- Bem, tu podes optar entre três pessoas, para seres avaliada.
- Ai sim? Quais?
- Uma é a coordenadora disto e daquilo.
- Pois, mas essa não dá muito bom a ninguém, porque já sabe que nunca terá muito bom, por isso, se desse muito bom a alguém, ficava atrás dessa pessoa. Qual é a outra?
- A coordenadora disto e daquilo.
- Ah, essa dá muito bom a todos. Já sabe que também não vai ter muito bom, mas não está para se chatear com ninguém e dá sempre muito bom a todos, até porque vai pedir a reforma antecipada...
- Então escolho essa, que me dá muito bom.
- Não podes, ou melhor, podes. Para a avaliação deste ano já não a podes escolher, para a próxima já podes, se ela não se reformar entretanto...
- E a terceira hipótese?
- A terceira hipótese é a coordenadora disto e daquilo, mas essa não pode dar muito bom a ninguém, mesmo que queira, porque a lei não lhe permite.
- E se eu quiser ter excelente?
- Se tu quiseres ter excelente, tens de pedir uma avaliação especial com condições especiais, aí podes ter ou não excelente, também podes ter muito bom ou bom, mas pedir excelente ou mesmo muito bom é considerado arrogância e falta de modéstia. Essas notas são para quem precisa delas para progredir na carreira e tu não precisas.
- Então que faço?
- A ti, não te interessa nada teres muito bom. Basta teres bom para progredires na carreira e ganhares mais, se e quando houver progressões. O melhor é fazeres um relatório em que exprimas grande modéstia. Não te gabes.
- Mas todas essas que me podem avaliar têm menos habilitações e menos experiência que eu...
- Isso não conta, quer dizer, já contou, mas depois, enfim, esquece.
- Ah!
Bom, muito bom, excelente? Não deveriam ser notas para quem as merecer? Independentemente de ser ou não modesto? A modéstia é fácil para quem não vale grande coisa... Chamam a isto avaliação?
(N.B: Este diálogo é a transcrição de uma conversa real entre duas professoras, havida hoje.)