho 08, 2010

"Há já muito tempo que eu ultrapassei o estado conservador e prudente da juventude"
Pearl Buck in A Bridge for Passing (minha tradução)

domingo, julho 04, 2010

"Tão Longe do Mundo"

Acabo de ler, com entusiasmo e alegria, o relato de um naufrágio no Pacífico, o livro "Tão Longe do Mundo". Quase não consegui parar de ler, o que é estranho, dada a aparente monotonia do tema: um homem à deriva no Pacífico durante quatro meses, 180 dias. Mesmo contando com a minha paixão pelo mar (que não pela praia, de que não gosto) e pelas navegações, o mérito da narrativa deve-se, em grande parte, ao jornalista que ouviu este pescador e que escreveu o livro, como se fosse ele o autor e o protagonista.
Estes pescadores do Thaiti eram considerados os "Senhores do Mar" e estão agora em extinção absoluta pela globalização que, neste caso, se deve sobretudo às experiências nucleares em Samoa, a pior de todas as globalizações. Onde esperávamos encontrar o Paraíso, surge-nos o pesadelo, num lugar escolhido de propósito por ser remoto e longínquo.
Devido a uma avaria no motor, Tavae vê-se arrastado pela corrente marítima para longe da ilha onde vive e onde tem filhos e netos, tendo sobrevivido miraculosamente por efeito de dois ou três factores: a sua extraordinária experiência do mar e a invulgar perícia de navegação, que lhe permitem enfrentar uma tremenda tempestade, durante a qual partiu as costelas, (mas não o pequeníssimo e desprovido barco, ficando também com as pernas paralisadas), alguma sorte, se assim lhe podemos chamar, por ter chovido torrencialmente quando estava a morrer de sede, (não de fome que conseguiu sempre pescar), mas sobretudo à sua incrível e indestrutível fé em Deus. Este é um dos aspectos mais interessantes do livro, pois o protagonista interpreta todos os acontecimentos invulgares que presencia, como o aparecimento dos pássaros, das orcas, da tempestade, pensando que se trata de sinais que Deus lhe quer transmitir.
Tal como pensam outros invejáveis crentes, talvez de entre os mais simples, dir-se-ia que Deus nem tem mais em que pensar senão no modo de pôr à prova este seu fervoroso seguidor, num diálogo íntimo que "mantêm". As narrativas míticas, politeistas, são um lenitivo para os momentos em que nada acontece e isto deve-se ao jornalista co-autor. Aqui, Tavae recorda a origem da ilha e outros pormenores, em que os deuses são as personagens principais. Mas talvez seja desta religião primitiva que o protagonista retira a intimidade com Deus, mais improvável na austeridade do catolicismo... em que fomos criados... Tal é a crença nos desígnios divinos, que Tavae decide ir viver para a ilha onde acabou por aportar, vivo devido à sua perícia, a mil quilómetros da sua terra, mas só depois de casar a filha que faz anos no dia da sua "aterragem". Também porque os habitantes da ilha, que tão bem o acolheram, incluindo a "família real", achariam estranho se ele se fosse embora para sempre... até porque reencarna um dos seus mitos/deuses.

Fez-me lembrar um livro que foi marcante na minha primeira juventude:
"Náufrago Voluntário", com a vantagem de tudo ser natural e espontâneo neste livro que agora acabo de ler, reservando a intenção de reler com frequência algumas passagens.

O mar, a última fronteira, pode colocar-nos em contacto com o mundo, com a nossa essência e com o milagre quotidiano da existência.
(Pormenor curioso, o livro custa 2,50 Euros, Editora Bizâncio.)
Comprado no novo e muito interessante "Espaço Docas", nas Docas de Alcântara.

sexta-feira, julho 02, 2010

LX Factory







É claro que já tinha ouvido falar da LX Factory, tinha lido listas de eventos lá realizados, mas não estava preparada para que fosse assim e muito menos para que este "mundão" ficasse num dos sítios onde passo todos os dias. E onde agora me apetece ir todos os dias.

Situa-se num antigo complexo industrial (fábricas de têxteis) e o espaço foi aproveitado, sem grandes alterações, para um polo que agrupa as mais diversas coisas: empresas de arquitectura, o Forum Dança, bares, restaurantes, a Livraria Ler Devagar, etc. É também um novo centro da "night". Curiosamente, mantém um ar decrépito, que lhe fica bem. Deve ter sido uma imitação do que aconteceu à antiga zona industrial de Nova Iorque.

A arquitectura industrial não é muito bonita, pelo menos numa primeira impressão e tende a ser menosprezada. Mas Lisboa já tem bons exemplos de conservação, como o Museu da Electricidade.
Sem esquecer os antigos armazéns das docas, hoje convertidos em elegantes bares e discotecas.

N.B.: Todos os prédios que se vêem na primeira foto estão ocupados, com interiores muito modernos. Segunda e terceira fotos: Livraria Ler Devagar, mantendo o espaço original e algumas máquinas. Podem comprar lá os meus livros.


N.B.: Por alguma razão que desconheço, têm tentado colocar aqui publicidade, sempre neste post. Por esse motivo, bloqueei os comentários. Podem fazê-los nos outros posts do blogue. ( Pormenor só escrito em 23/2/ 2014)