Os franceses e alemães descobriram as ervas do campo quando passaram fome devido às duas guerras mundiais.
Que já tinham sido descobertas por toda a tradição médica desde Esculápio ou Hipócrates. Ou mesmo pelo nosso grande Garcia de Orta, que introduziu as "drogas" da Índia na farmacopeia ocidental. Aliás, muito está para dizer sobre este autor de Os Simples ou Drogas da Índia, quase ignorado, desde que os portugueses resolveram votar em tipos que querem ser doutores e engenheiros, sem estudar nem saber nada. Pobre terra! Pobre Terra Imunda!
Vem isto a propósito da crise. Enquanto algumas pessoas passam necessidades, vivendo embora no campo, não lhes passa pela cabeça comer aquilo que consideram ervas daninhas, ao mesmo tempo que muitos outros, portugueses e não só, mas mais esclarecidos, as compram a preços disparatados.
Ontem, na Feira Biológica do Príncipe Real, vi umas ervas e quedei-me a ouvir as explicações. Dizia um comprador ao vendedor:
- Que é isto? ainda ontem arranquei muitas destas ervas do meu jardim e as deitei fora! Isto come-se?!!!
- Sim, como vê. Já viu a fortuna que deitou ao lixo?
Tratava-se de uma planta chamada borragem, uma erva daninha e infestante, que se vendia por um Euro num molhinho de três ervas. Sabe a pepino, pode comer-se crua, em salada, ou cozida, tem propriedades medicinais, mas não deve ser consumida em excesso.
Também havia urtigas, um molhinho por um Euro.
Perguntei na banca da Quinta do Poial, uma das melhores, senão a melhor, se havia Dente de Leão, ou Leitugas, Ou Pissenlit. Não há. Mas vai haver, porque já estão encomendadas as sementes.
No regresso a casa, que fiz a pé, porque já estou melhor do pé, encontrei muitas leitugas na borda de ruas, junto ao Largo do Rato, por exemplo. E até me lembrei da razão deste nome: a seiva é leitosa e pegajosa, parece leite, como a das figueiras. Era por isso que eu não gostava das leitugas.
E descobri também, ao ver umas folhas de chicória, que encontrei muitas daquelas na minha terra, quando, em criança e passeando com a minha mãe, apanhávamos algumas ervas pelos caminho e nos interstícios dos muros, para dar aos nossos coelhos e principalmente à minha coelha, de que já falei aqui, que me comia da mão. Ela e os filhos.
Ando a meditar um romance e já escrevi um conto, em que entram todas estas plantas, daí o meu interesse. E dos passeios que fazia com a minha mãe, em que colhíamos, esporadicamente algumas ervas. Essa, que julgo ser chicória, dizia ela que quando lha dávamos, "até os coelhos se riam". E de facto, a minha coelha ria-se quando eu lhe dava folhas de chicória. A minha mãe utilizava outra palavra, que não consigo recordar.